domingo, 8 de dezembro de 2013

PARA A HISTÓRIA DE TIMOR LESTE – II - Casos inéditos- (1 de 6)

O envolvimento sobre Timor-Leste proporcionou-me uma dimensão inesperada. Enquanto, e por um lado, foram estabelecidos e reforçados excelentes contactos, principalmente com um diplomata superior da embaixada da Indonésia em Londres, um homem ligado ao último embaixador do seu país em Lisboa antes da rutura diplomática em 1975, por outro, novos contactos foram estabelecidos com várias individualidades portuguesas, envolvidas na questão de Timor, incluindo o último governador, o falecido major-general Lemos Pires, que me chegou a receber no seu gabinete do Estado Maior do Exército, em Lisboa. Foi neste período, que, com certa surpresa, fui contactado, em Londres, por duas pessoas completamente diferentes: Um dos diretores da companhia petrolífera, Unocal Indonesia, Ltd, que por razões de confidencialidade é conveniente manter no anonimato, limitar-se-à, simplesmente, às iniciais do seu nome, L.G.W. Exagerando a minha influência, considerou-a erradamente suficiente, com a Resistência timorense, veio ter comigo à então sede da BBC, em Bush House. Começando por esclarecer que a empresa que representava, depois das bem sucedidas prospeções em Timor Gap, estava convicto da existência de petróleo na zona centro-leste de Timor-Leste, em que predominava a Resistência. Nesta, que era uma fase inicial, foi claro no objetivo: que a Resistência autorizasse, ou, pelo menos, não resistisse, aos trabalhos de prospeção, pelo que seria compensada. Achando, a princípio, este episódio caricato, mudei de ideias, e interpretei-o com a requerida seriedade, por vários e importantes fatores que me foram mais tarde revelados. A outra, foi de natureza política. Tratava-se de uma alta e prestigiosa figura política, infelizmente já falecida, muito chegada ao então Presidente Ramalho Eanes, que veio propositadamente a Londres para falar comigo. Sem saber porquê, mas possivelmente ao que pensaram ter contactos privilegiados com personalidades indonésias, o que era verdade, o objetivo da visita era saber se haveria a possibilidade de "testar" as “águas indonésias” sobre um encontro, ao mais alto nível, entre os dois países. A iniciativa tinha como objetivo, um encontro de Chefes de Estado. Como era inevitável, seriam necessários contactos preparatórios sobre a viabilidade de um encontro desta natureza. Caso os meus contactos achassem mérito na possibilidade desse encontro, que se realizaria num país neutro a acordar mutuamente, as negociações preparatórias seriam conduzidas, garantiu essa importante personalidade, sob a responsabilidade, nada mais nada menos que o falecido Coronel Melo Antunes. Embora, com algumas reservas, mormente sobre a aceitação por parte da Indonésia, transmiti esta importante mensagem. O alto contacto indonésio, ouviu, com certa surpresa, e até desconfiança, dando a impressão de estar a ser vítima de qualquer "jogada". Mas, devido à confiança mútua e ao adiantamento de mais pormenores, o que deu reforço à proposta, estava garantida a credibilidade. Dias depois recebi a resposta: "embora tratando-se de uma aliciante e interessante proposta, o presidente Suhearto considera ser ainda cedo para um encontro, ao mais alto nível, entre os dois países". Que se saiba, não se fizeram, posteriormente, tentativas semelhantes, antes do abandono de Timor-Leste pelas forças e autoridades indonésias, em Dezembro de 1999, e a consequente independência. A seguir: Envolvimento do magnate e multimilionário australiano Kerry Packer? (parte I)