sábado, 25 de abril de 2009

RECORDAR O 25 DE ABRIL VIVIDO EM LONDRES

Num dos mais conhecidos e importantes clubes de “gentlemen”, o Reform Club e principalmente antes de 1974. sempre que o autor se identificava como cidadão português, regra geral era olhado com um misto de piedade. Essa a então imagem do nosso país no estrangeiro, devido ao regime de Salazar. A contrastar, em e depois de 25 de Abril, além dos efusivos cumprimentos, viu-se rodeado de interessados que procuravam acompanhar o decorrer do golpe e o futuro do país.

25 de Abril, dia extraordinário! Nessa altura, como o autor acompanhava sempre, devido à excelente recepção, o noticiário das 24 horas, da então Emissora Nacional, quando começou a sintonizar notou algo de estranho em relação à programação normal. Mantendo sempre o rádio ligado, só se rendeu ao sono por volta das quatro horas da manhã, para acordar num novo dia de liberdade. No novo dia da democracia! Os dias seguintes foram acompanhados com enorme trepidação, pelo que predominou a euforia principalmente junto dos colegas da Secção Portuguesa da BBC aos quais se juntaram os da Brasileira. Uma boa justificação, para, quando muitos dos seus amigos e contactos ingleses ao fazerem questão de falar com o autor felicitavam-no efusivamente pelo facto do seu país regressar, finalmente, ao seio da Democracia.

Enquanto isso, tanto a rádio (BBC) como as televisões e os matutinos, compreensivelmente, não falavam noutra coisa senão na que ficaria conhecida por Revolução dos Cravos, facto que ocupou, durante muito tempo, a comunicação social. Mas se as imagens da televisão e as reportagens radiofónicas reflectiam o compreensível regozijo, os jornais, salvo raríssimas excepções, fizeram-no com reservas iniciais.

Da imprensa, o mais efusivo foi o The Guardian, cuja edição do dia 26 de Abril dedicou quase toda a primeira página, bem como outros comentários nas páginas interiores, incluindo o que era companhado do curioso título de "Curso-sandwich em Revolução". Em letras garrafais, que "A Junta de Lisboa promete a liberdade", seguia-se outro título complementar a afirmar que "A Guerra em África pode vir a terminar". Assinale-se que nesta edição tomou também parte o falecido e amigo jornalista português, António Figueiredo, que, na altura, colaborava com este matutino. Outras notícias de primeira página, uma apontava que embora o acontecimento fosse bem recebido pela OTAN, constituía, no entanto, um dilema para o então governo de Harold Wilson e, a outra, manifestava a preocupação pela segurança dos então citados 6000 cidadãos ingleses, como os cerca de 4000 turistas que se encontravam de férias em Portugal. Outra ainda, referia-se aos efeitos que os acontecimentos de Lisboa poderiam ter tanto na África do Sul como na então Rodésia e actualmente Zimbabué.

O The Guardian foi o matutino que mais e melhor informação deu sobre a realidade Portuguesa. Segundo o correspondente diplomático daquele matutino, o dilema residia na questão do reconhecimento de uma junta militar num país aliado e membro da NATO e, particularmente, na Europa. Isto, porque, estava ainda fresca a imagem da ditadura militar na Grécia. Mas o The Guardian, noutra notícia, salientava que embora o Parlamento (britânico) se encontrasse de férias (da Páscoa), os deputados trabalhistas da ala esquerda seriam os próprios a promover o reconhecimento do novo regime, na semana seguinte. E, no que concerne à segunda, especulavam-se as consequências - e as desejadas ilações - para os regimes vizinhos da África Austral.
A fazer juz à cobertura, por parte deste matutino, o autor escreveu a elogiar e agradecer, com a seguinte carta publicada na secção de Cartas ao Director na edição de 9 de Maio de 1974: "Como Português a viver neste país, tenho sempre seguido com muito interesse, particularmente agora, a cobertura sobre os recentes acontecimentos no meu país por parte dos órgãos britânicos da comunicação social. Por isso, gostaria de registar e agradecer-lhe, bem como a todos os jornalistas do periódico que V. Exa. dirige, pelo excelente trabalho manifestado na cobertura de primeira classe, verdadeiro benefício para os seus leitores, sobre os acontecimentos recentes, actuais e certamente futuros sobre Portugal."

Porém, O The Times, a justificar a sua então reconhecida isenção, foi o que mais céptico se manifestou sobre o futuro e consequências da Revolução de Abril e o Daily Telegraph o mais opinioso e até ousado ao apontar, igualmente em editorial, que o regime deposto pagou o preço por ser incauto.