quarta-feira, 30 de março de 2011

Petróleo, Petróleo - Esboço Histórico

O petróleo e não necessariamente o cada vez mais elevado preço do barril particularmente devido à instabilidade nos países produtores, particularmente como é o caso da Libia – e não só, como veremos adiante! - que, obviamene, se reflete no produto refinado e, finalmente,. nas bombas de gasolina, tem sido uma constante nas recentes parangonas dos órgãos da comunicação social mundial. Infelizmente, não só isso! As notícias que dominaram as manchetes da comunicação social internacional durante Maio/Junho do ano passado e fizeram perigar as relações anglo-americanas, devido ao, e ainda não quantificado desastre ecológico no Golfo do México, com a explosão e afundamento da plataforma petrolífera, Deepwater Horizon, da BP, em que morreram 11 operários, a vomitar - desperdiçar! - 12 a 19 biliões de barris por dia, não pararam! Este, mais outro pesado e incontrolável preço, muitas vezes irreparável nos vários desastres, como, além deste, o do Exxon Valdez, no Alasca, em 1989. Recuemos até, e a partir, dos modestos inícios do chamado "ouro negro". Antes, porém, uma breve referência à que, por enquanto, não passa de especulada existência de petróleo e de gás, quer na nossa plataforma marítima do Algarve e, até, no sobsolo da Abadia de Alcobaça! Se for provado nesta última, que acontecerá a tão vetusto e importante Monumento do Património Mundial?! Esqueçamo-nos, de momento, desse pesadelo e concentremo-nos, antes, nas primeiras prospeções que se devem ao "Coronel" E.LK.Drake, em Titusville, Pennsylvania, EUA, em 1859.

O então chamado "rock oil", o óleo das rochas, para o distinguir do sucedânio animal ou vegetal, longe de ser o mais disputado combustível, era, então, tido como remédio para a cura de todas as maleitas! Porém, dada a escassês de gordura das baleias, que até então era a indispensável obra prima para as candeias de iluminação, a descoberta deste viscoso produto, o petróleo, deu início à corrida, hoje, de todos conhecida. A procura, imediatamente deu lugar à multiplicidade de torres de extração por todos os recantos petrolíferos do que viria a ser um dos mais ricos Estados do país – o Texas. Outra importante descoberta seria em Baku e no seu rico litoral do Mar Cáspio, atual Azerbaijan, em 1871, em que Haji Zeynalabdin Tagiev, iliterado filho de um sapateiro, ficou subitamente multimilionário ao ser descoberto petróleo na sua propriedade! A região de Baku e o seu petróleo era tão importante que o próprio Hitler, na invasão da Rússia, caso não a conquistasse "perderia a guerra"! A sua obcessão era de tal modo que os seus adeptos fizeram-lhe um enorme bolo, com as palavras B A K U, mas, como sabemos, este seu sonho jamais foi realizado! Porém, a indesmedida ganância de tão fácil riqueza, deu lugar à superprodução, provocando a vertiginosa queda do preço. Os barris de madeira do uísque (que também eram utilizados no vinho do porto!), que serviam para o transporte do petróleo, eram mais caros no dobro do produto que continham! E, por falar de barris, aqui surge outra história. Embora os barris tivessem deixado de ser usados para o petróleo, que a partir de 1880 foi transportado em navios-tanques, com a capacidade de até quatro milhões de barris, ou em oleodutos, que começaram a ser lançados em 1870, e depositado em enormes depósitos nas refinarias, o produto continua a ser medido em "barris", ou seja, unidades de 160 litros, com a exceção do Japão que se baseia em quilolitros e, a Rússia, em toneladas métricas. Entretanto, com Henry Ford a lançar, em Detroit, automóveis das suas linhas de montagem, em 1905, que dependeriam de gasolina, o petróleo tornar-se-ia no combustível até hoje indispensável. Não surpreende que a busca pelo precioso líquido, noutros países, tornar-se-ia imperiosa. A iniciativa, ficou a dever-se a empresários-prospetores britânicos como George Reynolds e William D'Arcy, que se viraram para o deserto da então Pérsia. Depois de muitas tentativas e prestes a enfrentar falência, a 26 de Maio de 1908, com o gigantesco esguichar do furo, se tornaram milionários, formando a Anglo-Persian Oil Company, que daria lugar à atual BP. Antes deles, porém, o então jovem de 25 anos de idade, John Rockefeller, fazia nome...e fortuna com a formação da Standard Oil Company que deteria o controlo, em cerca de 90%, do produto refinado, mas que se viria a dissolver em 1911.

Pouco depois, surgiria o autor da famosa "Linha Vermelha"- o nosso muito conhecido Calouste Sarkis Gulbenkian. Quando, com apenas 22 anos, de visita à Transcaucásia, apercebendo-se do enorme potencial do petróleo, 38 anos depois, lançaria o seu famoso traçado. Possuído de enorme fervor pioneiro e lutando contra todas as marés do cepticismo financeiro de então sobre o futuro do que viria a ser "ouro negro", aliado a enormes dotes diplomáticos, a exploração do traçado daria lugar à formação da Trade Petroleum Company, que ajudou a formar. A partir do Mar Negro, a norte, incluindo a então Constantinopla, e hoje Istambul, estendendo-se ao sul até ao Mar Arábico, abraçando a Síria, o Iraque, Arábia Saudita, Oman e Muscat, e limitada a ocidente pelo Mar Negro e, a Leste, desde a Rússia, Curdistão, a então Pérsia, excluindo o Kwaite, e limitada pelo Golfo Pérsico, o interior deste famoso traçado serviria, igualmente, de cobiça aos Estados Unidos no qual, infalivelmente, viriam a participar. Como resultado, e embora com a participação inicial de 15% dos rendimentos, Calouste Gulbenkian limitou-se a receber perpetuamente 5% dos lucros da extração do petróleo proveniente do interior da vasta zona, o que também lhe valeu o famoso cognome do "Senhor Cinco Por Cento". Porém, a OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo), cartel, formado pelos principais países produtores que controla 75% das reservas globais, de que a Federação Russa, que ultrapassou a Arábia Saudita é a principal, e que passaria a controlar tanto a extração como o preço do produto, só seria formado, com a forte oposição dos EUA, em 1960. Com o consumo mundial diário de 85 milhões de barris, o petróleo, em termos de carga, ocupa o terceiro posto do transporte internacional.A maior incógnita, segredo bem guardado dos principais países produtores, é até quando é que o Ouro Negro vai durar! Embora, com a extração diária global de 85 milhões de barris, segundo conceituadas autoridades como o geólogo saudita, Sadad I. Al Husseini, apenas restam 15 anos do precioso líquido. Entretanto, e como precaução, aumentam as reservas de emergência, atualmente situadas em 1,4 biliões de barris. Mas devido ao desastre das centrais nucleares de Fucoxima, no Japão, e das consequências que podem trazer ao setor mundial, na possível redução de novas e programadas instalações energéticas nucleares como é o caso tanto da Alemanha como da China, que decidiram, a primeira cancelar quaisquer planos e, a segunda, declarar uma moratória para novas instalações, situação igualmente reconhecida como séria pelo Presidente Vicent de Rivaz, da principal companhia nuclear de electricidade, a Electricité de France, já detentora de importante fatia de fornecimento e manutenção de estruturas elétricas na Inglaterra, bem como ainda encarregada da construção de quatro centrais nucleares neste país, aliadas ao desenvolvimento industrial tanto da Índia, mas principalmente da já mencionada China, o aumento do consumo de um bem finito, embora condicionado à recessão económica mundial, terá, obviamente, que reflectir-se nos cada vez mais elevados custos energéticos, mas principalmente para o pobre motorista.

quinta-feira, 24 de março de 2011

UM GRANDE PRODUTO NACIONAL

O vinho, esse grande produto nacional e preciosa fonte de receita para a cada vez mais necessitada economia do nosso país, está da parabens. Ou melhor, os seus produtores, que em Londres, recentemente, manifestaram, com justificado orgulho, a sua pujança, na Exposição Anual da Vini Portugal, organização promotora, que, nos últimos anos, tem vindo a desempenhar notável esforço na divulgação e promoção enológica nacional. Para o apreciador ou reputado comentador de vinhos, especialmente num grande e, por isso mesmo, altamente disputado mercado como o britânico, largamente controlado pelas grandes cadeias de supermercados, como Tesco, Waitrose, Sainsbury e Morrisons, em prejuízo para as tradicionais e conceituadas lojas de vinhos como a clássica Odd Bins, que há duas semanas encerrou as suas portas, a qualidade dos vinhos nacionais em nada fica a dever aos mais reputados e principais países produtores, como a França, Itália, ou aos novos e agressivos, como o Chile, Austrália e África do Sul, só para mencionar os principais. Que o digam os prémios que anualmente são atribuídos a conhecidas e melhores marcas, como recentemente ficou provado, a nível nacional, pela Revista de Vinhos, realizada na Alfândega do Porto, ou pela revista britânica, Wine Decanter, no ano passado, em Londres. Esta, a conclusão de reputáveis escritores da especialidade como o britânico Charles Metcalfe, a quem se deve uma excelente recente obra sobre os vinhos e culinária Portugueses, ou ainda, o australiano, Oz Clark, este também autor de várias obras, sobre este importante tema, ou ainda o também britânico, mas luso de nascimento e coração, e amigo de longa data, o ainda jovem, Richard Mayson, qualquer deles reputadas figuras do setor e bons conhecedores do mercado vinhateiro mundial. Segundo dados oficiais, através da delegação do AICEP em Londres, no ano passado, o mercado mundial importador de vinhos portugueses atingiu 604,215,678 milhões de euros, com o volume total de 242,792,629 litros, ou seja um aumento de 4,8% em relação ao período homólogo de 2009. O Reino Unido, um dos seus principais mercados, depois de Angola, França e Alemanha, importou 18.054.207 milhões de litros, no valor total de 65,975,427 milhões de euros, registando o aumento de 0.6% em relação ao ano anterior.

Na exposição anual, realizada no início do mês em Londres, a dificuldade foi a escolha, devido à vasta presença – 133 – de produtores nacionais representando várias e principais regiões do nosso país. Uns já consagrados e bem representados no disputado mercado britânico, outros com a indispensável presença a tentar representação. Por isso, e sem desprimor para muitos outros, limito-me a mencionar aqueles que tive tempo de contatar e provar e, por isso mesmo, mais representativos. Dentre os primeiros, destaco o consagrado e eterno jovem-mestre Luís Pato, Cristiano Vanzeller, da lendária família a quem se deve a memorável Quinta do Noval, por mim visitada e admirada quando ainda se encontrava nas mãos da família fundadora; Alves de Sousa, desta vez não o pai, Domingos, mas o seu fiel discípulo, o filho, Tiago, a sempre presente Aveleda, representada por Manuel Oliveira, o eterno, mas sempre jovem João Evangelista (Portugalia Wines), tanto este, como o verdadeiro “embaixador” dos vinhos portugueses no Reino Unido, Fausto Ferraz (DFJ Vinhos), claro, o já citado Richard Mayson, com a sua nova empresa (Sonho Lusitano). Da nossa região – Dão – e com presença inaugural, foi igualmene um prazer provar os vinhos da Sociedade Agrícola Castro de Pena Alba, S.A, de Penalva do Castelo (FTP Vinhos), representada por Namércio Cunha. A longa prova começou por Luís Pato, mestre enólogo por excelência, a quem a Bairrada muito deve, também bem sucedido e seguido pela filha, Filipa, representada com bancada independente. Esse audaz e velho, mas sempre jovem produtor-inovador, fez questão de me introduzir ao seu novo Pato Rebel tinto, verdadeiro rebelde de vinho, correspondido por sugestivo rótulo! Embora me tenha confiado dedicar-se mais a espumantes, o seu Espumante DUET Baga Touriga Nacional 2010, é digno dos seus esforços! E, ao brindar-nos com reveladora palestra, em que nos confidou alguns dos seus truques de produção, ao saborear o extraordinário Frei João 1990 Reserva, a admiração que por ele tínhamos, mais refrescada ficou! Cristiano Vanzeller, é outro dos muito admirados “embaixadores” dos nossos vinhos. Agora à frente da mui sua Van Zeller & Co, que além dos vários portos se destaca o seu excelente Quinta Vale D. Maria 2008 tinto. A finalizar, é imprescindível salientar o nobre esforço de Richard Mayson que juntamente ao enólogo Rui Reguinga, surpreendeu com o seu magnífico Pedra Basta, tinto regional alentejano. Quanto aos douros da adega Alves de Sousa, o seu magnífico e sempre jovem Quinta da Gavota tinto, seguido pelos dãos da FTP Vinhos, os seus Quinta do Serrado Touriga Nacional 2007 e o Reserva 2007, têm representação garantida no vasto e rico mercado do Reino Unido.

Como habitualmente, este texto é redigido ao abrigo do novo Acordo Ortográfico

quinta-feira, 17 de março de 2011

CAMARATE

Com a reabertura de mais outra Investigação sobre o fatídico Caso Camarate, a IX, na Assembleia da República, recordo o que sobre ela já há muito escrevi e que, dada a sua relevância e atualização, trago hoje à atenção do(a) leitor(a). A morte do dr. Sá Carneiro e da sua comitiva, resultante de acidente, provocou sérias dúvidas ao autor. Neste capítulo, não estava só. A VI e, mais tarde, em 2004, a VIII Comissão de Inquérito que considerou: a) confirmadas as conclusões da VI Comissão Parlamentar de Inquérito; b) "provada a existência de um incêndio a bordo da aeronave antes do despenhamento"; e considera comprovada "a existência de substâncias explosivas...e a deflagração de um engenho explosivo" (*). Já na altura da publicação das conclusões da VI Comissão, surgiu esclarecedor artigo do Expresso (Opinião 03/07/1999), que começava do seguinte modo: “ANO de eleições é ano de Camarate, diz o cinismo político de quem tem visto comissões parlamentares concluírem o contrário do que esta última concluiu. A verdade, porém, é que, à medida que os anos passam e nos distanciamos dos factos - por isso se afigura mais difícil, em teoria, provar uma determinada versão ou a oposta - mais se reforça a ideia de que o avião de Sá Carneiro sofreu um atentado e não caiu por acidente.” A terminar, concluía, “Os deputados não são investigadores, nem se espera deles que façam o que compete a outras entidades. E aqui cabe perguntar: em que andaram os investigadores - polícias e Ministério Público - entretidos nestes 19 anos?Que atenção deram realmente às suspeitas e indícios conhecidos? O que temos no relatório da VI Comissão é mais um libelo contra a Justiça portuguesa e mais uma prova da sua nulidade..." (+)

Sediado em Londres, o autor estaria, profissionalmente, alheio ao caso. A excepção, ficou a dever-se ao então colega do Jornal de Notícias, e distinto jornalista, mais tarde deputado, dr. Costa Carvalho. Quando, em 1995 se encontrava a investigar o assunto, depois da V Investigação Parlamentar, solicitou a colaboração, no importante ângulo britânico, em relação às investigações técnico-patológicas realizadas por organizações e cientistas britânicos. Foi a entrevista com o Prof. Jack Crane para o JN, e a sua convicção de que houvera sabotagem, devido a vestígios de explosivos, que reforçou a suspeita do autor. Não se trata de uma posição sentimental e emocional, pois bem conheci e lidei com o Dr . Sá Carneiro, mas fundamentada no conhecimento e na inigualável experiência de tão ilustre perito nesta matéria, obtida ao longo de 30 anos da violência da Irlanda do Norte. Disse o Prof. Jack Crane na primeira entrevista publicada no JN de 11 de Outubro de 1995 (Nacional, pág. 8), que com base nas radiografias tiradas ao piloto do fatídico avião "a existência de fragmentos metálicos, que, para mim, são consistentes com fragmentos de uma explosão de bomba". Interrogado sobre a aparente discrepância entre as suas conclusões e as da organização britânica, Forensic Explosives Laboratory (FEL), em que, segundo o relatório desta, por as radiografias tanto do piloto como do co-piloto "terem sido tiradas numa só direcção e, portanto, não revelam a profundidade da penetração dos fragmentos presentes (...) não é possível determinar se estes fragmentos foram forçosamente introduzidos nos pés, tanto por meio de forças explosivas, ou simplesmente resultantes de ferimentos superficiais cutâneos provocados pelo impacto da queda ou ainda devido à remoção dos corpos dos destroços", o Prof. Crane esclareceu que, depois do exame nas partes da fuselagem, foram, efetivamente, encontrados resíduos explosivos.

A notícia, acima referida, acrescenta ainda que "face a esta evidência, insiste o prof. Crane, é suficiente para afirmar que "é consistente com a presença de uma bomba". Considerava, no entanto, este perito, que, por isso mesmo, e para ser-se imparcial, seria necessário analisar a possível existência de matéria semelhante noutros corpos. Porém, perante as conclusões da VIII Comissão Parlamentar e a evidência confirmada acima, o caso continua a aguardar a devida apreciação judicial, mesmo depois da admissão de José Esteves, como foi revelado ao jornalista João Vasco de Almeida da revista FOCUS que o entrevistou, à TSF, em 28 de Novembro de 2006. Segundo João Vasco de Almeida, José Esteves disse que fabricara, mas não colocara, o engenho que teria feito explodir o Chesna em que viajava Sá Carneiro e os seus acompanhantes. Esta inesperada admissão prontificou o então líder do PSD, dr. Luís Marques Mendes, bem como um dos seus antecessores, Prof. Marcelo Rebelo de Sousa, a apelar para a realização do tão ansiado julgamento, considerando ser uma "vergonha" para a democracia que o "Caso Camarate" continuasse por resolver. O inquérito, que atualmente decorre, resultou parcialmente do apelo publico do Prof. Freitas do Amaral, que fez no seu livro "Camarate - Um Caso ainda em Aberto". Esta prestigiosa figura pública portuguesa, segundo o Jornal de Notícias de 2 de Março de 2011 (em Nacional) considerou importante que a Comissão dê seguimento a uma das pistas de investigação que deixou na obra: o que sucedeu ao Fundo de Defesa Militar do Ultramar.
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(*) Diário da Assembleia da República II Série -B- Número 10, Terça-Feira, 28 de Dezembro de 2004
(+) Expresso (Opinião)- (03/07/99)
Nota: Como se trata, em sua maioria, de uma transcrição, a ortografia é fiel à original em que foi redigida. O texto em negrito, foi salientado neste artigo.

quinta-feira, 10 de março de 2011

A FRESCA BRISA DO MUNDO ÁRABE

Para o conceituado historiador britânico Simon Shama, ao referir-se à vaga popular da queda de regimes despóticos do Mundo Árabe, que naturalmente classificou de “período excitante” a Primavera, não Verão ou Outono, é a estação ideal do ano para Revoluções. Aconteceu, disse, em França em 1948 e, embora não o tivesse mencionado, o mesmo sucedeu em Abril de 1974, em Portugal. O que, porém, também não disse foi que as revoluções da Europa do Leste , em 1989, ocorreram no Outono.
Porém, o génesis dos terremotos político-sociais que atualmente assolam o Magrebe e o Próximo Oriente, surgiram no Inverno, quando o jovem de 26 anos, vendedor de fruta, Mohamed Bouazizi, ao ver-lhe destruída sua bancada, para a qual não tinha licença, na cidade de Sidi Bouzid em 17 de Dezembro 17 do ano passado, com o futuro e ganha-pão despedaçados decidiu pôr termo à vida embebendo-se em gasolina e ateando fogo a si próprio. Acto que mal foi ouvido pelo então presidente de 23 anos, Zine el-Abidine Ben Ali, decidiu visitá-lo no hospital, mas sem sucesso, não podendo dirigir-lhe palavra. Esta imolação, que provocaria distúrbios nas ruas, envolvendo milhares de manifestantes num país, quando em 1980 samelhantes protestos não conseguiram depor o então primeiro presidente do ´país, Habib Bourguiba, depois da independência da França, em 1956, foi considerada como o martírio despoleatador contra o desemprego, inflação e elevado custo de vida. Como resultado da chamada Revolução Jasmim, que deu lugar à deposição de Ben Ali, e a sua fuga para a Arábia Saudita, as pedras do dominó da mudança começavam a caír, seguindo-se, quem diria, o vizinho e potente Egito e, com ele, o apelidado de faraó, de 29 anos de poder despótico, Bosni Mubarak? Da faísca dos desconhecidos Sidi Bouzid e Mohamed Bouazizi, as envolventes chamas, consumiram, em escassos dois meses, dois ditadores, ameaçaram e encurralaram o terceiro, no seu reduto de Tripoli, este da Líbia, Muammar Khadafi, fazendo igualmente temer outras regiões como o Bahrein, o Ieméne e agora Oman, com o aviso iminente de se propagar tanto à Jordânia como à Argélia e, possivelmente, dentro de meses, à Arábia Saudita.
“O povo é quem mais ordena!”, cantava, com o seu forte peito e melodiosa voz, o saudoso José Afonso. Mas enquanto ele ditava que a ordem se referia ao seu amado país, estava longe de antever que, igualmente, se aplicaria, quatro décadas depois, aos mais distantes povos árabes! Ali, também, é o povo quem mais ordena! E continua a ordenar, como voltou a ser na Tunísia com a demissão forçada do seu primeiro-ministro interino! Embora se mantenham dúvidas quanto aos resultados, especialmente no Egito, das concentrações e enormes multidões na Praça Tahir – a Praça da Liberdade - um país conhecido pelas suas ditaduras militares e quando essa mesma classe tem enormemente beneficiado dos anos da sua supremacia, desde os meados de 50 liderados por Abdul Nasser, o povo, o seu povo, consciente da liberdade adquirida, e segundo o escritor Ishar Mattar, ou a jovem Gigi Ibrahim, até aqui comandado, qual robot, sem liberdade nem poder de ação, agora entrado na desejada maturidade, encontrou o seu destino e deseja determinar o seu próprio futuro. Se para o primeiro, com compreensível excitamento, “é agora a vez do povo determinar o seu futuro”, para a segunda, o “que pretendemos é reconhecimento do que somos e podemos ser, não um estado islâmico, mas secular como a Turquia”. É este povo que se concentra na formação de partidos e, enquanto isso, constroi hospitais, limpa as ruas e se entreajuda numa solidarieade até aqui desconhecida. Em todo este vasto contexto, equanto Israel segue atento e se preocupa sob a extensão e consequências desta enorme vaga popular, com a passagem de vasos de guerra iranianos pelo Canal do Suez, o que não acontecia desde 1979, é a voz de dirigentes como a ex ministra dos negócios estrangeiros, Tzipi Livni, exclamar que o que está em causa não é a democracia que dá direito a voto, mas os valores democráticos que devem ser atingidos e respeitados.Enquanto isso, o democrático Ocidente, aquele que condenava deficiências democráticas mas que apertava as mãos e abraçava dirigentes totalitários, fechava os olhos à inaceitável submissão dos povos e déspotas, propalava a incapacidade do povo árabe à consecução da democracia, enquanto garantisse a fluidez do petróleo, e cujos vastos e altamente dispendiosos serviços de espionagem como a CIA e MI6, à semelhança da Europa do Leste de 1989, mais uma vez falharam tremendamente. Ou, como afirmava recentemente (27 do mês passado) o Diretor do JN, José Leite Pereira, no seu artigo “Políticos & Petróleo” “Ao alimentar relações com esses países, as democracias estão afinal a condenar os cidadãos que ali são oprimidos a essa opressão prolongada. Em troca de quê? - Normalmente de petróleo.” Acrescentaria – e não só! Exemplo irónico foi o do primeiro-ministro britânico, David Cameron, que enquanto as populações do mundo árabe celebravam a sua bem conquistada emancipação dos ditadores, viajava na periferia com uma forte delegação empresarial especializada na venda de armamento! A partir de agora, muito justificadamente, as atenções concentram-se no Mundo Árabe, não no tão apregoado, especialmente por Kadhafi, Fundamentalismo ou al-Qaeda, mas num mundo árabe democrático, como se deseja, pujante e que possa, finalmente, dar lições a uma Europa e a um Ocidente falidos de ideias e de rejuvanescimento.

quarta-feira, 2 de março de 2011

O ÊXITO CHAMADO COLIN FIRTH

O aforismo de que “a vida começa aos 40”, agora que os cientistas apontam que a longevidade pode, normalmente, atingir a casa dos 110 anos, é considerada uma fase, não de meia-idade, mas de infância! Este, o caso do ator britânico, Colin Firth, que aos 50 atingiu os pináculos da fama! O principal intérprete do “Discurso do Rei”, que depois de ter sido aclamado na maioria dos principais festivais mundiais de cinema e distinguido no passado dia 13 de Fevereiro, em Londres, com uma cobiçada estatueta no Festival Anual de Cinema e Televisão Britânicos (BAFTA) como o melhor intérprete do filme, que igualmente no mesmo festival foi galardoado com outros cinco prémios, viu a confirmação, no domingo passado, no 83º festival anual por excelência do cinema mundial - a Academia do Cinema, Artes e Ciências em Hollywood, em que “O Discurso do Rei”, igualmente dominou, conquistando mais três estatuetas (melhor diretor, melhor filme e melhor guião). De salientar que enquanto o custo da película, na totalidade, orçou em 9,6 milhões de euros, nas bilheteiras mundiais, até agora, atingiu mais de 240 mihões de euros!

Colin Firth, nascido no condado de Hampshire (sul da Inglaterra), em 1960, mas que passou a maior parte da sua infância na Nigéria, e que até há poucos anos se distinguira particularmente na televisão britânica em atuações de adaptações de romances clássicos, como foi o caso do papel de Mr. Darcy, em Orgulho e Preconceito de Jane Austen (1775-1817), em 1995, realizado e apresentado pela BBC; no cinema, no Diário de Bridget Jones em 2001 e, em seguida, em Mamma Mia, um dos pretendentes da disputada Merryl Streep, obviamente é um artista muito requerido. A sua invulgar atuação no Discurso do Rei, no papel do que seria o relutante gago Jorge VI, por ser a todos os títulos formidável, justifica a aclamação de um ator que igualmente se prepara para outros êxitos como é o caso da adaptação de outra brilhante obra de espionagem de autoria do aclamado romancista, também ele espião, John Le Carré, Tinker, Tailor, Soldier, Spy, a estrear em Setembro. Mas não obstante esta azáfama pessoal nos vários países em que é solicitado, Colin Firth não falta à obrigatória chamada e ao apelo da Itália, onde reside, com a mulher de há 15 anos e 10 mais nova que ele, a realizadora de documentários, Livia Giuggioli, de quem tem dois filhos, Luca e Mateo, bem como outro filho, este de 20 anos, do seu primeiro relacionamento com a artista de cinema Meg Tilly. Aliás, este verdadeiro e atual “gentlemen” britânico contrasta com o que confessa ter sido na sua juventude, o vagabundo de cabelo comprido, de brincos nas orelhas a tentar aprender tocar guitarra e frequentador dos “pubs” do norte de Londres onde era muito popular! Foi nesta fase que ao ser convidado para interpretar o papel do galante Mr. Darcy e ao dar, com compreensível satisfação, a notícia ao irmão, este, atónito, respondeu: “O quê, tu a interpretares um papel desses quando ele é elegante e vistoso!?”

Admitindo não esperar o enorme êxito do Discurso do Rei, uma película de reduzido orçamento, a contrastar com outras astronómicas produções, em que o mérito embora a ele atribuído é igualmente partilhado pela excelente artista, igualmente premiada com uma estatueta BAFTA, Helena Bonham-Carter, no papel da mãe de Isabel II, o público admirador de Colin Firth viu, no passado Domingo, a confirmação do seu êxito em Hollywood com a atribuição de outra estatueta, o sempre cobiçado Oscar! Destaquemos as 12 nomeações do Discurso do Rei, em Hollywood: O melhor filme, o melhor ator, melhor ator e atriz secundários, melhor diretor, melhor guião, melhor cinematografia, melhor montagem, melhor realização, melhor guarda roupa, melhor composição musical e melhor som.