domingo, 8 de dezembro de 2013

PARA A HISTÓRIA DE TIMOR LESTE – II - Casos inéditos- (1 de 6)

O envolvimento sobre Timor-Leste proporcionou-me uma dimensão inesperada. Enquanto, e por um lado, foram estabelecidos e reforçados excelentes contactos, principalmente com um diplomata superior da embaixada da Indonésia em Londres, um homem ligado ao último embaixador do seu país em Lisboa antes da rutura diplomática em 1975, por outro, novos contactos foram estabelecidos com várias individualidades portuguesas, envolvidas na questão de Timor, incluindo o último governador, o falecido major-general Lemos Pires, que me chegou a receber no seu gabinete do Estado Maior do Exército, em Lisboa. Foi neste período, que, com certa surpresa, fui contactado, em Londres, por duas pessoas completamente diferentes: Um dos diretores da companhia petrolífera, Unocal Indonesia, Ltd, que por razões de confidencialidade é conveniente manter no anonimato, limitar-se-à, simplesmente, às iniciais do seu nome, L.G.W. Exagerando a minha influência, considerou-a erradamente suficiente, com a Resistência timorense, veio ter comigo à então sede da BBC, em Bush House. Começando por esclarecer que a empresa que representava, depois das bem sucedidas prospeções em Timor Gap, estava convicto da existência de petróleo na zona centro-leste de Timor-Leste, em que predominava a Resistência. Nesta, que era uma fase inicial, foi claro no objetivo: que a Resistência autorizasse, ou, pelo menos, não resistisse, aos trabalhos de prospeção, pelo que seria compensada. Achando, a princípio, este episódio caricato, mudei de ideias, e interpretei-o com a requerida seriedade, por vários e importantes fatores que me foram mais tarde revelados. A outra, foi de natureza política. Tratava-se de uma alta e prestigiosa figura política, infelizmente já falecida, muito chegada ao então Presidente Ramalho Eanes, que veio propositadamente a Londres para falar comigo. Sem saber porquê, mas possivelmente ao que pensaram ter contactos privilegiados com personalidades indonésias, o que era verdade, o objetivo da visita era saber se haveria a possibilidade de "testar" as “águas indonésias” sobre um encontro, ao mais alto nível, entre os dois países. A iniciativa tinha como objetivo, um encontro de Chefes de Estado. Como era inevitável, seriam necessários contactos preparatórios sobre a viabilidade de um encontro desta natureza. Caso os meus contactos achassem mérito na possibilidade desse encontro, que se realizaria num país neutro a acordar mutuamente, as negociações preparatórias seriam conduzidas, garantiu essa importante personalidade, sob a responsabilidade, nada mais nada menos que o falecido Coronel Melo Antunes. Embora, com algumas reservas, mormente sobre a aceitação por parte da Indonésia, transmiti esta importante mensagem. O alto contacto indonésio, ouviu, com certa surpresa, e até desconfiança, dando a impressão de estar a ser vítima de qualquer "jogada". Mas, devido à confiança mútua e ao adiantamento de mais pormenores, o que deu reforço à proposta, estava garantida a credibilidade. Dias depois recebi a resposta: "embora tratando-se de uma aliciante e interessante proposta, o presidente Suhearto considera ser ainda cedo para um encontro, ao mais alto nível, entre os dois países". Que se saiba, não se fizeram, posteriormente, tentativas semelhantes, antes do abandono de Timor-Leste pelas forças e autoridades indonésias, em Dezembro de 1999, e a consequente independência. A seguir: Envolvimento do magnate e multimilionário australiano Kerry Packer? (parte I)

sábado, 23 de novembro de 2013

BBC - A NOVA BROADCASTING HOUSE

Em termos logísticos a BBC, essa famosa emissora britânica, atravessa uma nova e total remodelação. Da original Broadcasting House, em Portland Place (nas proximidades de Oxford Circus), cuja invulgar fachada se assemelha a uma nau, aos vários e dispersos edifícios, alguns deles vizinhos, hoje hotéis , ou até a sede do Consulado de Portugal, todos eles que eu próprio frequentei, quer em cursos ou questões de serviço, outros, como Television Centre, o famoso complexo situado em White City (zona oriental de Londres), ou o enorme edifício a norte do último, como o Serviço Mundial sediado em Bush House (Aldwych), desde a sua inauguração, no início dos anos 40, encontram-se agora reunidos num só complexo, chamado Nova Broadcasting House, ou seja, uma vasta extensão do primitivo edifício original. Como tive o raro privilégio, a convite do atual Diretor Geral da BBC, Lorde Tony Hall, de visitar o novo complexo, dou aqui um pálido resumo deste vasto e extraordinariamente inovador complexo, verdadeiro exemplo das últimas e mais avançadas tecnologias e extraordinárias condições de trabalho para os cinco mil funcionários que nele trabalham. Para quem, durante 30 anos, trabalhou no Serviço Mundial, em Bush House, embora em boas condições para a época e, subitamente é lançado no novo complexo, tem a sensação de estar noutro e mui distante planeta. A nova extensão, em forma de alargada ferradura, dispõe de um vasto átrio exterior, em cujo solo se depara com centenas de nomes de capitais mundiais, incluindo Lisboa, onde, igualmente, abundam dispositivos de som em que se podem ouvir transmissões nas mais variadas línguas. Á noite, à semelhança da fachada, que à superfície tem nove andares (mas na totalidade 13 incluindo as caves), a partir das 22 horas, vastos holofotes inundam todo o local. No interior e a nível da superfície, pode-se admirar, no piso imediatamente inferior, o enorme Departamento de Notícias, onde trabalham 1100 jornalistas. Se no centro e à esquerda são profissionais especialmente ocupados da informação nacional, na extrema direita, situam-se os jornalistas dedicados à informação internacional. Enquanto isso, mas não visível, e por debaixo do varandim, encontra-se o vasto estúdio do noticiário News24, ou seja da Informação contínua, obviamente visível do próprio Centro de Informação. E, a confirmar a sua invejável e ciosamente defendida posição de Entidade Pública, a BBC encoraja o público em geral a ter acesso, no vasto recinto de entrada, à esquerda, em que se pode tomar um chá ou um café, e de onde se pode admirar o vasto Centro de Informação. Entretanto, nos vários e diversos pisos, especialmente superiores (obviamente vedados ao público em geral por questões de segurança e dispondo de dispositivos de proteção) encontram-se os estúdios das múltiplas emissoras de rádio e, no 4o e 5o pisos, os serviços internacionais, quer de rádio quer de televisão (neste caso o Serviço Árabe e Iraniano). Além de locais específicos para reuniões de trabalho, todos os pisos dispõem de locais de convívio e de kitchenettes a proporcionar breves momentos de relaxamento. Que invejável! Enquanto isso, nas caves 1, 2 e 3, situam-se os vários estúdios, em sua maioria de programas noticiosos, enquanto os de entretenimento são transmitidos ou gravados dos estúdios de Elstree (a cerca de 40km norte de Londres).

sábado, 9 de novembro de 2013

PARA A HISTÓRIA DE TIMOR LESTE - Introdução

Esclarecimento: Timor-Leste foi um dos capítulos importantes da atividade jornalística do autor, com vários artigos, sobre assuntos inéditos, publicados no Jornal de Notícias. Por serem, como julgo, do interesse geral do(a) leitor(a), particularmente os mais jovens, aos leitores deste blogue é dada a honra de conhecerem o que modesta e virtualmente constituem importantes documentos. NOTA: Devido à sua extensão, são divididos em seis distintos artigos (excluindo o atual). Os temas aqui dedicados a Timor-Leste são extratos dos manuscritos do autor, POR TERRAS DE SUA MAJESTADE e TIMOR-LESTE, DÍVIDA POR SALDAR, que atualmente se encontram no prelo. Ainda que acompanhasse a tragédia de Timor-Leste, primeiro a nível da BBC, (organização que tive a honra de servir durante 30 anos) que ao ter conhecimento de que os guerrilheiros ouviam e gravavam as transmissões daquela notável emissora em língua portuguesa, às quatro horas da manhã (hora local). para serem religiosamente ouvidas, mais tarde, em conjunto, a Secção Portuguesa remodelou-as dando maior ênfase a assuntos daquele território. Na sua qualidade de correspondente, o autor só se ocuparia do assunto caso houvesse algo a noticiar a partir de Londres. Aliás, havia muito, mas mais do interesse e envolvimento britânicos, especialmente em termos de grupos de direitos humanos, como a Organização de Direitos Humanos Tapol, que acompanhava e fazia campanha a favor de Timor-Leste bem como a Amnistia Internacional. (A estas, e muitas outras personalidades, algumas delas importantes na vida política britânica, como, mas muito especialmente, a milhares de anónimos, na opinião do articulista, se deve o sucesso da Luta para a deejada e dificilmente conseguida Independência). Recorde-se que como a Inglaterra, e Londres em particular, foi foco de grandes acontecimentos sobre Timor-Leste, tanto por parte dos grupos de direitos humanos, como as já referidas Tapol e a Amnistia Internacional, assim como a nível empresarial como governamental (venda de armamento à Indonésia), eram abundantes as notícias sobre Timor-Leste. A situação, porém, mudou. Em Abril de 1983, o autor recebeu um telefonema no seu escritório, precisamente da secretária da Tapol, Carmel Budiardjo, em que literalmente pedia ajuda. Tratava-se da súbita chegada de um ex combatente timorense, que, desafiando as autoridades indonésias decidiu falar, pelo que precisava de alguém que falasse Português, para a tradução. Antevendo a importância da informação, principalmente, quando até então, raros eram os refugiados, que ainda tinham familiares em Timor-Leste e estavam dispostos a falar, imediatamente o autor se disponibilizou. Foi um prazer em conhecer, mas especialmente ouvir, durante 72 horas, praticamente a fio, o jovem heroi, Gregório Henrique (Neobere, nome de guerra) que descreveu pormenorizadamente os horrores da luta, as vicissitudes da população, a valentia dos integrantes da resistência, a solidariedade dos jovens e o indispensável apoio da Igreja local. No encontro, participou também Carmel Budiardjo, que estando bem dentro do assunto não só fazia as perguntas, como procurava também esclarecimentos e a confirmação de notícias que até então eram apenas conhecidas oral e vagamente. Com um raro manancial de evidência como este, em que pela primeira vez foram dados pormenores sobre os chamados "cercos das pernas" em que a população civil foi obrigada a andar e a encurralar os concidadãos patriotas, participando, assim nos cercos militares, foi escrita a primeira série de três longos artigos, intitulados "A Realidade de Timor-Leste" (25,26,27 de Maio de 1983), publicados numa só semana. Como resultado, não só o JN como o seu correspondente em Londres, receberam consideráveis elogios por este trabalho, incluindo os de um encontro, com o Dr. Jaime Gama, então ministro dos negócios estrangeiros, chegando a classificar o autor um perito nesta matéria, o que claramente não era. A estes, seguiu-se uma longa série temática de reportagens sobre Timor-Leste, nomeadamente "A Indonésia Desmascarada" (30, 31/7/83), "Povo Agrilhoado Mas Não Vencido" (9,10,11,12,23/1/84), "Tragédia de um Povo Que Teima em Ser Livre" (30/4/, 1,3, 4, 5/84) e a primeira entrevista dada a um órgão português da comunicação social pelo ex diplomata australiano e último cônsul geral da Austrália em Timor-Leste, até 1975, James Dunn, autor da memorável obra "Timor- a people betrayed", (Timor - Um Povo Traído) aquando da sua passagem por Londres, em 22/3/84. A premiar a luta deste grande campeão da causa do povo timorense, que já em 2001 fora distinguido com a Ordem da Austrália, o então Presidente da República, Dr. Jorge Sampaio, agraciou-o com a Ordem do Infante, em 22 de Maio de 2002, durante a sua visita oficial à Austrália e depois de ter assistido às cerimónias da independência de Timor-Leste, dois dias antes. Foi este envolvimento, que segundo o já citado Dr. Jaime Gama, lhe foi "sempre muito útil e que servia de base aos arquivos", do seu ministério. O problema, porém, era a dificuldade de informação de dentro do território, uma vez que os ocupantes indonésios não deixavam saír ninguém de Timor-Leste, situação que mudou com a visita do já referido e antigo lutador timorense.

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

MAIS OUTRO SOLENE AVISO A INCORRIGÍVEIS SURDOS.

O influente e conceituado Painel Intergovernamental sobre a Alteração Climática da ONU (sigla inglesa IPCCA), divulgou, em finais do mês passado, em Estocolmo, Suécia, o seu Quinto Relatório, aliás escassamente mencionado nestas nossas bandas! Dificílima e complicada obra elaborada por 259 dos mais prestigiados peritos da especialidade, incluindo o nosso Dr. Pedro Viterbo, provenientes de 30 países e dos quais também Portugal, trata-se do mais POTENTE e SOLENE AVISO sobre a situação atual do nosso Planeta, resultante da ação ou contribuição humana. que vai servir de tema.e escrutíneo na Cimeira, a realizar em Paris em 2015. Uma geração, ou várias gerações dependente(s) dos altamente prejudiciais combustíveis fósseis, em que o carvão, enorme emissor do pernicioso poluente CO2, em que a gasolina (cujo automóvel não dispensamos) é outra culpada, aliado à deflorestação de indispensáveis e preciosos pulmões ambientais como a Amazónia (e acrescento, a Indonésia e Madagáscar), aponta o relatório, têm sido os provocadores do aquecimento global das superfícies terrestres, dos oceanos e da atmosfera. Como resultado, e em relação ao nosso país, quer em termos de níveis das águas oceânicas, que poderão subir um metro até 2100, com o seu vasto litoral e muitas praias, ou em termos de aumento de clima, com as vagas de calor (que tanto contribuíram para os muitos incêndios deste ano no nosso país), uma primavera antecipada, com eventuais reduções dos níveis de precipitação e os consequentes danos para a nossa agricultura, o cômputo será de 12% na redução do PIB. Se o aumento dos níveis da água do mar se vão dever ao derretimento gradual das camadas até aqui eternas dos gelos do Árctico e da Antárctica, mas principal e assustadoramente do primeiro, já visíveis no aumento das águas oceânicas, com consequentes danos da sua acidificação, que atingiram os níveis mais elevados dos últimos 300 milhões de anos, mas não só, provocando a destruição, em mais de metade dos precioso corais, que, a manterem-se ao acelerado nível dos últimos 60 anos, estão em risco de desaparecer antes do fim deste século. Têm sido vários os avisos, muitos deles solenes, nos últimos anos, em relação ao estado e futuro próximo do nosso Planeta. Porém, face aos ouvidos dos surdos e hesitantes políticos, mas não só, incluindo nós próprios, que receando as inevitáveis consequências de maior moderação da nossa qualidade de vida, e, em particular, aos fortes lóbis das energias fósseis, cujos países delas dependentes temem o seu futuro económico, assim como de uma sociedade, como a Americana, a maior poluente do mundo, recusam, todas, aceitar a realidade. Como os efeitos climatéricos, devido à sua lentidão, normalmente, em alguns casos, levam centenas e outros milhares de anos a produzir os seus efeitos, a questão, a GRANDE QUESTÃO, é saber o LEGADO que deixamos às futuras gerações. Se os perniciosos efeitos são oriundos da primeira Revolução Industrial, iniciada no Reino Unido, e seguida pela Alemanha e França, a partir dos anos 50, e nomeadamente no ano de 1998, o mais quente a nível global, a partir daí os efeitos de estufa têm sido galopantes, com o aumento de cerca de 2oC, com a perspetiva de se chegar, possivelmente, a 4,9o ou até mais, no fim do século. Na realidade, em termos de níveis da época pré industrial, prevê-se o aumento de temperatura de 3 ou 4oC, o que significa níveis jamais alcançados desde a evolução do homem moderno, há 250,000 anos. Partindo do abate das florestas e do derretimento das camadas geladas eternas dos Pólos, se com o desaparecimento gradual anual de idêntico espaço de quase metade do nosso país com o primeiro, morre um dos principais pulmões geradores da indispensável fotosíntese, cientificamente apelidada de “tanque absorvidor” de gases CO2,: em relação à segunda desaparece o importante factor refletor de raios de onda curta, ou albedo, a partir da Terra, que, para manter o seu necessário equilíbrio não deve prejudicar os seus 69% de absorção da energia solar de que depende toda a vida terrestre. Aponta um dos mais prestigiosos cientistas desta matéria, Lord Stern, ouvido em Londres por este colaborador do JT, que “no decorrer dos últimos 3 ou 10 milhões de anos jamais atingimos o aumento de 3oC ou 4oC. É mais do que evidente tratar-se de uma experiência verdadeiramente invulgar”. Adiantou ainda que “um caso desta natureza significa uma alteração profunda do nosso atual sistema de vida e a eventualidade de centenas de milhar, ou possivelmente milhares de milhões de pessoas, terem de sre deslocadas, provocando óbvios conflitos.” .

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

SINGELA HOMENAGEM AOS ABNEGADOS HERÓIS

Foi preciso a inglória morte de oito “soldados da paz”, quatro deles na até há pouco frondosa Serra do Caramulo, (com 15.000 hectares ardidos, durante 15 infernais dias), apenas este ano, mas 214 na História Nacional de tão generosa e valente Instituição, para se reconhecer quão preciosa e GENEROSA é. Sem desprimor para os profissionais, cuja competência e atividade é o cimento da profissão, são os Bombeiros Voluntários, particularmente jovens, que constituem a seiva de tão prestimosa vocação. Particularmente no nosso país, em que o voluntariado dos soldados da paz é tradicional. Antiga vocação que remonta ao período dos faraós, os romanos seguiram a tradição, mas não inicialmente em fins sociais. No nosso país os bombeiros tiveram início em 1395, em Lisboa, por Carta Régia do D. João I. Compete, e depende dos especialistas, as consequências e ilações, certamente muitas, provavelmente da morte dos jovens bombeiros voluntários, como uma Kátia de Alcabideche, um Bernardo do Estoril ou de um Daniel, o último a sucumbir. Embora, segundo noticias, a intempada morte dos primeiros se tivesse ficado a dever a circunstâncias imprevistas, como a súbita viragem, do vento, possivelmente, neste e noutros domínios de prevenção haja lições a tirar. Não é este o espaço, nem o seu autor é especialista no assunto, para se pronunciar. Porém, face ao lamentável e desolador espetáculo anual que assola não apenas a beleza e riqueza florestal do nosso pequeno país, mas pior, a desnecessária morte de valentes e generosos Kátias e Danieis, há que, radical e urgentemente se fazer um profundo estudo sobre tão importante questão. Embora, felizmente, a floresta ardida rapidamente rejuvenesça, mas não o seu habitat, o mesmo não sucede quer com as desnecessárias vidas perdidas dos bombeiros como a rica biodiversidade, assim como os prejuízos, mas especialmente os psicológicos das populações afetadas, jamais podem ser recuperados. Desde, e principalmente a ordenação das florestas, que segundo os próprios bombeiros, as do Estado são as mais prevaricadoras, como quer melhor treino e equipamento adequado das Corporações dos Bombeiros, ao civismo das populações, particularmente dos incautos, já que os pirómanos, por questões psicológicas são dificilmente tratáveis, especialmente em classes menos afluentes, exige-se- urge-se - um estudo rigorosíssimo! A valentia, a generosidade, a abnegação dos Bombeiros, que agradeço e presto a minha modesta homenagem, BEM O MERECEM, especialmente quando no exercício de tão arriscada missão, as suas vidas são as primeiras a estar em jogo. Não mais desnecessárias mortes de Kátias e de outros jovens lutadores, já que é inaceitável o desperdício de 214 HEROIS que sacrificaram as suas vidas pelos nossos bens e bem-estar. .

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

A Síria e o tal “Relacionamento especial”

A recente derrota do Primeiro-Ministro britânico, David Cameron, na Câmara dos Comuns, sobre a sua determinação (juntamente à dos EUA) em intervir belicamente na Síria a pretexto do alegado ataque governamental de armas químiicas ao seu próprio povo, prontificou várias questões e deflagrou outras. A nível interno, primeiro, a posição e autoridade do chefe do governo, cuja derrota debilitou ainda mais a sua já questionável autoridade partidária. Segundo, a moral ou justificação da intervenção militar em países soberanos, quando, em semelhantes casos de chacina despótica, como da Somália (2007), Uganda (1984), (particularmente esta de que resultou a morte de milhões de inocentes civis), da atual e semelhante chacina no Congo, da qual ainda se desconhecem números, ou até mesmo, este mais radical, o caso da Coreia do Norte, NADA FOI FEITO! Terceiro, se tal desfecho porá em causa o chamado “Relacionamento Especial”, com os EUA. E, a nível externo, tal como é atribuído a um porta-voz do Presidente Vladimir Putin, da Federação Russa a alegada “pequenez” e “reduziada influência mundial” do Reino Unido. Obviamente, a “aventura” no Iraque, pesou forte na decisão dos deputados, confirmado por uma sondagem posterior, em que 71% dos entrevistados também se opôs a uma participação armada. . Deu, porém, lugar a um precedente: a primeira derrota de um chefe do governo numa das maiores decisões – intervenção militar – num país estrangeiro. Contudo, ao dizer não, abandonando o seu mais direto aliado, os EUA, tratou-se da segunda vez, depois da Guerra do Vietname, em que o então Primeiro-Ministro. Harold Wilson, recusou qualquer envolvimento. Porém, e devido ao reatamento e invulgar estreitamento de relações entre os dois países, particularmente até e depois da discutida intervenção no Iraque, desta vez, levanta-se a questão, particularmente importante para os Conservadores, sobre as consequências que a decisão parlamentar provocaria ao chamado “Relacionamento Especial” entre os dois países, de que tanto, particularmente os britânicos, falam e insistem preservar. Iniciado por Winston Churchill e Theodore Roosevelt, quando o Reino Unido debelitado, estoicamente se debatia, contra as forças Nazis e o povo americano se recusava, oficialmente, a intervir (se bem que, em privado, Roosevelt fornecia navios e material bélico pesado), o seu Presidente, face à situação real e aos insistentes apelos do seu amigo deste lado do Atlântico, torneou a situação envolvendo, DIRETA e EFICAZMENTE o seu Povo, do qual resultou a vitória e o fim de Hitler. Fora, assim, iniciado o “Relacionamento Especial” que teve igualmente como importante arquiteto o influente ministro, Dean Acheson. Para os americanos, porém, embora reconheçam os britânicos aliados mais diretos, como para a maioria dos políticos atuais, de “especial” o relacionamento só existe quando lhes interessa. Afinal, atual e particularmente à crescente influência da China, nomeadamente na esfera asiática, faz concentrar as suas atenções não na velha Europa, mas na distante e mais inquietante região do Sol Nascente. Os britânicos, embora não queiram admitir ser nostálgicos, fortemente cimentados nas tradições, para eles, o “Relacionamento Especial” que em tempos de paz, embora durante a “Guerra Fria”, foi particularmente reforçado por Ronald Reagan e Margaret Thatcher, tem de ser mantido, mesmo que simbolicamente. A lição mais imediata, aprendida do inesperado “não” parlamentar britânico, pelo seu velho aliado foi o reconhecimento da real impotência pessoal dos chefes de governo ou de Estado, passando controversas “batatas quentes” aos seus Parlamentos ou Congressos. Entretanto, surge o cada vez mais arrogante e autocrático Presidente Putin, aliado do regime sírio, a denegrir a influência atual do país que mais ajudou o seu durante a II Guerra Mundial, apelidando-o de “pequeno” e sem “influência mundial”. Ironicamente, com a sua proposta de rendição das armas químicas por parte da Síria, aos cuidados da ONU, talvez a ele se fique a dever uma nova e indesejável intervenção externa no conturbado Oriente Próximo.

sábado, 7 de setembro de 2013

DIVAGAÇÕES DE UMA NOITE DE VERÃO?

Hábitos, tradições e culturas são características idiossincráticas dos povos. E a melhor forma de as distinguir é a vivência e identificação. E, quando delas se é parte histórica, trata-se de um bónus adicional. Uma das primeiras observações com a cultura e práticas britânicas, ocorrida há mais de meio século, esta em termos académicos, foi a ênfase na opinião do aluno e da sua argumentação sobre um determinado tema, em vez da do tutor, que se limitava a ouvir e, quando necessário, opinar e, a segunda, o planeamento.este, algo estranho para quem vinha de uma cultura de “última da hora” ou do habitual “em cima do joelho”. Outra, o muitas vezes desnecessário, e até vulgar pedido de desculpa. Porém, a que mais me impressionou foi, e é, a fidelidade na resposta a um contacto por correspondência. Que diferença entre, diria, o nosso MAU HÁBITO! Infelizmente, no nosso país, é raríssimo receber-se resposta (agora felizmente em contactos oficiais PRÁTICA CORRENTE e, até, com relativa rapidez!), mesmo quando em casos de simples cortesia (e tenho inúmeros), em que a simples receção, ou prova de boas maneiras - o agradecimento - são os GRANDES AUSENTES! Porém, quando, por circunstâncias, ocasionais ou inerentes a cargos ocupados, somos parte, e, em alguns casos, iniciamos hábitos, costumes ou normas, mais tarde adotados a nível nacional, compreende-se a satisfação pessoal. Estes, particularmente quando, a título voluntário, ocupei funções sindicais na BBC, notável instituição que profissionalmente me formou e servi durante 30 inesquecíveis anos. Casos pioneiros, que, iniciados nessa Corporação, se tornaram em PRÁTICA NACIONAL! A primeira, quando pouco se falava ainda do assunto, em princípio devido à exiguidade dos então estúdios, refrear-se o uso do fumar durante as transmissões. Prática que depois se estendeu aos refeitórios, em que inicialmente foi dedicado um espaço para fumadores que, mais tarde, foi abolido, inclusivamente no interior dos edifícios, concedendo-se alguns minutos de ponto para os fumadores inveterados. Prática que, anos mais tarde, transformada em lei, se consolidou a nível nacional e nos transportes. Seguiu-se a segurança, especialmente devido à possibilidade dos anunciados ataques do IRA (que, não obstante publicamente anunciadas ameaças, nunca ocorreram a instalações da BBC). Ironicamente, e quando, inicialmente, propus identificação própria dos funcionários e registo de visitantes, recusados devido a alegados custos, quando, poucos anos depois, um dos estúdios foi invadido por adeptos do Partido Nacional Galês (Plaid Cymru - pronuncie-se Pláid Cúmrí), em que foi solicitada a minha mediação, em protesto. por parte daquele partido à, para eles, indevida promoção do galês em emissoras nacionais naquele país, em desprimor às transmissões em línguas vernáculas como era o caso do Serviço Mundial da BBC. Prática atualmente generalizada em todo o país. Finalmente, o processo, inicialmente modesto, da emancipação feminina, ou melhor, o aumento da quota de profissionais femininos em jornalismo, até então defensivo reduto masculino e apenas reservado a secretárias. Ironicamente, anos mais tarde, e quando achei pôr termo a 13 anos de chefia sindical voluntária, o primeiro não britânico a ocupar o cargo, mas eleito, do Serviço Mundial, dei lugar, primeiro a uma Presidente, seguida por outra, esta Portuguesa, que imediatamente fizeram campanha para o Movimento Lésbico, então obscorecido (mas mais tarde prevalecente na Corporação). Fazer parte da História, ser-se pioneiro, talvez por acidente, do que atualmente é apenas hábito corrente e, quando esse intérprete não é cidadão desse Povo e Cultura, mas PORTUGUÊS, ou melhor, Tondelense, é uma realidade! Não uma divagação de uma noite de verão!

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

O GEORGE DE CAMBRIDGE

Cambridge lendária cidade universitária, situada no centro-leste da Inglaterra, tem um novo George. Ainda não aluno, pois conta apenas poucas semanas de vida, além de privilegiado cidadão de tão vetusta a académica cidade, será também um dia o sétimo soberano do país e da vasta Commonwealth. Nascido às 16:24 de 22 de julho de 2013, o novo George Alexander Louis, filho de Kate Middleton e do comandante de helicópteros de salvamento, William Windsor, é o novo aluno em potencial aluno de tão importante Centro de Saber, que entre os seus lauréis conta com elevado número de laureados Nobel. Possuidor de excelentes pulmões, tal como o pai afirmou, que, comummente traduzido significa exercer ótimas qualidades vocais, indispensáveis para um potencial orador, tal como o nome, parece honrar e traduzir as milenares tradições das origens académicas de Cambridge. Lembremo-nos de que a Universidade de Cambridge, deve a sua origem à revolta de professores e alunos aquando da condenação a enforcamento do aluno criminoso e colegas de alojamento, que abandonando a Universidade de Oxford muitos deles ali se radicaram dando origem à fundação da Universidade de Cambridge pelo que se orgulha de uma tradição liberal, com raízes profundas na música, principalmente coral e medieval (caso do Trinity College). Embora tivesse sido fundada em 1209, em 1226 teve o primeiro Reitor, reconhecido tanto pelo Rei como pelo Papa, mas só em 1284 é que viu o seu primeiro "college", Peterhouse. As lutas e provocações por parte dos educandos levaram à destruição das escrituras e alvarás universitários, provocando também a morte de vários estudantes. Dos sérios distúrbios só o “Colegge” Corpus Christi, fundado em 1352, demonstrando invulgar espírito de mediação, permaneceu incólume devido ao notável pacifismo e exemplo demonstrados. Aliás, pautada pelo seu puritanismo e em sequência aos incidentes, o Corpus Christi, proibiu os seus alunos a participar em peças teatrais, que na altura eram predominantes no meio académico e que, mais tarde, seria enorme alfobre de talento como se pode constatar no século XX, nomeadamente John Cleese, um dos fundadores da celebérrima série televisiva Monty Python Flying Circus. Exemplo idêntico, este em termos de organização de peças teatrais, foi seguido pelo “Colegge” Emmanuel, fundado em 1584. Este negro capítulo, levou o Reitor da Universidade, Lorde Burghley (William Cecil), também ministro das finanças, a decretar, em 1585, normas severas, incluindo o envergar obrigatório de uniforme. Mas, quase dois séculos mais tarde, em 1776, o recruta que viria a ser famoso anti esclavagista, William Wilberforce, notaria, dececionado, que a devassidão entre os alunos era predominante: "bebem imenso ... pelo que fiquei chocado com a sua conduta" Outro contemporâneo apontava que "era escandalosa a ignorância da ordem e da disciplina na Universidade". Não surpreende que a partir do século XIX, Cambridge libertou-se dos atavios religiosos, como, por exemplo, exames de religião como prova obrigatória de admissão e começou a abrir o currículo às Ciências Naturais (1851), à Engenharia (1894) e à Matemática. Foi também neste período que graças ao Girton “College”, foram admitidas alunas (1869), o que constituiu uma verdadeira revolução no ensino superior para a época. Se a Universidade de Cambridge se orgulha de muitos laureados Nobel, em que se destacam, pela sua importância, Ernest Rutherford (mais tarde Lorde), inventor da separação do átomo em 1932, como os Drs. James Watson e Francis Crick, que juntamente ao Prof. Maurice Wilkins, este do King''s College de Londres, descobriram a origem da vida, o ADN (ácido dióxidoribonucleico), em 1953, para ser igualmente fiel à irreverência de que a origem de Cambridge é timbre, nela, além de atores, foram também formados célebres jornalistas e escritores igualmente irreverentes, como é o caso do já citado John [Marwood] Cleese e de David [Paradine] Frost. Fiel à tradição, ou seja, depois do diretor da cátedra de matemática, Charles Babbage, ter inventado, em 1833, a "máquina analítica" tida como a precursora dos computadores, Cambridge é conhecida como verdadeiro Centro Científico, em que a informática desempenha papel importante. É esta Cambridge que, agora, passa a contar com um George, este Real e o terceiro na linha da sucessão ao Trono..

sábado, 27 de julho de 2013

O Milagre chamado Mary Rose

Como ilha, e, no passado, possuidora da maior frota naval mundial, à semelhança das potentes locomotivas, os ingleses são fanáticos pelos navios e particularmente pelas histórias de naufrágios. (Talvez que, por isso, na língua inglesa, locomotivas e navios, sejam definidos pelo sexo feminino!) Foi o que sucedeu com o Mary Rose, um vaso de guerra do século XVI, a maravilha da frota Tudor, que o rei Henrique VIII, compreensivelmente desolado, viu inesperadamente afundar-se, ao largo da costa de Portsmouth (sul da Inglaterra), quando desfraldava contra a frota de guerra francesa. Portsmouth, onde a partir da II Guerra Mundial se encontra a célebre base naval, e onde, no sobranceiro palacete de Southwick tiveram lugar os secretíssimos estudos e preparação do famoso Dia D, que deu início ao princípio do fim do Regime Nazi. O Mary Rose, de que Henrique VIII tanto se orgulhava, afundou-se em julho de 1545, com 500 marinheiros a bordo. Porém, o que é raro, devido à sedimentação da zona em que naufragou, verificou-se que o tão notável vaso de guerra, meio milénio depois, permanecia praticamente intocável. Graças às novas tecnologias, inicialmente aliadas ao querer de um punhado de fanáticos, que empolgou todo o país, o célebre vaso de guerra foi cuidadosamente içado, por potentes guindastes, em 11 de outubro de 1982, permanecendo conservado, desde então numa doca gigante, atmosfericamente controlada. Entretanto, e só quatro anos depois, quer tanto a pesada âncora como outros apetrechos foram igualmente içados. Foi a partir de então que teve início um dos maiores, cuidadoso e inédito esforço científico em que tomaram parte duas centenas de pessoas, incluindo muitos voluntários. Cautelosa e carinhosamente foram limpando milhares de objetos encontrados no navio. Desde canhões, apetrechos, vestuário, incluindo botas dos infelizes marinheiros, armamento, moedas de ouro, centenas de dardos, vasto número de utensílios de bordo, implementos médicos, instrumentos musicais, jogos e até, incrivelmente animais de estimação que acompunhavam a tripulação. Um vasto, precioso, variado e extraordinário achado agora transformado em justificado museu, localizado nas Docas

quarta-feira, 17 de julho de 2013

O FENÓMENO DOS PROTESTOS GLOBAIS

Como se tem verificado, o enorme Brasil é o exemplo mais recente dos protestos populares, que tiveram início na Tunísia em janeiro de 2011, se seguiram no vizinho Egito, contra ditaduras há muito neles radicadas. Esta, uma, que se diria, justificada razão. Antes do Brasil, a Turquia foi, e está a ser, foco das atenções mundiais. Enquanto isso, já Portugal, Espanha e a própria França foram igualmente cenário de manifestações, algumas delas violentas. Nos países europeus, como no Brasil, nações democráticas e cujos dirigentes foram eleitos democraticamente, embora a razão inicial dos protestos tenha sido despoletada por um único motivo, rapidamente engolfou outras questões de carácter social. Se na Espanha e Portugal foram devido à crise económica, que envolveu os dois países e, na França, contra a nova lei marital do mesmo sexo, na Turquia surgiu devido à projetada transformação de um parque em complexo comercial; no Brasil, o pretexto foi o magro aumento das tarifas dos autocarros da cidade de S. Paulo, resultando, como se sabe, no espalhar dos protestos às suas cidades principais, incluindo a maior paixão daquele país, o futebol, ou melhor, as consideradas desnecessárias despesas com a construção dos novos estádios para o Mundial de Futebol de 2014 e Jogos Olímpicos de 2016. De assinalar que praticamente, em todas as manifestações, foi influente o papel quer das redes sociais quer da juventude, especialmente a mais formada e até abastada. Protestos e manifestações sempre existiram. Enquanto eram praticamente exclusivo de entidades sindicais ou organizações políticas e cívicas, agora passaram a um conjunto amorfo de indivíduos sem qualquer, e que até recusam liderança. Dentre os considerados protestos e manifestações clássicas, destacam-se as das desigualdades civis e raciais, oriundas dos Estados Unidos da América (EUA), com início nos meados da década de 1950, em sua maioria lideradas por Martin Luther King. A estas, seguiram-se as grandes manifestações de Seattle (na zona oriental dos EUA), em dezembro de 1989, aquando da realização do encontro ministerial anual da Organização Mundial do Comércio (sigla WTO em inglês) de cariz anticapitalista, que despoletaram idênticas e consequentes manifestações em encontros similares, quer na cimeira do Fundo Monetário Internacional (FMI), em Génova, em 2001, de novo, em Doha, Qatar (Emirados Árabes), aquando de outro encontro ministerial do WTO, em novembro do mesmo ano e de ulteriores encontros quer por parte destas organizações quer de outras semelhantes, como o G8 (países mais ricos do mundo), como aconteceu recentemente em Enniskillen, (Irlanda do Norte). Assinalem-se outras grandes manifestações, ou ocupações, como a de Wall Street, em Nova Iorque e na Catedral de São Paulo, em Londres. Porém, tal como esta última, efetuadas na Inglaterra, a primeira contra a greve dos mineiros, no início dos anos 80, seguida, pouco depois, contra o chamado imposto “Pol Tax”, ou comunitário, promulgado pela então primeira-ministra Margaret Thatcher, em Londres, estas que foram conhecidas pela até ai ausente violência, seguiu-se a maior de sempre, nos meados dos anos 90, contra a participação britânica na Guerra do Iraque, que envolveu milhão e meio de participantes. Todas elas, organizadas e lideradas, o fenómeno das manifestações atuais é o voluntarismo e a participação popular de ideologias diferentes. E, se na Turquia, o primeiro-ministro Recep Tayip Erdogan insiste em ignorar os manifestantes, que agora imitaram a nossa chamada ºRevolução dos Cravosº que contra os fortes embates da polícia e dos seus canhões de água, assim como ataques de gás lacrimogénio ostentam cravos, no Brasil as autoridades foram forçadas a desistir do aumento das tarifas e a Presidente Dilma Rousseff, tentanto acalmar os ânimos, anuncia a realização de um Referendo de Reforma Política.

sexta-feira, 21 de junho de 2013

AS INEXPLICÁVEIS MARAVILHAS DA NATUREZA

A razão das migrações dos animais e insetos, misteriosa como é, especialmente o idêntico percurso feito de geração para geração geralmente ao local de nascimento, continua a desafiar a imaginação humana. São múltiplos os exemplos de migrações quer de peixes, sendo a mais notável a do salmão (Salmo, Oncorhynchus) para a desova, mas especialmente das aves, em que se destacam os patos e gansos selvagens ou a nossa mui conhecida andorinha (Hirundo rustica) que percorrem milhares de quilómetros. E dentre os animais quadrúpedes, os mais notáveis são os wildebeests (Connochaetes taurinus) que chegam a percorrer cerca de 1.600 km, para, no vasto Parque Nacional de Serengeti (Tanzânia), serem vítimas dos ferozes crocodilos que os aguardam. Porém, uma das maravilhosas migrações é a das Borboletas Monarch (Danaus plexippus), cujos maravilhosos e coloridos insetos chegam a percorrer distâncias de 3.200 km e normalmente 130 km por dia. As migrações mais notáveis das Monarch, geralmente duas da mesma espécie, qualquer delas com inicio nas Montanhas Rocky (Canadá e Estados Unidos da América). Embora a primeira migração, efetuada do lado ocidental desta cordilheira, onde efetuam a gestação no inverno, voam, no verão, normalmente a baixa altitude, para a Califórnia (sul dos EUA), onde permanecem durante toda a temporada. Porém, a emigração mais longa, esta com início na zona ocidental da cordilheira e de outras zonas do vasto país, as chusmas destes belos insetos deslocam-se, no outono, normalmente durante 75 dias, e a alta altitude, para sul, em direção à zona vulcânica do México central, a 3.600 km de distância, voando cerca de 50 km por dia, onde permanecem durante o inverno. Durante o trajeto, bem orientado, mas sem mapas ou orientação por satélite, páram e concentram-se em várias regiões dos EUA, cujos habitantes as aguardam com coloridas receções. Audaciosa jornada, uma vez que durante o percurso têm de poisar quer em terrenos ou arvoredo geralmente afetado por perniciosos herbicidas ou em culturas genéticas, onde podem perecer. Porém, as bem sucedidas, chegam, finalmente, ao México, mais precisamente às florestas onde se erguem e abundam as atrativas e altíssimas árvores, “oyamel”, idênticas aos nossos pinheiros, do Estado de Michoacán, situadas a cerca de 3.000 metros de altitude. É no adocicado, e daí o seu nome, tronco destas árvores, e num perímetro de centenas de metros quadrados, que as coloridas monarch, monarcas para os mexicanos, ou, neste caso para nós, monárquicas, procuram e disputam refúgio. Antes, porém, e ao chegarem, principalmente à aldeia de Moihacán, a primeira e estranha etapa é ao cemitério local. Compreende-se porque os seus habitantes ansiosamente as aguardam com coloridos festivais que chegam a durar dois meses, recebendo-as em festa e ao som de bandas locais uma vez que as tratam como o espírito dos seus antepassados! Para eles, as monarcas não são belos e coloridos insetos, mas o espírito mensageiro, a alma, dos seus antepassados. Porém, este temporário habitat pode estar ameaçado. Primeiro devido à ganância dos ricos comerciantes de madeira que abatem vasto número das preciosas “oyamel”. Segundo, às agravadas condições climáticas resultantes do chamado efeito de estufa e, terceiro, aos já mencionados pesticidas e culturas genéticas, principalmente dos EUA, durante o percurso, de ida e volta, assunto que mereceu detalhado estudo e relatório por parte do Fundo Internacional e Mundial da Natureza (WWF), em 2000. Finda a permanência, as monárquicas abandonam o local, regressando, as que podem, à sua origem. Sem mapas, sem orientação baseada nas novas tecnologias, fazem a viagem de retorno neste que continua a ser um dos mais maravilhosos e indecifráveis mistérios da natureza. Fontes e agradecimentos: Understanding Environmental Issues (Compreensão de Assuntos do Meio Ambiente), Open University/Willey, Chichester, Inglaterra

quinta-feira, 6 de junho de 2013

O Grupo ou Fórum Bilderberg

Apelidado por muitos de altamente secreto e por outros considerado “governo da nova ordem mundial”, cujos membros efetivos, em sua maioria, são desconhecidos e daí o fundamento do fator secreto desta organização, embora o lugar nas suas conferências anuais seja mundialmente disputado, delas normalmente fazem parte os atuais e alguns antigos primeiros-ministros, como é o caso do muito nosso Dr. Francisco Pinto de Balsemão, chefes de estado, dirigentes como Henry Kissinger, altos chefes da finança, indústria, economia e das principais multinacionais, o Fórum Bilderberg cujo nome é oriundo do hotel holandês onde ocorreu a primeira reunião, em maio de 1954, teve o seu último encontro recentemente num luxuoso hotel-parque, em Watford, cidade vizinha a noroeste de Londres. Oficialmente constituído e desenvolvido por importantes figuras tanto europeias como da América do Norte conscientes da necessidade de um “estreito diálogo e esforço conjunto no sentido de se debaterem problemas comuns e de crítica importância”, este controverso Grupo reúne-se anualmente, durante três dias, no país da Comissão Rotativa, ou seja, o Executivo, que elege o seu Presidente. São estas sessões de análise em sua maioria durante as refeições, vedadas aos órgãos ocidentais da comunicação social e subordinadas ao termo jornalístico de “off the record”, ou seja, para não serem direta e publicamente citadas, que abordam e procuram criar “uma maior compreensão dos problemas e tendências [afim de] permitir maior entendimento entre as nações ocidentais…” Terminada a Guerra Fria, reza o seu Cânone “existem mais, e não menos, problemas comuns. Desde o comércio a postos de trabalho, política monetária, de investimento, desafios ecológicos aliados a tarefa da promoção da segurança internacional...” Dos seus vários encontros, em que os participantes “falam livre e abertamente sobre as suas preocupações e experiências”, esclarecem as linhas oficiais, estão excluídas resoluções, votações e comunicados, predominando, assim, o anonimato e, para muitos, a tal razão do chamado governo mundial e secreto em que dificilmente muitos dos dirigentes, que nas sessões tomam parte, deixarão de seguir e até aplicar. Por isso, permanece a incógnita se muitas das concordâncias ou decisões ali tomadas serão ou não parte das políticas postas em prática pelos governos ocidentais. Dos membros do Conselho Rotativo, eleitos durante quatro anos, como já se apontou, sai o Presidente, que juntamente ao Secretário Executivo, é responsável pelo bom funcionamento do Fórum, da realização das conferências, respetivas agendas e a seleção dos participantes em que geralmente não faltam personalidades como Bill Clinton, Tony Blair, Bushes (pai e filho), o atual primeiro-ministro britânico David Cameron, o ministro das finanças George Osborne, o já referido Kissinger e Bill Gates, as mais elevadas figuras da Comissão e Presidência da EU, dos bancos Europeu e Mundial, FMI, etc. Portanto, a elite política, da finança, da economia, e dos principais braços culturais do mundo ocidental. Segundo, igualmente, informação oficial, tanto o “pequeno” Secretariado (cujos membros são igualmente anónimos), como as conferências são custeadas por contribuições privadas, igualmente anónimas. Porém, as (avultadas) despesas dos encontros anuais recaem nos membros do Conselho Rotativo do país onde elas são efetuadas. Dentre os custos, encontra-se o “exército” da segurança privada, suplementada por destacamentos da polícia local. De salientar que durante a realização do encontro em Vouliagmeni (Grécia), em 2009, o jornalista-fotógrafo do jornal britànico The Guardian Charlie Skelton, foi duas vezes detido por apenas tirar fotos aos carros dos participantes. Segundo o jornalista Kenneth P. Vogel, é esta “lista de influentes figuras globais que captam o interesse da rede internacional de conspiradores”, que durante décadas consideram as sessões do grupo Bilderberg como “esquema corporativista-globalista”, cujas poderosas elites estão a mover o Planeta para uma oligárquica “nova ordem mundial”.

quinta-feira, 23 de maio de 2013

POMPEIA E HERCULANO EM LONDRES

Estas duas cidades italianas, sepultadas no primeiro século AD, quais Fénix ressuscitadas, ou parcialmente ressuscitadas, das cinzas. estão de visita a Londres numa invulgar e única exposição, no vetusto Panteão da Arte e Cultura, chamado Museu Britânico. Patente até finais de setembro, nela se podem observar, e reviver, através de 250 vívidos, empolgantes e, muitos deles chocantes documentos, o que subitamente aconteceu a partir de um meio-dia, e em apenas 24 horas, nos longínquos idos anos 97 AD (ou, como os cientistas agora afirmam, em vez de AD, BP (Before Present – Antes do Presente). Porém, quanto a mim, numa opinião puramente pessoal, embora a imprensa britânica tenha colocado esta exposição nos pináculos da fama, não atinge os níveis de outras a que assisti no mesmo Museu, nomeadamente a inolvidável do Faraó Tutankamum, realizada em 1979, ou a mais recente, de há uma década, também sobre Herculano, neste caso, o Imperador. Embora seja evidente a colaboração do Moseo Nazionale Archiologico di Napoli, sem a qual esta mostra não seria possível, nos muitos dos raros achados encontrados até ao momento, (tanto mais que as escavações, devido à exigida morosidade, ainda estão, e estarão por muitos anos, em curso), desejar-se-ia mais. Conquanto belos e descritivos frescos, estátuas de bronze quer do Imperador da época, Augustus (Lucius Maximus Maximus) e de sua bela e esbelta mulher, a Imperatriz Lívia, como outra de mármore da sacerdotisa Eumachia, mosaicos como o magnífico da Casa de Orfeu a retratar um pujante e insaciável canino, enriqueçam esta mostra, nela não faltam chocantes documentos, como a figura de dois cães petrificados ou, pior ainda, o drama, a dor de uma mãe, e marido, igualmente petrificados, a tentar agarrar e salvar os filhos quando, sucumbidos, tentavam abandonar o seu rico lar. Abundam, igualmente, utensílios de cozinha, assim como comida, ou alimentos, estes refletidos no pão da época, obviamente petrificado, ornamentos em ouro e até o abandonado boletim de nascimento de uma criança possivelmente no seu móvel de quarto. E, a refletir o intenso e súbito calor das engolfantes cinzas um chocante berço ou um banco de jardim carbonizados. O que os expositores conseguiram, tal como o tema da exposição reflete, foi retratar, quanto possível, a vida diária das duas cidades: as casas dos ricos e dos pobres, incluindo atos amorosos e até sexuais refletidos nos vários frisos presentes. Tudo isto, para mim, a lição mais chocante foi a surpresa do inesperado, prova da fragilidade humana e da sua insegurança e incerteza sobre o seu futuro. aliás muito bem traduzidos na interrogação do escritor da época. Stacius: “No futuro, assim que os campos verdejem e as devastadas plantas floresçam, será que alguém reconhecerá, que cidades, mansões e habitações foram sepultadas?” Afinal, tudo aconteceu subitamente, em apenas 24 horas. Não obstante os prévios avisos do vizinho e até então dormente vulcão do Monte Vesúvio, trepidante e ameaçador, a vida continuou como habitualmente. Num meio-dia, como outro qualquer, do longuíssimo ano de 79 AD, subitamente, do estrondo, o Vesúvio começou a vomitar chamas, enormes nuvens de cinzas, juntamente a incandescentes rochas, escurecendo tudo ao redor. A população, agora consciente, tentou fugir. Primeiro Pompeia, que em poucas horas ficou cerca de 1/3 submersa em 5 metros de altura de cinzas, sepultando 1150 pessoas, seguindo-se-lhe a vizinha, bela e luxuosa estância balnear de Herculano, ambas na Baía de Nápoles, esta última, mais pequena, afetada em 2/3 e soterrada em 20 metros de profundidade, mas com apenas 350 vítimas. As escavações, iniciadas nesta última, ocorreram em 1740 e as de Pompeia em 1748.

domingo, 12 de maio de 2013

Galardão

Ser-se celebrado e reconhecido é uma preciosa dádiva. Porém, quando esse reconhecimento é por parte de uma generosa e laboriosa, agora pujante Comunidade, composta por cerca, senão mais de meio milhão de pessoas não é apenas um privilégio, mas uma dupla responsabilidade. Foi o que me aconteceu na Gala do Jornal As Notícias realizado no sábado 11, no belo Hotel Pestana Bridge, em Londres, em que me foi outorgado o tão cobiçado e artístico Galardão. Este notável evento, iniciado há cinco anos pelo incansável fundador tanto da Gala como do jornal, Dr. João Pestana, coadjuvado por outro incansável servidor da nossa Comunidade, como é o caso de Gabriel Fernandes, Diretor do Canal das Comunidades, abrilhantado por artistas notáveis, como Fernando Pereira e dirigido por admirados apresentadores da nossa televisão, como Carlos Alberto Moniz e pela recém eleita Miss da Comunidade Portuguese no RU, Núria Cardoso, assistido por três centenas da fina flor da Comunidade Portuguesa na Inglaterra, incluindo altos representantes diplomáticos do nosso país, assim como deputados britânicos, não só demonstra a dimensão da nossa representação comunitária como a sua força em terras britânicas. Longe vão os tempos em que dificilmente se tentou formar associações em que outro incansável servidor diplomático, José da Silva Amador, também laureado, tanto se notabilizou e a quem o nosso país muito deve, mas não devidamente reconhecido. Perante esta demonstração de vontade e de unidade há que forjar a DEVIDA UNIÃO PARA DEMONSTRAR A VERDADEIRA FORÇA DO QUE SOMOS E PODEMOS COMO DIGNOS EMBAIXADORES DO NOSSO PAÍS NO REINO UNIDO (RU).

quinta-feira, 9 de maio de 2013

O MISTICISMO DOS VULCÕES

Para os Romanos, Vulcão, o deus do fogo, assistido pelo seu sacerdote Flamen, atraía os fieis no seu dia áureo do Festival Volcanalia, efetuado a 23 da agosto, em que o brindavam com pequenos peixes a fim de serem protegidos pelas devassadoras chamas. Para os Indonésios, em cujas 13,677 ilhas (6,000 das quais desabitadas), numa superfície de 1,904,570km2, situadas numa das mais violentas zonas tetónicas, semeadas por 129 poderosos vulcões, dos quais Krakatoa ou Krakatau em bahasa (língua oficial indonésia), a leste de Java, é o mais potente e destruidor, e cuja explosão de agosto de 1883 destruíu 2/3 da ilha, matando aproximadamente 40 mil pessoas, a magia dos vulcões domina-os. Só nesta ilha, a segunda maior do país, com 120 milhões de habitantes, predominam mais de 30 vulcões ativos, a quem se deve a morte de mais de 140 mil pessoas, nos últimos 500 anos! O país, cujo mote é Bhinneka tunggal ika - unidade na adversidade – traduzido por 300 etnias com mais de 700 idiomas e dialetos, dominado por seis grandes religiões oficialmente reconhecidas pelo governo, e da qual a mais preponderate é o islamismo, seguida do catolicismo, protestantismo, induísmo budismo e confucionismo, não obstante a sua religiosidade, é profundamente dominado pelo animismo. Só assim se explica, não obstante o seu devastador e mortífero historial, a magia dos vulcões, em que o do Monte Merapi, (que significa Montanha de Fogo), na zona centro-oriental de Java, a 30km norte da cidade de Yogiakarta, de meio milhão de habitantes, é o mais notável. Mas não único! O misticismo dos vulcões por parte da população indonésia, incluindo a própria classe política é tal que os dirigentes islâmicos, preocupados pelos seus efeitos, lutam estoicamente contra semelhante tendência! A estas devoradoras bocas em chamas afluem, anualmente, milhões de súbditos que as alimentam principalmente de cabritos, dinheiro e aves de toda a sorte. Ao vulcão do Monte Merapi, que igualmente conta com o chamado “Guardador” ou, digamos Sacerdote, de nome Mbah Marijan, realizam-se procissões por ele guiadas, cujos participantes, cheios de oferendas procuram aplacar. Ironicamente mais: a dádiva de uma vida melhor! O charme de Merapi, que na sua erupção de 1930 matou 1200 pessoas, é tal, que nas suas frondosas escarpas de 3000 metros de altura abundam, aninham-se aldeias cujos habitantes procuram a sua proteção! O maior cúmulo, a outro vulcão, este situado perto do Lago Toba, a norte da Ilha Sumatra, junto do qual está instalado um heliporto para os helicópteros dos ricos visitantes, um candidato à vice-presidência foi suplicar aos espíritos de tão poderoso vulcão que o ajudasse a ganhar as eleições. Porém, a potente boca de fogo não o ouviu, pois não as ganhou. Outras importantes figuras políticas recorrem ao beneplácito do guardador de Merapi, Mbah Marijan! Quem, porém, por alegado misticismo, uma vez que afirma que os vulcões “são cadeiras dos deuses” é o empresário Satria Naradha, tipo Berlusconi, pois possui a principal emissora de televisão e o principal diário de Bali, que se aproveita do desenvolvimento do turismo e afluência aos vulcões com a construção de uma vasta rede de templos hidus através da Indonésia! Desde há muito que os vulcões, muito relacionados com as placas tetónicas, são parte importante da mitologia de muitos povos, habituados a viver junto das devoradoras crateras. A ciência que estuda estes fenómenos, a vulcanologia, porém, só em 1768 começou a estudar o que até então era vulgarmente classificado como “montanhas a arder”. Porém o registo gráfico da primeira erupção vulcânica está patente num mural neolítico, de 7000 AC, nas caves de Çatal Hoyuk, Anatólia, Turquia. Atualmente os geologistas concordam que o vulcanismo é um processo profundo resultante da evolução termal dos corpos planetários. O calor não escapa facilmente de vastos corpos como a Terra por processos condutores de radiação. Em seu lugar é transferido do interior da Terra, largamente por convecção, ou seja a fusão da crosta e da mantra terrestres numa força ascensional da magma projectando-a à superfìcie. Portanto, os vulcões são o sinal da superfície deste processo termal. Das suas raízes, nas profundezas da Terra, resulta o enorme e poderoso vómito na atmosfera. Fontes: Agradecimentos a: Enciclopaedia Britannica, Wikipedia e National Geographic (edição britânica, janeiro de 2008)

terça-feira, 30 de abril de 2013

A “DAMA DE FERRO” QUE CONHECI E OBSERVEI

Não foi a tão solicitada e longamente esperada entrevista por ela concedida, permitindo-me estar junto dela, que mudou a minha opinião acerca da agora falecida baronesa e então primeira-ministra, Margaret Thatcher. Recebendo-me no seu bem arrumado escritório em Downing Street, nos idos meados de 1980, objetiva e incisiva, as suas primeiras palavras foram de simpatia pelo nosso país, o que, aliás, era hábito por parte de muitas outras figuras políticas que entrevistei e com quem contactei. Esclarecendo que dispunha de pouco tempo, pelo que pedia desculpa, num timbre de voz tão característico, mas sempre afável, de porte distinto e senhoril, na minha frente se “dama de ferro” existia, essa imaginária couraça teria sido guardada em qualquer outro sítio. Faz-me lembrar Isabel II, cuja imagem oficial, séria e sisuda, em privado é a pessoa mais jovial, descontraída e risonha. Agora partida, com toda a pompa, em que a Inglaterra tanto se preza e bem sabe, relembremos o seu legado. Para muitas então mães e agora avós, Margaret Thatcher foi odiada quando ministra da educação no governo (1970-1974) de “Sir” Edward Heath em que decidiu retirar o alimento básico, o leite, a crianças de escolas primárias, pelo que veio a ser conhecida, em vez de Thatcher, “Snatcher” (ladra). Prelúdio do que viria a demonstrar quando primeira-ministra principalmente na destruição do até então precioso Sistema Social. Mas não só. Lembro-me, e vivi profundamente o drama da greve dos mineiros em que a então conhecida e mui detestada “Maggi”, como era conhecida, demonstrou ser uma verdadeira “dama de ferro”, destruindo a rica e vasta indústria carbonífera do país. Pior. Com ela muitas comunidades mineiras espalhadas pelo país, mas principalmente no País de Gales, no nordeste e centro da Inglaterra. Consciente do paroquialismo dos colegas britânicos e da enorme propaganda a favor do governo numa clara guerra que a primeira-ministra não queria – nem devia – perder, desloquei-me e convivi com a comunidade mineira do Pais de Gales e da zona de Darby (centro da Inglaterra) que antes me haviam tratado como especial anfitrião ao ponto de com eles conviver nas entranhas das minas onde labutavam, pelo menos a centena e meia de metros de profundidade. A dureza da polícia, não local, mas recrutada de várias partes do país foi notória, transformando por completo a boa imagem que se tinha dos até então afáveis “Bobbies”, como familiarmente eram chamados. A contrastar, na defesa do seu ganha-pão, mas mais. do próprio tecido social, tão caraterístico da comunidade mineira, os mineiros resistiam, dependendo das dádivas provenientes de todo o país cuja população com eles se solidarizava. Estes, dois dos mais notáveis episódios da sua governação. Outros houve, porém, não menos importantes, que sumarizo: 1) Aumento da pobreza e a crescente divisão entre o rico e o pobre. 2) Dividiu e revoltou o País; 3) Esbanjou a riqueza do petróleo e gás do Mar do Norte; 4) Provocou a maior recessão e o mais elevado nível de desemprego; 5) De-socializou o País e deu início à erosão do Estado Social; 6) Destruiu a multisecular independência das autarquias a favor da centralização. Quanto a mérito, destaco: A nível interno: 1) “Democratizou” e empolgou o mundo financeiro da “City”; 2) Reformou a dependência do país ´da anquilosante indústria pesada; 3) Pôs cobro à anarquia e ao baronismo sindicalistas. (Quem diz isto é um antigo e primeiro dirigente em década e meia e Presidente não britânico do influente Sindicato Nacional de Radiodifusão!) e, finalmente, na minha opinião, devolveu à Nação a perdida identidade BRITÂNICA, embora com algum e condenável xenofobismo, notabilizando-se particularmente na Guerra das Falklands/Malvnas. Mérito ou Demérito, com as privatizações, como a criticou uma das mais e influentes figuras do Partido Conservador e igualmente ex-Primeiro-ministro, Harold McMillan, por ter vendido “a prata da casa”. A nível internacional: 1) Prestigiou o País e, 2) juntamente com Ronald Reagan, apoiando Mikhail Gorbatchev, pôs cobro à Guerra Fria. Mas, a nível europeu, provocou divisões, chocou os “young turks” do seu partido, dando lugar à maior vaga eurocética britânica

domingo, 14 de abril de 2013

ESQUEÇA-SE A CRISE, Habemos Thatcher!

O Reino Unido, ou melhor, a Inglaterra vive dias memoráveis. Na desesperada ausência de boas novas em relação à economia, o Governo procura minimizá-la invocando o que une a Inglaterra e os ingleses: homenagear, com pompa e cerimónia, os seus líderes, especialmente na sua morte. Neste caso, o falecimento da Baronesa Thatcher, cujas exéquias são celebradas na quarta-feira 17, na Catedral de São Paulo, em Londres. Antecipadas por desfile, em que, pelo menos 700 militares das várias forças armadas vão fazer-lhe as devidas honras. Pedido da falecida como testemunho e gratidão pela sua enorme participação e sacrifício na Guerra das Falklands/Malvinas, dentre os milhares de convidados, em sua maioria chefes de estado e de gabinete atuais e antigos, contam-se a Rainha Isabel II e o marido, Príncipe Filipe numa rara presença e honra prestada a uma antiga chefe de gabinete apenas concedida no funeral de

quarta-feira, 10 de abril de 2013

Margaret Thatcher, a pessoa que entrevistei. Artigo longo, mas creio valer a pena, parte do meu manuscrito POR TERRAS DE SUA MAJESTADE: Margaret Thatcher (1927-2013): a redentora? Retomando o tema da crise de identidade que o país atravessava, principalmente a partir da década de 70, Margaret Thatcher, foi a pessoa mais indicada e que habilmente se aproveitou dessa circunstância. Começando por apelar ao inglesismo dos eleitores, o estilo de liderança da que foi apelidada, no estrangeiro, de "dama de ferro" (*) (*+) mas, para os ingleses, o epíteto menos dignificante de "filha do merceeiro", devido ao facto do pai ter tido as origens de pequeno comerciante, na localidade de Grantham, no condado de Lincolnshire, no centro-leste da Inglaterra, o seu inegável patriotismo, ou para os seus muitos críticos de "inglesismo" xenófobo, teve grande apelo, ao ponto de ser considerada como a líder com o dom de unir um tão dividido e então desiludido país. (*) O coronel Russo, Yury Gravilov, que na altura escrevia para o jornal do exército Red Star revelou, pela primeira vez, ao semanário britânico The Mail on Sunday (25 de fevereiro de 2007, pág. 48) que por iniciativa própria apelidou a então estadista britânica, em 24 de janeiro de 1976, com tão famoso epíteto, baseado no dirigente alemão e chanceler "de ferro" Otto von Bismarck. (*+) Também ”transportada” para o cinema, interpretada pela artista Merryl Streep, que teve estreia mundial, em janeiro de 2012, cuja interpretação lhe valeu um Oscar, em 26/02/12 e uma estatueta BAFTA ,em 12 de fevereiro de 2012, pela Academia Britânica do Cinema e da Televisão, ambos os prémios como “melhor atriz”. -67- Mulher dinâmica e autocrática, são inúmeros os ditos que se teciam em relação ao seu mais do que visível estilo dominante, tanto em termos maritais como, e muito particularmente, governamentais. No domínio marital, foi com base nas afirmações dela que os satiristas faziam, normalmente, chacota. Caso mais típico, foi o programa da televisão, Spitting Image [correspondente e que deu origem à popular Contra-informação da RTP]. Enquanto o marido, Denis Thatcher, falecido em outubro de 2003, pessoa afluente e que fez a fortuna devido ao seu envolvimento com uma companhia americana de petróleo, lavava a louça acompanhado de uma garrafa de gin, Margaret Thatcher, "comandava" a situação de mala na mão, principalmente nas reuniões de Conselho de Ministros! A confirmar o seu xenofobismo, como teve de recorrer a amas suecas, para cuidar dos filhos gémeos - Mark e Carol - muitas vezes comentava que tinha de ir depressa para casa porque receava que os filhos viessem a aprender inglês com sotaque sueco! Como a primeira mulher a ocupar o cargo de primeira-ministra britânica, e a primeira governante a manter-se no posto depois de três bem sucedidos embates eleitorais sucessivos, especialmente num partido de grandes tradições aristocráticas e historicamente dominado pelos homens, só uma mulher - a primeira mulher também a ocupar semelhante cargo na Europa. Elevada a baronesa, com o título de "Lady" Thatcher de Kesteven, atingiu o pináculo da política "Tory" [título atribuído aos Conservadores] (*). Pessoa habituada à controvérsia, na vida política, Margaret Thatcher começou a ser notada – e detestada - principalmente pelas mães das crianças, quando, como Ministra da Educação, entre 1970 e 1974, no governo do que viria a ser "Sir" Edward Heath (1916-2004), aboliu o leite gratuito que era distribuído às crianças, nas escolas primárias. Porém, a maior surpresa da sua carreira surgiria quando em 1975, depois da derrota governamental de Heath, desafiou o seu colega na liderança do partido, conquistando o posto, que passou a ocupar a 5 de fevereiro de 1975. Foi a partir desta altura e rodeando-se de grandes pensadores da direita, como o que veio a sucedê-la no posto ministerial que ocupara sob Heath, nomeadamente o falecido "Sir" Keith [Sinjohn] Joseph (1918-1994) e Airey Neave [que foi assassinado em 30 de março de 1979, pelo grupo terrorista norte-irlandês INLA, que colocou uma bomba no automóvel que se encontrava estacionado no parque da Câmara dos Comuns] e, com a assistência do então emergente Instituto Adam Smith, sob a direção do seu fundador, Dr. Marsden Pirie, preparou-se habilmente para o governo, cujo posto de primeiro-ministro ocupou em 1979. Campeã da simplificação e da redução do papel do governo, uma das principais ideologias da extrema direita Conservadora, mas centralista da gema, dedicou-se inteiramente ao monetarismo e à doutrina advogada pelo Professor americano e Prémio Nobel de Economia, Milton Friedman (1912-2006) (+), como espinha dorsal da política económica do seu mandato. A Margaret Thatcher, porém - e justiça lhe seja feita - devem-se, especialmente, três importantes e até então muito necessárias reformas, que nenhum governo trabalhista antes dela conseguiu, embora a custo de elevadas taxas de desemprego: transformação de uma predominante anquilosada e incompetitiva indústria pesada, especialmente no norte da Inglaterra, e na zona de Glásgua, na Escócia, para a indústria eletrónica e ligeira (1), bem como o sector de serviços; cobro ao predomínio e, em alguns casos nepotismo sindical; política de privatizações, em que foi copiada no mundo inteiro, e ao desenvolvimento do mundo bancário e financeiro, geralmente designado na Grã-Bretanha de puramente, "City", em que se seguiu o encorajamento e a promoção da aquisição das ações por parte do público, que enquanto em 1979 existiam apenas 3 milhões de acionistas, em 1987 triplicou para 9 milhões, o que justificou o título de "democracia do capitalismo", em que se notabilizaram tanto a British Telecom (telefones) como (*) O termo "Tory", embora originalmente com conotações pejorativas, relacionadas com os ladrões de gado irlandeses foi atribuído aos políticos que se começaram a notabilizar no termo do reinado de Carlos II. Porém, a sua origem pode ser traçada, 25 anos antes, aos realistas que se opuseram a Carlos I. O partido, teve origem em 1681, dando lugar, depois da fusão com os "Whiggs" e Unionistas, ao atual Partido Conservador, em 1886. (Vide An Appettite for POWER A History of the Conservative Party Since 1830, págs. 16 e 22) (Edição de HarperCollins) (+) O ministro das finanças do governo de Bill Clinton e professor de economia da Universidade de Harvard, Lawrence Summers, afirmou na revista The Time (25 de dezembro 2006-1 de janeiro 2007) que "se Keynes foi o economista mais influente da primeira metade do século XX, Milton Friedman foi o mais notável da segunda". (1) Em finais de de 2011 a indústria manufaturadora britânica estava reduzida a 2.5 milhões de trabalhadores -68- a Companhia do Gás (British Gas), até então confinada a instituições financeiras. Mas a ela também se devem pelo menos dois dos piores males da sociedade britânica: o inaceitável alargamento do fosso entre o rico e o pobre e o até então inédito crescente egoísmo da geração do seu período de governo, incluindo a que lhe foi atribuída falta de respeito pela autoridade por parte da juventude no decurso dos seus 18 anos de mandato (*). O aumento da pobreza - um dos maiores “legados” de Thatcher No primeiro caso, como se cita na obra Inequality in the UK, (Oxford University Press, 1997) "...nos anos 60 aos meados de 70, a taxa da pobreza era relativamente estável. Porém, nos finais de 70 e de 80, a situação tornou-se claramente diferente, com a taxa da pobreza (HBAI) a subir vertiginosamente, na fase final do período..." e no estudo "Tackling Poverty and Extending Opportunity" do Ministério Britânico das Finanças (29 de março de 1999), em que se revela que 12 milhões de cidadãos britânicos, então cerca de um quarto da população nacional, vivia em estado de pobreza, apontam-se, igualmente, outros aspetos marcantes. A divisão entre o rico e o pobre alargou-se "substancialmente" depois de 1977, situando-se numa diferença de 30%. Salienta ainda o estudo, que os autores afirmam ter sido o maior do género, que as raízes da pobreza não foram súbitas na classe etária adulta, mas que predominavam desde a infância. Outro facto revelador é que, por haver, nessa altura, mais crianças entre famílias pobres, prejudicou tanto a educação como a oportunidade em singrar na vida. Foi esta situação, que levou o governo dito "Novo Labour", de Tony Blair, em setembro de 1999, a lançar um plano para, significativamente, reduzir a taxa de pobreza, pelo menos dentro de cinco anos. Mas no meio deste período e, não obstante o lançamento do salário mínimo de 3 libras e 60p por hora [posterior e regularmente atualizado], segundo a fundação Joseph Rowntree, a quem se deve o estudo Monitoring Poverty and Social Exclusion 1999 (Estudo da Pobreza e da Exclusão Social), dois anos e meio depois de um governo trabalhista, no fim de 1999, 14 milhões de pessoas viviam abaixo das taxas médias de pobreza oficiais, incluindo 4.4 milhões de crianças. (+) Este facto, mereceu a admissão de Guy Palmer, diretor adjunto do New Policy Institute, entidade de estudos políticos muito perto da esfera do governo de Tony Blair [no Poder até outubro de 2007], citado pelo matutino The Daily Telegraph, de 8 de dezembro de 1999, "embora haja áreas em que se nota melhoria, não existe um padrão genérico. O que é visível, porém, são as desigualdades tanto no domínio da saúde como da educação, que estão a piorar." Segundo a já citada reputada e independente Fundação Joseph Rowntree, no seu estudo, intitulado Poverty and wealth across Britain 1968 to 2005 (Pobreza e Riqueza na Grã-Bretanha 1968 a 2005), publicado em julho de 2007, em resumo, afirma: a) desde 1970, a média por área da pobreza e riqueza na Grã-Bretanha alterou significantemente. Na realidade está-se a regressar aos níveis de desigualdade na riqueza e na pobreza verificados há mais de 40 anos; b) Nos últimos 15 anos aumentou o número de lares pobres, mas verificou-se menor número de muito pobre; c) As áreas ricas tornaram-se desproporcionalmente mais ricas, aumentando a polarização entre o rico e o pobre e em algumas cidades mais de metade dos lares situam-se no limite mínimo da pobreza; d) Enquanto aumentaram os grupos de pobreza urbana os lares mais abastados passaram a concentrar-se nas periferias das cidades, nomeadamente em Londres; e) Os lares ricos e pobres tornaram-se mais geograficamente segregados do resto da sociedade e f) A média dos lares, nem pobres nem ricos, tem diminuído em número e gradualmente desaparecido de Londres e da região sudeste. (*) Esta acusação foi feita em abril de 2006 por Brian Garvey, presidente de um dos dois maiores sindicatos de professores, NASUWT, ao afirmar "que não preciso de me desculpar ao adicionar o meu nome à longa lista de pessoas que acham que Margaret Thatcher prejudicou mais a sociedade em que vivemos do que qualquer outra pessoa dos últimos tempos...uma vez que ela encorajou e destruiu, mais do que ninguém, as estruturas sociais, contribuindo ainda para a crescente falta de respeito por parte dos alunos nas classes das escolas do país”. (The Independent 13 de abril de 2006) (+) Segundo o The Institute of Fiscal Studies, a percentagem projetada das crianças a viver em absoluta e relativa pobreza, em 2020-2021, e entre 23 e 24% respetivamente. Portanto muito aquem do objetivo do governo, estabelecido por lei, de 5 e 10% (The Independent , 8 de maio de 2012) -69- Foi, igualmente, o xenofobia e anti-europeísmo de Thatcher que contribuiu para a radicalização dos "turcos" conservadores e o agudizar da xenofobia, assim como o degladiar no seio do partido que não só levaram à humilhante deposição da então primeira-ministra, em novembro de 1990, como contribuíram para o vexame eleitoral de 8 de maio de 1997, do seu sucessor, John Major, imposto por Tony Blair, pondo termo a 13 anos de afastamento do poder devido às várias vitórias eleitorais dos Conservadores. Com a vitória de Tony Blair e a emergência do chamado “Novo Labour”, até maio de 2010, com a derrota deste, e já com Gordon Brown como seu sucessor, mas também batido, surgiu, pela segunda vez em setenta anos, a coligação entre Conservadores e Liberais Democratas, liderada pelo Conservador David Cameron com Nick Clegg como seu vice.

quinta-feira, 28 de março de 2013

A MISTERIOSA CAHOKIA

CAHOKIA, cujo significado original é Ganso Bravo, é atualmente um dos maiores centros arqueológicos americanos, e um dos mais antigos centros habitacionais dos primitivos habitantes americanos. Compreensivelmente, a despertar o interesse mundial sobre a sua origem e história, penetremos no seu profundo mistério, à semelhança das Civilizações Inca e Maia, particularmente em relação ao seu desaparecimento. Classificada pela UNESCO de Património Mundial, em 1982, foi ali que o famoso chefe índio, Pontiac, encontrou a morte, a 20 de abril de 1769. Originalmente situada nas margens superiores do Rio Mississípi, frente ao Estado de Missouri (St. Louis) e, mais precisamente no sudoeste do atual Estado de Illinois, do qual a famosa Chicago é hoje símbolo, o acampamento original de Cahokia ocupava a superfície de 13km2. Porém, na mais vasta região do atual Estado de Illinois, predominavam várias tribos, qualquer delas da origem Algonquian. Enquanto a norte dominavam os Kickapoo, Sac, e Fox, na zona do Lago Michigan predominavam os Potawatomi, Ottawa e Ojibwa (Chippewa), os Kkaskaska, Illinois e Peoria habitavam as planícies centrais e, a sul, os Cahokia e Tamaroa. Centro vibrante, muito antes da chegada de Colombo, a sua origem remonta ao ano 8000AC, florescendo até a 1350AD com a população de 20,000 habitantes. Tido como o mais vasto centro pré-histórico da América, a norte do México, foi também considerado como centro da cultura do Médio Mississípi, essa vasta região agrícola, que a beneficiar das águas do extenso e poderoso rio, abrange doze Estados, incluindo, parcialmente, mais três. Por iniciativa de missionários do Quebeque, o nome de Cahokia, foi, mais tarde, ressuscitado. Situada a norte desta vasta região, no século XVII, assumiu o nome atual, tornando-se, igualmente, no primeiro e influente posto colonial europeu do novo continente, inicialmente habitado por colonos franceses. Capturada por George Rogers Clark para os americanos, em 4 de julho de 1778, dois anos depois deu lugar ao Condado de St. Clair, de que se destaca a construção da Mansão Jarrot, completa em 1810 e reconhecida em 2001 como monumento nacional. A nordeste da cidade, nas proximidades de Collinsville, situa-se a zona em que se encontravam os resquícios da civilização da Cahokia original, por meio de enormes e vastos montículos artificiais, que no período áureo totalizaram 120, o maior dos quais da altura de um prédio de 12 andares, com 660,000m3 de volume de terreno! Gradualmente demolidos, ação correspondente ao sentimento nacional anti índio, e transformados em terrenos agrícolas, atualmente resta apenas um, compreensivelmente atração de cada vez maior número de turistas. Porém, segundo estudos provenientes das escavações em curso, a Cahokia original, foi notável centro comunitário, definida por zonas administrativas e cerimoniais, em que predominavam complexos de elite, bairros residenciais e até periféricos, todos a obedecer a uma orientação cardeal precisa. Dominada por uma enorme praça central, com cerca de 16 hectares, incluindo o montículo na forma de pirâmide, designado Montículo dos Monges, a celebrar os religiosas que habitavam à sua sombra, foi construído entre 900 e 1200. As escavações igualmente revelaram o martírio de seres humanos e que a cidade exercia relações comerciais com povos distantes, nomeadamente do .Golfo do México, a sul e da Cordilheira dos Apalaches, a leste. Civilização avançada como esta desafia a noção dos Europeus. O seu desenvolvimento, obviamente levanta profundas questões, qualquer delas ainda sem resposta. Sem evidência da existência de escrita ou documentos que possam conduzir a uma pista, o mistério adensa-se. Foi Cahokia um Império, como as civilizações da Mesoamérica, a sudeste? Uma pertinente pergunta. Um desafio! Fontes: Agradecimento a National Geographic (edição em inglês), Janeiro de 2011, pág. 126

sexta-feira, 15 de março de 2013

CRISES

Muito se tem comentado, e continuará a comentar-se sobre CRISE. Esta no singular, particularmente em relação ao nosso país e à Europa. A ela, adiciono uma outra e, neste caso, CRISES, no plural. Refiro-me, em particular à outra crise: a da Igreja Católico-Romana. E aqui não considero apenas a eventual decisão que teria levado à renúncia de Bento XVI, atualmente caso de grande especulação e até revolta, como foi o caso do sacerdote italiano,Andrea Maggi, de Liguria (no litoral noroeste da Itália), que rasgando a foto de Bento XVI o associou ao comandante do naufragado Costa Concordia, em Giglio, levando a Igreja contra as rochas. Mas à que alastra, em relação a uma boa parte do comportamento do clero, particularmente o superior. Por isso, além da crise da Europa, em que a sede da Curia Romana se insere, temos a crise da própria Igreja Católico-Romana, e, portanto, CRISES. Em relação à última, enquanto a falta de transparência, as acusações de intrigas, lutas de proveito próprio e de senioridade na hierarquia da Curia, assunto que o ex-mordomo de Bento XVI justifica em ter sonegado para revelar e denunciar, assim como alegada a noticiada lavagem de dinheiro pelo banco do Vaticano, isto a nível interno; no exterior, depois do inaceitável escândalo de pedofilia cometido por membros do clero que lavrou desde os Estados Unidos, à Europa (envolvendo vários países), notabilizando-se particularmente na República da Irlanda, rebentou também há poucas semanas na Escócia, que justificadamente levou à demissão do Cardeal Keith O’Brien. Sobre a falta de transparência, particularmente em relação à razão e timing da renúncia de Bento XVI, debruçou-se, recentemente, e muito bem, o conhecido cronista do Diário de Notícias, Ferreira Fernandes (DN 05/03/13, ‘Cum clave’ ‘Ma non troppo’). No seu bem conhecido estilo, este jornalista cita a insistência na procura da verdade por duas destacadas figuras eclesiásticas católico-romanas,, os cardeais D. Geraldo Majella Aguelo, de Salvador da Baía (Brasil) e D. Wilfred Napier de Durban (África do Sul). Segundo Ferreira Fernandes, sustentam ambos que, existindo o tal relatório alegadamente apresentado a Bento XVI e que o teria levado à renúncia, obviamente QUEREM – e DEVEM - SABER O SEU CONTEÚDO. E se estas altas instâncias da hierarquia católica publicamente se pronunciam, o que dirá o bilião ou mais de fiéis em todo o mundo? Aceitar, ou melhor, engolir, o que se lhe dita como credo ou alegada presunção de fé? Além disso, que dizer do escândalo da pedofilia? Certos, igualmente membros da alta hierarquia católica, perante tal crise desculpam-na afirmando ser o clero humano, e consequentemente sujeito a inerentes erros pelo que devem ser desculpados. Perante tal situação a conhecida afirmação “Faz o que digo e não o que faço”, é descaradamente invocada por quem não quer reconhecer nem o voto sacerdotal, mas pior, a CONFIANÇA que neles é depositada pelos fiéis, quando é notória – e GRAVE – a evidência. Muitos há, incluindo-me eu próprio, que procurando melhor obedecer e servir Deus, se dececionaram pelos atos daqueles que dizem oficialmente servi-lo. Obviamente não me refiro à maioria, cujo exemplo, por ser notável, aplaudo. Porém, quando o comportamento, altamente condenável, vem do topo, está-se perante uma ENORME CRISE. E, se recorrermos à História, embora haja atos que devem ser interpretados no seu próprio contexto, crises, ou melhor, TRAGÉDIAS de alegada Fé como as Cruzadas e, dentre estas, a que dizimou os Albigenses do sudoeste da França, os exemplos são miríade, a contrastar com a pureza dos Evangelhos, assim como de Cristo. Não sou ateu, mas olhando para o exemplo e prática de certos religiosos, prefiro não ser adepto de nenhuma religião, procurando a máxima que se sempre me orientou na vida – servir a sociedade e o ser humano que responsavelmente se integram na sociedade de que fazemos parte. E, voltando à crise europeia, mas particularmente no contexto da eleição de um novo Papa, quão errados estão aqueles que advogam a continuidade de um Sumo Pontífice europeu, como é o caso de outro conhecido comentador do mesmo matutino, Vasco Graça Moura, na sua crónica de 06/03/13, intitulada ‘A Europa e o Papa’. Com a eleição de um cardeal argentino, o que aconteceu pela primeira vez também proveniente da América Latina, agora Papa Francisco I, pergunto: Com uma Europa e a Igreja Católica em crise, que mal houve eleger-se um Papa com a experiência e visão de qualquer outro continente, capaz, como se deseja, de debelar a Crise? Devido à enorme responsabilidade e à consequente necessidade de reforma, NELE RECAI UMA ENORME RESPONSABILIDADE. PORTANTO, ESTA, A OPORTUNIDADE IDEAL. OXALÁ QUE NÃO SE PERCA!

sexta-feira, 1 de março de 2013

O BENFAZEJO (?) SOL

Diz a Ciência que do Sol depende toda a vida, animal e vegetal. Particularmente para nós, Portugueses, esse tão familiar astro, tão procurado e benfazejo nas praias, mas cada vez mais conscientes dos seus perniciosos efeitos, graças às crescentes descobertas científicas, é mais perigoso do que os nossos antepassados - e muitos de nós - pensavam. O mistério adensa-se, especialmente quando cientistas como Karel Schrijver, do Laboratório de Astrofísica Solar Lockheed Martin, de Palo Alto, Califórnia, afirma que “não podemos prever o que o sol poderá fazer em mais do que escassos dias”. Compreende-se o seu lamento, o pior que pode haver para um investigador. Na sua tentativa em procurar saber e “compreender em como o tempo espacial se reflete na sociedade, assim como os seus perniciosos efeitos”, os cientistas baseiam-se, apenas naqueles que já são conhecidos e nos que poderiam resultar numa catástrofe de enormes proporções, como a que foi calculada pela Academia Nacional [Americana] de Ciência. em que uma tempestade solar pode gerar consequências vinte vezes mais que o Furacão Katrina, que devastou o litoral sul da América em 2005, e que, em termos económicos, atingiu ou até ultrapassou, 2,5 mil milhões de euros. Daí a corrida científica para melhor se compreender e evitar os espetaculares danos do “vizinho” Sol, mas situado a 149,6 milhões de km de distância! São vários os efeitos já conhecidos, embora ultramilionesimamente inofensivos. Em 1958, 100 aviões, na rota entre os Estados Unidos da América e a Europa perderam o contacto radiofónico com os postos terrestres; em 1972, um transformador, situado no Estado de British Columbia, no Canadá, explodiu. O pior, aconteceu no estado de Quebeque, no mesmo país, em 13 de março de 1989, em que todo o sistema elétrico foi neutralizado, deixando completamente aquele Estado às escuras, provocando centenas de milhões de euros de prejuízo. Outros, de menor dimensão, afetaram satélites, provocando o seu desvio de rota, e, finalmente queda, o que aconteceu em 2000 e, em 2003, além de outro apagamento do sistema elétrico sueco que afetou, igualmente, a comunicação do tráfego aéreo. Porém, a pior tempestade solar, embora sem consequências de maior no nosso planeta, foi observada pelo jovem britânico, Richard Carrington, em 1 de setembro de 1859. Face a uma tempestade destas dimensões, o grande mistério está no facto de não ter tido consequências que poderiam ser inimagináveis na Terra. Para melhor se compreender a razão destas potentes tempestades há que analisar a matéria solar. O Sol, contrariamente ao que se pode supor não é sólido, nem líquido, e, muito menos, gasoso. É composto por plasma, também chamada de “quarto estado da matéria”, resultante dos átomos, quando reduzidos a simples protons e eletrons. As partículas, semelhantes a medusas luminosas, qual mundo dinâmico maravilhoso, explodem, entrelaçando-se e deslizando, para, misteriosamente, desaparecem horas ou dias depois. Dependendo da intensidade da erupção resulta a dimensão da tempestade solar e, pior, as suas consequências. Além disso, o Sol está repleto de campos magnéticos, em sua maioria localizados no maciço interior do seu círculo, embora algumas cavidades magnéticas, espessas como a largura da Terra, surjam na superfície como manchas solares. A mover toda esta força, encontra-se a intrigante maquinaria de uma estrela excecional. - o núcleo solar. Verdadeira caldeira, a 65 milhões de graus centígrados de plasma esferóide, seis vezes mais densa que o ouro, funde, em cada segundo, 700 milhões de protons em hélio, libertando a energia de dez mil milhões de bombas de hidrogénio em todo o processo. A energia produzida pela fusão do núcleo solar é transportada para a zona de radiação, a matéria é tão pressionada, que leva 100 mil anos aos fotões a emergir na envolvente zona de convecção, ou seja 70% do exterior do centro solar. Cerca de um mês depois os fotões emergem na fotosfera, ou seja, a parte visível do Sol. Dali leva apenas oito minutos a atingir a Terra como luz solar. São deles que nos devemos abrigar o mais possível, especialmente na praia!.(Dados e agradecimento - a National Geographic - edição britânica, junho de 2012)

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Sexo ilegal arrasta clero e política

Depois, ou a par da crise financeira, com a remoção da Grã-Bretanha do topo da tabela das anotações de crédito, o país é de novo assolado por abusos sexuais alegadamente atribuídos a personalidades nacionais de vulto e alegadamente cometidos há cerca de 30 anos. Se uma delas, o arcebispo católico da Escócia, Keith O’Brien, foi forçado a demitir-se quando se preparava para tomar parte na Conclave para a eleição do novo Pontífice, a outra é o alto dirigente Liberal-Democrata, Lorde Rennard, este acusado de ter abusado sexualmente cinco militantes ou colaboradoras do seu partido. Caso agora nas mãos da polícia. Este, que é partido da coligação, embora não afete o governo, agrava problemas já conhecidos, estes relacionados com outro ex alto dirigente partidário, e ex- membro do governo, Chris Hue. Esta alta e até há pouco prestigiada figura política viu-se obrigada a demitir-se face à grave acusação da ex- mulher, que, para evitar o escândalo de uma infração de trânsito por ele cometida há cerca de 10 anos, obrigou a então mulher a admitir a pena e, assim, mentir, caso que está em tribunal. Esta, agora divorciada, denunciou-o, provocando enorme escândalo e a inevitável demissão. E, se os liberais-democratas, que nas próximas eleições gerais de 2014 se apresentam ao eleitorado como partido independente, são vítimas de enorme impopularidade, com a realização das eleições parciais, na quinta-feira 28 de fevereiro, resultantes da demissão de Chris Hue, no circulo eleitoral que eficientemente detinha, Eastleigh (nas proximidades Southampton, sul da Inglaterra), o novo escândalo Rennard surge no momento mais crítico. A questão atinge novas e inesperadas proporções quando se põe em causa a liderança do vice-primeiro-ministro, Nick Clegg e se tinha ou não conhecimento do caso Rennard. E se tinha, como pelos menos uma das vítimas alega, qual a razão de nada ter sido feito. Clegg diz estar de consciência tranquila. A sua posição, porém, segundo atentos comentadores, não é tão segura quanto ao que ele afirma. Portanto, se a BBC tem sido alvo do famigerado “Caso Savile”, agora admitido como um dos maiores prevaricadores nacionais sexuais de menores de sempre, estes novos casos, um clérigo e outro político, arrastam um dos, talvez, maiores males da sociedade britânica.

sábado, 23 de fevereiro de 2013

Orgulho ferido

Ainda há quem duvide que embora crítico de si próprio, o povo britânico é orgulhoso. Os resíduos de ter sido um dos maiores impérios do mundo, aliados aos do país fundador da I Revolução Industrial, sacrificados na II Grande Guerra, embora atualmente não tão propalados encontram-se ainda em expressões como “we the British” (nós os britânicos) e, em termos geográficos, “the Europeans”. Esquecem-se, afinal, que ocupando, igualmente, esse espaço geográfico, preferem usá-lo como expressão de desdém e, no passado, de evidente barbarismo. Vem isto a propósito do facto de uma das principais agências de anotação, a Moody’s, ter baixado de AAA, a categoria máxima, para AA1, ou seja um ponto inferior da sempre invejável tabela económico-financeira, o que acontece pela primeira vez depois da década de 1940. A decisão era inevitável quando a economia, negativa em termos de crescimento, o que se arrasta desde a crise bancária de 2008, tem sido agravada com a galopante dívida externa, não obstante os saudáveis indícios de recuperação das taxas de desemprego. O orgulho britânico, e particularmente de um partido – Conservador – que se orgulhava de ser o campeão na condução da economia, foi profundamente fendido. Além do efeito – e choque -psicológico as consequências são inevitáveis não apenas no agravamento dos juros dos necessários novos empréstimos, como prováveis consequências na posição da libra esterlina. Predomina a dúvida se, mantendo-se as contenções globais atuais, especialmente no espaço europeu e estado unidense, os maiores da atuação económica britânica, os Conservadores ganharão o desejado fôlego para garantirem e desejada vitória nas eleições de 2015 que a todos os títulos querem ganhar sem depender em coligações. Outra incógnita é se os 10 pontos de vantagem que os separam da maior oposição – Labour – irão ser mantidos até lá e se o eleitorado voltar a confiar nos trabalhistas. Afinal, como dizia o ex-presidente americano, Bill Clinton, tudo se resume naquela que ele chamou: “Economia, seu estúpido!”

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

ESSE “FIEL AMIGO”, GADUS MORHUA - AMIZADE MÚTUA?

A recente decisão da instituição britânica de conservação piscatória, Marine Conservation Society, da retirada da ementa, ou consumo vigiado, de piscícolas em perigo, como a Sarda (peixe rico em oleaginosas, nomeadamente Omega3) da família Escombrídea, à qual o atum também pertence, devido aos excessos piscatórios, principalmente na Islândia e nas Ilhas Faraó, que colocou aquela bela espécie em perigo, prontificou-me relacioná-lo com o bacalhau, tão considerado por nós Portugueses como “FIEL AMIGO”. Antes, porém, esqueçamo-nos dos tão falados e temidos polifosfatos! Em termos de reciprocidade, seremos amigos dele? Pergunta que faço a todos nós, como questão refletiva. Não o dispensando das nossas mesas, nas mais variadas formas culinárias, em que nós Portugueses, assim como outros povos latinos e descendentes latino-americanos, particularmente nos excedemos, certamente que não o fazemos por mera amizade. Será que jamais pensámos nisso quando o saboreamos? A certa resposta é um rotundo NÃO! O bacalhau, especialmente o do Atlântico Noroeste (Terra-Nova e Labrador), erroneamente chamado da Noruega, cujo nome se deve à exploração piscatória desse país e, talvez, ao facto de terem sido os vikings os primeiros a explorá-lo, e por nós mais consumido em seco e por tratamento salínico, é cientificamente conhecido por Gadus morhua. Contrariamente ao semelhante prato britânico, mas frito, acompanhado das indispensáveis e igualmente batatas fritas, ali conhecido pelo nome Cod, mas fresco, abunda e é apanhado em menor profundidade nas menos frias águas do Mar do Norte. De salientar que embora nos seja atribuída a pesca do bacalhau no século XV, o nosso conhecimento e consumo deve-se aos nossos amigos ingleses que no-lo introduziram, a troco do vinho do Porto! Como aponta o Capitão Marryat, na obra Peter Simple, "a razão dos Portugueses e os Ingleses serem bons amigos, deve-se ao facto de que nós não conseguimos vinho do Porto em mais lado nenhum", essa amizade, deve-se à iniciativa dos comerciantes que traziam bacalhau da Terra-Nova e que, em troca, recebiam vinho do Porto. Segundo esta versão, a origem do fiel amigo, deve-se não a nós portugueses, mas aos ingleses e, em particular, à firma pioneira, que mais se distinguiu nesse comércio, Hunt, Roope & Company, em 1654 e que, para isso, contava com instalações em Viana do Castelo e em Vila Nova de Gaia. Deixemos, porém este contexto histórico, para nos concentrarmos no essencial – a NOSSA amizade com tão” FIEL AMIGO”. Ao devorá-lo, fazemo-lo por amizade ou por mero glutonismo, irrespetivamente da sua extinção como espécie? Certamente que nunca pensámos nisso! Daí, este meu alerta da inexistente amizade mútua! Embora, como espécie, segundo a Comissão Canadiana da Vida Animal Selvagem em Perigo (COSEWIC), a tivesse considerado, em 1998, como “vulnerável”, e, mais tarde, atribuída a categoria de “preocupação especial”, a World Wide Fund (WWF) seguiu-se-lhe, em 2000, colocando o bacalhau na lista de espécies em perigo. A Greenpeace Internacional, em 2010, colocou-o, à semelhança agora da sarda, na “lista vermelha” de piscícolas de consumo. Face a estes solenes avisos, não restam duvidas que o nosso “fiel amigo” CORRE SÉRIOS RISCOS de continuar a ser o favorito da nossa culinária! Principalmente devido aos novos e potentes arrastões, que apanhando o bacalhau a águas cada vez mais profundas, especialmente nas zonas de desova, não permite os desejáveis níveis de recuperação e gestão, problema que se agrava desde 2007, quando as quotas do bacalhau das nossas mesas oscilam entre as 23.000 toneladas/ano, ou seja cerca de metade dos stocks disponíveis! Esta situação prontifica-me outro, certamente novo caso de extinção para o/a estimado/a leitor(a), o do chamado Pombo Passageiro. Quando esta mui admirada ave, verdadeiro espetáculo do século XIX, cujas camadas constituíam assunto de admiração, principalmente na zona médio-oriental dos Estados Unidos da América. Dos múltiplos mil milhões destas aves, inicialmente cobiça da Tribo índia Séneca, que das suas caças, de sete em sete anos fazia festivais, com a sua industrialização e comercialização, principalmente graças ao desenvolvimento do transporte ferroviário, entre os estados de Milwaukee/Chicago/Filadélfia ao do rico consumidor novaiorquino cuja afluente população saboreava a carne de tão belas aves. Para corresponder à sua glutonice e em que apenas mil milhões de aves eram mortas num só ano, no Estado de Michigan, facilmente extinta dela só resta a embalsamada Marta, falecida em cativeiro, em 1914, aos 29 anos de idade, no Jardim Zoológico de Cincinatti,. Nas mesmas circunstâncias, qual o lugar de uma possível espécie extinta do nosso “fiel amigo” Gadus morhua? Aquário de Lisboa? É a vez de reciprocarmos a amizade deste nosso “Fiel Amigo”, evitando desregrada e impensavelmente devorá-lo!