sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

PARA A HISTÓRIA DE TIMOR LESTE – IV - Casos Inéditos (3 de 6)

Envolvimento do magnate e multimilionário australiano Kerry Packer? (parte II e conclusão) Quanto às dúvidas de Stone, sobre a misteriosa ideia de ser acompanhado pelo patrão, é importante ouvi-lo novamente: "Porque é que Kerry insistiu em ir? A resposta superficial seria de mera aventura, mas por aquilo que passarei a expor, estou convencido de ter sido por razões muito mais profundas que esta." Depois de descrever que no dia seguinte, Kerry Packer, ordenou a ida de um velho barco capturado pelos australianos aos japoneses durante a II Grande Guerra, o Konpiramaru No. 15, acto que Gerald Stone classificou de "Kerry se assemelhar a um Gulliver preso numa casa de bonecas liliputiana" (da história de Alice no País das Maravilhas), "Kerry chegou com uma enorme quantidade de bagagem, na realidade mais indicada para o convés superior do Titanic, incluindo uma vasta coleção de espingardas de caça de animais de grande porte, que faziam parte da sua enorme coleção particular, um barco de borracha Zodiac, equipado com motor, bem como caixas e caixas do seu refrigerante favorito, Fanta. Mas a sua mais valiosa peça, era o seu guarda costas, de origem Portuguesa, Manuel. Soube que Manuel foi comando duro nas forças militares Portuguesas em Angola. A sua experiência militar e o conhecimento da língua dos nativos timorenses, constituíam uma valiosa adição. Mas o que mais me preocupava era as armas de Kerry, a quem pedi para serem deixadas no barco, ou, então, que evitasse transportar no grupo em que tanto eu ou Brian (Peters) – um dos jornalistas assassinados - nos encontrássemos..." Outra preocupação de Stone, como ele próprio o admitiu, era o facto de que, "por muito estranho que pareça, Kerry, que é conhecido pelas suas fortes opiniões em quase qualquer assunto, não me deu nenhuma sobre Timor (Leste), nem tão pouco se incomodou em saber as minhas intenções sobre a minha reportagem..." A facilidade com que o patrão obteve a autorização, por parte dos indonésios ancorados ao largo de Dili, também surpreendeu Stone, que, a certo passo, diz que "assim que lentamente navegámos para assentar âncora de madrugada, deparámos com a fantasmagórica e acinzentada presença da fragata indonésia Monginsidi. Receando que teria instruções quer de Jacarta quer de Canberra para proibirem a nossa missão, não houve qualquer tentativa até em reconhecer a nossa presença. Dois dias depois estávamos a filmar a saída de um enorme contingente de fortemente armados fuzileiros navais numa praia de Dili, com a missão de observar e proteger a evacuação do pessoal diplomático da embaixada indonésia...." Por tudo isto e muito mais, abundantemente documentado, Hugh Dawson, depois de afirmar ao autor que Gerald Stone sabia muito mais do que revelou, tanto a nível pessoal, como do próprio patrão em relação à presença de ambos nessa intrigante data da invasão, o conhecido investigador insiste, que com base em documentação governamental, o governo australiano da época se basofiava de que a sua diplomacia tinha desempenhado importante papel em reprimir os indonésios de uma invasão em larga escala, em Agosto de 1975, "a chegada de Kerry Packer e a sua equipa a Dili, a 29 de Agosto de 1975 desempenhou papel significativo na decisão do Presidente Suharto em adiar uma invasão em grande escala." (*) (*) Em 31 de Outubro de 2005, a Comissão da ONU, conhecida pelo acrónimo CAVR, apresentou as conclusões do seu estudo ao então Presidente de Timor-Leste, Xanana Gusmão sobre a violência das forças indonésias ao serem forçadas a abandonar Timor-Leste depois de ser obtida a independência, em 1999.

sábado, 1 de fevereiro de 2014

Envolvimento do magnate e multimilionário australiano Kerry Packer? (parte I)

No início de Setembro de 2001 começaram a surgir aparentemente bem fundamentadas teorias, que o falecido (27/12/05) magnata australiano da comunicação social e multimilionário Kerry Packer, teria estado envolvido numa derradeira tentativa, por parte do governo australiano, em evitar a invasão indonésia. Segundo o investigador britânico, Hugh Dawson, a quem muito se deve a denúncia das forças indonésias na morte dos jornalistas britânicos e autralianos (a quem se dedicada artigo especial a seguir), com base nas revelações feitas pelo jornalista australiano, Gerald Stone (colega do assassinado Brian Peters), no seu livro Compulsive Viewing (edição da Penguin Books - Australia), a viagem e chegada do seu patrão e proprietário, (entre outros, da estação televisora australiana Channel Nine), Kerry Packer, a Dili, a 29 de Agosto de 1975, sempre envolta em mistério, teria estado relacionada com a missão secreta, ao serviço do governo australiano da época, chefiado por Gough Whitlam, em dissuadir o exército invasor, no terreno, das suas intenções. Aponta Hugh Dawson, nesta sua interessante tese, em conversa com o autor e, mais tarde, apoiada em convincente documentação a que o autor teve acesso, que, como competente e comprovadamente experiente jornalista, Gerald Stone interrogou-se várias vezes sobre a verdadeira razão da companhia e presença de Kerry Packer. Aparentemente, sustenta Hugh Dawson, tudo resultou da própria decisão de Gerald Stone, na altura diretor da Redação do Channel Nine, em chefiar tão arriscada reportagem. Aqui, disse Hugh Dawson, "um homem tão bem posicionado nos meios governamentais como Kerry Packer, certamente que sabia da invasão e, até, da data aproximada em que teria lugar. Daí, o seu invulgar e inusitado interesse." Com base na documentação a que o autor teve acesso, passa-se a palavra a Gerald Stone: "Decidi, pessoalmente, fazer a reportagem. Como era o único jornalista, tanto em Sidney como em Melbourne, com experiência da cobertura de guerras, como aconteceu no Vietname, e como uma missão desta natureza em Timor Leste apresentava-se muito arriscada para mandar qualquer outro jornalista sem experiência da cobertura de guerras, a questão era agora justificar as despesas da deslocação. Por isso, precisava da autorização de Kerry (Packer). Quando lhe expliquei o meu plano, a sua resposta foi instantânea - 'Perfeitamente, mas na condição de eu ir contigo'. O coração caíu-me aos pés, devido ao inesperado peso da responsabilidade e da proteção ao meu próprio patrão, numa missão tão arriscada como esta. Mas, como sabia, não valia a pena apresentar argumentos em contrário..."