quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

O NATAL NA EUROPA

O Natal dos nossos dias, cada vez mais assediado pelos interesses comerciais, está longe – e que saudades!! - dos tempos de antanho, em que a época natalícia era aguardada, particularmente pela miudagem, com a expectativa dos tão ansiados presentes e da chegada do tão ocupado Pai Natal, recebido por inúmeros sapatinhos! O presépio, uma das tradições Portuguesas, embora ainda seguidas, é acompanhado pela agora praticamente obrigatória árvore do Natal, tradição particularmente importada da Alemanha. Um dos fascinantes livros sobre esta época festiva, que jamais li, aliás obra da amiga de longa data, e colega da BBC, Edite Vieira Phillips, intitulado Natal na Europa (*), é mais do que revelador e, portanto, particularmente recomendado. Recheado de curiosidades, mas, acima de tudo, receitas natalícias, embora pequeno, é um GRANDE livro!
Com os agradecimentos à Edite, é na sua obra que baseio a minha divagação. Nos países cristãos, as tradições, e até a data festiva, variam. Na Arménia, por exemplo, o primero país europeu a adoptar o Cristianismo, a nível oficial, o dia de Natal é celebrado a 6 de Janeiro, a data comemorada até à decisão de Roma, em 336 AD, para a actual, 25 de Dezembro. E, em relação a datas, a religiosamente ortodoxa Grécia, (agora a lutar contra a pior prenda do Natal – a sua séria situação económica!), a data de 6, mas do mês de Dezembro, dia de São Nicolau, padroeiro dos pescadores, com os barcos engalanados, é quando as comemorações natalícias começam a ser celebradas. Porém, os presentes, esses, vêm mais tarde, no dia 1 de Janeiro, em que se celebra São Basílio.
Entretanto, na Bélgica, particularmente em Liége, a data é comemorada por procissões de velas, seguidas da bênção aos animais, enquanto na vizinha Holanda, o dia grande, à semelhança da Grécia e da Arménia, é 6 de Dezembro, dia de São Nicolau, em que as crianças são contempladas com os tradicionais presentes. O mesmo, aliás, acontece na Húngria. Na nossa vizinha Espanha, a quadra natalícia começa a ser oficialmente celebrada, dois dias depois, portanto a partir do dia 8, prolongado-se até 6 de Janeiro, Dia dos Reis, o dia das oferendas. Outra tradição, esta na passagem do ano, em que se comem 12 bagos de uva, uma a uma, ao som das badaladas da meia noite, augúrio de boa sorte nos também correspondentes 12 meses que se seguem. Na Itália, pratica-se o jejum que precede o Natal, em que na isenção da carne, predomina o peixe, ou melhor, o tradicional prato de enguias fritas, na véspera. Mais a norte, na fria Europa, tanto na Finlândia, terra do Pai Natal e da sua lendária Lapland, dominada pelos elces, como na vizinha Suécia, o Natal chega também cedo, com iníco a 13 de Dezembro, dia de Santa Lúcia, prolongado-se até ao Dia de Reis. Porém, aqui, um curioso pormenor, em preparação a tão festiva data, a população preocupa-se na cuidadosa limpeza das suas casas, em que, igualmente, os vizinhos lituânios seguem com toda a religiosidade, celebrando particularmente a consoada, no dia 24, com um jantar em homenagem aos Apóstolos, portanto com 12 pratos diferentes, mas sem carne. Enquanto isso, seguindo a boa e tradicional limpeza dos lares, como se vê, preocupação dos escandinavos, os noruegueses, ocupam-se, igualmente, na confecção da cerveja caseira, baseada numa receita antiga. Porém, na Inglaterra, o Natal, comemorado em todo o país com o engalanamento dos templos, a época é festivamente celebrada: nas ruas com cânticos e hinos, particularmente em Londres, junto à enorme árvore de Natal, na Praça de Trafalgar, tradicional dádiva da cidade de Oslo; nos lares, a reunião da família, em que, independentemente da distância, se reune nesta época do ano, à volta da mesa dominada pelo perú recheado, pelos bolinhos, decorações e tradicionais bombinhas.
FELIZ NATAL CAROS LEITORES E SUAS FAMÍLIAS
(*) Edição Feitoria dos Livros ´

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

COPENHAGA - HEROIS E VILÕES

Como se antecipava, foi adiado o Acordo Vinculativo em troca de um político., apenas designado por Acordo de Copenhaga. Herois? Se os houve, entre os 197 delegados, quem, apontado como tal, principalmente pelo matutino britânico The Independent, foi o primeiro-ministro Gordon Brown. Salienta este periódico que embora ele não tenha conseguido selar o acordo, “evitou a catástrofe” de um possível fracasso. E esclarece que “trabalhando esforçadamente (nos dois dias que antecipou a chegada dos restantes dirigentes), “por vezes desde manhã cedo até às 3 da manhã do dia seguinte, tentando obter um acordo, foi um verdadeiro engenheiro-construtor de pontes e particularmente aceite entre os dirigentes africanos pelo seu historial no perdão da dívida aos países pobres e artífice da crise financeira”. Além disso, acrescenta o The Independent, a ele igualmente se deve a iniciativa, considerava então ambiciosa, do fundo de 100 biliões de dólares/ano para compensar os países pobres.




Efectivamente, tanto ao primeiro-ministro britânico, bem como a sua bem estruturada equipa, chefiada pelo igualmente incansável ministro da energia, Ed Milliband, deve ser outorgado enorme mérito pelo gorado sucesso de Copenhaga. Porém, quem manifestou idêntico espírito combativo, embora numa visita-relâmpago, mas de tempo prolongado, foi o Presidente dos Estados Unidos da América (EUA), o recém laureado Nobel, Barack Obama, que, convocando os dirigentes dos, como ele, representantes dos principais países poluidores, China e Índia (incluindo os da África do Sul e do Brasil), salvou a Conferência, com o que por ele foi classificado de “significativa concretização sem precedentes”, mas reconhecida insuficiente para combater os problemas ao combate do Aquecimento Global. E, tal como o secretário-geral das Ñações Unidas se referiiria no encerramento, embora não o resultado ideal, “o príncipio de um acordo”. Quem é apontado como vilão é o dirigente chinês, Hu Jintao, que resistiu ao máximo a qualquer tentativa de acordo vinculativo, sob o pretexto de que prejudicaria o desenvolvimento do seu país.




Este resultado, baseado em promessas, portanto não vinculativo, principalmente nas taxas máximas de emissão de carbono CO2, evidentemente não pode satisfazer, pelo que, não surpreende ser classificado como desapontador. Porém, dirigentes de países afectados, como as Maldivas, o Presidente, Mohamed Nasheed, entrevistado pela BBC-Televisão, considerou-se satisfeito. Satisfeito, igualmente, é o raporteur do Conselho Europeu e antigo vice.primeiro-ministro e ministro do ambiente, John Prescott, que afirmou, também à BBC-TV, que o pior inimigo foi a elevada expectativa. E esclareceu que, enquanto em Quioto estiveram presentes apenas 90 representantes, em Copenhaga compareceram 197, dentre os quais chefes de estado e primeiros-ministros. Além disso, enquanto Quioto serviu de plataforma, Copenhaga foi mais além, tanto em termos de debate sobre as verdadeiras questões como de veredas e pontes a construír, cujos pilares serão definidos daqui a seis meses, na conferência da União Europeia, mencionada pelo Presidente Sarkozy, da França, e, finalizadas no fim do próximo ano, no México.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Embora tenham sido grandes as expectativas sobre os resultados finais da Conferência de Copenhaga, de 7 a 15 deste mês, em relação a um novo tratado, que substitua o de Quioto, sobre os problemas do Aquecimento Global, e que termina em 2012, à medida em que se aproxima, prevalece o realismo imposto pelas enormes dificuldades do desejável e urgente acordo, ao ponto de, a fim de se evitar um MAU ACORDO, como a ausência de firmes garantias sobre taxas globais, mínimas e máximas de dióxido de carbono (CO2), como ficou decidido na Conferência Asiática, realizada em Singapura, a 14 de Novembro, fala-se da possibilidade de adiamento por um ano. Obviamente, as atenções – e dificuldades - concentram-se em três dos maiores poluidores mundiais: Estados Unidos da América (EUA), China e Índia. O objectivo – e enorme desafio de Copenhaga– é acordar-se em compromissos vinculativos, primeiro em taxas de redução de dióxido carbono CO2, segundo em datas-limite e, terceiro, honestidade no cumprimento e observância do Acordo. Como se sabe, os problemas são anormes. O Reino Unido, é um dos países que comanda a necessidade de um acordo fiável e transparente. Por isso, dá o exemplo e compromete-se que até ao ano 2020 reduzirá 1/3 das emissões e até 2050 80%.

Em relação aos EUA, embora a boa-vontade e determinação do Presidente Barack Obama, em reparar o lamentável curso do seu antecessor, nesta importante matéria, seja, por enquanto, entravada por um Congresso renitente e lento em corresponder-lhe, particularmente devido aos interesses individuais dos Estados representados pelos seus membros, alguns dos quais, dependentes de indústrias altamente poluentes, que resistem à desejada mudança, por outro, está a compreensível renitência por parte dos países em vias de desenvolvimento, nomeadamente a China, a Índia e o Brasil, que insistem não dever travar o seu desenvolvimento. Por outro, porque é imprescindível apresentar compensações, que orçam em cerca 100 biliões de dólares por ano, aos países que subscrevam as requeridas e aprovadas taxas, até ao ano de 2020, como foi debatido na última Cimeira de Bruxelas, em 30 de Outubro passado, na corrente contenção económica é um fardo pouco encorajador. Outro fardo, foi apontado pelo Banco Mundial em relação à contenção das cheias. Segundo aquela organização, o apoio aos países subdesenvolvidos mais vulneráveis, como o Bangladesh e as Malvinas, o custo previsto é entre 80 e 120 biliões de euros.

A contrastar com a incerteza da adopção das medidas ideais, predominam as realidades globais, como aponta a recente edição, da Oxford University Press, Economia e Política da Alteração Climática (The Economics and Politics of Climte Change). Baseada nas mais recentes investigações pelos cientistas mais notáveis da matéria, salienta que “Enquanto a ciência sobre alterações climatéricas, e a evidência empírica aumentam, a consequente resposta em termos de políticas de contenção até agora pouco impacto tiveram no aumento das emissões. A concentração de 400 partes por milhão (ppm), de dióxido de carbono, equivalente a CO2, será brevemente atingida (o nível da pré Rveolução Industrial ituava-se em 273ppm)”. (Cap. 2, pág. 9).

Neste indesejável cenário, e, em termos práticos, temos as tempestades tanto nas Filipinas como nas ilhas de Samoa, bem como noutras ilhas do Pacífico, nomeadamente as Maldivas, cujo Presidente, Mohamed Nasheed, a tomar ousadas providências de deslocação total a fim de evitar que a população do seu país (arquipélago de 1,192 pequenas ilhas), seja engolfada pelo crescente nível das águas do Oceano Indico, como é ainda o caso do Bangladesh. As Ilhas Marshall, também no Pacífico, são outro exemplo de constantes inundações como a revista francesa Paris-Match recentemente anunciou e ilustrou. Entretanto, com as calotas milenares do Árctico e do Antárctico a derreterem-se, o que acontece pela primeira vez, aumenta o volume de água e, portanto, a subida do nível oceânico, como é também o caso de Moçambique (vide notícia do Diário Económico de 4 p.passado, em que se noticia a subida das águas do mar numa costa de 2.700 km. Além das inevitáveis cheias, com o volume de águas geladas, ameaça as correntes temperadas do Norte do Atlântico, como o Golfo do México (Gulf Stream) e, consequentemente, alterações climatéricas, particularmente no Hemisfério Norte. A contrastar, regiões como o Estado da Califórnia e a enorme bacia Murray-Darling, no sul da Austrália, bem como vastas regiões da África, como a Etiópia e o Quénia, ou ainda a extensa região agrícola do Estado de Maharashtra (sul da Índia), só para mencionarmos os principais, sofrem de enorme escassês de água, com consequente prejuízo para a agricultura e a inevitável deslocação de populações famintas. Estes, os contrastes resultante do Aquecimento Global, também conhecido por Aquecimento de Estufa.

Actualmente o nível do mar tem subido a uma média de três milímetros por ano. Os estudos do Painel Intergovernamental de Alterações Climáticas (IPPC) da ONU, - entidade responsável pelas observações climáticas do mundo inteiro - prevêem um aumento do nível do mar de 18 a 59 centímetros até 2100, não tendo em conta o comportamento futuro das calotas polares (bases permanentemente geladas) da Antárctida e da Gronelândia. Obviamente um dos problemas considerados foi o aumento da temperatura. Salienta o estudo que durante o último século aumentou 0.6º. Além disso, até 2100, e na pior das hipóteses, atingirá cerca de mais de 6 graus que a temperatura actual, o que significa, como apontaram recentemente os cientistas americanos do Instituto de Oceanografia Scripps, na Califórnia, publicado no dia 17 de Novembro de 2008, na Nature Geoscience. Com base no artigo em epígrafe, enquanto anteriormente evidência sobre as alterações das temperaturas tanto no Árctico como no Antárctico não podiam ser directamente atribuídas à influência humana, estes cientistas concluíram que “os nossos resultados demonstram que a actividade humana provocou já influência significativa no aquecimento de ambas as regiões polares, com particular impacto na biologia, comunidades indígenas, calotas polares, bem como nos níveis globais.” Neste artigo, estes cientistas apontam e confirmam, os já acima citados estudos do IPPC, ou seja até 2100, prevê-se um aumento do nível do mar de 18 a 59 centímetros. No caso do nosso país, como apontou recentemente ao Jornal de Notícias, o Director do Instituto de Meteorologia Nacional, Dr. Adérito Serrão, as temperaturas médias no nosso país, têm aumentado significativamente desde 1930 – 1,2º . Adianta, contudo, que até ao fim do século poderão agravar-se para 8,6º!
Esta, a evidência e inevitabilidade, que os 730 delegados (entre os quais 50 chefes de Estado), de cerca de 200 países, que se encontram reunidos no Centro Bella, em Copenhague.
Em toda esta incerteza e compromissos altamente insatisfatórios, talvez que, como afirmou James Hansen, um dos mais eminentes estudiosos do clima e o homem que alertou para os perigos das alterações climáticas muito anos antes de Al Gore abrir os olhos ao mundo com o seu documentário “Uma Verdade Inconveniente”, ao falar ao “The Guardian” nas vésperas da cimeira de Copenhaga, diz que é preferível que a cimeira redunde em fracasso, dado que o ponto de partida é profundamente defeituoso. Mais valia começar tudo do zero, argumenta.