sábado, 23 de novembro de 2013

BBC - A NOVA BROADCASTING HOUSE

Em termos logísticos a BBC, essa famosa emissora britânica, atravessa uma nova e total remodelação. Da original Broadcasting House, em Portland Place (nas proximidades de Oxford Circus), cuja invulgar fachada se assemelha a uma nau, aos vários e dispersos edifícios, alguns deles vizinhos, hoje hotéis , ou até a sede do Consulado de Portugal, todos eles que eu próprio frequentei, quer em cursos ou questões de serviço, outros, como Television Centre, o famoso complexo situado em White City (zona oriental de Londres), ou o enorme edifício a norte do último, como o Serviço Mundial sediado em Bush House (Aldwych), desde a sua inauguração, no início dos anos 40, encontram-se agora reunidos num só complexo, chamado Nova Broadcasting House, ou seja, uma vasta extensão do primitivo edifício original. Como tive o raro privilégio, a convite do atual Diretor Geral da BBC, Lorde Tony Hall, de visitar o novo complexo, dou aqui um pálido resumo deste vasto e extraordinariamente inovador complexo, verdadeiro exemplo das últimas e mais avançadas tecnologias e extraordinárias condições de trabalho para os cinco mil funcionários que nele trabalham. Para quem, durante 30 anos, trabalhou no Serviço Mundial, em Bush House, embora em boas condições para a época e, subitamente é lançado no novo complexo, tem a sensação de estar noutro e mui distante planeta. A nova extensão, em forma de alargada ferradura, dispõe de um vasto átrio exterior, em cujo solo se depara com centenas de nomes de capitais mundiais, incluindo Lisboa, onde, igualmente, abundam dispositivos de som em que se podem ouvir transmissões nas mais variadas línguas. Á noite, à semelhança da fachada, que à superfície tem nove andares (mas na totalidade 13 incluindo as caves), a partir das 22 horas, vastos holofotes inundam todo o local. No interior e a nível da superfície, pode-se admirar, no piso imediatamente inferior, o enorme Departamento de Notícias, onde trabalham 1100 jornalistas. Se no centro e à esquerda são profissionais especialmente ocupados da informação nacional, na extrema direita, situam-se os jornalistas dedicados à informação internacional. Enquanto isso, mas não visível, e por debaixo do varandim, encontra-se o vasto estúdio do noticiário News24, ou seja da Informação contínua, obviamente visível do próprio Centro de Informação. E, a confirmar a sua invejável e ciosamente defendida posição de Entidade Pública, a BBC encoraja o público em geral a ter acesso, no vasto recinto de entrada, à esquerda, em que se pode tomar um chá ou um café, e de onde se pode admirar o vasto Centro de Informação. Entretanto, nos vários e diversos pisos, especialmente superiores (obviamente vedados ao público em geral por questões de segurança e dispondo de dispositivos de proteção) encontram-se os estúdios das múltiplas emissoras de rádio e, no 4o e 5o pisos, os serviços internacionais, quer de rádio quer de televisão (neste caso o Serviço Árabe e Iraniano). Além de locais específicos para reuniões de trabalho, todos os pisos dispõem de locais de convívio e de kitchenettes a proporcionar breves momentos de relaxamento. Que invejável! Enquanto isso, nas caves 1, 2 e 3, situam-se os vários estúdios, em sua maioria de programas noticiosos, enquanto os de entretenimento são transmitidos ou gravados dos estúdios de Elstree (a cerca de 40km norte de Londres).

sábado, 9 de novembro de 2013

PARA A HISTÓRIA DE TIMOR LESTE - Introdução

Esclarecimento: Timor-Leste foi um dos capítulos importantes da atividade jornalística do autor, com vários artigos, sobre assuntos inéditos, publicados no Jornal de Notícias. Por serem, como julgo, do interesse geral do(a) leitor(a), particularmente os mais jovens, aos leitores deste blogue é dada a honra de conhecerem o que modesta e virtualmente constituem importantes documentos. NOTA: Devido à sua extensão, são divididos em seis distintos artigos (excluindo o atual). Os temas aqui dedicados a Timor-Leste são extratos dos manuscritos do autor, POR TERRAS DE SUA MAJESTADE e TIMOR-LESTE, DÍVIDA POR SALDAR, que atualmente se encontram no prelo. Ainda que acompanhasse a tragédia de Timor-Leste, primeiro a nível da BBC, (organização que tive a honra de servir durante 30 anos) que ao ter conhecimento de que os guerrilheiros ouviam e gravavam as transmissões daquela notável emissora em língua portuguesa, às quatro horas da manhã (hora local). para serem religiosamente ouvidas, mais tarde, em conjunto, a Secção Portuguesa remodelou-as dando maior ênfase a assuntos daquele território. Na sua qualidade de correspondente, o autor só se ocuparia do assunto caso houvesse algo a noticiar a partir de Londres. Aliás, havia muito, mas mais do interesse e envolvimento britânicos, especialmente em termos de grupos de direitos humanos, como a Organização de Direitos Humanos Tapol, que acompanhava e fazia campanha a favor de Timor-Leste bem como a Amnistia Internacional. (A estas, e muitas outras personalidades, algumas delas importantes na vida política britânica, como, mas muito especialmente, a milhares de anónimos, na opinião do articulista, se deve o sucesso da Luta para a deejada e dificilmente conseguida Independência). Recorde-se que como a Inglaterra, e Londres em particular, foi foco de grandes acontecimentos sobre Timor-Leste, tanto por parte dos grupos de direitos humanos, como as já referidas Tapol e a Amnistia Internacional, assim como a nível empresarial como governamental (venda de armamento à Indonésia), eram abundantes as notícias sobre Timor-Leste. A situação, porém, mudou. Em Abril de 1983, o autor recebeu um telefonema no seu escritório, precisamente da secretária da Tapol, Carmel Budiardjo, em que literalmente pedia ajuda. Tratava-se da súbita chegada de um ex combatente timorense, que, desafiando as autoridades indonésias decidiu falar, pelo que precisava de alguém que falasse Português, para a tradução. Antevendo a importância da informação, principalmente, quando até então, raros eram os refugiados, que ainda tinham familiares em Timor-Leste e estavam dispostos a falar, imediatamente o autor se disponibilizou. Foi um prazer em conhecer, mas especialmente ouvir, durante 72 horas, praticamente a fio, o jovem heroi, Gregório Henrique (Neobere, nome de guerra) que descreveu pormenorizadamente os horrores da luta, as vicissitudes da população, a valentia dos integrantes da resistência, a solidariedade dos jovens e o indispensável apoio da Igreja local. No encontro, participou também Carmel Budiardjo, que estando bem dentro do assunto não só fazia as perguntas, como procurava também esclarecimentos e a confirmação de notícias que até então eram apenas conhecidas oral e vagamente. Com um raro manancial de evidência como este, em que pela primeira vez foram dados pormenores sobre os chamados "cercos das pernas" em que a população civil foi obrigada a andar e a encurralar os concidadãos patriotas, participando, assim nos cercos militares, foi escrita a primeira série de três longos artigos, intitulados "A Realidade de Timor-Leste" (25,26,27 de Maio de 1983), publicados numa só semana. Como resultado, não só o JN como o seu correspondente em Londres, receberam consideráveis elogios por este trabalho, incluindo os de um encontro, com o Dr. Jaime Gama, então ministro dos negócios estrangeiros, chegando a classificar o autor um perito nesta matéria, o que claramente não era. A estes, seguiu-se uma longa série temática de reportagens sobre Timor-Leste, nomeadamente "A Indonésia Desmascarada" (30, 31/7/83), "Povo Agrilhoado Mas Não Vencido" (9,10,11,12,23/1/84), "Tragédia de um Povo Que Teima em Ser Livre" (30/4/, 1,3, 4, 5/84) e a primeira entrevista dada a um órgão português da comunicação social pelo ex diplomata australiano e último cônsul geral da Austrália em Timor-Leste, até 1975, James Dunn, autor da memorável obra "Timor- a people betrayed", (Timor - Um Povo Traído) aquando da sua passagem por Londres, em 22/3/84. A premiar a luta deste grande campeão da causa do povo timorense, que já em 2001 fora distinguido com a Ordem da Austrália, o então Presidente da República, Dr. Jorge Sampaio, agraciou-o com a Ordem do Infante, em 22 de Maio de 2002, durante a sua visita oficial à Austrália e depois de ter assistido às cerimónias da independência de Timor-Leste, dois dias antes. Foi este envolvimento, que segundo o já citado Dr. Jaime Gama, lhe foi "sempre muito útil e que servia de base aos arquivos", do seu ministério. O problema, porém, era a dificuldade de informação de dentro do território, uma vez que os ocupantes indonésios não deixavam saír ninguém de Timor-Leste, situação que mudou com a visita do já referido e antigo lutador timorense.