quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

2010: ANO PARA ESQUECER A NÍVEL INTERNACIONAL

Mais uma vez a economia do mundo Ocidental dominou o ano que agora termina. Desde o Espaço Europeu, ao Reino Unido e aos Estados Unidos da América, Três das +rinciais economias mundiais foram foco de nova crise, acompanhadas de altos níveis de desemprego. Na UE, a começar pela Grécia, seguida da Irlanda, ambas com a intervenção da UE/FMI, provocando várias greves gerais e o aumento de manifestações e graves distúrbios, situação mais ou menos idêntica paira no nosso país, agravada pelos constantes assaltos provocados pelo aumento do juro da elevada dívida pública, que chegou a ultrapassar a insuportável e inédita taxa dos 7%; o Reino Unido, com um novo governo coligado, a partir de Maio, entre Conservadores e Liberais-Democratas, a adoptar severas medidas inéditas de contenção, com a redução de 15 a 23% dos serviços públicos, aumento do IVA de 17,5 para 20% e o das propinas do ensino superior no triplo, provocando várias e enormes manifestações estudantis, os EUA, ainda a lutar e a sofrer da periclitante situação económico-financeira, com o Presidente Obama a ser vítima de grave rombo eleitoral com a vitória dos Republicanos, a maior dos últimos 72 anos, reduzindo a maioria Democrática no Congresso e a quase eliminação no Senado, o que mais debilita a sua actuação a partir dos meados do próximo mês. Os Republicanos beneficiando do fenómeno ultra-conservador, auto-classificado de Tea Party, que de partido nada tem, mas que actua no seio do maior partido da oposição, viram a sua posição reforçada. Entretanto, segundo sondagens, o Congresso é humilhado com a percentagem de 13%, a mais baixa de sempre, por parte da aprovação do público. A complicar a já difícil situação geral, o volume das manifestações públicas foi notável. Além das já mencionadas, a França foi de novo cenário, seguidas de greves gerais, estas devido à redução da idade limite da reforma para 62 anos de idade.
As perturbações climatéricas, (às quais a Cimeira de Cancún, no México, realizada em meados deste mês, voltou a fechar os olhos a soluções cada vez mais urgentes), foram evidentes com cheias devastadoras, provocando deslizes de terreno tanto na Colômbia como no Brasil, causando enormes danos e ceifando milhares de vidas, principalmente no Paquistão, onde afectou 20 milhões de pessoas e, no Haiti, o tremor de terra, que destruindo a capital, Port au Prince, provocou mais de 230,000 mortes, (seguido, em Outubro, por forte surto de cólera), enquanto isso, na Islândia, a erupção de vulcões provocou a paralização aérea principalmente no espaço europeu; na Rússia e em Israel irromperam gigantescos incêndios; o Reino Unido foco de invulgares fortes nevões, com temperaturas de 23º negativos, paralizaram principalmente o norte do país, não escapando Londres, normalmente menos afectada, em queviu o maior nevão dos últimos 50 anos! Em termos ecológicos o desastre da plataforma de petróleo da BP no Golfo do México, além de 18 vítimas, provocou enormes danos ambientais com o governo americano a exigir compensações de dezenas de biliões de euros e, a nível religioso, a Igreja Católica não ficou incólume com o deflagrar do escândalo da pedofilia no seu seio. Todos estes gigantescos acontecimentos ensombraram as atenções mundiais. Neste enorme pano de fundo, embora a cessação quase total da ocupação americana do Iraque e finalmente o acordo inter-partidário para a formação de governo, continuaram as lutas e mortes sectárias; a guerra do Afeganistão, no seu 13ºano, continuou a dominar o cenário bélico mundial, com a demissão do Comandante General Stanley McCristal, acrescida de tensões nas duas Coreias com provocações da nuclear Norte, recrudescendo a velha inimizade entre a China e o Japão. A instabilidade terrorista, proliferou com os ataques de origem mussulmana tanto em atentados, alguns dos quais gorados ou evitados, como a auto-emolação de vítimas bombistas provocando inúmeras vítimas em vários pontos do Globo, mas principalmente no Paquistão, Uganda, bem como na Rússia, ali por acção de terroristas Chechenos. Em países mussulmanos, como na Nigéria, Egipto e Indonésia registaram-se grandes manifestações contra minorias cristãs, resultando várias mortes, principalmente na primeira e na última. No Médio Oriente continuaram as tensões entre Israel e Palestinianos, com a morte de um alto dirigente militar do Hamas num hotel do Dubai, atribuída às forças de segurança israelitas,e, mais uma vez, verificou-se a cessação da tentativa de conversações sobre a contínua anexação e construção de acampamentos judeus no território palestiniano, aumentando a tensão agravada pela morte de manifestantes, num navio turco, que procurava desafiar o boicote israelita a Gaza. No México, continuou o massacre de vítimas devido ao narcotráfico. A China, voltou a ser notícia na violação dos direitos universais, obrigando a Google a encerrar o seu site, naquele vasto e profícuo país, mas o maior escândalo foi o boicote total e protesto contra a atribuição do Prémio Nobel ao seu detido manifestante dos direitos humanos, Liu Xiaobo. Porém, as boas notícias do ano agora findo, foi o salvamento de 33 mineiros no Chile, após 69 dias de grande incerteza quanto ao seu futuro, a contrastar tanto com a China, Rússia, EUA, Nova Zelândia bem como na Turquia em que morreram dezenas de mineiros. No Brasil, depois de bem sucedidas eleições foi eleita a favorita do Presidente Lula, Dilma Rousseff e, na Birmânia, finalmente liberta Aung San Suu Kyi, após 20 anos de detenção domiciliária. E, se em futebol, à Península Ibérica foi negada a realização do Mundial de 2018, a favor de Rússia, a Espanha, depois do título europeu, sagrou-se campeã do mundo, na África do Sul. No domínio das novas tecnologias, a Apple ao lançar o seu novo IPAD revolucionou o mundo da publicação digital e bateu o predomínio mundial da Microsoft e, no vasto espaço cibernético, a WilkiLeaks provocou sensação ao revelar documentação militar e diplomática secreta americana, levando à detenção, e pedido de extradição para os EUA, do seu fundador Julian Assange.
NÃO OBSTANTE AS INCERTEZAS, FELIZ 2011, CHEIO DE SAÚDE E...TUDO DO MELHOR!

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

O NATAL NA LITERATURA E TEATRO INGLESES

Como um dos principais dias do ano, embora não apenas em termos religiosos, mas cada vez parte integrante e componente social, nomeadamente de reunião de família, no Reino Unido, o Natal é um dos períodos mais destacados do País. E, se o comércio começa a movimentar-se já em fins de Setembro, lembrando e aliciando a clientela, as ricas ornamentações iluminadas das ruas das cidades principais, geralmente inauguradas por figuras célebres, e, em Londres, a inauguração da tradicional e enorme Árvore de Natal, em Trafalgar Square, dádiva clássica da cidade de Oslo, na Noruega, a comemorar a gratidão daquele país ao Reino Unido pela solidariedade manifestada durante os negros dias da ocupação Nazi aquando da II Guerra Mundial, sempre ladeada de corais a entoar hinos natalícios, o Natal é prelúdio de festa – Festa de Família! Não surpreende que um dos escritores mais focados desta época, e aquele que mais e melhor interpretou a solenidade, mas acima de tudo, a solidariedade do Natal, seja Charles Dickens (1812-1870), no seu notável livro-poema, Christmas Carol. Por isso, e no domínio da literatura, a Charles Dickens deve-se a consagração de tão importante época festiva.

A história passa-se, em Londres, numa fria noite véspera de Natal. Com a personagem principal, Ebenezer Scrooge (cujo sobrenome, em Inglês, muito apropriadamente, significa Forreta), obviamente quer entre colegas, poucos amigos e reduzidos familiares, Scrooge, que mais devido à sua avareza amealha um fortuna, vive para si próprio, desdenhando dos menos favorecidos ou recusando esmola àqueles que ousam estender-lhe a mão! Porém, e nas vésperas de Natal, Scrooge é visitado por três espíritos que lhe lembram o seu passado, só e de forreta, alertando-o para algo nóvel, especialmente a bem-aventurança de benfazer, que finalmente reconhece e aceita, distribuindo a sua fortuna por aqueles que até ali tinha negado. Obviamente, o objectivo de Dickens é transmitir alegria e felicidade, contrastando aqueles que, pela sua maldade e avareza, vivem só para o seu dinheiro.

Como se sabe, até ao século XV a escassa literatura existente, em sua maioria limitada a iluminuras, radicava-se apenas aos conventos. Fora deles, durante a Idade Média, o Natal era celebrado pelos menestréis com os característicos hinos em homenagem aos pastores natalícios. Quem o assinalou foi o poeta Geoffrey Chaucer (1340-1400), que se referia aos minestréis a desempenhar papel importante tanto no palácio, como, e principalmente, nos adros das vilas e aldeias. Mas um dos mais antigos hinos impressos, “Christmasse Caroles”, iniciativa de Wynkin de Worde, em 1521, faz parte das preciosidades da Biblioteca Bodleian, de Oxford. Mais tarde, William Shakespeare não deixa de se referir às festividades de Natal, relacionando-as apenas a antigos e misterosos costumes e a duendos que desapareciam ao cantar do galo, nas vésperas de Natal! As festividades, porém, conheceram novo ímpeto durante os reinados de Isabel I (1533-1603)e de James II (1633-1701, tão mencionados pelos cronistas da época, nomeadamente Samuel Pepys (1633-1703). O Natal, porém, em termos populares, seria comemorado – e ainda o é!- em termos teatrais, nas célebres pantomimas, oriundas de pantomimus, da Roma antiga, em que os actores representavam, em mímica, personagens diferentes em curtas cenas baseadas na mitologia e folclore, envergando vistoso guarda roupa e o facto das personagens principais serem interpretadas por pessoas do sexo oposto e em que o elemento cómico desempenha parte dominante, a culminar na lição da vitória do bem contra o mal, sendo os papéis dos tiranos geralmente interpretados por figuras, normalmente caricatas, que mais ridículas se tornam pelo vestuário que envergam, mas sempre por actores ou actrizes muito famosos, que geralmente incitam a criançada a tomar parte.

A TODOS OS ESTIMADOS LEITORES E SUAS FAMÍLIAS, UM BOM E PACÍFICO NATAL!

domingo, 19 de dezembro de 2010

PARALIZADORES E INVULGARES NEVÕES

Os nevões que intensamente assolaram e continuam a fustigar a Grã-Bretanha (e como sabemos, igualmente se fizeram sentir no nosso país, principalmente no Norte!), os maiores dos últimos 50 anos, principalmente na Escócia, País de Gales, norte, centro e sudeste da Inglaterra, incluindo, o que é anormal, Londres. Só no sábado 18 deste mês, a capital britânica foi flagelada por imenso nevão, jamais observado nos meus 54 anos de vivência neste país, paralizando a cidade! Com início no final de Novembro e princípios de Dezembro, quando são mais previsíveis em Janeiro, a vaga de nevões prontifica várias e pertinentes questões. O frio, porém, com temperaturas abaixo de zero, prevaleceram também no sul da Inglaterra. Para matutinos como o Daily Telegraph, em parangonas de primeira página, perguntava-se: “Como é que a Grã-Bretanha resvalou outra vez para o cáos?”. Por outro lado, o colega Daily Express, exclamava “O maior frio dos últimos 100 anos!” As maiores queixas, porém surgiram de indivíduos, como um que trabalhou na Rússia durante sete anos: “Ali nunca tive problemas! Andava de comboio todos os dias para o emprego e nunca faltei. Por que não aqui?” Outros, compreensivelmente, indagaram: “Tivemos muita gente presa nas autoestradas durante horas a fio. Como é possível no século XXI?”




Com temperaturas de 23,5º negativos, especialmente na Escócia e, no vizinho condado de Northumberland, onde a neve atingiu 60cms de altura, embora dificilmente três das principais auto-estradas, M1 (de Londres à Escócia), M5 – centro e sudoeste - se mantivessem razoavelmente abertas, mas com longas filas de veículos e com os principais clubes automóvel, RAC e AA a afirmar que tiveram 2000 chamadas de socorro por hora!, movimentadíssimos aeroportos como o de Edimburgo (Escócia) e Gatwick, bem como parcialmente o de Heathrow, estes últimos a servir Londres, estiveram pelo menos quatros dias paralizados. E outros aeroportos da província também fehados. Muitos comboios deixaram de circular, incluindo o Eurostar que reduziu para metade o número de unidades e, no sudeste da Inglaterra, no condado de Kent, um expresso apanhado por um nevão obrigou os 200 passageiros a acocorarem-se nos seus lugares durante uma frígida noite. Mas não é a neve per se, que constituíu o maior problema. O pior foi a neve gelada e o gelo que se avolumavam nas rodovias que mais prejudicou a circulação! Como consequência, mais de 6500 escolas foram encerradas durante vários dias, num custo económico de prejuizos globais diários de 1,5 biliões de euros fora os enormes prejuízos na reparação do tecido rodoviário, mas acima de tudo os inconvenientes causados ao isolamento das populações, bem como o elevado número de motoristas que foram forçados a abandonar os veículos, como foi particularmente o caso de centenas na Escócia o que obrigou os imobilizados motoristas e passageiros a passar a noite nos seus automóveis ou camiões devido à altura e espessura da neve, tudo isto obriga ao exame profundo de um pais altamente impreparado, em relação aos países nórdicos, não obstante as lições não aprendidas dos nevões, embora menores, do ano passado! Não surpreende que uma situação destas esteja a desafiar o país inteiro na procura de uma solução adequada, quando os eficientes e sofisticados serviços meteorológicos nacionais já tinham feito sérios e antecipados alertas. Esta invulgar vaga de frio e neve, aliada às cada vez mais habituais, mas proporcionalmente incomuns cheias, em vários pontos do país, que ocorreram nos anos transactos, não só demonstram extraordinárias, mas frequentes e cada vez mais imprevisíveis variações climáticas, como, mas particularmente a fragilidade dos seres humanos e a sua impreparação a todas elas. Embora a maioria das residências, nomeadamente urbanas, disponham de aquecimento central, o maior problema continua a ser o da circulação rodoviária e ferroviária levando o país praticamente a paralizar. Por isso, câmaras das principais zonas urbanas das regiões mais afectadas, embora este ano se tenham precavido com maiores quantidades de sal, um dos importantes dissuasores contra a neve, e a única lição preventiva apreendida, o problema persiste, bem como as acusações, particularmente quando os camiões distribuidores foram insuficientes! A clássica aspiração do povo britânico de um Natal com neve, é este ano uma realidade, embora prejudique o Pai Natal na distribuição dos presentes, pois pelo menos prmanece em dúvida a entrega de quatro milhões de prendas devido ao mau tempo, especialmente na Escócia e no norte do país devido a intransitabilidade ds vias de comunicação. De salientar que o Reino Unido, geograficamente no mesmo paralelo de Moscovo, não sofre as habituais intempéries da capital russa. Desta vez, porém, não acontece! A razão deve-se ao facto do importante e benéfico Golfo do México, que atravessando o norte da Europa, termina nas proximidades da Escócia. Graças às suas correntes quentes permite um clima temperado, embora mais chuvoso que noutros pontos do Globo.

sábado, 11 de dezembro de 2010

O COBIÇADO E DOCE BOLO CHAMADO BskyB!

A News Corporation, conhecido grupo do magnate Rupert Murdoch, não desiste de adquirir o cobiçado bolo chamado BskyB quando não se contenta com apenas uma fatia de 31%, e em que este ano a BskyB anunciou lucros de 1 bilião e 200 milhões de euros e acaba de anunciar ter ultrapassado a casa dos 10 milhões de assinantes! O objectivo, é adquirir os restantes 59% e o controlo da companhia, fazendo dela um lucrativo monopólio.Têm sido várias as tentativas, mas continuamente resistidas! Embora a pretexto de concorrência, quando o grupo de Murdoch, News Corporation, controla uma enorme fatia dos principais e mais bem sucedidos títulos dos matutinos britânicos, como o The Times, The Sunday Times, The Sun e The News of The World, e, na televisão, canais terrestres, 25% do Canal Five e 21% da ITV, além, claro, de 31% da BskyB. Desde a intenção, há anos, em lançar-se na lucrativa TV terrestre britânica, com a aquisição total do Canal Five, que lhe foi negado, Rupert Murdoch, que conta com importantes aliados, como Margaret Thatcher e o Partido Conservador, quando igualmente contou com o apoio de Tony Blair, quando no governo, o que não consegue dominar é a forte oposição at large, tanto da BBC, do Channel Four, como de outros rivais impressos, o Daily Mail e o grupo dos títulos do The Guardian e do The Daily Telegaph, mas, acima de tudo, do influente cineasta e igualmente vice.presidente do Channel Four, Lorde Putman! E, com a aparente benesse do Primeiro-Ministro, David Cameron, foi esta sólida oposição que obrigou o governo a remeter a decisão, via Ministro do Comércio e da Indústria, o liberal-democrata Vince Cable, a delegar a nova tentativa de aquisição, para o grupo regulador independente, OFCOM, a quem compete a decisão final, salvo semelhante apoio da Comissão Europeia cuja decisão é esperada até finais deste mês. Recorde-se que os liberais-democratas, coligados no governo com os conservadores, opõe-se ao grupo de Rupert Murdoch. Não surpreende a recente reacção do magnate, quando tomava parte numa homenagem à antiga primeira-ministra, a actual Dama Margaret Thatcher, aliás então ausente no hospital devido a um forte ataque de gripe, em que acusou os seus detractores de “pequenos pensadores” e “tentar restringir o crescimento” (económico).

Quando a Sky Televison, estação de satélite, foi adquirida pelo Grupo de Rupert Murdoch, News Corporation, em 1983, e os programas lançados em Março de 1989, batendo a séria concorrente British Satellite Broadcasting (BSB), inaugurada em Abril de 1990, duvidava-se seriamente do seu sucesso. Primeiro pelo facto de ser uma nova tecnologia, dependente de novos receptores, cujo custo era ainda proibitivo. Segundo devido ao importante hábito do público na dependência das estações terrestres, cuja programação, em termos de recepção, não só atingia todo o país, mas particularmente a popularidade dos conteúdos quer da BBC quer da sua principal rival comercial, ITV. Porém, com a vantagem de um ano de avanço da Sky, mas, acima de tudo, devido às dificuldades técnicas enfrentadas pela BSB com os seus receptores, cuja tecnologia era completamente diferente da Sky, aliada a um excelente marketing, em que o Grupo de Murdoch é notável e comprovado no Reino Unido com jornais como o The Sun e News of the World, estava-se longe de, um ano depois, principalmente devido à direcção do até então desconhecido no Reino Unido, Sam Chisholm, cujo sucesso de 25 anos, na Austrália, à frente do Channel Nine, contemplara o sucesso da Sky, apenas um ano depois, obrigando a BSB a negociar a fusão com a Sky, em Novembro de 1990. Desde então, sem dúvida nenhuma, graças à acção de Chisholm, em 1992, a BskyB, atinge significativa margem de lucro – 180 milhões de euros, garantindo a cobertura dos jogos da então Primeira Liga, repetida, com enorme sucesso, no ano seguinte, mas com o prémio a dobrar! Com a aquisição da transmissão exclusiva tanto de jogos de criquete, de râguebi e de box, bem como de filmes acabados de estrear, a Sky tem se notavelmente imposto, adquirindo, igualmente canais noutros países, como é principalmente o caso da Itália. Com o aumento significativo de subscritores, faseados em vários escalões, dependendo dos pacotes de acesso, cujo preço mais elevado é de 60 euros mensais, com acesso a filmes, desporto e entretenimento, bem como a centenas de outros canais diferentes e pertencentes a outras companhias, nomeadamente a Disney, CNN, Discovery. National Geographic, etc. a Sky não tem limites! Não surpreende que esteja decidida a adquirir a totalidade do precioso bolo chmado BskyB, por 9.6 milhões de euros. Para isso, porém, tem que bater uma aguerrida e enorme oposição!

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

OBAMA EM PERIGO, OU... SIMPLESMENTE UM SUSTO?

Como recentemente assinalava um conceituado comentador americano, na Time, Joe Klein, (Time, 27 de Setembro, pág. 19): “Há uma enormidade de contradições, que me leva a concluír que a noção de que uma América seja conservadora, moderada ou liberal não passa de mera ficção criada por aqueles, como nós, sentados no topo da Montanha da Opinião”. Joe Klein foi ao âmago da questão: o extraordinário poder e influência dos media na população norte-americana! Porém, não se deve descontar o FACTO REAL do CONSERVADORISMO do povo americano e da influência tradicional que nele tem o radicalismo EVANGÉLICO! Outro importante facto é a influência dos media e do financiamento das campanhas eleitorais, em que, quem mais dinheiro tem, maior sucesso pode contar à partida. Se a vitória de Barack Obama, há dois anos, independentemente da excelente preparação, foi invulgarmente bem financiada, particularmente para um candidadato pouco conhecido, em relação e contraste com Hillary Clinton, embora com um eleitorado predisposto à mudança depois da desastrosa governação de George W. Bush, o cenário repetiu-se nas recentes eleições intercalares para o Congresso e Senado americanos, que deram ao Partido Republicano a maior vitória dos últimos 72 anos, e a esmagadora maioria no Congresso, a obtenção de 10 postos de Governadores e a quase conquista do Senado! A ironia está no facto da vitória da Oposição não se ter ficado a dever a melhores propostas políticas, mas ao facto do invulgar apoio dado pelos media, e vastas somas gastas na campanha, garantias do sucesso do Movimento Tea Party (que de partido nada tem, apenas o nome que deriva do histórico acto de rebelião por parte de patriotas americanos contra o domínio colonialista do britânico Jorge III, em que, no porto de Boston, em 16 de Dezembro de 1773, lançaram ao mar 342 caixotes de chá, em protesto pelo aumento dos impostos do chá e do monopólio estrangulador da então colonial Companhia das Índias Ocidentais). A estes factores, acrescente-se um país revoltado pelas maiores contingências económicas dos últimos tempos, nomeadamene o elevado desemprego e a impossibilidade de pagar as hipotecas, bem como a perspectiva do país perder a sua posição de potência mundial!

Portanto, o que significa esta derrota para o Presidente Obama, que apenas há dois anos empolgou o seu país e o mundo inteiro ao ser levado em glória à Casa Branca, o primeiro presidente mestiço da História Americana? Comecemos por esclarecer que é normal o eleitorado americano e não só, votar em eleições intercalares contra administrações no Poder. Obama não está só! Aconteceu tanto ao popular Presidente F.D. Roosevelt em 1938, ao outro popularíssimo Ronald Reagan, em 1984, como ao respeitado Presidente Clinton, em 1994, sendo qualquer dos três reeleitos nas contendas seguintes. Desta vez, porém, não é só Obama que está em jogo! O partido Republicano, tem no seu seio, um novo movimento, radical e ultraconservador, a quem, aliás, deve a sua retumbante vitória – o Tea Party, ambos com objectivos não totalmente concordantes! Se à maioria republicana no congresso, com mais de 60 lugares, procurará impedir a passagem de leis estruturais que Barack Obama pretendia, como a Lei Climática, ou o prometido encerramento da prisão de Guantánamo, que obviamente não há possibilidade de sucesso e, possivelmente até, a não rectificação do Tratado START II, assinado entre Obama e o Presidente Russo, Alexander Medveded, que favorece a redução de ogivas e armas nucleares dos dois países, tudo vai tentar para minar a nova e já passada lei do Serviço Nacional de Saúde, procurando reduzir, o mais possível, os tentáculos do enorme Polvo Governamental, no seu ideário de MENOS GOVERNO; o Tea Party, embora com semelhante objectivo, procura ir mais longe: além da redução dos impostos e a redução de subsídios governamentais a empresas, clama agora pelo termo do banco nacional, Reserva Federal, bem como tentar impedir, o mais possível, quaisquer possibilidades de sucesso que permitam a reeleição de Obama em 2012. E, se por um lado, os Republicanos procurem paralizar, o mais possível, a acção do Governo, o que, aliás, em minoria, fizeram no ano findo, e, mais notavelmente, em 1994, com Newt Gingrich a liderar o Congresso, há que adoptar um estratagema menos visível de forma a evitar a antipatia do eleitorado que lhe pode ser prejudicial nas próximas eleições! Neste contexto, e embora o Presidente venha a optar por uma política de centro, e possivelmente de direita, num eleitorado manifestamente conservador, caso seja bem sucedido na economia, como está determinado, com a nova injecção de fundos no total de 840 biliões de euros, até Junho do ano que vem e, caso venha a gerir a sua governação nos próximos dois anos, com a sabedoria e eficácia que lhe foram conhecidas durante a campanha presidencial, à semelhança de Reagan e Clinton, não deixará de ser reeleito. Outra incógnita, é o ritmo ou sucesso do Tea Party, que poderá, ou não, caír de moda.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

FRANÇA/GRÃ-BRETANHA: ENTERRADO, FINALMENTE, O MULTI SECULAR MACHADO DE GUERRA E A LONGA RIVALIDADE?

O Tratado Militar anglo-francês, assinado no passado dia 2, em Londres, em que os dois países partilham de recursos militares pelo menos até daqui a 50 anos, poupando cada um deles centenas de milhões de euros, prontifica várias e pertinentes questões: Realismo ou Génesis de Uma Força Europeia Conjunta? Embora dois dos mais importantes parceiros tanto na União Europeia como na OTAN, os dois vizinhos, apenas separados pelo estreito do Canal (para os Franceses Le Channell de la Manche, mas para os Ingleses, The English Channell), mas agora ligados pelos 42km do Eurotúnel, a História é abundante em guerras, inimizades e rivalidades. Enterrado o machado de guerra? Nova e histórica era de co-operação? Foi o que os dois dirigentes signatários, Presidente Sarkozy e o primeiro-ministro, David Cameron, afirmaram! Se para o Presidente Sarkozy trata-se “de uma decisão sem precedentes, demonstrando nível de co-operação e confiança entre os dois países, caso único na história”, para David Cameron “o princípio de algo novo...um tratado baseado em pragmatismo e não em sentimento”. Pragmatismo, sem dúvida, particularmente quando forçado por questões económicas dos dois países, desde a Entente Cordiale, assinada em 1906.

Após um multi secular historial, de conflitos e traições mútuas, sem dúvida os dois vizinhos concluíram um notável e histórico tratado, em que, no futuro, em vez de se degladiarem, lutarão juntos, com os recursos mútuos. Mas, como David Cameron, conhecido eurocéptico, fez questão de frizar, não está em causa a independência e soberania, pelo menos do seu país! Boas intenções, perfeitamente, mas como o matutino francês Le Figaro assinalou, as boas e optimistas intenções “têm que ser gravadas em pedra”, ou melhor, da intenção à prática! Esta, a grande incógnita levantada principalmente pelos cépticos britânicos, quando está em causa a partilha conjunta tanto de homens (força expedicionária composta por 10, 000, incluindo comandos, serviços especiais e infantaria) como de material bélico, incluindo aviões e porta-aviões, investigação e aperfeiçoamento de equipamento militar, ou, mais delicadamente ainda, a investigação e testes de equipamento nuclear, incluindo ogivas, em que a França está à frente, pelo menos em simulação informática. Outra importante extensão é a partilha de investigação na ciência cibernética e na tecnologia e combate de minas marítimas. Separação dos Estados Unidos, esse grande sonho de de Gaulle, génesis de um Exército Europeu, anátema dos britânicos? Em relação à primeira questão, segundo fontes do Pentágono, a separação dos EUA não está em causa uma vez que os britânicos estão dependentes, e partilham, de sistemas nucleares americanos, como é o caso do Trident. Porém, e em relação ao início de Uma Força Militar Europeia, é cedo para se fazerem conjecturas! Mas, este entendimento entre as duas principais potências europeias de defesa e membros da UE, pode muito bem ser o princípio! Se assim for, o mais irónico é o facto da sua génese ter partido de um eurocéptico como David Cameron! Pragmatismos, como ele afirmou? Vejamos. O tempo o dirá! Intenção aflorada na Cimeira de St. Malo, em 1998, entre Jacques Chirac e Tony Blair, e, nos últimos anos, avançada peloseu sucessor, Gordon Brown, coube a David Cameron e Nicholas Sarkozy, confirmarem e selarem o acordo no vetusto e histórico palacete de Lancaster House. Para trás, enterradas pelo machado de guerra, ficam para a História as quezílias, disputas e confrontos nos campos de batalha, que remontam à invasão de Guilherme, e o seu exército normando, em 1066, como bem o tipifica esse belo e enorme documento, As Tapeçarias de Baieux, da Batalha de Hastings, exibidas não muito longe, no Museu de Bournemouth. Para trás, também, fica a Guerra dos Cem Anos, do século XIX, que culminou com a vitória britânica em Agincourt, em 1415, as guerras napoleónicas e a vitória de Trafalgar. Tudo isto é apenas névoa de uma história distante, quando novos horizontes se desbravam entre os dois antigos inimigos, mas que, também juntos, afastaram a ameaça Nazi!

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

BIRMÂNIA – QUE FUTURO?

SAUDEMOS A LIBERTAÇÃO da laureada Nobel, Aung San Suu Kyi (pronuncie-se Ong San Sú Xí), detida, desde 1988, em prisão ou prisão domiciliária, 15 dos últimos 21 anos. Porém, um aviso: não a confundamos com a libertação de Nelson Mandela nem, tão pouco, no contexto da África do Sul. A que é considerada “mãe do nosso país” pelas dezenas de milhar de adeptos que a aclamaram, e que, segundo o veterano jornalista da BBC, John Simpson, 70% do país está com ela, as suas primeiras palavras de exortação foram “unidos para atingirmos o nosso objectivo”, pelo que “não devemos perder a esperança”! Esperança, é, portanto, a mensagem! Porém, permanece a incógnita: abertura do regime? Possíveis e limitadas negociações com a libertada dirigente? Perante o longo historial do opressivo regime, a opinião diverge. Uns, mantém que a libertação de Suu Kyi não passa de um acto de relações públicas para agradar aos amigos asiáticos da ASEAN, nomeadamente Singapura e a Indonésia! Por isso, não se confunda por acto de desejada democracia quando a preocupação do regime foi previamente reforçar a sua posição! Depois das chamadas “eleições” gerais, realizadas a 7 do mês passado, preparou-se bem o terreno seleccionando os seus acólitos e, antes, reforçar a sua posição com a revisão da Constituição de 2008 que concede 25% dos 440 deputados e 224 senadores, às Tatmadaw (Forças Armadas), com a alegada vitória de 80%, numa fraca frequência às urnas, e muitos que o fizeram, não foi de livre vontade, está garantida a continuação do regime numa pretensa e alegada reforma democrática, quando ainda 2,200 presos políticos permanecem nas prisões e milhares de refugiados se encontram deslocados na vizinha Tailândia.! Porém, e segundo o já citado John Simpson, “trata-se de uma grande decisão e desafio para o regime militar, com possíveis consequências de uma desejada abertura e possível diálogo”. Só o tempo o dirá! Entretanto, como desejável pano de fundo histórico, tentemos penetrar no denso véu de um dos mais obscuros, secretivos, pobres, corruptos (penúltimo lugar da tabela internacional da Transparency International), mas mais militarizado país do Mundo, incluindo as bem especuladas possibilidades de poderio nuclear!

A Birmânia, que o poderoso e brutal regime militar, insiste em baptizar Myanmar., país pobre, não necessariamente pela falta de recursos naturais, mas extremamente rica em ouro e outros minerais, madeiras preciosas, petróleo, gás e ópio, cuja população, sem direito à terra, embora com a superfície de 678,500 km2, fazendo dele o 40º mais vasto país do Mundo, depende da agricultura, é um país detentor de uma história milenar belicista, monárquica, até 1885, forjada com a conquista de vários reinos, finalmente unificados, e profundamente imbuída pelo Budismo, que em 1960 foi reconhecido como religião nacional. De passado belicoso, particularmente em relação à vizinha Tailândia, cuja capital, então Ayutthaya, (ainda nome pela qual os birmaneses classificam a Tailândia) foi três vezes destruída (1564, 1569 e 1767), a Birmânia, antiga colónia britânica desde 1885 até 1948, é formada por 135 etnias, sendo a bangladeshi a mais predominante, mas não reconhecida pelo actual regime. País cioso das suas tradições, enraizadas por um budismo extremamente anti-colonial, geograficamente estratégico, cuja Baía de Bengala é ciosamente disputada pelas emergentes potências, India e China, para esta particularmente por ser a maior e mais importante via de transporte petrolífero, salvo os primeiros 14 anos de governo civil, cedo caíu em poder dos militares, primeiro em 1962, excepto o breve interregno de 1958-60. Administrativa e politicamente separada da Índia, em 1937, e ocupada pelos Japoneses em 1942, durante o consulado civil, em que se distinguiria a chefia de Aung San – 1911-1947- (pai de Aung San Suu Kyi), a quem se devem tanto as negociações da independência, com o primeiro-ministro britânico, Clement Atlee, em 27 de Janeiro de 1947, como a formação da moderna Birmânia, este altamente respeitado estadista, particularmente pelas etnias, a quem convenceu a adesão a uma Birmânia Federada, seria assassinado, juntamente com vários membros do seu gabinete, em 19 de Julho de 1947. Com as primeiras eleições em 1960, mas que depois de crises étnicas, o primeiro golpe militar ocorreria em 1962. Com o segundo golpe militar, em 1988, surgiu à ribalta política a filha, Suu Kyi, por casualidade de passagem pela Birmânia, para cuidar da mãe, uma vez que, como residente e casada na Inglaterra com um professor de Oxford, que morreu de cancro em 1999, e proibido de visitar a mulher, Suu Kyi, com o sangue do pai a fervilhar, particularmente depois do levantamento popular de 1988, em que os militares mataram brutalmente cerca de 10 mil pessoas, não se pôde conter, permanecendo no país à frente do partido, Liga Nacional para a Democracia, ganhando as eleições realizadas em 1990. Adversária a abater, ou melhor, a controlar, foi detida em regime de residência vigiada.

Porém, a mais notável revolta popular, esta oriunda dos clérigos budistas, e intitulada “Revolta do Safrão”, devido à cor dos trajos dos monjes, surgiu em 2007, debelada com a mesma represália e brutalidade anteriores. Regime imposto a ferro e fogo à população, particularmente apoiado pela China, que além de vizinha é a sua maior parceira comercial, embora largamente ostracizado pelo Ocidente, aderiu à ASEAN (Associação das Nações do Sudeste Asiático), em Julho de 1997. Subjugada, a pobre população seria vítima, no ano seguinte, pelo desasrre provocado pelo ciclone Nargys que matou mais de 138 mil pessoas, mas que afectou 1,5 milhões em que a maioria perdeu os seus lares.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Funerais e Cemitérios

O funeral, não religioso, no ano passado, do saudoso e altamente talentoso Raul Solnado, e a lamentável ausência de uma devida elegia fúnebre, independentemente, claro, da manifesta e vasta voluntariedade pública, que lhe rendeu prestimosa e mui justifica homeagem, chocou-me e prontificou-me salientar o importante contraste entre a corrente tradição Católica e Portuguesa e a Protestante e Britânica. Na nossa tradição, os funerais são caracterizados pela sobriedade e despedida dos defuntos, envolvendo, geralmente, a longa vigília que antecede o enterro. Esta, igualmente, a tradição Católica, principalmente nos países latinos. Longe, porém, - e felizmente - vai a prática do tradicional luto e da negridão que tal sentimento acarretava, geralmente entre as mulheres viúvas e familiares mais directos! Semelhante situação, a prontificar sentimentos lúguebres, são os nossos cemitérios, particularmente os da província. Lembro-me, em particular, nos meus tempos de infância, o sentimento, misto de temor e solidão, quando passava pelo cemitério de Tonda, minha terra-natal, agravados, em dias de vento, pelo lúguebre sibilar dos altos ciprestes.

Que contraste, tanto com os funerais como com os cemitérios britânicos! Se, no primeiro caso, os funerais são geralmente actos de homenagem e, até de louvor, permeados por compreensível satisfação pela vida do defunto, em que, além de hinos ou músicas preferidas pelo homenageado, não falta a tradicional elegia, em que se recordam eventos e qualidades do visado, segue-se a tradicional festa familiar, em que no meio de bebidas e iguarias se conhecem novas pessoas e se iniciam novas amizades. Por seu lado, os cemitérios britânicos, os mais antigos ainda ligados aos templos das paróquias, são caracterizados por jardins, com as sepulturas, em que não faltam as tradicionais placas de pedra, umas com sentida homenagem, outras até humorísticas e ainda aqueloutras a relatar e reflectir características pessoais do defundo. Neste contexto, uma das tradições das escolas britânicas é os alunos visitarem os cemitérios, não como meio de reflexão, mas de estudo e compilação das inscrições mais sugestivas! Dentre os cemitérios britânicos que se podem considerar excepção a esta regra, é o de Highgate, a noroeste de Londres. Nesta secular e famosa necrópole, onde estão sepultadas figuras notabilíssimas da vida britânica e até internacional, como é o caso de Karl Marx, salientam-se belos e caríssimos monumentos arquitectónicos, muitos deles semelhantes aos mais ricos mausoleus que se encontram em alguns dos nossos cemitérios. Não surpreende, o enorme interessante dos visitantes a tão venerado recinto. Por isso, as visitas são restrictas, pelo que só dependem de marcação prévia. Embora predomine a tendência das cremagens, sempre acompanhadas das práticas antes descritas, aumenta o inevitável dilema dos espaços, dos cemitérios antigos, particularmente no centro, ou na periferia das grandes cidades, como é o caso de Londres, em que os custos de manutenção são enormes. Não surpreende a compreensível polémica quando as câmaras procuram desfazer-se destes indesejáveis custos, particularmente nos cemitérios praticamente abandonados pelas famílias dos sepultados. E, como não é hábito as trasladações, como acontece em Portugal, em que normalmente dez anos depois se transferem as ossadas, o problema agrava-se. Ainda recentemente, a controvérsia atingiu o rubro quando a câmara de Westminster, no centro de Londres, vendeu dois grandes cemitérios a empresas privadas, apenas por um euro cada!

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

A MEMORÁVEL ÉPOCA DOS ANOS 60

Evoco este tema não pelo simples facto da famosa e inebriante Carnaby Street ser alvo, este ano, de justficada efeméride - o seu cinquentenário! Não! Recordo, mui justificadamente, uma época sui generis, que classifico de preciosa dádiva a um sedioso de História e Cultura de que me considero privilegiada testemuha ocular e altamente beneficiada. Não foi, quando apenas cheguei, determinado a beneficiar da experiência e notoriedade da BBC, mas vingar nessa grande Casa-Escola, cheia de homens notáveis pelos seus feitos e actuação durante a II Grande Guerra, mais notáveis ainda pela sua comprovada modéstia, pois deles nunca directamente ouvi o que fizeram, ou a sua indesmentível valentia e arrojo, mais tarde ouvido ou aprendido por outras fontes, mas ainda outras extraordinárias experiências, que indelevelmente me marcariam. Não, não me refiro apenas ao constante som dos sucessos dos Beatles, com o Yellow Submarine, o primeiro dos quais faria o meu baptismo musical de tão falado e admirado conjunto, a ecoar nos meus ouvidos, mas ao todo envolvente freneticismo, particularamente de uma juventude sequiosa e determinada a ensinar aos pobres pais e avós, testemunhas e vítimas, tanto na alma como no sangue, de uma guerra de onde procuraram escapar com vida e que, contrariamente aqueles, agora com empregos e dinheiro era senhora de si própria, essa juventude, reinava, sem barreiras!




O choque, ou melhor, a ansiedade, a sede, de alguém que sempre se deleitou na descoberta instigada por dois notáveis mestres, um, que lançou as sementes na Escola Primária, em Tonda, o inesquecível Prof. Fontes e, outro mais tarde, num colégio lisboeta, Dr. Santos Alves, que mais tarde me enriqueceu como amigo, teria na Grã-Bretanha desses notáveis tempos, novo – e vasto – alfobre de conhecimento e EXPERIÊNCIA! Mais notável ainda, por não me considerar estrangeiro, embora não correspondido pela, por eles esperada, naturalização! Além de ser BENEFICIADO tive, igualmente, a ENORME HONRA de SER e FAZER HISTÓRIA, graças à límgua de que muito me orguilho, em inumeráveis actividades diplomáticas, ao seviço do país de acolhimento! Mas divago, Voltemos à nobre época dos anos 60. Como dizia um dos meus notáveis e brilhantes Mestres, o extraordinário historiador, Professor Dr. Arthur Marwick, na sua inesquecível obra, The Sixties (Os Anos Sessenta), trata-se de um período, que classicamente antecedeu essa década e se prolongou na seguinte, e deve-se a um conjunto de factores que a formaram. Se a proliferação das revistas mais acessíveis, como a explosão de livros baratos, devido à iniciativa, até então inédita, da editora Penguin, tiveram um bom quinhão, peças teatrais como Look Back in Anger (O Tepo e a Ira), também adaptada ao cinema com o título Paixão Proíbida, dirigida pelo cineasta britânico Tony Richardson (1958) de autoria do dramaturgo britânico John Osborne, que justificava e favorecia a rebeldia, filmes como Um Lugar na Alta Roda (Room at The Top) - dirigido pelo também cineasta britânico Jack Clayton – 1959 - e a decisão do tribunal em autorizar a publicação da controversa obra do romancista D.H.Lawrence, O amante de Lady Chatterley, tiveram muito a ver com a revolução cultural que se caracterizou pelos "anos sessenta" e que o então famoso jornalista da BBC, Kenneth Allsop, classificou de "Década dos Furiosos", na sua obra do mesmo nome (The Angry Decade). Uma época particularmente notável para a sociedade britânica em que em 1965 viu a abolição da pena de morte, em 1967 a legalização do aborto, interpretada como a liberalização da mulher, no mesmo ano a homosexualidade foi despenalizada, no ano seguinte disse-se adeus à censura e, em 1969, a alteração da lei facilitou o divórcio. Época da revolucionária e inicialente escandalosa mini-saia, lançada pela ousada e atrevida Mary Quant; período em que a conservadoríssima BBC, ao lançar e corresponder à nascente música pop ousadamente fundou a estação Rádio UM, completamente dedicada à emergente e dominante musica, que o Daily Mail da época se insurgiu e classificou de “éscandalosa música de lata”! Esta, em suma, a época descrita, com admiração e horror, por dois jornalistas europeus diferentes. Para o Le Monde, no artigo Chronique des Annés Soixante, de autoria de Michel Winock "Se a bandeira de um país merece ser desfraldada em representação dos anos 60, esse bastião é o inglês. Essa Inglaterra que os continentais imaginam ser restricta e controlada pelos príncipios victorianos, foi o exemplo à juventude do mundo inteiro"; e para o jornalista italiano de Epoca, num misto de resignação e de admiração expressou-se da seguinte forma: "Cinco milhões de jovens ingleses de idade inferior a 21 anos subverteram todos os costumes e tradições da sociedade Britânica. Destruíram as barreiras da língua e da classe. Vestiram-se, fizeram barulho e rebelaram-se contra os regulamentos que governam a reticência e a modéstia acerca do sexo. O que é que pretendem? Nada, excepto viver desta maneira."

quinta-feira, 24 de junho de 2010

AS SANGRENTAS CHAGAS DA IRLANDA DO NORTE

AS SANGRENTAS CHAGAS DA IRLANDA DO NORTE

Nos 45 anos de vivência no Reino Unido, a maioria dos quais intensamente absorvidos na observação, mas acima de tudo, na interpretação e transmissão dos factos, quer por via radiofónica quer escrita, ou até através da imagem, a Irlanda do Norte e as suas, mui britânica e eufemisticamente cognominadas “troubles” (agitações ou preturbações), ocuparam e impressionaram não o jornalista, mas o preocupado ser humano durante ltrês décadas. As notícias, corroboradas pelas várias visitas aos pontos fulcrais das lutas intestinas e das múltiplas conversas tanto com militares como, e principalmente habitantes, dominaram o nosso intenso trabalho jornalístico. Na nossa retina e mente, porém, a imagem de um audacioso homem, um ousado pacificador pároco, então Dr- Edward Daly e actualmente bispo de Derry, de lenço branco na mão, seguido de um grupo de homens que transportava um jovem ensanguentado e exchangue no frio e fatídico domingo, 30 de Janeiro de 1972, na segunda principal cidade norte-irlandesa, a noroeste de Belfast, Londonderry (para os britânicos, mas que os norte-irlandeses insistem chamar apenas Derry), por ser prelúdio do sangrento episódio que ficaria conhecido por “Bloody Sunday” (Domingo Sangrento), jamais se esvaírá. Embora a chacina, em que pereceram 13 pessoas, sete das quais jovens de 17 anos, morrendo outro, dos ferimentos, poucos dias depois, e 27 feridos, provocada pelos tiros dos comandos britânicos ali estacionados, não fosse a maior dos sangrentos 30 anos de história daquele belo território, ela deu lugar ao virar de uma negra página e à abertura do trágico e sangrento capítulo que se seguiria, desmembrando por completo duas comunidades. Se prelúdio do maior e longo sangrento historial, “Blood Sunday” daria lugar ao maior e mais intenso recrutamento do até ali praticamente adormecido IRA, ou PIRA (Exército Provisional Republicano Irlandês), como preferem chamar na Irlanda do Norte. Da que fora a apenas, e até ao bairro de Bogside, pacífica manifestação organizada pelo Gupo de Direitos Civis, composta por entre 5,000 e 20,000 pessoas, a pretexto de que tiros teriam sido disparados pelos manifestantes, as três dezenas de militares, por ordem do imediato comandante, coronel Derek Wilford, mas contrariando ordens superiores anteriores, decidiu atirar sobre os desarmados manifestantes, dando lugar a um dos piores capítulos da história militar britânica.
A chacina teria repecursões imediatas, provocando o que seria o primeiro processo investigativo judicial liderado pelo Juiz Supremo, Lorde Widgery. Porém, ao ser divulgado, em 1972, defendeu os comandos e culpou os manifestantes, que afirmou serem “terroristas armados” provocando enorme clamor e revolta em toda a população católica, principal e compreensivelmente entre as famílias das vítimas que o classificaram de “enorme afronta”. Perante os enormes protestos, e contrariamente à oposição, principalmente dos militares, o então primeiro-ministro, Tony Blair, um dos principais mentores do Processo de Paz, foi corajoso ao decretar novo e mais completo inquérito judicial que teve início em 1988 sob a tutela de Lorde Saville. E inicialmente orçamentado em 15 milhões de euros, para ser apresentado dois anos depois, porém, volvidos mais dez, as tão detalhadas conclusões, em que foram ouvidas cerca de 2,500 testemunhas, incluindo 245 militares,505 civis, 33 chefes da polícia, figuras políticas, peritos forenses, jornalistas, sacerdotes, membros do IRA, incluino o actual vice-primeiro-ministro da Irlanda do Norte e na altura segundo comandante do IRA em Derry, também participante na manifestação, Martin McGuinness, resultando em 160 volumes de minuciosa evidência, 30 milhões de palavras, 13 volumes de fotografias, 121 gravações sonoras e 10 de vídeo, pelo astronómico custo total de aproximadamente 300 milhões de euros, Porém o relatório final principal foi sintetizado em 5,000 palavras, compreendendo 10 volumes de sólida evidência exonerando as vítimas do que classificou “injustificado” e “injustificável disparo”, fazendo questão de esclarecer que foram alvejadas pelas costas, acusando os militares por tão inaceitável chacina.
Como seria de esperar, as famílias das vítimas exultaram ao terem conhecimento do resumo final de tão longa espera, particularmente pela evidência da inocência dos seus ente-queridos, uma das suas longas reivindicações. Mas não só, ao ouvirem e verem, no vasto écran, junto ao local em que milhares se concentraram, precisamente na Praça do Guildhall, onde a fatídica manifestação deveria terminar, para celebrar tão memorável evento, o primeiro-ministro, David Cameron, na Câmara dos Comuns, solenemente, admitir a culpabilidade dos militares, pedir desculpa e concluír que o “que aconteceu no Domingo Sangreto foi injustificável e errado”, irromperam em aplauso com lágrimas à mistura! Resta saber se, como Tony Blair anunciou, ao determinar novo inquérito em 1988, com a Irlanda do Norte e gozar desde 1998, tão almejada e necessária paz, depois de morte de mais de 10,000 pessoas, em sua maioria civis, incluindo militares e polícias, se “o doloroso capítulo está para sempre encerrado”. Só o futuro, possivelmente próximo, o dirá. Enquanto há famílias que clamam pelo julgamento e condenação dos militares, principalmente o soldado, cuja identidade permanece oculta e apenas classificado por “F”, a quem é atribuído o assassinato de seis manifestantes, para os políticos, a decisão compete exclusivamente ao Promotor Público, que, aliás, afirma estar a considerar o assunto. Por enquanto, um dado promissor: a comunidade protestante, também uma das grandes vítimas, na pessoa do influente deputado, Gregory Campbell, aponta “esqueça-se o passado e olhemos para o futuro”!

sexta-feira, 18 de junho de 2010

OS INESCRUTÁVEIS MISTÉRIOS DA MENTE HUMANA

O condado de Cumbria (noroeste da Inglaterra), bela zona rural, igualmente famosa pelos seus lagos, com cenários que inspiraram pintores, e onde residiu, como também inspiraram, o célebre poeta britânico William Wordsworth (1770-1850), foi cenário manchado pelo taxista de 52 anos de idade, Derrick Bird. Munido de uma pistola e espingarda, da janela do seu carro, chacinou 12 pessoas na fatídica manhã de quarta-feira 2, deste mês. Em apenas uma hora matou 10, e feriu 25, 11 das quais hospitalizadas, algumas em estado grave, em trinta localidades, pondo, três horas e meia depois, finalmente, termo à vida, no mais ermo dos locais. Este acontecimento, numa região normalmente bucólica, compreensivelmente abalou não apenas uma comunidade, mas todo o país e prontificou as mais recônditas questões. De novo, crimes e criminosos em massa como este, prontificam a questão do nosso título! Porém, e por muito que o tentemos jamais obteremos a resposta adequada!

Mal o primeiro assasinato, o irmão gémeo, David, que ocorreu pouco depois das 0830, em Frizington, cinco outras premeditadas vítimas se seguiram, incluindo o advogado da família, Kevin Commons, e colegas taxistas, que atingiu no local habitual de Duke Street, na cidade de Whitehaven. Embora alvejando três, apenas matou dois, Darren Rewcastle e Darren Pears. Dali, desvairado, percorreu as estreitas estradas rurais do condado, num perímetro de 100km, matando, durante três horas, quem encontrava ou quem lhe dava na real gana, inclusive, um pobre ciclista reformado, nos seus exercícios diários, ou a infeliz senhora que, no passeio, se dirigia para visitar a irmã ou ainda o lavrador jogador-amador de râguebi que se encontrava no seu terreno. Embora a polícia procure as respostas para tão hediondo acto, particularmente quando Bird era tido como uma pessoa absolutamente normal e sossegada, e haja indícios tanto de disputas familiares de heranças, como acossado, e em vias de ser detido, por evasão fiscal, nada mais resta que o lamentável e negro registo de tresloucados na história britânica. Desde Jack - o Estripador, devido à forma bárbara, mas profissional, em como se desfazia das suas vítimas, pelo menos seis, e todas prostitutas, no bairro de Whitechapel (leste de Londres), entre Agosto e Novembro de 1888, e crime idêntico por parte de Peter Sutcliffe, ao matar 13 prostitutas, pelo que lhe valeu o nome de “Ripper de Yorkshire”, e a pena de prisão perpétua no Tribunal Central de Old Bailey, em Londres, em 1981; em Maio de 2010, a mesma cidade seria cenário de nova reincidência, desta vez, com a morte de três mulheres da mesma profissão, cujos corpos de duas ainda não foram encontrados, em que Stephen Griffiths, que se doutorava em Criminologia na Universidade de Sheffield, foi descoberto e acusado. Estas serializações de crimes, embora raras, sucederam-se às chacinas de Hungerford (Oxfordshire), em 1987, em que Michael Ryan matou 16 pessoas ao acaso nas ruas da vila, bem como em Dunblane (Escócia), numa escola da cidade, onde o que fora chefe dos escuteiros, Thomas Hamilton, em 13 de Março de 1996, matou 16 crianças e uma professora. Qualquer destes assassinos em massa evadiu-se à justiça matando-se a si próprios. Semelhante sorte teve o chamado “Dr. Morte”, o médico Harold Shipman, que, na prisão, e em vésperas do início do julgamento, apareceu enforcado na manhã de 13 de Janeiro de 2004, também um dia antes de fazer 58 anos e se encontrava detido no que poderia dar em pena de prisão perpétua, pela morte de 15 pacientes seus, todas senhoras, com injecções de diamorfina. Mas, segundo peritos em lentos e longos estudos, teria na realidade morto, pelo menos 215 pessoas, durante os 30 anos, em que exerceu clínica geral, principalmente em Hyde, na zona da Grande Manchester, no noroeste da Inglaterra. Antes, porém, há a assinalar o criminoso John Haigh, a quem foi atribuída a morte de nove mulheres ricas. Depois de beber o seu sangue cortou os corpos aos bocados decompondo-os em ácido. Foi enforcado em 1949. Seguiu-se-lhe o antigo polícia, John Reginald Christie a quem foi atribuída a morte de seis mulheres, em Londres, que depois de violar e estrangular escondeu os corpos debaixo do sobrado da sua residência, sendo enforcado em 1953. Aos namorados Ian Brady e Myra Hindley, deve-se a morte de, pelo menos, cinco crianças, em Oldham (Lancashire), entre 1963 e 1965, ao casal Fred e Rosemary West, o assassinato de 12 jovens, incluindo a filha, em Gloucester (oeste da Inglaterra) entre 1971 3 início de 1990. Ao funcionário público Dennis Nielsen, embora condenado em 1983 pela morte de seis homens homosexuais, suspeita-se que tenha degolado pelo menos 15 nas suas residências de Muswell Hill e Cricklewood (norte de Londres), durante a década de 70, de cujos corpos se desfez, quer guardando-os debaixo do sobrado quer cortando-os. Tanto este como o casal West foram condenados a prisão perpétua, embora Fred West se tenha suicidado na prisão.

Toda esta negra lista prontifica as habituais questões, “porquê, porquê?” Questões que os psicólogos não se cansam de esmiuçar, embora, cientifíca e historicamente todos saibamos que o Homem, do Reino Animal, é o que mais mata o seu semelhante, quer a nível individual quer colectivamente em guerras. Inescrutáveis mistérios da mente humana!

sexta-feira, 11 de junho de 2010

O DESPERTAR DA SONOLENTA E HISTÓRICA WOOTON BASSETT

Wooton Bassett, até há poucos anos pacata e adormecida vila saxónica, originalmente chamada Wodeton, do belo Condado de Wiltshire (sudoeste da Inglaterra), remonta a 681, mas que em 1200 foi doada ao Lorde Alan Bassett, e daí o nome, tem outro predicado histórico – o de estar ligada a uma das oito mulheres de Henrique VIII, Catherine Parr, que residiu na vizinha Mansão Vastern. Actualmente com 11.043 habitantes, Wooton Bassett conhece novo e importante predicado – a Hospitalidade e Honras Fúnebres aos Herois das Batalhas Britânicas.
Devido à sua vizinhança da Base Militar da RAF de Lyneham, também conhecida pelo aeroporto de destino e de regresso dos soldados mortos nas operações militares, primeiro no Iraque e actualmente, quase diariamente, no Afegasnistão, Wooden Bassett, assumiu nova e importante prominência e notoreidade pelas cada vez mais frequentes imagens na televisão, com a chegada dos caixões dos soldados mortos. A rua principal deste vilazinha, e os seus habitantes, fazem questão de receber e homenagear os féretros dos herois, em sua maioria jovens, caídos em combate, particularmente na região de Sangin, na província de Helmand, no sul do Afeganistão.
Tradicionalmente, a fila de carros negros, em passagem lenta, liderada por austero mestre de cerimónias, trajando negro e de alta cartola, não faltando bengala ou chapéu de chuva, pára no meio da rua da vila para receber a primeira homenagem da população civil, bem como militar, geralmente colegas, que formando ala, reconhecida e agradecida, coloca, no meio de lágrimas, uma a uma, rosas e outras flores, cobrindo totalmente os veículos. Entretanto, como cenário habitual, os transportadores de bandeiras, geralmente dos principais regimentos a que os homenageados pertenciam, baixam-nas como prova de homenagem e respeito. Wooden Bassett, faz, assim, questão de ser actualmente a primeira a homenagear os herois que regressam, sem vida, e que dali partem para os locais onde residiram com os seus ente-queridos, pais, mães, irmãos, mas especialmente esposas, agora viúvas, e seus filhos, muitos deles que nasceram sem os pais os terem conhecido em vida. Em reconhecimento a este elevado espírito de solidariedade, a 12 de Outubro de 2008 as Forças Armadas fizeram questão de desfilar pela vila a fim de agradecer aos seus habitantes tão prestimosos apoio. E, em Maio de 2009, a Royal British Legion, organização civil de beneficência a favor dos militares reformados ou mortos e suas famílias, homenagearam a vila com sentida Condecoração. Popular homenagem foi-lhe igualmente tributada em Março de 2010, por milhares de motards num desfile em que grangearam 15 mil euros para a Royal British Legion. Mas o maior tributo, partiu de Isabel II, que, embora raro, mas à semelhança de outras vilas ou cidades lhe foi outorgado o título de Real Wooton Bassett. Porém, em 2009, o grupo islâmico Islam4UK, num país democrático como aqueles que não o eram dos países de que foram oriundos, provocaram compreensível revolta do país inteiro ao insistirem numa manifestação na vila, intenção resistida pelos seus habitantes que ameaçaram desertá-la e, como sinal de protesto, levantar vedações nas ruas principais. Depois do Iraque, o Afeganistão, e principalmente Sangin, na província de Helmand, é actualmente cemitério da juventude militar britânica. Até agora, ali morreram ou mais tarde pereceram nos hospitais do país, quase 300 militares, descontando, claro, os inúmeros feridos, muitos deles graves, em sua maioria desfigurados ou sem membros - pernas e/ou braços. e que, a demonstrar contínua bravura, procuram adaptar-se à nova, mas trágica situação.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Sós ou (Mal) Acompanhados?

Na capa de um dos recentes números da conceituada revista National Geographic (edição em Inglês), perguntava-se “Estaremos sós?”. O seu interior, era complementado por extraordinárias montagens e fotos. Porém, agora, graças à avançada tecnologia, aos inúmeros satélites, mas principalmente à sofisticadíssima aparelhagem óptica, lançada a milhares de quilómetros no espaço, da possível ficção passou-se à realidade, como muito bem se aponta na referida reportagem. Nela se refere, por exemplo, que até agora os astrónomos conseguiram identificar mais de 370 classificados “exoplanetas”, ou seja, planetas fora do Sistema Solar. Em relação a Saturno, verifica-se agora que, estando à distância de 260 anos-luz da Terra, (*) encontra-se acompanhado por outro satélite quente, afastado, e rodopiando a cerca de 150 anos-luz daquele, que numa rotação nos nossos termos, de um ano, lá, dura menos de três dias! O objectivo dos cientistas, que na Lua já descobriram a existência de algo semelhante à água, é encontrar planetas idênticos à Terra. Caso concreto, é a descoberta no satélite Europa, a lua do Planeta Júpiter, quase idêntico à Terra, em termos de tamanho, conta com um vasto oceano de água, com a profundidade aproximada de 100km. A questão, a grande questão, é saber se contem suficiente oxigénio indispensável à vida. Outro enorme planeta, o já menciondo Saturno, aquele de vastos aneis, igualmente se sabe conter àgua, mas esta é gelada e que não permite qualquer qualidade de vida. A procura continua e graças aos enormes avanços da Cosmografia, muito há a percorrer, quando, apenas 11 dos 370 distantes planetas, enormes e luminosos, foram detectados pela técnica espectoscrópica Doppler.
Vejamos, portanto, a tecnologia reveladora de tais maravilhas. Ao satélite francês, COROT, por exemplo, agora na fase final de vida de três anos, deve-se a descoberta de sete exoplanetas em trânsito, um dos quais é 70% maior que a Terra. Porém, o satélite americano, Kepler, lançado a partir da base do Cabo Canaveral, nos Estados Unidos da América (EUA), em 12 de Março do ano passado, é, nada mais nada menos que uma potente câmara digital de .95 de abertura e com um detector de 95 megapixeis. Obtém fotos de uma largura vastíssima, de trinta em trinta minutos, captando a luz de 100.000 estrelas, num simples trecho do firmamento, entre as brilhantes estrelas Deneb e Vega. A ele, se deve, segundo a notícia divulgada pela Sociedade Americana de Astronomia, em Washington, em 4 de Janeiro´passado, a detecção dos seus cinco primeiros planetas fora do sistema solar, com tamanhos que variam entre uma dimensão semelhante a Neptuno e uma maior que Júpiter. Chamados Kepler 4b, 5b, 6b, 7b e 8b, a sua descoberta resulta de cerca de seis semanas de recolha de dados desde que as operações científicas começaram, a 12 de Maio de 2009. No entanto, são todos demasiado quentes para conter vida, salientam os responsáveis pela missão. As temperaturas estimadas nos exo-planetas variam entre os 1200 e os 1648 graus Célsius.A estes, juntam-se aos 415 exo-planetas já detectados desde 1995, graças a outros telescópios. Aos computadores, em Terra, compete decifrar o brilho de todas as estrelas, alertando os cientistas, ao detectarem a menor cintilação que possa assinalar o trânsito de um planeta. Outro passo tecnológico, assás igualmente importante, foi a actualização, em Maio do ano passado, do Telescópio Espacial Hubble, pelos astronautas. Graças a novos e mais sofisticados mecanismos, como lentes mais potentes, além de prolongar a vida deste excepcional equipamento espacial, obtêm-se imagens mais nítidas e novas galácias. Porém, com o anunciado telescópico gigantesco, E-ELTE, de 42 metros de diâmetro de abertura, a instalar nas montanhas chilenas, aumenta a expectativa dos astrónomos. Possivelmente em saber mais sobre a Nebulosa Carina, a 7500 anos-luz da Terra e a multidão massiça de estrelas da constelação Omega Centauro, que pela primeira vez revela galácias, representadas por simples pontos de há 13.1 biliões de anos atrás, como aponta
o cientista Garth Illingworth da Universidade de Santa Cruz da Califórnia.
(*) Medida de distância astronómica igual à distância que a luz atravessa no período de um ano, ou
12km
seja, 9.463x10 , (1 pc = 3.26161.y ). A distância entre a Terra e a Lua é de 148.8 milhões de km

quinta-feira, 27 de maio de 2010

“ARQUITECTO-MÓR”

Um Povo, num País, que até há apenas 30 anos, tinha que formar fila, longas e constantes filas e esperar, pelo menos quatro horas, para um simples e necessário corte de cabelo; que para fazer um fato de homem, verdadeiro luxo, adquirido por coupons de racionamento, do único tecido, espécie de cotim verde, cinzento ou preto; aguardar pelo menos doze meses, sem qualquer garantia, nem possibilidade de recurso, tanto em termos de qualidade ou de defeitos de confecção, caso contrário teria de depender da juta de sacos de farinha ou de plástico; que depois de cosidos envergava. E, se um fato era obra de um ano, uma simples camisa, embora confeccionada em mais curto espaço de tempo, só era possível, nas medidas consideradas normais, porque, caso o interessado tivesse a infelicidade de ser ou mais alto ou mais gordo, a complicação e a incerteza de que viria a servir, seria mais do que certa! Isto em termos de necessidades consideradas mais de luxo! Quanto a habitação, devido à escassês, as divisões eram reduzidas, obrigando os casais diferentes a dormir em dependências separadas. Isto, para o cidadão comum, porque para os altos funcionários que ao serviço do país se tinham de deslocar ao estrangeiro, não havia outra solução que pedir roupa adequada emprestada ao departamento respectivo! O povo, o país, é a China! Não, não estou e inventar histórias! A lista, poderia ser longa! Encurto-a, por exigências de espaço. Não posso, porém, deixar de assinalar que no ano passado, ao ultrapassar a Alemanha como o principal país exportador de todo o mundo, este país-dragão arrecadou mais de 1,5 triliões de euros!
Estes episódios verdadeiros, da vida diária, são pungente e detalhadamente descritos por uma testemunha ocular, e, mais tarde, influente personalidade dos mais altos quadros políticos do país,, recentemente vertidas para a Língua Inglesa numa obra memorável (*). Reportamo-nos a 1 de Outubro de 1979. E a personalidade que as relata é Li Lanquing, vice-Presidente da China, braço direito, (mas, devido à modéstia, por ele não admitido), do que por isso foi justamento cognominado, “Arquitecto-Mór”, aliás, Deng Xianping. Este reformador máximo, que havia sido degredado pelo infame “Gangue dos Quatro”, verdadeiro Pai da Poderosa China de hoje, milagrosamente reabilitado por Mao Zedong, em 1973, com o seu grito, semelhante ao do Ipiranga, “Reforma ou Morte”, transformou o seu país na potência económica que é hoje e, em breve, a ultrapassar a do vizinho e rival Japão, assumindo o segundo lugar das economias mundiais. Não surpreende que é a ele, bem como ao estoicismo do povo chinês e à sua obra, que o recente livro é dedicado. Revelando pormenores até aqui desconhecidos, com maior significado por partirem da pena de uma das mais chegadas testemunhas ao processo da reforma, Li Lanquing retrata, com indescritível pormenor, episódios reveladores e chocantes. Embora não descurando o crédito para a devida abertura da China ao exterior, com base na experiência do Japão, por parte de Mao Zedong, ao proclamar o início da que chamou Nova China, em 1 de Outubro de 1949, no seu, e que se tornaria influente discurso, intitulado “Relacionamento da China com os países estrangeiros”, o autor, revela, passo a passo, os pormenores do que agora é considerado como o “Milagre Chinês”. Apontando que face ao boicote imposto pelos Estados Unidos da América (EUA), com o intuito de isolar a China, esta não teve outra alternativa que recorrer à então União Soviética (US), com quem estabeleceu um acordo, em Dezembro de 1949, garantindo 156 importantes projectos industriais. Porém, e sem capacidade laboral ou técnica para desenvolvê-los, entre 1949 e 1960 a China importou mais de 20.000 técnicos tanto da US como dos países satélites e para lá enviou mais de 10.000 estudantes. Resultando no desafio em que “aprender novas coisas, tornou-se no apelo nacional”, o país deu início ao seu primeiro Plano de Cinco Anos (1953-1957). Porém, e com a brusca decisão da US, em renunciar o Acordo, resultando no abandono do importante apoio laboral e tecnológico, recorreu ao seu mais directo vizinho, o Japão, de quem recebeu preciosa assistência tanto financeira como de “know-how”.

(*) Breaking Through, The Birth of China's Opening-Up Policy (Ruptura, Origem da Política de Abertura da China) Edição da Oxford University Press, Janeiro 2010

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Reino Unido - Que Fururo?

Pela primeira vez desde o fim da II Grande Guerra, 1945, o Reino Unido é governado por uma coligação, desta vez entre Conservadores e Liberal Democratas (Lib Dems). E, igualmente pela primeira vez, desde há 200 anos, é chefiado pelo mais jovem (43 anos) primeiro-ministro, David Cameron, o 12º do reinado de Isabel II. Após uma maratona negocial de cinco dias, que oscilou entre Labour e Conservadores, em intenso namoro com os Lib Dems, chefiados pelo inovador Nick Clegg, os perdedores foram tanto o Labour como os Conservadores. Se os anteriores, propunham uma Aliança Progressista, incluindo a há muito desejada Reforma Eleitoral por parte dos Lib Dems, que foram os primeiros a apresentar semelhante proposta, como admitiu o próprio Gordon Brown e que por isso assumiu toda a responsabilidade, demitindo-se dos cargos tanto de primeiro-ministro como de dirigente partidário, mesmo antes da conclusão de qualquer acordo entre “Tories” e Lib Dems. O próprio Partido Conservador, que para formar governo e ao necessitar do apoio de outro partido, teve de renunciar, ou minimizar, importantes parâmetros do seu ideológico programa eleitoral, nomeadamente na educação (com maiores apoios às populações urbanas desfavorecidas), impostos (isenção de IRS nos primeiros 15 mil euros de rendimentos), ataque à dívida (maid moderad do que o imediatamente proposto), mas, especialmente, a partilha de postos com os Lib Dems no Gabinete. Para estes últimos, de regresso ao governo após um século, segundo fontes destacadas, conseguiram mais do que esperavam, por isso foram os grandes vencedores, nomeadamente a ascensão do seu dirigente máximo ao posto de Vice-primeiro-ministro e um seu destacado membro, Vince Cable, para ministro da influente pasta financeira de reforma bancária.

Três incógnitas: a primeira, com um partido euro-fagista como é o Conservador, cujo dirigente máximo tinha afastado o seu partido do principal Partido Conservador no Parlamento Europeu, preferindo associar-se aos xenófobos da extrema direita, garantiu não mais cedências à UE bem como NUNCA ao euro, e com um eurófobo ministro dos negócios estrangeiros, William Hague, que em 2002, então à frente do partido, perdeu as eleições gerais pelo desabrido combate à UE, resta saber se irão continuar com o seu divórcio com a Europa, face à posição antagónica dos seus coligados, os Lib Dems; segunda: quais as consequências imediatas e quais os necessários e prometidos cortes, certamente drásticos na economia e o montante da subida dos impostos?, terceira: quais as consequências desta anatural união para os hordes liberal democratas que normal e ideologicamente se situam mais próximo do labour?

Estas questões, obviamente, não foram respondidas na breve conferência de imprensa dada na Quarta-feira de tarde no soalheiro, aprazível, mas ventoso belo Jardim Rose, nas traserias de Downing Street. Descontraídos. lado a lado, a desmonstrar a exuberante juventude de ambos, os dois, primeiro-miniatro e vice asseguraram que a coligação era o melhor para o futuro do país, pelo que estava para durar os propostos cinco anos, especialmente quando há enormes dificuldades a enfrentar. Numa posição de pujança, ambos estão determinados a garantir a liberdade, justiça, responsabilidade de um governo firme e justo para com as expectativas e ambições do povo. Mas enquanto em governo estão unidos, quando em eleições, como as parciais que se avizinham, os dois partidos lutam entre si. Além disso, deste encontro resultou a novidade de que Nick Clegg, como vice, terá a pesada responsabilidade da Reforma Constitucional, que, como sabemos envolve o Referendo para a Reforma Eleitoral, a redução do número de deputados e a reforma da Câmara dos Lordes, provando, assim que não setrata de um posto nominal.

Entretanto, com Gordon Brown afastado do Poder, após 13 anos (10 como influente ministro das finanças e 3 à frente do Governo), a passar para a oposição, e no momento a gozar um bom e merecido descanso na sua terra, em Karcaldy, na Escócia, auto-afastado da escolha do seu sucessor, a este vai competir a condução do partido para uma nova e estranha fase. Com a até aqui vice, agora Dirigente Máxima Interina, Harriet Harman, que, em princípio diz não estar interessada na liderança, tudo aponta para o jovem e activo ex Ministro dos Negócios Estrangeiros, David Milliband, suceder a Gordon Brown.

quinta-feira, 29 de abril de 2010

A Odisseia do Regresso - ou as vagarias dos vulcões islandeses

Com o encerramento dos aeroportos, na maioria dos países euro-ocidentais praticamente até terça-feira 20, quando se tinha como valor garantido que o mundo era pequeno, que, segundo os Ingleses, é tão pequeno “como uma ostra”, com as dificuldades do almejado Regresso a Casa, subitamente, como se verificou a partir do passado dia 14, devido às vagarias do vulcão islandês de nome impronunciávl, Eyjafjallajökull frá Valahnúk, de começo, seguido do vizinho Eyjafjallajökull frá Hvolsvelli, que além de gelo, vomitavam espessas cinzas, o espaço aéreo europeu, pela primeira vez de que há memória, foi encerrado! Na minha residência, em Londres, situada na faixa aérea do aeroporto de Heathrow, habituada ao constante ruído dos aviões que sobre ela passam, durante o dia, praticamente de dois em dois minutos, subitamente, só se ouvia o sempre agradável e cada vez mais distinto chilrear das aves! Entretanto, e nos mais variados cantos do mundo, centenas de milhar de pobres britânicos, uns, em sua maioria, retidos nos aeroportos, outros nos hoteis, subitamente depararam com a dura realidade da DISTÃNCIA, aliada à INCERTEZA do desejado REGRESSO, transformando-se num ENORME PESADELO!

Na totalidade, 150.000 turistas britânicos, em sua maioria mães e pais acompanhados dos filhos, que aproveitando as férias da Páscoa, normalmente de duas semanas, ficaram retidos em vários pontos do Globo. Depois de uma merecida pausa e diversão enfrentaram a inesperada... adiada e cada vez mais incerta partida. A ânsia, ou a urgência de compromissos, retidos, uns em Pequim, outros na Tailândia, deambulando durante cinco dias nos mais variados meios de caríssimos transportes, conseguiram regressar depois de desembolsarem mais de 20 mil euros. Outros, embora mais perto, mas no cada vez mais distante e lento Continente, quer na Polónia, quer em Milão ou ainda em Portugal, conseguiram, depois de quatro dias, exaustos e com os bolsos vazios, depois de dispenderem, uns dois mil euros, outros cinco e oito mil, conseguiram, finalmente, chegar a Calais, ponto de ligação da tão ansiada Dover. A ausência obrigatória de professores e alunos forçaram o fecho de várias escolas, levando um director de Liverpool a alugar um autocarro especial para ir buscar alunos e professores retidos na Roménia! Outros serviços de emergência para o regresso de estudantes e professores estiveran a cargo da Halsbury Travel. Enquanto isso, o Eurostar, único meio de transporte ferroviário a ligar o Continente às Ilhas Britânicas, quando normalmente em passagens promocionais procuram clientela a cerca de oitenta euros, ida-e volta entre Paris e Londres, devido à subita avalanche de clientes, passou a cobrar quatro vezes mais! Entretanto, os potentes e belos ferries, particularmente a partir de terça-feira 20, não tendo mãos a medir, abarrotados, efectuavam cerca de 50 viagens por dia, despejando assim, as longas e densas filas de ansiosos, cansados e famintos pobres veraneantes. Com, finalmente, a abertura do aeroporto espanhol de Madrid, subitamente transformou-se num vazadouro europeu dos desgraçados britânicos! Para o efeito, o governo, comandado por Gordon Brown, em plena campanha eleitoral, reunia-se de emergência, nas chamadas reuniões COBRA, a fim de se prestar a desejada assistência aos seus infelizes concidadãos. A primeira decisão foi estabelecer duas linhas telefónicas para assistir os necessitados e suas preocupadas famílias. O segundo, mas importante passo foi envolver a Marinha Real, disponibilizando três dos principais vasos de guerra, nomeadamente o lendário Ark Royal, acompanhado de mais dois, o Ocean e o Albion, este último, acabado de chegar do Afeganistão, que zarpou para mim o familiar porto de Santander, no norte da Espanha, de onde trouxe 280 desesperados passageiros. E os outros, em caso de necessidade, a aguardar a ida a Calais. E, como complemento, com a chegada de milhares de exaustos viajantes a Madrid, outra importante medida adoptada foi o recrutamento inicial de 150 autocarros pullman para os transportar para Calais e, dali, finalmente para Dover. Embora com ténues esperanças do reatamento dos ansiados vôos, sob pressões intensas tanto sobre o Serviço Meteorológico Nacional, de quem partia a informação, mas cujas decisões finais competiam, tanto ao Serviço Nacional de Transpore Aéreo como à Entidade da Aviação Civil, organização homóloga da nossa ANA, finalmente abriu, na terça-feira 20, às 07 da manhã, o espaço aéreo britânico, limitado apenas à Escócia (Glásgua) e a uns poucos aeroportos do nordeste da Inglaterra (Newcastle, em particular). Finalmente, às 22 horas do mesmo dia foi aberto todo o espaço aéreo nacional, mas não a completa solução do tráfego aéreo, que segundo o Director, Willie Walsh, da British Airways, que sofreu prejuízos diários de 100 milhões de euros, iria levar pelo menos uma semana a regularizar. No meio de toda a expectativa e frustração surge o presidente da Islândia, Olafur Ragnar Grimson, em entrevista à BBC Televisão, a informar que embora a população do seu país esteja habituada a erupções dos seus muitos vulcões, como o Eyjafjallajökull frá Valahnúk, que durante a erupção anterior de há pouco mais de 100 anos, em que esteve activo durante vários anos, advertiu que quer no caso de vulcões do seu país ou de outros, é urgente pensar-se na adopção de medidas adequadas a fim de não se repetirem experiências como as de agora.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

AS FALKLANDS / MALVINAS DE NOVO EM FOCO

Com a descoberta de petróleo, o arquipélago das Falklands, para os britânicos e, Malvinas para os sul-americanos, volta às parangonas da comunicação social internacional. Para a Argentina, humilhada no recontro militar, em Abril de 1982, ao ser-lhe negada a ambição de reter o vizinho arquipélago, que tem insistido ser seu, a questão chamada Malvinas está de novo no topo da Agenda. Embora, segundo a companhia exploradora britânica, Desire Petroleum, a qualidade como a quantidade do produto não sejam economicamente viáveis, possa ter arrefecido os ânimos iniciais, isso não impediu que a Presidente da Argentina, Cristina Kirchner, tivesse imediatamente mobilizado tanto os seus homólogos do Continente Latino-Americano a favor do reconhecimnto do seu país ao direito da soberania das ilhas, procurando, ao mesmo tempo, impedir a circulação marítima internacional entre a Argentina e as Falklands/Malvinas, como ter feito questão de ressuscitar o caso da soberania do arquipélago no Conselho de Segurança das Nações Unidas bem como tentar impedir as prospecções em curso, alegando violarem as recomendações da ONU no tocante a acções que possam agravar a disputa entre a Argentina e o Reino Unido. O governo britânico, porém, insiste que as explorações petrolíferas em curso não violam as leis internacionais.

As prospecções tiveram início em 1998, mas com os preços do crude em descida vertiginosa nesse ano, quaisquer tentativas sérias de exploração foram consideradas infrutíferas. As expectativas de então da companhia Desire eram de 400 milhões de barris, resultando em mais de nove biliões de dólares de receita, com a possibilidade de outras explorações vizinhas contribuírem com mais outros biliões de barris. Segundo peritos como Daniel Litvin, director de Critical Resource, empresa especializada nas indústria de recursos naturais, as Falklands, entre a opinião pública britânica têm estado praticamente ignoradas desde o conflito de 1982, mas na expectativa de explorações viáveis, as tensões diplomáticas entre a Argentina e a Grã-Bretanha, inevitavelmente recrudescerão, pelo que o melhor será encontrar-se “um compromisso de partilha de recursos entre os dois países”. Esta, aliás, a posição do principal diário argentino. Segundo o Clarin, de 30 de Março passado, enquanto apontava a abundância de minas de guerra na vasta região marítima e a sua necessária limpeza, advogava um entendimento sobre a partilha dos recursos das ilhas entre os dois países. Além da Desire, outras duas companhias britânicas de exploração petrolífera – Rockhopper e Falkland Oil and Gas - estão, igualmene, a actuar ao largo do arquipélago. Mas depois da notícia difundida por Desire sobre a qualidade e a quantidade do produto as acções particularmene desta empresa afundaram-se, em cerca de metade, na Bolsa de Londres. E embora, mais estudos e prospecções tenham de ser feitas a fim de ser tomada uma decisão final, a tensão mantem-se entre os dois países. Se por um lado a Argentina insiste em tomar, as que afirma, “medidas adequadas”, contra a exploração petrolífera nas àguas que rodeiam o arquipélago, o Secretário Britânico de Defesa, Bill Rammell, reafirma o “direito legítimo” da Grã-Bretanha em continuar com as prospecções.


O CONTEXTO HISTÓRICO DO DISPUTADO TERRITÓRIO

Recorde-se que embora ao navegador Inglês, John Davies, se atribua a primeira descoberta das Falklands/Malvinas, em 1592, o homólogo holandês, Sebald de Weerdt, detem a primazia da indisputável descoberta, em 1600. Porém, o primeiro navegador a abordar às duas ilhas principais foi o Inglês John Strong, em 1690, baptizando-as com o nome do oficial da Marinha Britânica, Visconde Falkland, nome que abraçaria, mais tarde, todo o arquipélago. Ao navegador francês, Louis-Antoine de Bougainville, porém, seria dado o crédito de fundar o primeiro acampamento no lado Ocidental das ilhas, em 1764, apelidando-as de Malovines. E embora o mérito da instalação de um acampamento, no lado oriental, tivese pertencido aos ingleses, em 1765, foram os Espanhóis que depois de expulsar os britânicos e adquirirem o território aos Franceses, se instalaram no Arquipélago a partir de 1767. Reconquistado pelos britânicos em 1771, decidiram, porém, em 1774, abandonar a região, por razões económicas, sem, no entanto, renunciarem a soberania das ilhas. Entretanto a Espanha, manteve um acampamento no lado ocidental, chamado Ilha Soledade (Ilha da Saúdade) até 1811. Com a independência da Argentina da Espanha em 1816, o governo de Buenos Aires proclamou a soberania das Falklands/Malvinas em 1820. Porém, em 1831, o navio de guerra americano, Lexington, em retaliação à detenção anterior de três navios americanos da caça às baleias na região, destruíu o acampamento, na parte ocidental do Arquipélago, competindo, aos ingleses, dois anos depois, forçar os sobreviventes argentinos a abandonar a área, sem o disparo de um só tiro. Em 1841 foi nomeado um governador civil para todo o arquipélago das Falklands e até 1885 prevalecia uma comunidade auto-suficiente de 1800 pessoas, embora a Argentina não deixasse de renunciar o seu direito à soberania das ilhas. Porém, depois da II Grande Guerra, o assunto voltou a ser debatido, em 1964, no Comité da Descolonização das Nações Unidas com a Argentina a invocar a Bula Papal de 1493, modificada pelo Tratado de Tordesilhas, do ano seguinte, em que atribuía à Espanha o direito dos territórios ou ilhas adjacentes ao continente sul-americano e, assim, o termo à colonização britânica. Porém, a Grã-Bretanha contrapondo o argumento de que a “aberta, contínua e efectiva posse, ocupação e administração” das ilhas por parte dos habitantes britânicos, desde 1833, outorgava-lhes o direito ao princípio da auto-determinação, em obediência à Carta das Nações Unidas. E adiantou que, em vez de se pôr termo à colonização, o pretendido controlo e soberania por parte da Argentina, face à recusa dos habitantes, criava, na realidade, uma colónia. Como resultado, em 1965, a Assembleia Geral da ONU aprovou uma Resolução em que convidava ambas as partes a encontrar uma solução pacífica para a disputa. Com as conversações consecutivamene adiadas até Fevereiro de 1982, as forças argentinas invadiram as Falklands, a 2 de Abril seguinte, resultando na Guerra das Falklands em que o país aul-americano foi derrotado, com enormes baixas, especialmente o afundamento do submarino Beltrano, e a humilhante retirada e regresso das forças invasoras ao seu país. Embora a Argentina e o Reino Unido reatassem as relações diplomáticas em 1990, a disputa da soberania continuou com a presença de 2000 tropas britânicas no arquipélago e a forte modernização, e enormes investimentos, nas infra-estruturas do território, por parte do Reino Unido.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Crise no futebol Inglês...e mistério do relvado de Wembley!

Não bastando as crises financeiras que assolam os principais clubes ingleses da “Premiership”, surge agora o mistério da relva do novo Estádio de Wembley. Acontece que desde a sua conclusão, em 1997, depois de inúmeras incertezas e adiamentos da inauguração, devido à falência da companhia construtora auatraliana, a relva do novo, belo, e imponente Estádio de Wembley, está a provocar insondável mistério … e despesa! Depois da verdejante relva inicial, iniciou-se esta semana, nova replantação – a 11ª !!! - pelo custo de 100 mil euros, totalizando s várias operações em mais de 1,5 milhões de euros! Uma relutante Federação (Football Association proprietária do dispendioso estádio e que para ali recentemente decidiu transferir a sua sede), viu-se forçada a encetar a nova operação depois do treinador do Tottenham Hotspurs, Harry Rednapp, talvez a justificar a derrota da sua equipa por 2-0, no anterior relvado, frente ao Portsmouth, a 11 deste mês, na meia-final da Taça da Inglaterra, ter afirmado que “não poria cavalos a correr neste relvado”! Não se sabem ainda as razões dos consecutivos relvados. Segundo a FA, com base na opinião da empresa responsável pela manutenção do relvado, Sports Turf Research Institute (STRI). “vamos continuar a cooperar com STRI tanto na instalação de uma nova camada de relva como com a sua manutenção”, pelo que vai continuar a ser do mesmo tipo. Porém, as opiniões variam, coincidindo na mais comum que é a falta de luz suficiente e o pouco uso do campo. Talvez, com base na longa experiência da All England Tennis and Crocquet Association, detentora dos magnificos e bem mantidos relvados de Wimbledon, o mais indicado é o devido aconselhamento com esta sua congénere desportiva!

Enquanto isso, parece que o não resolvido mistério do relvado de Wembley simboliza a crise financeira do futebol inglês. Com a falência do adversário do Tottenham, o Portsmouth Football Club, que há duas épocas foi vencedor da Taça da Inglaterra e ironicamente é finalista, este ano, frente ao Chelsea (a disputar a final no próximo dia 15 de Maio), o primeiro clube da Premiership dos últimos anos a falir, surge o poderoso Liverpool Footbal Club, que recentemente arrasou o Benfica na Taça Europeia, a contas com pesadas dívidas, os seus dois presidentes americanos, M. Broughton e G.N. Gillett Jr., decidiram pôr o clube à venda. E, como não há um mal sem dois, o seu melhor jogador, Fernando Torres, depois de ter sido submetido a uma cirurgia, e quando era imprescindível para o resto da campanha europeia, que o treinador Rafael Benitez, afastado da Champions, pretende ganhar, estar ausente durante resto da temporada. A crise financeira ensombra, igualmente o poderosíssimo Manchester United, que, este ano, espera revalidar o título e, igualmente, fincar pé na Champions. Desde que o clube foi adquirido pelo financeiro-milionário americano Malcolm Glazer, em 22 de Junho de 2005, por um bilião e 264 milhões de euros, pondo assim termo a 14 anos de actividade como sociedade anónima cotada na Bolsa de Londres. Mas, como para financiar a aquisição contraíu o empréstimo de 800 milhões de euros, o novo proprietário foi acusado pelos adeptos do clube de hipotecar o Manchester United, um clube que nunca conhecera semelhante posição, a impopularidade do novo dono não tem cessado, ao ponto de se estar a preparar uma OPA, iniciativa de poderosos adeptos do mundo financeiro. Para isso, foi montada uma campanha, independentemente dos múltiplos cartazes quando a equipa joga, com os dizeres, “Love Manchester United; Hate Glazer” (Amamos o Manchester United, mas detestamos Glazer), é caracterizada por caxecóis verdes e amarelos, orgulhosamente ostentados pela maioria dos adeptos, que viram no seu herói, David Beckham, aquando no jogo em que a sua equipa, AC Milan, foi eliminada, há duas semanas no estádio de Old Trafford, também ostentar.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

DEBATES TELEVISIVOS - A GRANDE NOVIDADE DAS ELEIÇÕES GERAIS DESTE ANO!

Mantendo a tradição da marcação das eleições, segredo bem guardado e exclusivo dos primeiros-ministros, que, no caso de Gordon Brown, não poderia ser depois do próximo mês de Maio, como se previa, 6, do mês que vem, é o dia, que, como é tradicional no Reino Unido, eventos eleitorais, tradição tipicamente britânica, realizam-se às quintas-feiras. Nisso não é novidade! A novidade, desta vez, é a realização de três debates televisivos, em directo, (BBC1, ITV1 e SKY), com e entre os dirigentes dos três principais partidos – New Labour (partido do governo), com o primeiro-ministro, Gordon Brown; Conservadores – David Cameron e Liberal-Democratas – Nick Clegg, bem como a activa dependência da Internet. A democracia britânica, a provar o seu conservadorismo centenário, é alheia a alterações, inclusive referendos. Salvo raríssimas excepções – como foi a contínua adesão à então CEE, em 1975, e a formação de parlamentos autónomos tanto no País de Gales como na Escócia, nos meados da década de 90 – é alheia a referendos. E, quanto à intromissora televisão, tão longamente debatida e resistida na transmissão (com excepção de um canal exclusivo – Parlamento - a cargo da BBC), mas nos canais principais, em deferido e sempre em breves montagens, salvo casos excepcionais como nas sessões semanais de Interpelação ao Primeiro Ministro, sessões de Abertura, em que a Raínha apresenta o programa de Legislatura do Governo, apenas presente – e bem presente! - nas campanhas eleitorais com a cobertura, geralmente também em deferido, de importantes intervenções dos principais dirigentes partidários. Além destes, há, claro, também, os tempos de antena. Nunca, porém, no Reino Unido se realizaram debates entre, e com os principais dirigentes políticos, o que, à semelhança da longa tradição americana, o debate entre Nixon e Kennedy, em 1960, acontece este ano pela primeira vez.
Não surpreende a cuidadosa preparação, mas especialmente a complicada regulamentação, subordinada a 76 subparágrafos, das intervenções! Com apenas um minuto para apresentar a sua tese e outro para responder, os intervenientes não têm mãos a medir. Perante audiências compostas por 200 convidados seleccionados por empresas de sondagens independentes, só lhes é permitido aplaudir no princípio e no fim das sessões, os dirigentes participantes respondem a perguntas submetidas e seleccionadas previamente via e-mail, mas totalmente desconhecidas até ao momento da transmissão. Dos três debates, todos às quintas-feiras, na hora nobre das 20 às 2130, são distintos. Transmitidos pelas várias estações, cabe à ITV1 dar o pontapé de saída, com o conceituado e veterano moderador, Alastair Steward, hoje, 15. Este primeiro programa ocupar-se-à da política interna, inluindo o Serviço Nacional de Saúde, educação, imigração e confiança do eleitorado na política e nos políticos. O segundo programa, cabe à Sky, sob a responsabilidade do competente editor político daquela emissora, Adam Boulton, transmitido na semana seguinte, 22 e subordinado a negócios estrangeiros, incluindo União Europeia, Afeganistão e Iraque. O prograna final, a transmitir no dia 29, cabe à BBC, com o veterano, respeitado e mui competente moderador, David Dimbleby e subordinado a questões económicas, incluindo o enorme déficit público, impostos, serviços públicos e banca.
É difícil de prever a influência destes debates no resultado real eleitoral. Se, obviamente, o desempenho dos intervenientes é um factor importante, o carisma também o é. Neste domínio, se a “fotogenia” tanto de David Cameron como de Nick Clegg é uma vantagem, a notória sobriedade de Gordon Brown pode prejudicá-lo. Mas tem uma vantagem em relação aos seus adversários: experiência e autoridade governamental e, muito mais, provas cabais do desempenho da economia e finanças, perante a crise actual e Global. Aliás, é aqui que o eleitorado vai decidir. Segundo as múltiplas sondagens, enquanto os Conservadores, desde há um ano gozavam a vantagem média de 15 pontos de vantagem em relação ao partido do Governo, os últimos resultados apontam, na média, entre seis e 2 pontos de vantagem e os liberais democratas em terceiro, co 21%. A grande incógnita reside nos círculos em dúvida do partido vencedor, o que significa um indesejável resultado de vitória minoritária, possivelmente a favor dos Conservadores de David Cameron. Se assim for, quem vai ter a última palavra é Nick Clegg dos Liberais Democratas, que se poderá ligar ou associar a qualquer dos partidos, garantindo-lhe a almejada maioria. Esta situação só aconteceu em Fevereiro de 1974, com o governo Conservador de Edward Heath.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

A Sangrenta História Britânica

A SANGRENTA HISTÓRIA BRITÂNICA

Notável pela tolerância e combate ao despotismo e regimes ditatoriais, bem como a abolição da Escravatura, em que, ironicamente, tanto se notabilizou pela proliferação e expansão, a Grã-Bretanha é detentora de enorme historial violento e sanguinolento. Tanto a nível interno, como, e mui particularmente, externo na sua expansão e consolidação imperial. A nível interno, regimes como o Tudor, nomeadamente Henrique VIII (1491-1547), mais conhecido pela morte de duas das seis esposas (Anne Boleyn e Catherine Howard) e da instauração da Igreja Anglicana, mandando para a fogueira centenas de católicos, juntamente ao saque, morte e destruição do património católico, seguido pela sua sucessora-filha, Isabel I. Durante o reinado de ambos, foi notória a crueldade contra os seus opositores, particularmente aqueles, muitos deles inocentes, vítimas de meras acusações inventadas pelos seus inimigos na luta pelo poder e prestígio pessoal.

A religião, neste caso o combate ao Catolicismo, foi tema de contínuas e indiscriminadas perseguições. Até a instauração do maior e mais intrincado sistema secreto da procura e denúncia de católicos, considerados inimigos fidagais do Reino, particularmente por ser religião tanto das inimigas França, Espanha como Escócia, instaurado e chefiado pelo então “chanceler” do tesouro, “Sir” Francis Walsingham, em que teve como principal participante o poeta-espião Christopher Marlowe, nos prestigiosos centros de ensino, como Oxford e Cambridge, em 1580, e em que neste último, daria lugar ao recrutamente de espiões no então incipiente, "Círculo dos 12 Apóstolos" mas, mais tarde, particularmente antes, durante e depois da II Grande Guerra, foi notável alfobre de espiões comunistas, como Kim Philby, Donald McLean, Guy Burgess, todos na década de 50, e Anthony Blunt, primo de Isabel II, denunciado em 1979.

Quem se interessaria e viria a notabilizar este sórdido período seria o pintor francês, Hipólito, mas mais conhecido por Paul Delaroche (1797-1856), com pinturas magistrais, nomeadamente a clássica e imponente obra, Execução de Lady Jane Grey (1833), foco de uma importante e recente exposição na Galeria Nacional, em Londres. Aliás, a este artista, devem-se, igualmente, outros magníficos trabalhos sobre eventos sangrentos, também expostos na citada mostra, como a prisão e morte dos Dois Príncipes, na Torres de Londres. Filhos de Eduardo IV, que para ali foram mandados logo depois da morte do pai, em 1483, por imposição do tio, Ricardo, Duque de Gloucester, que quando o sobrinho Eduardo, estava prestes a ser coroado, usurpou-lhe o Trono, ficando o que seria rei, juntamente ao irmão mais novo, encerrados num exíguo calabouço, para nunca serem mais vistos. Muito se tem escrito sobre estes desventurados jovens, especialmente para provar ou ilibar Ricardo de culpa. Para adensar ainda mais o mistério, os restos mortais dos dois desditosos jovens, embora encontrados em 1674 e oficialmente trasladados para a Abadia de Westminster, nunca foram positivamente identificados. Outra importante cena pelo pintor retratatada foi tanto o tratamento desordeiro por soldados de Cromwell, ao Rei Carlos I, como a execução por parte daquele, cujo corpo é por ele observado num modesto caixão. A execução da jovem Jane Grey (1537-1554), porém, foi a todos os títulos um dos mais chocantes episódios da História Inglesa, aliás semelhante à de outra jovem-raínha, Catherine Howard (1542), que foi mandada executar por Henrique VIII a pretexto de que teria cometido adultério. A jovem, de apenas 18 anos de idade, suplicou ao marido para não a matar, pois as acusações de adultério, atribuídas ao Cardeal de Cantuária, Thomas Cramer, não tinham fundamento, mas o rei decidiu não acatar. Embora música exímia, dificilmente sabia escrever o nome.Isso não impediu que fosse acusada de escrever cartas de amor a um apaixonado, que facilmente foi identificado como amante. No caso de Jane Grey, com apenas 17 anos de idade e raínha da Inglaterra apenas por sete dias, foi vítima da vingativa prima católica, raínha Mary da Escócia que temia que viesse a ser igualmente raínha da Escócia. Esta, porém, viria, mais tarde. a conhecer semelhante fado nas mãos da prima, a Raínha Isabel I. Outras chacinas, estas de carácter imperial, foram, primeiro as guerras de Mysore, na Índia, entre 1767 e 1779, a Guerra dos Zulus, no actual estado de Natal, África do Sul, em 1879, e a Guerra dos Boers, na mesma então colónia contra os afrikanders, entre 1899 e 1902.

sexta-feira, 2 de abril de 2010

O INTOLERÁVEL ABUSO E ARROGÂNCIA DE ISRAEL

NOTA: OS NOVOS ATAQUES AÉREOS A GAZA EFECTUADOS, EM 2 DO CORRENTE, REFORÇAM O ARGUMENTO DESTA CRÓNICA ESCRITA ANTES DO ACONTECIMENTO!

O ministro britânico dos Negócios Estrangeiros, David Miliband, ao condenar, nos mais enérgicos termos, na semana passada, 23, na Câmara dos Comuns, a acção de Israel na falsificação de 12 passaportes, em que os utentes eram cidadãos britânicos, actualmente residentes em Israel, e ao anunciar a expulsão do representante diplomático dos serviços secretos israelitas, Mossad, em Londres, é mais outra prova da inaceitável arrogância, mas pior, do abuso por parte de um Estado, considerado democrático, em violar e desrespeitar a soberania de outro Estado, neste caso mais outros quatro – Alemanha, Austrália, França e Irlanda - pela emissão de passaportes falsos daqueles países, a fim de ocultar a identidade de perpertradores de crimes. Este, o caso da falsificação da identidade dos 27 agentes envolvidos, que segundo as autoridades do Dubai “estão 99% certas” de pertencerem aos Serviços Secretos Israelitas, Mossad, mas que Israel insiste não haver provas, assassinaram, por sufocação e choques eléctricos, em 20 de Janeiro passado, num hotel daquele Estado dos Emirados Árabes, o comandante-fundador da ala militar do Hamas, Mahmoud al-Mabhouh, o grupo palestiniano que actualmente governa a dizimada Faixa de Gaza, por Israel, no ano passado. O chefe da diplomacia britânica, embora esclarecendo que juntamente aos outros quatro países, igualmente vítimas do abusivo falsificar dos passaportes, as averiguações continuam, confirmou, no entanto, que em relação ao Reino Unido, as “razões eram mais que concludentes” na “implicação e responsabilidade de Israel” no que classificou de “intolerável abuso de pôr em perigo a segurança de cidadãos britânicos”, por parte de um Estado aliado. Esta decisão do ministro britânico foi tomada em sequência às intensas averiguações por parte da polícia britânica (Agência de Sério Crime Organizado - SOCA), que para efeito, se deslocou a Israel. Porém, este elevado membro do Governo esquivou-se a quaisquer acusações formais sobre o eventual envolvimento dos Serviços Secretos Israelitas no assassinato do dirigente palestiniano, limitando-se a afirmar que as averiguações continuam em curso. Além disso, a partir de agora, Israel está na lista negra, sobre o risco da clonagem de passaportes, dos serviços de informação sobre segurança nas viagens ao estrangeiro do Ministério Brtitânico dos Negócios Estrangeiros. O MNE avisa que face ao praticado, evite-se, o mais possível, passar os passaportes às mãos dos agentes israelitas. Actualmente, pelo menos 150 mil britânicos viajam todos os anos a Israel.

O abuso da emissão de passaportes britânicos falsos, por parte de Israel e dos seus serviços secretos, Mossad, não é novo. Situação idêntica, como foi lembrada na Câmara dos Comuns, pelo homólogo sombra, do Partido Conservador, William Hague, ocorreu em 1987, em que o então primeiro-ministro, hoje Presidente de Israel, Shimon Perez, prometeu não se repetir e que, igualmente, prontificou a expulsão, no ano seguinte, do agente superior da Mossad, Arie Rejev, junto da Embaixada Israelita em Londres. Por agora, segundo fontes diplomáticas, o governo britânico manifestou, “uma clara mensagem de desaprovação”. Mas a confirmar-se, como insistem as autoridades do Dubai, o envolvimento de Israel, no assassinato do dirigente palestiniano, não é mais do que outra das várias provas de desesrespeito e arrogância daquele país ao mundo democrático em que insiste inseririr-se. Desde as recusas em respeitar – e obedecer – as várias deliberações do Conselho de Segurança das Nações Unidas, à dizimação do sul do Líbano há dois anos, o arrasar da Faixa de Gaza, há outro ano, em que novas e inocentes vítimas, incluindo, segundo a ONU, centenas de crianças, foram chacinadas e a desejada reconstrução de infra-estruturas recusada, bem como a insistente ignorância aos múltiplos apelos tanto de importantes personalídades como dos mais variados governos, incluindo a União Europeia e o seu mais directo Aliado – e principal contribuinte financeiro com biliões de dólares anuais – os Estados Unidos da América, na reactivação do Processo de Paz Israelo-Palestiniano e na cessação da construção de aldeamentos em território palestiniano, à custa da destruição das habitações ali situadas há milénios, incluindo, o Leste de Jerusalem, quem é Israel, que dependendo e insistindo fazer parte do Mundo Democrático, continua a fazer Ouvidos de Mercador e desvirtuar a Democracia!

PS.

Os ataques aéreos a GAZA, efectuados na sexta-feira dia 2, reiteram a tónica desta crónica. Segundo fontes palestinianas contactadas pela BBC, os israelitas efectuaram 13 ataques, quatro das quais à vila de Khan Younis, onde dois soldados israelitas foram mortos em recontros, na semana passada. Segundo fontes israelitas, o objectivo foi quatro fábricas de armamento, o que é negado por fontes palestinianas do HAMAS. Segundo estas, além do ferimento de três crianças, o objectivo foi a destruição de oficinas de artigos metálicos, quintas, uma fábrica de produtos lácteos e pequenos locais ocupados pela ala militar do Hamas. Trata-se do maior ataque desde as operaçôes de Janeiro do ano passado que arrasaram a Faixa de Gaza. Segundo grupos de direitos humanos, mais de 1400 habitantes daquele território morreram no conflito, embora os israelitas insistam que o cômputo limita-se a 1166. Em contrapartida, 13 israelitas pereceram, três dos quais civis.

Segundo o The Guardian de 2 de Abril, baseado no matutino de Israel, Ha'aretz, a jornalista israelita, Anat Kam, de 23 anos, que se encontra em prisão domiciliária desde Dezembro, aguarda julgamento dentro de duas semanas por ser acusada de “traição e espionagem” por divulgar documentos militares altamente secretos referentes aos militares israelitas que ignoraram o parecer jurídico sobre os assassinatos efectuados na ocupada Transjordânia. A jornalista, aparentemente, teria obtido e copiado os documentos aquando efectuava serviço militar passando-os ao matutino Ha'retz. Mas a acusada desmente estar envolvida.




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