quinta-feira, 26 de abril de 2012

Vão chamar noms a outrem!

REENCONTRAR LEONARDO DA VINCI

Tenho afirmado várias vezes, com a compreensível autoridade de quase 50 anos de vivência, que, sem exagero, Londres é um dos maiores centros de cultura mundiais. Com inúmeras atrações simultâneas, independentemente dos seus bem recheados e extraordinariamente documentados museus e galerias de arte, a capital britânica é um irresistível íman. Mais uma vez, como as longas filas atestam, e a esgotada lotação até ao seu anunciado encerramento de 5 de Fevereiro, a nova exibição na Galeria Nacional, sobre Leonardo da Vinci se provas fossem necessárias, o comprovam. Tenho assistido a várias exposições em Londres sobre tão controverso, mas sublime artista. Nunca, porém, uma como esta, intitulada LEONARDO DA VINCI PINTOR NA CORTE DE MILÃO. Ao pintor são atribuídas 20 pinturas, das quais apenas 15 sobrevivem, nove delas presentes em Londres, para deleite daqueles que se deram ao luxo de as ver nesta exposição, algumas delas nunca vistas na capital britânicas. Foi um compreensível privilégio de constatar a revolução artística introduzida por Da Vinci e comparar vários dos seus trabalhos, como é o caso das suas duas obras A Virgem das Rochas, pela primeira vez expostas ao público numa só exposição. Ambas produzidas durante o período de 18 anos, período reconhecido como o mais profícuo do artista como pintor, passado na corte de Ludovico Maria Sforza (1452-1508), também apelidado de “Mouro”, devido às suas feições, em Milão. Estes dois trabalhos, o primeiro cedido exclusivamente para esta mostra pelo Museu do Louvre (mas nunca a celebérrima Mona Lisa, ciosa do seu lugar!), contrasta com o segundo, propriedade da Galeria Nacional, apropriadamente colocados frente a frente. Embora a composição artística e a textura de ambos seja idêntica, a grande diferença está no detalhe que é profundamente diferente, refletindo alterações de direção significativas do pintor a partir de 1490. Além disso, neste segundo trabalho, estudos recentes e à base de técnicas de infravermelho, revelaram a obsessão de Da Vinci pela perfeição, mostrando várias figuras da Virgem no trabalho original, o que era dantes desconhecido. Esta exposição teve, igualmente, a atração de nela estarem presentes, além das muitas gravuras e ensaios do artista, nomeadamente em estudos de fisionomia . Estas de cavalos, cedidas pela Coleção Real e outros belos trabalhos de autoria de associados e condiscípulos de Da Vinci, como Francesco Napoletano, Marco d'Oggiono e Ambrogio de Predis, igualmente presentes, como verdadeira e adicional raridade, encontravam-se obras do artista provenientes de vários países e origens. Este, o caso do incompleto retrato de São Jerónimo (1488-90), em profunda meditação, propriedade do Museu do Vaticano, Retrato de Cecília Gallerani, (1489-90) uma das amantes de Ludovico Sforza, também conhecido por (“Lady com um Arminho”), proveniente da Fundação Czartoryski, de Cracóvia (Polónia), Retrato de uma Mulher (“A Bela Ferronière”) - 1493-4 - também cedido pelo Museu do Louvre, mas acima de tudo a inédita e recentemente descoberta dos últimos cem anos, e quase totalmente restaurada imagem de Cristo, pelos técnicos da Galeria Nacional, Cristo, o Salvador do Mundo (1499), propriedade anónima privada. Nesta invulgar exposição, esqueçamo-nos das importantes facetas de arquiteto, inventor, cientista, filósofo ou músico, em que Leonardo igualmente se notabilizou, mas no artista, nesse iconoclasta que o grande historiador de arte, Giorgio Vasari (1511-154), classificou de “vanguardista e notável pela potente e audaciosa forma como retrata a natureza”. Da pequena aldeia de Vinci, da qual se serviu do nome, o irrequieto e inconstante filho bastardo do notário Ser Piero e da aldeã Caterina, nascido a 15 de Abril de 1452 e discípulo de Verrochio, embora já famoso, encontrou, como pintor, na Corte de Ludovico Sforza, a sua consagração e aclamação como bem o demonstrou esta notável e rara exposição da Galeria Nacional de Londres. De salientar ainda a notícia recente de que teria sido encontrada outra pintura perdida de da Vinci – A Batalha de Anglari - detetada por detrás de uma outra de autoria de Giorgio Vasari, a Batalha de Marciano, que se encontra no Palácio Vecchio, em Veneza. Se assim for, subitamente da Vinci e as suas obras, parecem estar a surgir em catadupas.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

HIPERTENSÃO ARTERIAL PULMONAR (HAP) – O que é e como se trata

1. Ocorre quando há uma pressão sanguínea anormalmente elevada nas artérias que levam o sangue do coração (ventrículo direito) para os pulmões. Doença rara e fatal que ocorre em crianças, adultos jovens e com uma discreta predominância no sexo feminino. Doença descoberta por Ernest von Romberg, em 1891, e à qual foi prestada particular atenção no 3º Simpósio anual, em Veneza, em 2003. 2. Como se desenvolve? A pressão sanguínea nas artérias pulmonares pode estar elevada por muitas razões. Em algumas situações, nenhuma causa para tal aumento é encontrada. Quando isto ocorre, chamamos tal acontecimento de Hipertensão Pulmonar Primária. Nesta doença, normalmente, o que ocorre é uma alteração na parte interna dos vasos sanguíneos inferiores dos pulmões, que, ao contrarírem, dificulta a passagem do sangue e faz com que o coração tenha mais trabalho para levar este até os pulmões. Com isso, a pressão nos vasos pulmonares torna-se elevada. A causa destas alterações nestes vasos sanguíneos é desconhecida. 3. Quais são os sinais e sintomas?   A dispneia é o principal sintoma da hipertensão pulmonar, ocorrendo, a principio, com esforço e, mais adiante, em repouso. A dor torácica subesternal também é comum, afetando 25 a 50% dos pacientes. Os outros sinais e sintomas incluem: Encurtamento gradual da respiração que pode piorar com exercícios; dor ou desconforto torácico: Fadiga; Inchaço nas pernas; Tosse persistente; Palpitações (sensação do batimento forte ou anormal do coração); Cianose (tom azulado da pele, principalmente nas mãos, pés e face); Tontura e Desmaio (síncope) 4. Como fazer o diagnóstico clínico? Doença incurável, fatal, de mau prognóstico, não transmissível, quando diagnosticada, mas não medicamentada (o que é altamente dispendiosa), o período de longevidade é de 2,5 anos. Normalmente, a primeira pista para o diagnóstico desta doença é uma radiografia do tórax ou um eletrocardiograma que sugira uma hipertrofia do ventrículo direito (aumento do músculo do coração que bombeia o sangue para os pulmões). A ecocardiografia (uma ecografia do coração) pode sugerir a doença e é útil no acompanhamento e na determinação da resposta deste ao tratament bem como tomografias, mas melhor ainda, angiogramas. (cateter). Mais comummente a pessoa, no início, se queixa de cansaço fácil e desconforto torácico. Através destas alterações narradas pelo paciente e do exame físico alterado, poderá o médico suspeitar da doença, devendo solicitar exames complementares. A determinação direta da pressão circulatória pulmonar quando se coloca um cateter (tubo que entra por um vaso sanguíneo, passa pelo coração e chega até os pulmões) no coração continua sendo o padrão-ouro, ou seja, o melhor exame para confirmar a doença. 5. Tratamento (em pesquisa contínua), mas segundo o tratamento pessoal (por parte da melhor equipa médica da especialidade do Hospital Royal Free de Hampsted (Londres): Vasodilatadores - oxigénio medicinal (permanente), Sildenafil (Viagra), excelente inibidor fosodiesterase, além da disfunção erétil, warfarin e barbitúricos. Como última instância, mas raramente, transplante dos pulmões. 6. Bibliografia: Wikipédia; Diagnóstico, Avaliação e Terapêutica da Hipertensão Pulmonar (Diretrizes da Sociedade Brasileira de Cardiologia – Coordenador Jorge Ilha Guimarães); Understanding Pulmonary Hipertension, por Iain Armstrong (edição da Pulmonary Hipertension Association – PHA). Os interessados, podem contactar a equipa médica e especializada nesta matéria – Pulmonary Hypertension Nurses – 0044 207 830 2326. Para maiores informações, contacte-se, igualmente, a PHA – www. phassociation.uk.com NOTA: Embora a informação acima seja correta, DEVE SER UNICAMENTE TRATADA COMO GUIA GENÉRICO. CONSULTE O SEU MÉDICO!

quinta-feira, 5 de abril de 2012

“O HOMEM MISTÉRIO” Não é meu hábito falar de mim próprio. Modéstia? Talvez. Atributos, pelo menos por parte daqueles que têm feito o favor de com eles me distinguir, quando tornados públicos, geralmente me embaraçam. Desta vez, porém, e sobre a minha vida privada, peço desculpa ao/à amável leitor/a, abro uma exceção. Não para angariar simpatias. Longe disso! Apenas como desabafo! Sempre me considerei uma pessoa privilegiada e, em muitos aspetos, completa. Feliz, pela família que tenho – mulher, filha e genro, invulgarmente dedicados; netas que amam o país da mãe e dos avós, e, nele se sentem como seu; riqueza de experiências e de amizades ao longo de uma, que sempre considerei inesperada longevidade. Porém, porém, subitamente essa galopante locomotiva chamada vida, que me levou a percorrer e admirar tão maravilhosos cenários, colher amigos, e viver inesquecíveis experiências, conheceu nova e abrupta etapa. Depois de vários sinais, ao longo dos últimos cinco anos, alguns dos quais severos, em sua maioria de caráter cardíaco e diabético, principalmente nos últimos três anos, em que fui submetido a cada vez mais sofisticados e caríssimos testes. Tudo isso, possível, devido a um extraordinário Serviço Nacional de Saúde, verdadeira e rara pérola deste país de adoção. Porém, e quando tentava terminar o meu manuscrito sobre Timor-Leste, em que ultimamente tenho estado empenhado, subitamente, fui obrigado a recorrer aos serviços de emergência do meu hospital local – o magnífico Royal Free, de Hampstead, precisamente aquele que o destino levaria para tratamento, e infelizmente morte, da Dra. Luísa Guterres, esposa do então primeiro-ministro, Engº. António Guterres. Devido ao meu historial clínico até então não identificado, o dedicado médico de serviço, Dr. McKay, sempre comigo desde a minha entrada, naquela sexta-feira 16, do mês passado, como bom escocês e com inusitado humor, começou por me classificar de “O Homem Mistério”, devido ao meu desconhecido diagnóstico. Com ele, começaria a longa maratona na tentativa de, finalmente, se desvendar essa nebulosa incógnita. Transferido para uma enfermaria isolada, de quarto só, do 10º andar e, beneficiando de uma bela vista da “aldeia” de Hampstead, de tão boas memórias, desde que ali tive o meu primeiro apartamento, há quase 50 anos atrás, fui enfrentado por uma equipa de médico-cientistas. De imediato, fui informado, que o meu problema respiratório dependia de dois importantes órgãos – coração e pulmões. A questão era saber o problema entre ambos. Já detentor de um “stem”, ou seja uma bomba para dilatar o ventrículo direito, que, quando colocada, há cinco anos, me surpreendeu devido à inesperada blocagem de 15 milímetros de comprimentos e cinco de largura, sem que jamais tivesse tido, ou, pelo menos, numa atividade intensa, reconhecido quaisquer sintomas. Informado que o meu diagnóstico inicial estava relacionado com o tabaco, mais surpreendido fiquei uma vez que nunca fui fumador! Da teoria havia que passar-se à ação, pelo que fui submetido a um angiograma ao coração e este, como muitos outros testes e TACs, mais uma vez, negativo. Os pulmões seguir-se-iam. Com mais outro angiograma, finalmente, foi detetado o mal. Como se previa, o problema estava na circulação sanguínea, ou seja, a contração das artérias, entre o coração e os pulmões e, vice-versa. Estava, finalmente, desvendado o mistério à custa de três semanas de internamento. O meu misterioso mal, segundo os médicos, uma doença por eles considerada rara e fatal, é chamada Hipertensão Pulmonar, mas, felizmente, não contagiosa. Como tratamento básico, além de vários medicamentos, destaca-se Viagra, no meu caso também eficiente na dilatação das artérias, bem como, e especialmente, oxigénio. De pessoa altamente ativa e independente, no caso do segundo, passo a estar condicionado à extensão da tubagem, que limita os meus movimentos, passando a recluso e a dependente quase de tudo e de todos! Felizmente de mente sã, vivo no oásis da meu escritório e este meu computador, que rasga a vasta janela do mundo exterior. Aquele mundo que perdi, incluindo a viagem marcada para julho para a minha amada Cascais! Ah, se em termos de custo anual o meu tratamento anda à volta de 40 mil euros, o diagnóstico, estadia hospitalar e tratamento andaram à volta de 400 e 500 mil euros. Tudo isto, carinhosamente assistido por pessoal dedicado. Sem pagar um único cêntimo, independentemente, claro, dos impostos até aqui incorridos! Aviso e exortação: Jovens – gozem, mas não esbanjem o melhor que têm - a saúde! Entretanto, e a TODO/AS - A MELHOR PÁSCOA, cheia de alegria, saúde e FELICIDADE!