quinta-feira, 5 de abril de 2012

“O HOMEM MISTÉRIO” Não é meu hábito falar de mim próprio. Modéstia? Talvez. Atributos, pelo menos por parte daqueles que têm feito o favor de com eles me distinguir, quando tornados públicos, geralmente me embaraçam. Desta vez, porém, e sobre a minha vida privada, peço desculpa ao/à amável leitor/a, abro uma exceção. Não para angariar simpatias. Longe disso! Apenas como desabafo! Sempre me considerei uma pessoa privilegiada e, em muitos aspetos, completa. Feliz, pela família que tenho – mulher, filha e genro, invulgarmente dedicados; netas que amam o país da mãe e dos avós, e, nele se sentem como seu; riqueza de experiências e de amizades ao longo de uma, que sempre considerei inesperada longevidade. Porém, porém, subitamente essa galopante locomotiva chamada vida, que me levou a percorrer e admirar tão maravilhosos cenários, colher amigos, e viver inesquecíveis experiências, conheceu nova e abrupta etapa. Depois de vários sinais, ao longo dos últimos cinco anos, alguns dos quais severos, em sua maioria de caráter cardíaco e diabético, principalmente nos últimos três anos, em que fui submetido a cada vez mais sofisticados e caríssimos testes. Tudo isso, possível, devido a um extraordinário Serviço Nacional de Saúde, verdadeira e rara pérola deste país de adoção. Porém, e quando tentava terminar o meu manuscrito sobre Timor-Leste, em que ultimamente tenho estado empenhado, subitamente, fui obrigado a recorrer aos serviços de emergência do meu hospital local – o magnífico Royal Free, de Hampstead, precisamente aquele que o destino levaria para tratamento, e infelizmente morte, da Dra. Luísa Guterres, esposa do então primeiro-ministro, Engº. António Guterres. Devido ao meu historial clínico até então não identificado, o dedicado médico de serviço, Dr. McKay, sempre comigo desde a minha entrada, naquela sexta-feira 16, do mês passado, como bom escocês e com inusitado humor, começou por me classificar de “O Homem Mistério”, devido ao meu desconhecido diagnóstico. Com ele, começaria a longa maratona na tentativa de, finalmente, se desvendar essa nebulosa incógnita. Transferido para uma enfermaria isolada, de quarto só, do 10º andar e, beneficiando de uma bela vista da “aldeia” de Hampstead, de tão boas memórias, desde que ali tive o meu primeiro apartamento, há quase 50 anos atrás, fui enfrentado por uma equipa de médico-cientistas. De imediato, fui informado, que o meu problema respiratório dependia de dois importantes órgãos – coração e pulmões. A questão era saber o problema entre ambos. Já detentor de um “stem”, ou seja uma bomba para dilatar o ventrículo direito, que, quando colocada, há cinco anos, me surpreendeu devido à inesperada blocagem de 15 milímetros de comprimentos e cinco de largura, sem que jamais tivesse tido, ou, pelo menos, numa atividade intensa, reconhecido quaisquer sintomas. Informado que o meu diagnóstico inicial estava relacionado com o tabaco, mais surpreendido fiquei uma vez que nunca fui fumador! Da teoria havia que passar-se à ação, pelo que fui submetido a um angiograma ao coração e este, como muitos outros testes e TACs, mais uma vez, negativo. Os pulmões seguir-se-iam. Com mais outro angiograma, finalmente, foi detetado o mal. Como se previa, o problema estava na circulação sanguínea, ou seja, a contração das artérias, entre o coração e os pulmões e, vice-versa. Estava, finalmente, desvendado o mistério à custa de três semanas de internamento. O meu misterioso mal, segundo os médicos, uma doença por eles considerada rara e fatal, é chamada Hipertensão Pulmonar, mas, felizmente, não contagiosa. Como tratamento básico, além de vários medicamentos, destaca-se Viagra, no meu caso também eficiente na dilatação das artérias, bem como, e especialmente, oxigénio. De pessoa altamente ativa e independente, no caso do segundo, passo a estar condicionado à extensão da tubagem, que limita os meus movimentos, passando a recluso e a dependente quase de tudo e de todos! Felizmente de mente sã, vivo no oásis da meu escritório e este meu computador, que rasga a vasta janela do mundo exterior. Aquele mundo que perdi, incluindo a viagem marcada para julho para a minha amada Cascais! Ah, se em termos de custo anual o meu tratamento anda à volta de 40 mil euros, o diagnóstico, estadia hospitalar e tratamento andaram à volta de 400 e 500 mil euros. Tudo isto, carinhosamente assistido por pessoal dedicado. Sem pagar um único cêntimo, independentemente, claro, dos impostos até aqui incorridos! Aviso e exortação: Jovens – gozem, mas não esbanjem o melhor que têm - a saúde! Entretanto, e a TODO/AS - A MELHOR PÁSCOA, cheia de alegria, saúde e FELICIDADE!

Sem comentários: