quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

O NATAL NA EUROPA

O Natal dos nossos dias, cada vez mais assediado pelos interesses comerciais, está longe – e que saudades!! - dos tempos de antanho, em que a época natalícia era aguardada, particularmente pela miudagem, com a expectativa dos tão ansiados presentes e da chegada do tão ocupado Pai Natal, recebido por inúmeros sapatinhos! O presépio, uma das tradições Portuguesas, embora ainda seguidas, é acompanhado pela agora praticamente obrigatória árvore do Natal, tradição particularmente importada da Alemanha. Um dos fascinantes livros sobre esta época festiva, que jamais li, aliás obra da amiga de longa data, e colega da BBC, Edite Vieira Phillips, intitulado Natal na Europa (*), é mais do que revelador e, portanto, particularmente recomendado. Recheado de curiosidades, mas, acima de tudo, receitas natalícias, embora pequeno, é um GRANDE livro!
Com os agradecimentos à Edite, é na sua obra que baseio a minha divagação. Nos países cristãos, as tradições, e até a data festiva, variam. Na Arménia, por exemplo, o primero país europeu a adoptar o Cristianismo, a nível oficial, o dia de Natal é celebrado a 6 de Janeiro, a data comemorada até à decisão de Roma, em 336 AD, para a actual, 25 de Dezembro. E, em relação a datas, a religiosamente ortodoxa Grécia, (agora a lutar contra a pior prenda do Natal – a sua séria situação económica!), a data de 6, mas do mês de Dezembro, dia de São Nicolau, padroeiro dos pescadores, com os barcos engalanados, é quando as comemorações natalícias começam a ser celebradas. Porém, os presentes, esses, vêm mais tarde, no dia 1 de Janeiro, em que se celebra São Basílio.
Entretanto, na Bélgica, particularmente em Liége, a data é comemorada por procissões de velas, seguidas da bênção aos animais, enquanto na vizinha Holanda, o dia grande, à semelhança da Grécia e da Arménia, é 6 de Dezembro, dia de São Nicolau, em que as crianças são contempladas com os tradicionais presentes. O mesmo, aliás, acontece na Húngria. Na nossa vizinha Espanha, a quadra natalícia começa a ser oficialmente celebrada, dois dias depois, portanto a partir do dia 8, prolongado-se até 6 de Janeiro, Dia dos Reis, o dia das oferendas. Outra tradição, esta na passagem do ano, em que se comem 12 bagos de uva, uma a uma, ao som das badaladas da meia noite, augúrio de boa sorte nos também correspondentes 12 meses que se seguem. Na Itália, pratica-se o jejum que precede o Natal, em que na isenção da carne, predomina o peixe, ou melhor, o tradicional prato de enguias fritas, na véspera. Mais a norte, na fria Europa, tanto na Finlândia, terra do Pai Natal e da sua lendária Lapland, dominada pelos elces, como na vizinha Suécia, o Natal chega também cedo, com iníco a 13 de Dezembro, dia de Santa Lúcia, prolongado-se até ao Dia de Reis. Porém, aqui, um curioso pormenor, em preparação a tão festiva data, a população preocupa-se na cuidadosa limpeza das suas casas, em que, igualmente, os vizinhos lituânios seguem com toda a religiosidade, celebrando particularmente a consoada, no dia 24, com um jantar em homenagem aos Apóstolos, portanto com 12 pratos diferentes, mas sem carne. Enquanto isso, seguindo a boa e tradicional limpeza dos lares, como se vê, preocupação dos escandinavos, os noruegueses, ocupam-se, igualmente, na confecção da cerveja caseira, baseada numa receita antiga. Porém, na Inglaterra, o Natal, comemorado em todo o país com o engalanamento dos templos, a época é festivamente celebrada: nas ruas com cânticos e hinos, particularmente em Londres, junto à enorme árvore de Natal, na Praça de Trafalgar, tradicional dádiva da cidade de Oslo; nos lares, a reunião da família, em que, independentemente da distância, se reune nesta época do ano, à volta da mesa dominada pelo perú recheado, pelos bolinhos, decorações e tradicionais bombinhas.
FELIZ NATAL CAROS LEITORES E SUAS FAMÍLIAS
(*) Edição Feitoria dos Livros ´

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

COPENHAGA - HEROIS E VILÕES

Como se antecipava, foi adiado o Acordo Vinculativo em troca de um político., apenas designado por Acordo de Copenhaga. Herois? Se os houve, entre os 197 delegados, quem, apontado como tal, principalmente pelo matutino britânico The Independent, foi o primeiro-ministro Gordon Brown. Salienta este periódico que embora ele não tenha conseguido selar o acordo, “evitou a catástrofe” de um possível fracasso. E esclarece que “trabalhando esforçadamente (nos dois dias que antecipou a chegada dos restantes dirigentes), “por vezes desde manhã cedo até às 3 da manhã do dia seguinte, tentando obter um acordo, foi um verdadeiro engenheiro-construtor de pontes e particularmente aceite entre os dirigentes africanos pelo seu historial no perdão da dívida aos países pobres e artífice da crise financeira”. Além disso, acrescenta o The Independent, a ele igualmente se deve a iniciativa, considerava então ambiciosa, do fundo de 100 biliões de dólares/ano para compensar os países pobres.




Efectivamente, tanto ao primeiro-ministro britânico, bem como a sua bem estruturada equipa, chefiada pelo igualmente incansável ministro da energia, Ed Milliband, deve ser outorgado enorme mérito pelo gorado sucesso de Copenhaga. Porém, quem manifestou idêntico espírito combativo, embora numa visita-relâmpago, mas de tempo prolongado, foi o Presidente dos Estados Unidos da América (EUA), o recém laureado Nobel, Barack Obama, que, convocando os dirigentes dos, como ele, representantes dos principais países poluidores, China e Índia (incluindo os da África do Sul e do Brasil), salvou a Conferência, com o que por ele foi classificado de “significativa concretização sem precedentes”, mas reconhecida insuficiente para combater os problemas ao combate do Aquecimento Global. E, tal como o secretário-geral das Ñações Unidas se referiiria no encerramento, embora não o resultado ideal, “o príncipio de um acordo”. Quem é apontado como vilão é o dirigente chinês, Hu Jintao, que resistiu ao máximo a qualquer tentativa de acordo vinculativo, sob o pretexto de que prejudicaria o desenvolvimento do seu país.




Este resultado, baseado em promessas, portanto não vinculativo, principalmente nas taxas máximas de emissão de carbono CO2, evidentemente não pode satisfazer, pelo que, não surpreende ser classificado como desapontador. Porém, dirigentes de países afectados, como as Maldivas, o Presidente, Mohamed Nasheed, entrevistado pela BBC-Televisão, considerou-se satisfeito. Satisfeito, igualmente, é o raporteur do Conselho Europeu e antigo vice.primeiro-ministro e ministro do ambiente, John Prescott, que afirmou, também à BBC-TV, que o pior inimigo foi a elevada expectativa. E esclareceu que, enquanto em Quioto estiveram presentes apenas 90 representantes, em Copenhaga compareceram 197, dentre os quais chefes de estado e primeiros-ministros. Além disso, enquanto Quioto serviu de plataforma, Copenhaga foi mais além, tanto em termos de debate sobre as verdadeiras questões como de veredas e pontes a construír, cujos pilares serão definidos daqui a seis meses, na conferência da União Europeia, mencionada pelo Presidente Sarkozy, da França, e, finalizadas no fim do próximo ano, no México.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Embora tenham sido grandes as expectativas sobre os resultados finais da Conferência de Copenhaga, de 7 a 15 deste mês, em relação a um novo tratado, que substitua o de Quioto, sobre os problemas do Aquecimento Global, e que termina em 2012, à medida em que se aproxima, prevalece o realismo imposto pelas enormes dificuldades do desejável e urgente acordo, ao ponto de, a fim de se evitar um MAU ACORDO, como a ausência de firmes garantias sobre taxas globais, mínimas e máximas de dióxido de carbono (CO2), como ficou decidido na Conferência Asiática, realizada em Singapura, a 14 de Novembro, fala-se da possibilidade de adiamento por um ano. Obviamente, as atenções – e dificuldades - concentram-se em três dos maiores poluidores mundiais: Estados Unidos da América (EUA), China e Índia. O objectivo – e enorme desafio de Copenhaga– é acordar-se em compromissos vinculativos, primeiro em taxas de redução de dióxido carbono CO2, segundo em datas-limite e, terceiro, honestidade no cumprimento e observância do Acordo. Como se sabe, os problemas são anormes. O Reino Unido, é um dos países que comanda a necessidade de um acordo fiável e transparente. Por isso, dá o exemplo e compromete-se que até ao ano 2020 reduzirá 1/3 das emissões e até 2050 80%.

Em relação aos EUA, embora a boa-vontade e determinação do Presidente Barack Obama, em reparar o lamentável curso do seu antecessor, nesta importante matéria, seja, por enquanto, entravada por um Congresso renitente e lento em corresponder-lhe, particularmente devido aos interesses individuais dos Estados representados pelos seus membros, alguns dos quais, dependentes de indústrias altamente poluentes, que resistem à desejada mudança, por outro, está a compreensível renitência por parte dos países em vias de desenvolvimento, nomeadamente a China, a Índia e o Brasil, que insistem não dever travar o seu desenvolvimento. Por outro, porque é imprescindível apresentar compensações, que orçam em cerca 100 biliões de dólares por ano, aos países que subscrevam as requeridas e aprovadas taxas, até ao ano de 2020, como foi debatido na última Cimeira de Bruxelas, em 30 de Outubro passado, na corrente contenção económica é um fardo pouco encorajador. Outro fardo, foi apontado pelo Banco Mundial em relação à contenção das cheias. Segundo aquela organização, o apoio aos países subdesenvolvidos mais vulneráveis, como o Bangladesh e as Malvinas, o custo previsto é entre 80 e 120 biliões de euros.

A contrastar com a incerteza da adopção das medidas ideais, predominam as realidades globais, como aponta a recente edição, da Oxford University Press, Economia e Política da Alteração Climática (The Economics and Politics of Climte Change). Baseada nas mais recentes investigações pelos cientistas mais notáveis da matéria, salienta que “Enquanto a ciência sobre alterações climatéricas, e a evidência empírica aumentam, a consequente resposta em termos de políticas de contenção até agora pouco impacto tiveram no aumento das emissões. A concentração de 400 partes por milhão (ppm), de dióxido de carbono, equivalente a CO2, será brevemente atingida (o nível da pré Rveolução Industrial ituava-se em 273ppm)”. (Cap. 2, pág. 9).

Neste indesejável cenário, e, em termos práticos, temos as tempestades tanto nas Filipinas como nas ilhas de Samoa, bem como noutras ilhas do Pacífico, nomeadamente as Maldivas, cujo Presidente, Mohamed Nasheed, a tomar ousadas providências de deslocação total a fim de evitar que a população do seu país (arquipélago de 1,192 pequenas ilhas), seja engolfada pelo crescente nível das águas do Oceano Indico, como é ainda o caso do Bangladesh. As Ilhas Marshall, também no Pacífico, são outro exemplo de constantes inundações como a revista francesa Paris-Match recentemente anunciou e ilustrou. Entretanto, com as calotas milenares do Árctico e do Antárctico a derreterem-se, o que acontece pela primeira vez, aumenta o volume de água e, portanto, a subida do nível oceânico, como é também o caso de Moçambique (vide notícia do Diário Económico de 4 p.passado, em que se noticia a subida das águas do mar numa costa de 2.700 km. Além das inevitáveis cheias, com o volume de águas geladas, ameaça as correntes temperadas do Norte do Atlântico, como o Golfo do México (Gulf Stream) e, consequentemente, alterações climatéricas, particularmente no Hemisfério Norte. A contrastar, regiões como o Estado da Califórnia e a enorme bacia Murray-Darling, no sul da Austrália, bem como vastas regiões da África, como a Etiópia e o Quénia, ou ainda a extensa região agrícola do Estado de Maharashtra (sul da Índia), só para mencionarmos os principais, sofrem de enorme escassês de água, com consequente prejuízo para a agricultura e a inevitável deslocação de populações famintas. Estes, os contrastes resultante do Aquecimento Global, também conhecido por Aquecimento de Estufa.

Actualmente o nível do mar tem subido a uma média de três milímetros por ano. Os estudos do Painel Intergovernamental de Alterações Climáticas (IPPC) da ONU, - entidade responsável pelas observações climáticas do mundo inteiro - prevêem um aumento do nível do mar de 18 a 59 centímetros até 2100, não tendo em conta o comportamento futuro das calotas polares (bases permanentemente geladas) da Antárctida e da Gronelândia. Obviamente um dos problemas considerados foi o aumento da temperatura. Salienta o estudo que durante o último século aumentou 0.6º. Além disso, até 2100, e na pior das hipóteses, atingirá cerca de mais de 6 graus que a temperatura actual, o que significa, como apontaram recentemente os cientistas americanos do Instituto de Oceanografia Scripps, na Califórnia, publicado no dia 17 de Novembro de 2008, na Nature Geoscience. Com base no artigo em epígrafe, enquanto anteriormente evidência sobre as alterações das temperaturas tanto no Árctico como no Antárctico não podiam ser directamente atribuídas à influência humana, estes cientistas concluíram que “os nossos resultados demonstram que a actividade humana provocou já influência significativa no aquecimento de ambas as regiões polares, com particular impacto na biologia, comunidades indígenas, calotas polares, bem como nos níveis globais.” Neste artigo, estes cientistas apontam e confirmam, os já acima citados estudos do IPPC, ou seja até 2100, prevê-se um aumento do nível do mar de 18 a 59 centímetros. No caso do nosso país, como apontou recentemente ao Jornal de Notícias, o Director do Instituto de Meteorologia Nacional, Dr. Adérito Serrão, as temperaturas médias no nosso país, têm aumentado significativamente desde 1930 – 1,2º . Adianta, contudo, que até ao fim do século poderão agravar-se para 8,6º!
Esta, a evidência e inevitabilidade, que os 730 delegados (entre os quais 50 chefes de Estado), de cerca de 200 países, que se encontram reunidos no Centro Bella, em Copenhague.
Em toda esta incerteza e compromissos altamente insatisfatórios, talvez que, como afirmou James Hansen, um dos mais eminentes estudiosos do clima e o homem que alertou para os perigos das alterações climáticas muito anos antes de Al Gore abrir os olhos ao mundo com o seu documentário “Uma Verdade Inconveniente”, ao falar ao “The Guardian” nas vésperas da cimeira de Copenhaga, diz que é preferível que a cimeira redunde em fracasso, dado que o ponto de partida é profundamente defeituoso. Mais valia começar tudo do zero, argumenta.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

O Culto dos Animais no Antigo Egipto

Quem, como o autor, tem tido a ventura de dispender inúmeras horas nessa Catedral da Cultura como é o Museu Britânico, jamais se cansa! Por isso, e sempre que possível, não páro de a visitar. Fascinado pela história do Egipto antigo, aos enormes e replectos salões daquela civilização, fui “morador” daquela secção, durante duas escassas semanas! No estudo que ali efectuei, há cerca de 15 anos, o tema foi a mumificação e a prática fúnebre dos faraós e do seu povo. Porém, ao pretender inculcar semelhante conhecimento, e ao visitar a secção com a minha neta mais velha, Rebecca, fiquei desiludido pela sua relutância em interessar-se em múmias e morte!

A arte fúnebre do antigo Egipto tem muito para revelar, não apenas sobre os seres humanos, mas também sobre os animais.

O maior achado, foi feito por um camponês, em 1888, quando cavava junto à aldeia de Istabl Antar (margem oriental do Nilo, entre o Vale dos Reis e o Delta). Aturdido, deparou não com uma enorme vala comum de ossadas ou múmias humanas, mas pilhas e pilhas – milhares!! - de gatos embalsamados. Como se pode depreender por este achado, os egípcios antigos, tinham grande amor pelos seus “pets”, além, claro, de adorar muitos outros animais, como veremos adiante. O pior, foi a falta de sensibilidade demonstrada pelos seus sucessores, que, descaradamente, despacharam, enchendo navios, com semelhante acaso para fertilizar os campos britânicos.

Nessa era de há 5,000 anos atrás, as famílias abastadas eram conhecidas pelo tipo de animais de estimação que possuíam. E, como a Eternidade era para eles uma certeza, tal como o embalsamento dos seus corpos, ao ressuscitarem, contavam ver também os seus queridos “pets”. Outros, até, tinham a preocupação de se fazer acompanhar de mantimentos, nomeadamente a melhor carne, suculentos patos, gansos e pombos, bem preservados em sal, secos e cuidadosamente embalados em panos de linho, para a longa jornada! Comenta uma cientista egípcia, que “embora iguarias nem sempre à mesa, quando em vida, o importante é não faltarem na eternidade”!

A tradição conheceu particular ênfase em 2950 AC, em que os soberanos da 1ª Dinastia eram sepultados, em Abidos (sul de Istbar Antar), acompanhados de cães, leões e burros. Mas a venerada cidade de Mêmfis, perto do Cairo, capital durante a maior parte do Reino Antigo, ocupando a superfície de cerca de 40 km e, com a população de 250.000 pessoas, foi notável pelo número de mausuleus dedicados a animais considerados sagrados. O mais notável era o do touro Apis, um dos mais venerados da época.

Símbolo de poder e virilidade, o Apis era um animal muito ligado ao poderio real. Parte animal, parte deus, foi distinguido para veneração devido às suas características sui generis: triângulo branco na testa, padrões esbranquiçados na forma de asas nas homoplatas e nas ancas, silhueta de um escaravelho na língua e pelo duplo na extremidade da cauda. Em vida, este animal gozava de especial residência num pomposo santuário, aos cuidados de atentos e solícitos sacerdotes, adornado de ouro e jóias e adorado por multidões de fiéis. Ao morrer, cria-se que a sua essência divina passava para outro touro, dando início à procura de um novo sucessor. Depois de mumificado, era transportado para o templo e colocado numa cama de esmerado trivertino. A mumificação levava pelo menos 70 dias: 40 para a secagem completa da humidade do corpo e 30 para a colocação das ligaduras.

No dia do funeral, dia de luto nacional, os residentes, desfilando ao longo do trajecto, clamavam e choravam até ao mausoleu, agora descoberto em Serapeum, no nocrotério do deserto de Saqquara, nas proximidades de Memfis.

Animais diferentes eram adorados nos seus locais de culto. Touros em Armant e Heliopolis, peixes em Esna, carneiros, na Ilha dos Elefantes e crocodilos em Kom Ombo (todos no extremo sul do Reino). Segundo egiptólogos, o hábito da adoração dos animais surgiu no início da Civilização Egípcia, graças às chuvas intensas desse período, abundância e posperidade a preservar pelos deuses, o que não sucede actualmente. Compreende-se porque nessas épocas remotas, no verdejante dos campos proliferavam e pastavam os animais que a população associou a diversos deuses.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

A Tragédia de Samoa

Sábado, 3 de Outubro de 2009
Contrastes do vasto Oceano Pacífico (Sul) – as ilhas de Anuca e da Páscoa
Com a tragédia da Samoa nas parangonas internacionais e cujo rescaldo, pelo menos em número de vidas ainda por averiguar, debrucemo-nos no Pacífico. O Oceano Pacífico, um dos mais vastos e profundos mares do Sistema Terrestre, é semeado por 22.000 ilhas que se caracterizam pelo seu invulgar beleza, mas enorme isolamento. O contraste entre elas não podia ser maior. Concentremo-nos, apenas em duas – a minúscula Anuta (parte do arquipélago-estado das Ilhas de Salomão), e o vasto arquipélago conhecido por Ilha da Páscoa.
A primeira, caracterizada pela comunidade e unidade dos seus escassos 250 habitantes, numa superfície de apenas 400 metros de largura, praticamente circular, dominada pela colina Maunga Hill, de 65 metros de altura, no norte da ilha. Situada no sudeste do arquipélago e a cerca de 450 km leste da ilha de Santa Cruz, a vizinha ilha fica a cerca de 130km.
Os seus habitantes, praticamente descendentes, da mesma raíz e etnia polinésia (a contrastar com os conterrâneos das Ilhas de Salomão, que são melanésios), formam a família ideal e até única no mundo inteiro. Tanto a escassa superfície como, mas muito principalmente, os reduzidos recursos, constituem a razão principal da sua unidade e existência. Cultivando os seus páteos com esmero e o exíguo espaço com diligência em agricultura rotativa, responsabilidade de cada família, não só para sustento próprio, como para a comunidade em geral, dependem dos escassos frutos e raízes, nomeadamente taro, fruto raro e delicado encontrado só na ilha, bananas, papaia e mandioca, bem como, mas muito principalmente, da abundante pesca. Porém, e graças à abundância de coco, dele depende como bebida e, da fibra, preparam refeições, enquanto a casca serve de copos e as folhas de telhas e também para a confecção de cestos. Afectados por tempestades constantes, nomeadamente ciclones como o Zoe, que assolou a ilha em 2003 e destruíu praticamente toda a produçã, compreende-se a filosofia predominante que é o partilhar dos haveres pessoais, acto chamado Aropa, símbolo de preocupação e compaixão por todos e cada um.
O primeiro registo desta notável ilha remonta a 1791 e, os primeiros missionários anglicanos, chegaram em 1916. Desde então, a igreja desempenha papel importante na vida e bem-estar de Anuta, com serviços religiosos duas vezes por dia. É esta dependência e simbiose que faz com que a igreja seja a verdadeira protectora, com a invulgar responsabilidade de proteger os seus habitantes de epidemias, secas e até desastres naturais! Mas não obstante a influência cristã, que substituíu o papel dos chefes tribais, a tradição desempenha papel importante na população, que não desconta a influência dos seus chefes como líderes espirituais, de quem também depende o futuro do seu povo. Futuro, ainda arraigado em tabus e rituais, como a cabeça, que é considerada sagrada e os pés tidos como profanos. Não surpreende que quando visitam o chefe, na sua cabana, rastejam e não se põem de pé, pois caso ultrapassem a sua altura, é considerado como mau presságio. E, como acto fraternal, em vez de um beijo ou abraço, esfregam nariz com nariz, também uma saudação típica entre os polinésios, a cuja raça pertencem. Mas para o chefe o tratamento é diferente: o nariz é dirigido ao seu joelho!
Embora desde então visitada ocasionalmente por embarcações, o único e garantido contacto com o mundo exterior é o barco cargueiro proveniente de Honiara, capital do país. Mas devido às constantes intempéries que afectam a região, a regularidade destas visitas não existe.
Peritos no comportamento das marés, os pescadores são detentores de únicas técnicas de pesca para a qual construem e usam embarcações características, aliás fruto de séculos. Dependendo principalmente das estrelas, colocando a proa das embarcações em direcção de uma sucessão estelar, na rara falta delas, orientam-se também pelas núvens e pea direcção das ondas. Os pescaderes são os únicos que ganham dinheiro e o seu principal objectivo é a apanha de tubarões cujas abanas secam para consumo e vendem a carne ou às embarcações que ali arribam ou nas viagens que fazem para a capital, Honiara. Outros, ampliam os seus rendimentos, trabalhando temporariamente na capital.
ILHA DA PÁSCOA
A contrastar tanto ao tamanho, características, mas especialmente a história da ilha de Anuta, está a Ilha da Páscoa, ou Rapa Nui. Igualmente situada e sudeste do Oceano Pacífico, mas no chamado Triângulo Polinésio, esta remota ilha, de origem e geologia vulcânica é território especial do Chile, caracterizada pelas enormes estátuas megalíticas, chamadas muai, é catalogada pela ONU como Património Mundial. Com a superfície de 163,6 km2 e a população de 3791 pessoas, tem como capital Hanga Roa. Situada a 3516 km do Chile, é actualmente uma das mais isoladas ilhas habitadas. A sua história, porém, é de destruição e extirpação dos seus habitantes, que devido a rivalidades, se auto-destruíram.
Nome atribuído pelo seu descobridor, o holandês Jacob Roggeveen, quano ali abordou no Domingo de Páscoa de 1722. O nome actual polinésio de Rapa Nui, ou Rapa Grande, reflecte a preferência dos nativos primitivos, aliás confirmado pelo navegador sueco Thor Ayerdahl
A história da Ilha da Páscoa é rica e controversa, como misteriosa. Os seus habitantes primitivos enfrentaram fomes, epidemias, guerra cívil, assaltos de escravatura e colonialismo. E, a culmatar, a derrocada de ecosistema, principamente devido à deforestação.
A data dos primeiros habitantes, semelhante à das ilhas do Hawai, remonta a 300-400. Mas há discordâncias, pelo que segundo alguns historiadores, a data inicial pode situar-se a 700-800. Populada por etnia polinésia, que para ali aportou em canoas, proveniente das ilhas Marquise, a cerca de 3200km de distância, ou possivelmente das ilhas Tuamotou ou ainda de Pitcairn, a respectivamente 2600 e 2000km de distância. A provar esta hipótese, em 1999 foi feita uma reconstituição de barcos polinésios primitivos entre a Ilha de Páscoa e a de Mangareva, em 17 dias.
Segundo a lenda, registada por missionários nos anos 1860, a ilha era originalmente dominada por um sistema distinto de classe, com um ariki, ou rei, com poder absoluto, desde que os lendários Hotu Matua, inicialmente aportaram à ilha, como é evidente nas enormes e massiças estátuas erguidas e espalhadas pelo litoral, conhecidas por moai, como prova da sua crença, cultura homogénica e sistema de governo. Por razões desconhecidas, de um golpe militar, denominado matatoa, resultou um novo culto baseado no deus excepcional Makemake. A este culto, e particularmemte ao seu sacerdote Tangata Manu, é atribuída a miséria que assolou a ilha no final do século XIII e início do XIX, com a predominância da quebra do ecosistema, danificando as culturas resultando numa fome gradual que provocou doenças e a morte.
Segundo narrativas de 1722 e 1770, as estátuas – 877 na totalidade - eram a única evidência da existência daquela civilização, mas aquando da visita do Capitão Cook, em 1774, muitas delas estavam caídas, resultante das guerras intestinas, particularmente em 1830. Em 1838, a única ainda em pé, encontrava-se nas esfaldas de Rano Raraku e Hoa Hakananaiºa, em Orongo.
Uma série sucessiva de acontecimentos matou e removeu quase toda a população da Ilha, em 1860. A começar por piratas peruvianos, em Dezembro de 1862, com o objectivo de captar pessoas como escravos, estes actos continuaram durante vários meses capturando e matando cerca de 1500 homens e mulheres, cerca de metade da população. Porém, escasso número conseguiu regressar, mas devido a um ataque de varíola, que resultou numa epidemia, deu-se a devastação final da população em que algumas pessoas nem chegaram a ser sepultadas. Aquelas que resistiram, sucumbiram devido à luta entre clans rivais a fim de se apoderarem das terras e propriedades dos mortos, resultando em mais fomes e miséria. E, a agravar a periclitante situação, o primeiro missionário cristão a abordar à ilha, Eugène Eyraud, trouxe com ele a dádiva da tuberculose, em 1867, ceifando um quarto da restante população de 1200 habitantes.
A Ilha da Páscoa foi anexada pelo Chile, em 9 de Setembro de 1888, por Policarpo Toro, por Tratado de Anexação, assinado pelo governo do Chile e a população Rapanui. Até aos anos 1960 os sobreviventes estavam confinados ao acampamento de Hanga Roa, e o resto da ilha alugado à empresa Williamson-Balfour, como herdade de ovinos, até 1953. A ilha passou a ser gerida pela Marinha chilena até 1966, sendo a partir daí reaberta e ao povo Rapanui garantida a cidadania chilena. Em Julho de 2007, a reforma constitucional garantiu à ilha, juntamente às ilhas Juan Fernandez, o estatuto de Territórios Especiais. Dependendo de édito confirmação presidencial, a ilha continuará a ser governada como parte da Região de Valparaíso.
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Etiquetas: Geografia - Anuta e Ilhas da Pascoa

sábado, 3 de outubro de 2009

Contrastes do vasto Oceano Pacífico (Sul) – as ilhas de Anuca e da Páscoa

Com a tragédia da Samoa nas parangonas internacionais e cujo rescaldo, pelo menos em número de vidas ainda por averiguar, debrucemo-nos no Pacífico. O Oceano Pacífico, um dos mais vastos e profundos mares do Sistema Terrestre, é semeado por 22.000 ilhas que se caracterizam pelo seu invulgar beleza, mas enorme isolamento. O contraste entre elas não podia ser maior. Concentremo-nos, apenas em duas – a minúscula Anuta (parte do arquipélago-estado das Ilhas de Salomão), e o vasto arquipélago conhecido por Ilha da Páscoa.
A primeira, caracterizada pela comunidade e unidade dos seus escassos 250 habitantes, numa superfície de apenas 400 metros de largura, praticamente circular, dominada pela colina Maunga Hill, de 65 metros de altura, no norte da ilha. Situada no sudeste do arquipélago e a cerca de 450 km leste da ilha de Santa Cruz, a vizinha ilha fica a cerca de 130km.
Os seus habitantes, praticamente descendentes, da mesma raíz e etnia polinésia (a contrastar com os conterrâneos das Ilhas de Salomão, que são melanésios), formam a família ideal e até única no mundo inteiro. Tanto a escassa superfície como, mas muito principalmente, os reduzidos recursos, constituem a razão principal da sua unidade e existência. Cultivando os seus páteos com esmero e o exíguo espaço com diligência em agricultura rotativa, responsabilidade de cada família, não só para sustento próprio, como para a comunidade em geral, dependem dos escassos frutos e raízes, nomeadamente taro, fruto raro e delicado encontrado só na ilha, bananas, papaia e mandioca, bem como, mas muito principalmente, da abundante pesca. Porém, e graças à abundância de coco, dele depende como bebida e, da fibra, preparam refeições, enquanto a casca serve de copos e as folhas de telhas e também para a confecção de cestos. Afectados por tempestades constantes, nomeadamente ciclones como o Zoe, que assolou a ilha em 2003 e destruíu praticamente toda a produçã, compreende-se a filosofia predominante que é o partilhar dos haveres pessoais, acto chamado Aropa, símbolo de preocupação e compaixão por todos e cada um.
O primeiro registo desta notável ilha remonta a 1791 e, os primeiros missionários anglicanos, chegaram em 1916. Desde então, a igreja desempenha papel importante na vida e bem-estar de Anuta, com serviços religiosos duas vezes por dia. É esta dependência e simbiose que faz com que a igreja seja a verdadeira protectora, com a invulgar responsabilidade de proteger os seus habitantes de epidemias, secas e até desastres naturais! Mas não obstante a influência cristã, que substituíu o papel dos chefes tribais, a tradição desempenha papel importante na população, que não desconta a influência dos seus chefes como líderes espirituais, de quem também depende o futuro do seu povo. Futuro, ainda arraigado em tabus e rituais, como a cabeça, que é considerada sagrada e os pés tidos como profanos. Não surpreende que quando visitam o chefe, na sua cabana, rastejam e não se põem de pé, pois caso ultrapassem a sua altura, é considerado como mau presságio. E, como acto fraternal, em vez de um beijo ou abraço, esfregam nariz com nariz, também uma saudação típica entre os polinésios, a cuja raça pertencem. Mas para o chefe o tratamento é diferente: o nariz é dirigido ao seu joelho!
Embora desde então visitada ocasionalmente por embarcações, o único e garantido contacto com o mundo exterior é o barco cargueiro proveniente de Honiara, capital do país. Mas devido às constantes intempéries que afectam a região, a regularidade destas visitas não existe.
Peritos no comportamento das marés, os pescadores são detentores de únicas técnicas de pesca para a qual construem e usam embarcações características, aliás fruto de séculos. Dependendo principalmente das estrelas, colocando a proa das embarcações em direcção de uma sucessão estelar, na rara falta delas, orientam-se também pelas núvens e pea direcção das ondas. Os pescaderes são os únicos que ganham dinheiro e o seu principal objectivo é a apanha de tubarões cujas abanas secam para consumo e vendem a carne ou às embarcações que ali arribam ou nas viagens que fazem para a capital, Honiara. Outros, ampliam os seus rendimentos, trabalhando temporariamente na capital.
ILHA DA PÁSCOA
A contrastar tanto ao tamanho, características, mas especialmente a história da ilha de Anuta, está a Ilha da Páscoa, ou Rapa Nui. Igualmente situada e sudeste do Oceano Pacífico, mas no chamado Triângulo Polinésio, esta remota ilha, de origem e geologia vulcânica é território especial do Chile, caracterizada pelas enormes estátuas megalíticas, chamadas muai, é catalogada pela ONU como Património Mundial. Com a superfície de 163,6 km2 e a população de 3791 pessoas, tem como capital Hanga Roa. Situada a 3516 km do Chile, é actualmente uma das mais isoladas ilhas habitadas. A sua história, porém, é de destruição e extirpação dos seus habitantes, que devido a rivalidades, se auto-destruíram.
Nome atribuído pelo seu descobridor, o holandês Jacob Roggeveen, quano ali abordou no Domingo de Páscoa de 1722. O nome actual polinésio de Rapa Nui, ou Rapa Grande, reflecte a preferência dos nativos primitivos, aliás confirmado pelo navegador sueco Thor Ayerdahl
A história da Ilha da Páscoa é rica e controversa, como misteriosa. Os seus habitantes primitivos enfrentaram fomes, epidemias, guerra cívil, assaltos de escravatura e colonialismo. E, a culmatar, a derrocada de ecosistema, principamente devido à deforestação.
A data dos primeiros habitantes, semelhante à das ilhas do Hawai, remonta a 300-400. Mas há discordâncias, pelo que segundo alguns historiadores, a data inicial pode situar-se a 700-800. Populada por etnia polinésia, que para ali aportou em canoas, proveniente das ilhas Marquise, a cerca de 3200km de distância, ou possivelmente das ilhas Tuamotou ou ainda de Pitcairn, a respectivamente 2600 e 2000km de distância. A provar esta hipótese, em 1999 foi feita uma reconstituição de barcos polinésios primitivos entre a Ilha de Páscoa e a de Mangareva, em 17 dias.
Segundo a lenda, registada por missionários nos anos 1860, a ilha era originalmente dominada por um sistema distinto de classe, com um ariki, ou rei, com poder absoluto, desde que os lendários Hotu Matua, inicialmente aportaram à ilha, como é evidente nas enormes e massiças estátuas erguidas e espalhadas pelo litoral, conhecidas por moai, como prova da sua crença, cultura homogénica e sistema de governo. Por razões desconhecidas, de um golpe militar, denominado matatoa, resultou um novo culto baseado no deus excepcional Makemake. A este culto, e particularmemte ao seu sacerdote Tangata Manu, é atribuída a miséria que assolou a ilha no final do século XIII e início do XIX, com a predominância da quebra do ecosistema, danificando as culturas resultando numa fome gradual que provocou doenças e a morte.
Segundo narrativas de 1722 e 1770, as estátuas – 877 na totalidade - eram a única evidência da existência daquela civilização, mas aquando da visita do Capitão Cook, em 1774, muitas delas estavam caídas, resultante das guerras intestinas, particularmente em 1830. Em 1838, a única ainda em pé, encontrava-se nas esfaldas de Rano Raraku e Hoa Hakananaiºa, em Orongo.
Uma série sucessiva de acontecimentos matou e removeu quase toda a população da Ilha, em 1860. A começar por piratas peruvianos, em Dezembro de 1862, com o objectivo de captar pessoas como escravos, estes actos continuaram durante vários meses capturando e matando cerca de 1500 homens e mulheres, cerca de metade da população. Porém, escasso número conseguiu regressar, mas devido a um ataque de varíola, que resultou numa epidemia, deu-se a devastação final da população em que algumas pessoas nem chegaram a ser sepultadas. Aquelas que resistiram, sucumbiram devido à luta entre clans rivais a fim de se apoderarem das terras e propriedades dos mortos, resultando em mais fomes e miséria. E, a agravar a periclitante situação, o primeiro missionário cristão a abordar à ilha, Eugène Eyraud, trouxe com ele a dádiva da tuberculose, em 1867, ceifando um quarto da restante população de 1200 habitantes.
A Ilha da Páscoa foi anexada pelo Chile, em 9 de Setembro de 1888, por Policarpo Toro, por Tratado de Anexação, assinado pelo governo do Chile e a população Rapanui. Até aos anos 1960 os sobreviventes estavam confinados ao acampamento de Hanga Roa, e o resto da ilha alugado à empresa Williamson-Balfour, como herdade de ovinos, até 1953. A ilha passou a ser gerida pela Marinha chilena até 1966, sendo a partir daí reaberta e ao povo Rapanui garantida a cidadania chilena. Em Julho de 2007, a reforma constitucional garantiu à ilha, juntamente às ilhas Juan Fernandez, o estatuto de Territórios Especiais. Dependendo de édito confirmação presidencial, a ilha continuará a ser governada como parte da Região de Valparaíso.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

As epidemias da História

Portugal, embora agora com um caso confirmado, foi um dos países que resistiu aos efeitos do surto de gripe, classificada de Gripe dos Suínos, ou H1N1. Embora, segundo os cientistas da Organização Mundial de Saúde (OMS) e os dos Centros de Prevenção e Controlo (sigla americana CDC), em Atlanta (EUA), considerem que o surto da gripe actual, longe de debelado, "manifesta sinais encorajadores", os efeitos da quase pandemia (cujo termo nada tem a ver com a gravidade, mas extensão geográfica), não são tão maus como inicialmente se previa. A julgar pelo aumento de casos deste fim-de-semana, os avisos, não podiam ser mais sérios. uma vez que são desconhecidos tanto a origem como a natureza do virus. Por isso, os cientistas aconselham cautela, particularmente devido à imprevisibilidade das gripes. Embora a H1N1 aparente a ausência de influentes mutações características dos altos índices de mortalidade de outros surtos notórios, pode regressar no próximo Inverno com consequências mais perigosas.





Como se sabe, além do México, onde o surto teve origem a 23 de Abril e onde deixou, agora oficialmente, 45 mortes e 1626 pacientes afectados, o vizinho Estados Unidos da América, também felizmente com apenas dois mortos, mas com 2254 pessoas contagiadas, em 43 Estados, o adjacente Canadá regista a morte de uma senhora e mais 280 casos de pessoas afectadas. Na América do Sul, tanto a Colômbia, com 3 casos e o Brasil com seis, é o cômputo geral das Américas. No Reino Unido, com 39 casos confirmados (35 na Inglaterra - com cinco escolas encerradas apenas por motivos de prevenção- e quatro na Escócia), mas com 426 casos ainda em investigação. Noutros países europeus, a Espanha é o segundo com maior número de casos - 93, seguida da França com 12, Alemanha com 11, e a Itália nove. Além de Portugal, outros países com apenas um caso confirmado são: Irlanda, Holanda, Áustria, Dinamarca, Suécia, Suíça e Polónia.

Noutros países, destacam-se os sete casos de Israel e da Nova Zelândia, seis no Brasil, quatro no Japão e no Panamá, três na Coreia do Sul e dois em El Salvador, um morto na Costa Rica e apenas um caso na Austrália. Na totalidade, até agora, incluindo ainda a europeia Dinamarca, a gripe dos suínos afectou cerca de 4379 pessoas em 29 países.

A Organização Mundial de Saúde (OMS), atenta a este novo surto, agiu com a rapidez requerida e acompanha atentamente a sua evolução, pelo que avisa que um terço da população mundial pode contrair, no espaço de um ano, a nova forma de gripe e a possibilidade de a nova estirpe se tornar mais virulenta com a evolução da epidemia.

A recente Febre Aviária, oriunda da China, causou compreensível pânico, provocando frescos receios com a corrente eclosão. Porém, seja qual for o nome. Como aponta Keiji Fukuda, da OMS, "não existe um padrão claro sobre surtos de gripe", embora nos possamos preparar, está-se sempre sujeito à mercê dos virus. Quanto ao surto actual, segundo a Associação Americana de Veterinários de Suínos, não houve quaisquer vestígios suspeitos de alerta. O problema, segundo o Dr. Tom Burkgren, citado pela TIME (Maio 18, pág. 17), na ecologia da gripe, como os porcos são facilmente afectados por toda a sorte de gripes - aviária H5N1, SARS e mesmo até HIV - há que prestar-se mais atenção no futuro.

Em relação ao Reino Unido, talvez que o positivo deste novo surto, particularmente em relação à Grã-Bretanha, em que os britânicos não eram muito conhecidos pelo hábito da lavagem das mãos, mesmo nas retretes públicas, com o conselho constante de se lavar as mãos, possam aprender, resultando num hábito permanente.

Medidas de prevenção draconianas

Equanto a Russia, embora com aviso em contrário da OMS sobre carne cozinhada, proíbiu a importação de produtos porcinos da Espanha, a China proibiu vôos aéreos provenientes do México e submeteu 70 passageiros a "isolamento injustificado"..

Historial de morte

Embora os surtos variem, exigindo constantes análises e novas vacinas, a gripe, porém, é de carácter endémico, pelo que continua sem cura. Só no ano passado, no Reino Unido, morreram cerca de 15 mil pessoas, vítimas de gripe comum, portanto que nada teve a ver com o surto actual, aliás menos rigoroso e fatal.

Dentre as tragédias humanas, a febre bubónica, que eclodiu na Europa no século XIV, ceifou 25 milhões de pessoas A cólera, que igualmente atingiu o velho continente em 1830, embora menos fatal, ceifou, igualmente, vastíssimo número de vítimas. Mas qualquer destes grandes males, embora por alguns na época atribuídos à "Ira de Deus", segundo peritos, deram lugar a necessárias e importantes transformações nas sociedades. Se em relação ao primeiro caso, poderá ter contribuído para o fermento da Renascensa; no segundo deu lugar à completa transformação da sanidade e higiena públicas.

Em épocas mais recentes, os surtos principais eclodiram tanto em 1957 como em 1968. Embora surtos não muito severos, provocaram, contudo dois milhões e um milhão de mortes respectivamente. Porém, o surto de gripe, erroneamente chamada de Espanhola, pois nada teve a ver com o país vizinho, foi o pior do século passado, ceifando cerca de 100 milhões de pessoas, ironicamente jovens e pessoas normalmente mais saudáveis, normalmente as mais resistentes.

sábado, 25 de abril de 2009

RECORDAR O 25 DE ABRIL VIVIDO EM LONDRES

Num dos mais conhecidos e importantes clubes de “gentlemen”, o Reform Club e principalmente antes de 1974. sempre que o autor se identificava como cidadão português, regra geral era olhado com um misto de piedade. Essa a então imagem do nosso país no estrangeiro, devido ao regime de Salazar. A contrastar, em e depois de 25 de Abril, além dos efusivos cumprimentos, viu-se rodeado de interessados que procuravam acompanhar o decorrer do golpe e o futuro do país.

25 de Abril, dia extraordinário! Nessa altura, como o autor acompanhava sempre, devido à excelente recepção, o noticiário das 24 horas, da então Emissora Nacional, quando começou a sintonizar notou algo de estranho em relação à programação normal. Mantendo sempre o rádio ligado, só se rendeu ao sono por volta das quatro horas da manhã, para acordar num novo dia de liberdade. No novo dia da democracia! Os dias seguintes foram acompanhados com enorme trepidação, pelo que predominou a euforia principalmente junto dos colegas da Secção Portuguesa da BBC aos quais se juntaram os da Brasileira. Uma boa justificação, para, quando muitos dos seus amigos e contactos ingleses ao fazerem questão de falar com o autor felicitavam-no efusivamente pelo facto do seu país regressar, finalmente, ao seio da Democracia.

Enquanto isso, tanto a rádio (BBC) como as televisões e os matutinos, compreensivelmente, não falavam noutra coisa senão na que ficaria conhecida por Revolução dos Cravos, facto que ocupou, durante muito tempo, a comunicação social. Mas se as imagens da televisão e as reportagens radiofónicas reflectiam o compreensível regozijo, os jornais, salvo raríssimas excepções, fizeram-no com reservas iniciais.

Da imprensa, o mais efusivo foi o The Guardian, cuja edição do dia 26 de Abril dedicou quase toda a primeira página, bem como outros comentários nas páginas interiores, incluindo o que era companhado do curioso título de "Curso-sandwich em Revolução". Em letras garrafais, que "A Junta de Lisboa promete a liberdade", seguia-se outro título complementar a afirmar que "A Guerra em África pode vir a terminar". Assinale-se que nesta edição tomou também parte o falecido e amigo jornalista português, António Figueiredo, que, na altura, colaborava com este matutino. Outras notícias de primeira página, uma apontava que embora o acontecimento fosse bem recebido pela OTAN, constituía, no entanto, um dilema para o então governo de Harold Wilson e, a outra, manifestava a preocupação pela segurança dos então citados 6000 cidadãos ingleses, como os cerca de 4000 turistas que se encontravam de férias em Portugal. Outra ainda, referia-se aos efeitos que os acontecimentos de Lisboa poderiam ter tanto na África do Sul como na então Rodésia e actualmente Zimbabué.

O The Guardian foi o matutino que mais e melhor informação deu sobre a realidade Portuguesa. Segundo o correspondente diplomático daquele matutino, o dilema residia na questão do reconhecimento de uma junta militar num país aliado e membro da NATO e, particularmente, na Europa. Isto, porque, estava ainda fresca a imagem da ditadura militar na Grécia. Mas o The Guardian, noutra notícia, salientava que embora o Parlamento (britânico) se encontrasse de férias (da Páscoa), os deputados trabalhistas da ala esquerda seriam os próprios a promover o reconhecimento do novo regime, na semana seguinte. E, no que concerne à segunda, especulavam-se as consequências - e as desejadas ilações - para os regimes vizinhos da África Austral.
A fazer juz à cobertura, por parte deste matutino, o autor escreveu a elogiar e agradecer, com a seguinte carta publicada na secção de Cartas ao Director na edição de 9 de Maio de 1974: "Como Português a viver neste país, tenho sempre seguido com muito interesse, particularmente agora, a cobertura sobre os recentes acontecimentos no meu país por parte dos órgãos britânicos da comunicação social. Por isso, gostaria de registar e agradecer-lhe, bem como a todos os jornalistas do periódico que V. Exa. dirige, pelo excelente trabalho manifestado na cobertura de primeira classe, verdadeiro benefício para os seus leitores, sobre os acontecimentos recentes, actuais e certamente futuros sobre Portugal."

Porém, O The Times, a justificar a sua então reconhecida isenção, foi o que mais céptico se manifestou sobre o futuro e consequências da Revolução de Abril e o Daily Telegraph o mais opinioso e até ousado ao apontar, igualmente em editorial, que o regime deposto pagou o preço por ser incauto.

domingo, 29 de março de 2009

ESTE NOSSO PLANETA TERRA – Compreendê-lo, para melhor o preservar

OCEANOS (II de VI)

1.Introdução
Os oceanos, juntamente aos mares marginais, cobrem aproximadamente 71% (361 milhões de Km2) da superfície da Terra, e têm a profundidade média de 3.765 metros, sendo a zona mais profunda de 11.022 metros. Nesta, a pressão do oceano atinge mais de uma tonelada por centímetro2, o equivalente à impossível façanha de um ser humano aguentar 50 aviões 747!

2- Origens
Esta bruta massa líquida, embora surgisse na fase geológica da Terra, a informação sobre a sua origem é praticamente inexistente. Porém, fósseis datados do período Pre-cambriano, ou seja, há 3,3 biliões de anos, manifestam a presença tanto de bactéria como de cianobactéria (algas azuis-verdes), o que sugere a existência de água durante este período. Estas Rochas sedimentárias carbonadas, obviamente situadas num ambiente aquático, apontam para o período de um bilião de anos atrás. Evidência fóssil de algas marinhas primitivas e de invertebrados, surge, igualmente, no início do Período Cambriano, ou seja, cerca de 540 milhões de anos a esta parte.

Investigações recentes, efectuadas por uma equipa de cientistas, chefiada pelo marinologista, Paul Rose, de que resultou a maravilhosa série da BBC Oceanos (transmitida no Reino Unido entre Novembro e Dezembro de 2008), tanto este como a colega marinobióloga, Tooni Mahto, ao investigarem o estranho buraco conhecido por Buraco Negro de South Andros, nas Bahamas, e a uma profundidade de mais de 200 metros, depararam com uma espessa camada purpúrea de batéria oxigenada e, portanto, altamente prejudicial ao ser humano, oxidando, de imediato, o equipamento. Segundo estes cientistas, esta camada, onde penetraram apenas um pouco abaixo da sua superfície, chegado a arriscar o corpo humano, e que devido à sua profundidade não beneficiou do necessário oxigénio, é prova do estado inicial dos oceanos há 3.5 biliões de anos, que, obviamente, evoluiram graças à crescente oxigenação proporcionada pelos Estromatolitas, aparentes arbustos nas profundidades marítimas e criaturas responsáveis pela transformação dos oceanos na indispensável produção de oxigénio e que também filmaram.

Também não há documentação sobre a existência física de água na Terra, em período anterior. Porém, tem sido sugerido que a hidrosfera primitiva teria resultado da condensação oriunda da atmosfera inicial. O rácio de certos elementos da Terra aponta (como vimos no capítulo anterior), que o Planeta foi formado pela acumulação de poeira cósmica, lentamente aquecida por calor rádioactivo sobre pressão. Este calor provocou a separação gradual, e a migração de materiais que formaram a superfície terrestre, ou seja a manta e a crosta. Julga-se que a atmosfera primitiva, altamente reduzida e rica em gases, nomeadamente hidrogénio, teria incluído vapor de água.

A temperatura da superfície da Terra e as pressões parciais dos gases individuais da atmosfera primitiva afectaram o equilíbrio desta última com a superfície terrestre. Com o decorrer do tempo o interior do planeta continuou a aquecer, a composição dos gases que escapavam do interior deste último, gradualmente alteraram as propriedades atmosféricas, produzindo uma rica mistura gasosa de dióxido de carbono (CO2), monóxido de carbono (CO) e nitrogénio molecular (N2). A fotodissuasão, isto é, a separação resultante da energia da luz do vapor da água em hidrogénio molecular (H2), e oxigénio molecular (O2) na atmosfera superior, fez com que o hidrogénio escapasse permitindo o aumento progressivo da pressão parcial do oxigénio na superfície da Terra. A reacção deste oxigénio juntamente aos materiais da superfície, provocaram gradualmente a pressão do vapor da água, aumentando-a a um nível capaz de permitir a formação da água líquida. A formação desta, acumulando-se em depressões isoladas da superfície da Terra, deu lugar à origem dos oceanos.

O conteúdo de dióxido de carbono, nessa altura presente na atmosfera, permitiu o seu aglomerar, que, dissolvido na água, fez os oceanos ácidos, e, assim, aptos a dissolver a superfície das rochas, contribuindo para o aumento do conteúdo salínico da água. A água, evaporada rapidamente, condensou-se, mas, a princípio, num processo de acumulação lenta. A lentidão da acumulação do oxigénio da atmosfera ficou a dever-se ao facto da existência da quantidade de gás utilizado no processo de oxidização do metano, amoníaco e rochas expostas com elevados índices de ferro. A pressão parcial do gás de oxigénio na atmosfera aumentou gradualmente, resultante da fotosíntese da bactéria e da fase fotodesassociativa continuando, porém, a fornecer oxigénio. O processo biológico referente às algas aumentou, provocando a redução gradual do conteúdo do dióxido de carbono, mas aumentando o oxigénio na atmosfera até que este, produzido pelos processo biológicos, suplantasse o que era resultante da fotodissuasão contribuindo para a formação acelerada da superfície da água e o consequente desenvolvimento dos oceanos.

3. O importante papel da temperatura
A Terra é única no sistema solar devido à sua distância do Sol (149.573.881 kms – percurso que leva oito minutos), e ao período de rotação. A combinação destes submetem o Planeta a um nível de radiação solar que o mantém a uma temperatura média da superfície a 16º, variando pouco durante os ciclos anuais do dia/noite. Esta temperatura média permite que água exista na Terra em três das suas fases – sólida, líquida e gasosa. Nenhum outro planeta do sistema solar partilha desta qualidade. A fase líquida é predominante na Terra. Em termos de volume, 97,957% da água do planeta existe como água oceânica, associada ao gelo marítimo. A fase gasosa e gotícola, na atmosfera, constitui 0,001%. A água fresca dos lagos e dos rios situa-se em 0,036%, a subterrânea é 10 vezes superior, ou seja 0,365% e a dos glaciares 1,641% do volume total da água terrestre.

Qualquer das fases anteriores é considerada como reservatório. A água, porém, circula entre estes reservatórios, fase considerada como ciclo hidrológico, movido pela energia solar. A evaporação, precipitação, movimento atmosférico e as correntes dos rios, glaciares e a água subterrânea, mantêm a àgua em moção entre os reservatórios mantendo o ciclo hidrológico. O vasto leque de volumes destes reservatórios e as taxas médias intermédias dos ciclos, em conjunto, permitem a criação de importantes condições na Terra. Caso pequenas variantes ocorram, na média em que a água é ciclada para dentro ou para fora de um reservatório, o volume deste varia. Estas alterações de volume podem ser relativamente grandes e rápidas num pequeno reservatório ou pequenas e lentas num reservatório grande. Uma pequena alteração da percentagem do volume dos oceanos pode produzir uma vasta alteração, proporcional no reservatório terra-gelo, resultando, portanto, em fases glaciais e interglaciais. A média, na qual a água entra ou sai do reservatório, dividida pelo volume deste, determina o tempo de residência deste líquido no reservatório. Por sua vez, o período de permanência governa muitas das propriedades do reservatório.

4. Limites oceanográficos
Peritos oceanográficos consideram apenas a existência de três oceanos: Pacífico - superfície 180 milhões de km2, profundidade média 3940 metros, com a zona mais profunda de 11022metros; Atlântico, também o mais recente dos três – superfície 107 milhões de metros2, profundidade média 3310 metros com a zona mais profunda de 8605 metros; Indico – superfície 74 milhões de metros2, profundidade média 3840 metros com a zona mais profunda de 7258 metros. (O Oceano Árctico é considerado como uma extensão do Atlântico). Limites arbitrários separam-nos no Hemisfério Sul. Uma das fronteiras parte do Cabo da Boa Esperança, a sul, até à Antárctica, enquanto outra também para sul a partir do Cabo Horn e, a última, passa pela Malásia e Indonésia à Austrália e, dali, para a Antárctica. Há quem faça várias subdivisões a fim de distinguir os limites marítimos e dos golfos a partir da história, política e até do significado ecológico. Porém, tanto as propriedades aquáticas como as correntes oceânicas e populações biológicas não permitem o reconhecimento destas fronteiras. Aliás, isso acontece com muitos investigadores. Aponte-se ainda que a zona oceânica à volta da Antárctica é considerada por alguns como o Oceano do Sul.


Fontes: Agradecimento a: The Ocean – Our Future (Editora Cambridge University Press – 1998), Comissão presidida pelo Dr. Mário Soares, Enciclopédia Britânica e Science Desk Reference (Editora MACMILLAN USA, Edição de 1995), série televisiva da BBC, Oceans (exibida no Reino Unido entre Novembro e Dezembro).

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Comemorar Charles Darwin

Recordar Charles (Robert) Darwin, o “pai” da Teoria da Evolução (no seu segundo centenário de nascimento e século e meio da publicação da sua controversa obra – A Origem das Espécies)



Mal sabia o jovem de 22 anos, desde rapaz, apaixonado e incansável coleccionador de insectos, Charles Darwin, de seu nome, que, a 27 de Dezembro de 1831, com o céu cristalino, ao encetar a sua aventura, resultaria na longa e atribulada viagem de cinco anos. Menos sabia também que ao pôr pé no Beagle, além de concretizar o apelo que lhe fora fulminado por Alexander von Humboldt, na sua aventura na América do Sul, para onde se dirigia, embora convidado do comandante do navio, o jovem naturalista aristocrata, Robert Fitzroy, mas que fez questão em pagar as despesas da viagem, esta sua aventura transformaria por completo uma ainda tenra e incerta vida, inicialmente dedicada ao sacerdócio. Este familiar do aclamado industrial de louça decorativa, Josiah Wedgewood, depois de falhar no curso de Medicina recomendado pelo pai, na Universidade de Edimburgo, por detestar esquartejar corpos humanos, interessou-se particularmente pela história natural, passando a maior parte do seu tempo a estudar plantas, insectos e animais. Ali, o falhado médico, numa universidade caracterizada por dissidentes radicais recusados tanto por Oxford como por Cambridge, seria, porém, e para sempre, marcado pela influência do condiscípulo Robert Edmond Grant, evolucionista radical e discípulo do biólogo francês Jean-Baptiste Lamarck. Em 1828, porém, por insistência do pai, ingressou no Christ's College, em Cambridge, onde se formaria no sacerdócio, concluindo o curso em 1831.



Esta influência seria o verdadeiro percussor da origem da teoria que revolucionaria tanto o  pensamento cristão como o mundo científico em geral sobre a criação. Embora atribuída às observações e conclusões obtidas na Ilhas Galápagos, (ver vistas acima), sustentam notáveis figuras académicas como David Quammen, ocorreram antes, em Setembro de 1812, nas pampas argentinas da  Baía Blanca, mais propriamente em Punta Alta, a 600kms sul de Buenos Aires, não resultante de animais vivos, como tentilhões e os seus intrigantes e diferentes bicos, ou tartarugas gigantes, mas de fósseis do período plistocénio em que foram descobertos resquícios de nove mamíferos gigantes até então completa ou quase desconhecidos do Homem. Dentre estes mamíferos, exclusivamente oriundos das Américas e extintos há praticamente 12 mil anos atrás, destaca-se o Megatério, animal semelhante ao elefante, já baptizado pelo anatomista francês Georges Cuvier, e muitos outros excavados como e nomeadamente o também extinto Macrauquenia, um tipo de camelo, possivelmente antecessor tanto do guanaco e vicuna, como da llama e da alpaca, igualmente oriundos daquele continente. Mas não foram apenas as pampas argentinas ou as florestas de Salvador que fascinaram o jovem cientista. Em Cabo Verde, em Janeiro de 1832, Darwin ficou maravilhado com a enorme quantidade de ostras que via.

Metódico e diligente, aliás uma das importantes características do novo cientista, as múltiplas descobertas e constantes envios de animais considerados raros, tanto aves, insectos, como mamíferos ou restos deles, como foi o caso da célebre estrutura óssea do crâneo do Toxodon platensis, tipo de um hipopótamo extinto,  adquirido  por Darwin por uma irrisória quantia a um agricultor do Uruguai, para cientistas amigos e conhecidos na Inglaterra, que o ajudaram no devido estudo e classificação, dentre os quais se destaca o mais famoso zoologista do seu tempo, particularmente de animais extintos, Richard Owen, o convicto cristão fundador do Museu da História Natural, que, mais tarde, devido à descoberta da teoria do amigo dele se desligou.
Todas estas descobertas ao fim dos cinco anos de viagem resultariam numa interrogação e luta constantes na sua residência, em Downhouse, no condado de Kent (sul da Inglaterra), agora museu à sua memória. Cuidadosamente coligidos, lidos, relidos, acompanhados de comentários e solicitações às figuras mais conhecidos da época, minado pela dúvida e pelas profundas consequências que as suas perturbantes descobertas teriam, os seus passeios no jardím e parque vizinhos dominavam, atormentavam o sacerdote Darwin, marido de uma extraordinariamente convicta mulher cristã, que a acompanhava à porta da igreja, sem nela entrar. As consequências das suas convicções, que o dominariam durante um terço da sua longa vida, provocar-lhe-iam crises de vómitos e torturas constantes. Hesitante, adiando constantemente a publicação das suas teorías, um volume que daría lugar a mais de 400 páginas, chegando a escrever uma carta à mulher em que, caso morresse antes dela, lhe garantisse que tudo faria para que o seu manuscrito fosse publicado, para o qual destinava uma verba adequada; o dia da decisão finalmente chegou de uma forma aliás inesperada ao receber, em Junho de 1858, uma encomenda com um livro, enviada da Indonésia por um tal e conhecido Alfred Russell Wallace, que, tal como ele, avançava ideias semelhantes. Preocupado em perder o devido mérito, decide-se, finalmente, pela publicação. Entretanto, porém, o devido reconhecimento científico da autoria de tão revolucionária teoría caberia à Sociedade Real, em Julho de 1858. Na ausência dos dois autores, Wallace a milhares de quilómetros de distância, e Darwin, embora na vizinha Kent, mas impossibilitado de se deslocar a Londres por morte do filho mais velho, a solução, e  devido veredicto final seriam, porém, adiados.
Em Novembro de 1859, a primeira edição da Origem das Espécies, esgotou-se de imediato, seguindo-se-lhe outras cinco edições durante a vida do autor. Provocando a imediata a esperada revolta, não só no seu país como em todo o mundo, de que todos conhecemos até aos días de hoje, nomeadamente nos Estados Unidos da América, particularmente nos inúmeros círculos cristãos ortodoxos, dando lugar a um museu exclusivamente dedicado a refutar tais inaceitáveis e altamente nefastas ideias.
A virtude da visão de Darwin reside particularmente  no facto de até então não existirem provas cabalmente confirmativas das suas teses. Embora começassem a surgir em 1957, com a descoberta da existência de organismos vivos em rochas, por Roger Mason, cujas amostras iniciais se encontram no Museu de Leicester, no centro da Inglaterra, outro passo importante competiría à cientista polaca Marie Curie, então em Paris, ao descobrir a radioactividade do urânio. Estava aberto o caminho da leitura da origem da idade das rochas, em que nova evidência surgiría tanto na Austrália como nas pedreiras de louza da Baviera, na Alemanha. Porém, persistía a incógnita sobre o facto das descobertas de fósseis em váios pontos do mundo. E, embora a possível chave residisse na teoría de um zoologista alemão, que avançava com a hipótese de que os continentes teriam estado ligados, separando-se milhões de anos, mais tarde, só a partir de 1960, é que foi possível demonstrar com a separação das placas e das rochas, dando origem aos continentes (vejam-se os meus posts intitulados O Planeta Terra, Conhecê-lo para Melhor o Preservar).
A evidência crucial sobre a origem das espécies e a confirmação da teoria de Darwin, porém, deve-se aos cientistas  Francis Crick e James Watson, que em 1953 descobriram, em Cambridge (Inglaterra), a revolucionária hélix decifradora do DNA, ou seja a origem da vida e, consequentemente, a solução mais do que cabal sobre a origem das espécies. A ironia está no facto de que o primeiro era neto do naturalista amador e sapateiro, chamado Walter Drawbridge Crick, que duas semanas antes da morte de Darwin lhe mandara um minúsculo escaravelho cuja pata segurava um insecto, permitindo-lhe a elaboração do seu derradeiro estudo. Outra prova, o elo de ligação entre a evolução dos animais marinhos, aos quais se atribui a origem dos seres viventes, deve-se ao paleontologista Neil Shubin, que descobriu nas rochas do Árctico canadiano, em 2004 a caveira do peixe gigante Tiktaalik Roseae, de características terrestres, de 375 milhões de anos, com o qual traça a jornada da vida do mar para a terra.

À medida em que a ciência, particularmente a da genética progride, mais as teorías de Darwin são confirmadas, o que é notável para um homem de visão extraordinária, 200 anos antes. Dentre as várias recentes descobertas destacam-se tanto a rapidez da evolução pela selecção natural, que Darwin considerava ser lenta, como a evolução e adaptação de certas aves, animais e até seres marinhos, ao ambiente. Se no bico dos tentilhões ou no pelo dos ratos se constata a evidência da selecção natural em moção, moldando e modificando os genes individuais para adaptar o organismo às suas circunstâncias particulares, outras provas confirmam a notável visão de Darwin. O que, porém, no que o notável pensador errou foi no período do decurso da evolução, que julgava ser longa e lenta. Porém, segundo o cientista David Reznick, afinal, a evolução é produto de apenas uns poucos anos. Outras notáveis descobertas, uma sobre o gene da proteína BMP4, no qual reside a resposta da mudança do tamanho e cor dos bicos dos tentilhões, que tanto intrigaram Darwin, a este gene se deve também semelhantes alterações nos peixes, em continentes diferentes. A outro gene, FOXP2, por exemplo, deve-se a habilidade das aves cantarem e até dos ratos aprenderam as sequências dos movimentos rápidos, descoberta da neurobiologista alemã Constance Scharff.

Charles Darwin, nasceu a 12 de Fevereiro de 1809, em Shrewsbury, condado de Shropshire (centro-sul da Inglaterra), e morreu a 19 de Abril de 1882, em Downe, no condado de Kent (sul da Inglaterra). Embora agnóstico, a Darwin foi concedido o raro privilégio de ser sepultado na mais conhecida catedral do país – A Abadia de Westminster.





Fontes e agradecimento: Darwin, de autoria de Adrian Desmond e James Moore (edição de Michael Joseph – Londres, 1991), Enciclopedia Britânica, National Geographic (edição em inglês, Fevereiro de 2009) e o documentário da BBC, Charles Darwin and The Tree of Life (Charles Darwin e a Árvore da Vida), exibido em Fevereiro de 2009 no canal BBC1.

sábado, 31 de janeiro de 2009

Aristides Sousa Mendes – O Heroi Banido - finalmente em foco no Reino Unido

Aristides Sousa Mendes (ASM), que respeitadas figuras judáicas dizem ser uma figura muito admirada e venerada na sua comunidade, atinge uma nova e justificadíssima dimensão no Reino Unido. Embora desconhecido pelo grande público actual, o generoso e extraordinário cônsul-geral em Bordéus, nos negros anos da década de 1940, vai atingir a merecida plataforma da popularidade com a estreia em Londres da peça de teatro Aristides Sousa Mendes – O Heroi Banido, em exibição até 22 de Fevereiro.

Não se compreende, porém, que um HOMEM, a quem se deve a redenção de mais de 30 mil pessoas (muitas dels judias e não só, incluindo a aristocracia da família Habsburg e individualidades do mundo financeiro como os Rockefeller e figuras académicas como Eduardo Meira Laport), em circunstâncias de extraodinária bravura, elevadíssimos sentimentos humanos aliados às suas convicções religiosas, ao desafiar o governo, mas principalmente Salazar e ignorar a sua detestável Circular 13, que negava os cobiçados vistos para a liberdade da multidão que fugindo à aproximação das hordes nazis assediou as imediações do Consulado em Bordéus nos quentes dias de Maio e Junho de 1940, naquela que foi uma das grandes tragédias do século passado. Arriscando tanto o seu certo e promissor futuro diplomático e arrastando a sua numerosa família para a que se tornou incompreensível miséria e ignominioso abandono, durante três dias e três noites, além de dar guarida e alimentos a muitos na sua residência, como foi o caso do rabi Kruger, movido pelos seus reconhecidos “deveres cristãos” em que “todos somos judeus”, salvo escassas excepções, a este ABNEGADO e INVULGAR HOMEM, o Mundo em geral, não lhe tenha ainda prestado o JUSTO E MERECIDO RECONHECIMENTO. O que é mais lamentável, como ficou bem patente neste magnífico testemunho teatral, foi o facto do descaramento do regime, e do próprio Salazar, roubar o mérito, sacrifício e esforço de ASM, arrogando-se salvador das dezenas de milhar das que poderiam ser inevitáveis vítimas. Que arrojo, que insensatez, que imperdoável INSULTO!

Talvez que esta iniciativa da actriz-realizadora-dramaturga, Alice de Sousa, possa, como se deseja, ser o primeiro e importante passo do desejado e mais amplo reconhecimento. E, como já vem sendo hábito, embora premiada no estrangeiro – e por estrangeiros (pois é detentora de dois cobiçados títulos Great Women of the 21st Century, atribuído em 2004 pelo Instituto Biográfico Americano e - tributo idêntico, no ano sguinte, como Mulher do Ano), continua a ser-lhe negado por quem de direito em Portugal! Até quando? Insistimos. A esta cidadã, que se radicou, em 1986, formou e estoicamente luta pela divulgação da cultura portuguesa nesta terra de acolhimento, a ela, deve-se já um brilhante palmarés na divulgação actual do teatro e literatura portuguesas no Reino Unido, com aclamadas realizações nomeadamente a Morgadinha dos Canaviais, Inês de Castro, O Primo Basílio, Os Maias e, mais recentemente, a peça de Stau Monteiro, Felizmente ao Luar.

Mas nesta sua diferente e nova produção à frente da por ela fundada Companhia Teatro Galeão, em 2004, no conhecido Greenwich Playhouse do famosíssimo bairro de Greenwich, no sul de Londres, recebida com justificadíssima aclamação por um atenta e envolvida audiência, que não podia esconder compreensíveis lágrimas, rasgou novos horizontes. Dentre o numeroso público nesta merecida homenagem ao Banido Heroi, além dos seus netos, Álvaro e António de Sousa Mendes, que propositadamente se deslocaram a Londres para a estreia, viam-se tato o cônsul-geral como o embaixador de Portugal no Reino Unido, Dr. António Santana Carlos, a Conselheira Cultural de Israel em Londres, o presidente da câmara de Greenwich e esposa, bem como vários jornalistas portugueses e britânicos.

O papel de ASM, a cargo do conhecido actor-encenador, Bruce Jamieson, e o do seu zeloso assistente Seabra confiado a Robert Paul, bem como o da mulher, Maria Angelina, interpretado pela artista australiana Sue Broberg, dentre os principais artistas desta excelente companhia, a eles se deve o vívido testemunho, aliás, reconhecido pelos netos do visado que justificadamente atribuíram o devido mérito. Uma das suas funções, nesta breve deslocação à capital britânica, foi igualmente divulgar a Fundação Aristides Sousa Mendes e o futuro museu na terra do autor, em Cabanas de Viriato, Mangualde.

Salientamos os pontos altos deste documento histórico teatral: a dôr dos familiares pela situação alarmante da vasta multidão que recorria ao consulado face à intranzigência do governo português na concessão dos vistos; a súplica do rabi Kruger, primeiro para si, mas especialmente pela multidão; a decisão da concessão de vistos; o freneticismo da emissão dos mesmos e a grande relutância do vice-cônsul Seabra e os rogos do conde Dedenfeld, acompanhado da pasta recheada de passaportes pertencentes à aristocracia Habsburgo.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

ESTE NOSSO PLANETA TERRA – Compreendê-lo, para melhor o preservar - ORIGENS E COMPOSIÇÃO ( I de VI)

Praticamente 10 mil anos após a Idade do Gelo, a Terra permanece abafada, tal panela da pressão, a altas temperaturas, em várias partes do Globo. E, se, num ápice, pode explodir, o aumento dramático, nomeadamente a superpopulação e a inusitada e desenfreada exploração do planeta, mais problemas provocam à já cada vez mais evidente vulnerabilidade da sociedade moderna, sujeita a cataclismos naturais, como terramotos, tsunames, cheias e erupções vulcânicas.

1. INTRODUÇÃO
A Terra é o mais dinâmico planeta do sistema solar. Mas a este dinamismo deve-se o nosso campo magnético protector - a atmosfera, os oceanos e, claro, a nossa própria existência. Porém a dádiva destas importantes características geofísicas, constitui, por si própria, um perigo. Vejamos: Os vulcões espectaculares, que na história inicial do nosso Planeta contribuiram para a criação da atmosfera, bem como dos oceanos, a ambos, só nos três últimos séculos, deve-se a morte de um quarto de milhão de pessoas e um-sem-número de outras feridas. O mesmo acontece com as chuvas, que sendo indispensáveis ao abastecimento dos nossos rios, e às quais se deve a água potável, sem a qual não podemos existir, foram, no entanto, causadoras, em época recente, de vasta destruição que atingiu proporções bíblicas em inundações jamais vistas. Como veremos mais tarde nos artigos sobre Clima e Aquecimento Global, desde a Coreia e China, Bangladesh, à Venezuela, Brasil (nos estados de Minas Gerais e de Santa Catarina, em Dezembro de 2008 e Janeiro de 2009, provocando dezenas de milhar de desalojados e 135 mortes), Moçambique até à Europa - Itália, mas principalmente a Inglaterra, onde as profundas alterações da pluviosidade e de tempestades, particularmente em cheias jamais vistas desde o início dos registos do século XVIII, particularmente em Agosto de 2001 e 2008, este último o mais pluvioso de sempre, o fenómeno é cada vez mais avassalador. Em todo o mundo, desde 1990, num só ano, morreram aproximadamente 20.000 pessoas. Na China e no Bangladesh as cheias dos seus rios principais devastaram estes países provocando a miséria a centenas de milhões de habitantes. O mesmo se pode dizer em relação aos nevões e consequentes avalanches. Tudo isto, apenas, para lembrar que embora a natureza seja benfeitora, há que ponderar nas suas frivolidades e brusco temperamento. E que dizer das devastações provocadas tanto pelos furacões, nomeadamente o furacão Katrina, no litoral sul dos EUA, que provocou 1500 mortes, e prejuízos orçados em 150 biliões de dólares, ou o Furacão Mitch, que devastou a América Central provocando a morte de mais de 25000 pessoas, bem como os danos causados pelo “El Nino”, nomeadamente em 1982 e 1983?(*)

Para isso, há que atentar-se e compreender a Terra, especialmente em como foi formada e como funciona. Um planeta com um historial de mais de 4,6 biliões de anos, prenhe em complexidades, não é fácil resumi-lo. Por isso, há que limitar-nos apenas a escassos contornos, particularmente aqueles mais susceptíveis a criar problemas.

2. EVOLUÇÃO
Desde a sua origem, verdadeira roleta, em que de um gigante caldo residual, a girar à volta do Sol primordial, dentre os idênticos triliões, conseguiu vingar e solidificar, como o concretizou, particularmente depois dos inúmeros choques com outros corpos celestiais ou, ainda, contra mais fortes e mais influentes campos de gravidade, adensa-se o mistério! Nessa fase, cientificamente classificada de acréscimo, que envolveu tanto a Terra como outros planetas, que ao colidirem com outros corpos menores absorveram-nos, o processo, que ficou concluído há quatro biliões de anos, conheceu um período de relativa establidade. Isso não significa, porém, que embora colisões com asteroides ou cometas, com consequências catastróficas, não tenham posteriormente ocorrido, persistindo novas ameaças, uma vez que existem 718 probabilidades, nomeadamente o recém descoberto Apep (Destruídor) cuja passagem, nas proximidades da órbitra da Terra, está prevista para 13 de Abril de 2029. Nessa fase, a enorme temperatura provocada pelas colisões, aliada à produzida por altas concentrações de elementos radioactivos no seio da Terra, teria permitido a superfície formada por um agitadíssimo oceano de magma de, possivelmente, 400 km de profundidade. As temperaturas deste período eram comparáveis às estrelas mais resfriadas, aproximando-se dos 5000 graus célsios. Recorde-se que a temperatura do centro solar é de 14 biliões de graus centígrados!

Inevitavelmente sempre que a rocha em fusão deparou com zonas mais frias, a temperatura resfriou rapidamente permitindo a solidificação das zonas superficiais da magma, criando uma crosta menos densa. A acção demolidora das correntes fez com que a crosta da Terra nunca se transformasse em couraça, resultando, antes, em placas rochosas, separadas e movíveis em relação a uma e à outra, no topo de lentas correntes de convecção. Com a formação da crosta, alterações profundas ocorreram no interior da Terra, em que elementos mais pesados, como o ferro e o níquel, provocaram o afundamento lento. Mas devido tanto às elevadíssimas pressões como às condições da temperatura da camada externa, mantiveram-se em fusão. Esta massa líquida, rodando em simpatia com a rotação da Terra, gerou, no processo, um campo magnético responsável pela protecção da superfície ao bloquear a radiação perniciosa do espaço, dando lugar aos meios seguros de navegação sem os quais os nossos pioneiros navegadores estariam impossibilitados de regressar ao ponto de partida.

3. COMPOSIÇÃO
O interior da Terra é composto por uma estrutura tripla: crosta de silicatos de baixa densidade, ou seja minerais incorporados nas rochas (que, segundo o cientista americano, Robert Hagen, existem 4000), resultantes da acção vulcânica, sedimentação e sepultura. Aponte-se ainda que um destes minerais, o zircão, foi objecto de um estudo recente realizado por cientistas das Ciências da Terra da Universidade da Califórnia. De acordo com o artigo publicado na Nature (vide notícia sobre o assunto publicado no Diário de Notícias (Ciência - 28/11/08), os minerais de zircão, com base em amostras deste metal encontrado na Austrália, “consideradas como as mais antigas que se conhecem, ter-se-ão formado há 4 mil milhões de anos e a uma temperatura aproximada dos 700 graus Celsius, um valor incompatível com um mundo a fervilhar de magma e de fogo.” A Capa parcialmente em fusão, é formada por minerais de alta densidade, como silicatos, ferro e níquel portadores de impurezas. Aqui, aponte-se, a razão de muitas catástrofes naturais devem-se principalmente à necessidade do Planeta reduzir o calor intenso do seu interior, resultante da decadência constante dos elementos radioactivos. Tal como aconteceu nos primórdios da Terra, o proceso repete-se até à superfície pelas correntes de convecção no interior da capa. Por sua vez, estas correntes, representam a força motriz que projecta as enormes placas à superfície do Planeta e que sustentam o conceito das Placas Tectónicas usadas pelos geofísicos para exemplificarem o funcionamento da Terra.

4. ORIGEM DOS RISCOS
O movimento relativo das placas, compostas pela crosta e pela parte superior rígida da capa, conhecidas no seu todo por litosfera, estão, por sua vez, directamente relacionados com os principais desastres geológicos – tremores de terra e vulcões – primariamente situados nas margens das placas. Exemplos das principais, aliás notáveis pela tendência de terramotos, são a Falha de Santo André, ou seja a zona que separa o oeste da Califórnia com o resto dos EUA, e a Falha do Norte da Anatólia, na Turquia, cujo movimento mais recente provocou o grande terramoto de 1999. Alternativamente, duas placas podem colidir frontalmente. Caso ambas sustentem continentes na base de granito de baixa intensidade, como é o caso das placas tanto do Oceano Índico como da Eurásia, dão lugar ao aparecimento de altas e longas cordilheiras, resultantes da colisão, como aconteceu com os Himalaias e, simultaneamente, a formação de grandes terramotos como os que fizeram desaparecer a região indiana de Bhuj, em Janeiro de 2001. Porém, caso uma placa oceânica, composta por denso basalto, colida com uma placa continental de baixa densidade, aquela, ao mergulhar sob a outra, contacta com e despoleta de imediato, a manta convectora em fusão. Mal uma placa se enfia por debaixo de outra, processo definido por supressão ou subducção, resulta nos maiores terramotos mundiais jamais observados. Este, o caso dos grandes terramotos do Chile, em 1960, Alasca em 1964 e, mais recentemente, o de Sumatra (Indonésia) em 2004, em que qualquer dos três resultou em poderosos tsunames.

O processo de supressão é particularmente evidente na Orla do Pacífico provocando sismos de grande intensidade no Alasca, Japão, Formosa (Taiwan), Filipinas e no Chile, bem como na região circular do Pacífico. Este tipo de placa marginal de supressão, assim chamada devido ao facto de uma das placas colisoras, ao ser destruída, dá também lugar a um vasto número de vulcões activos ou à abundância de geisers, e vulcões adormecidos, como o cónico e enorme Kronotsky, de 3456 metros de altura, como é o caso da península russa de Kamchatka, região conhecida pelo encontro das placas tectónicas da América do Norte e do Pacífico, em que esta última se submerge com a Ásia, bem como da confluência das valas das ilhas Curilas e das ilhas Aleutinas. As características deste inóspito e invulgar cenário está aberto a reduzido número de cientistas e de escassos turistas que anualmente visitam a região de helicóptero. Embora a formação mecânica da magma, em tais regiões, seja complexa, resulta do processo de supressão e tem muito a ver com a fusão parcial da placa supressora, à medida em que é puxada para os níveis mais quentes da magma. A nova magma resultante desta acção ascende, como resultado da relativa baixa densidade, em relação aos rochedos vizinhos, rajando à superfície e dando lugar a vulcões tipicamente explosivos e, portanto, altamente perigosos. Centenas deste tipo de vulcões, tanto activos como dormentes, abundam na região do Pacífico dando lugar ao lendário Círculo de Fogo, enquanto outros permanecem inertes em cima de zonas de supressão, particularmente na região das Caraíbas e da Indonésia. Não surpreende, portanto, a ocorrência de vulcões nestas regiões como é o caso recente de Pinatubo (Filipinas), em 1991, Rabaul (Papua, Nova Guiné), em 1994, e Montserrat (Caraíbas), a partir de 1995.

5. O OCEANO ATLÂNTICO COMO EXEMPLO
A compensar o consumo do material das placas, novos rochedos são imprescindíveis para o substituír. Este, o chamado processo conhecido por margens de placas construtivas. A subida da nova magma proveniente da manta, ao solidificar, empurra as placas em direcções diferentes. Esta ocorrência surge na superfície inferior dos oceanos, numa cordilheira de 40.000 km de comprimento, de altas elevações topográficas, conhecida por Sistema de Elevações Mid-Oceânicas, em que a recém criada litosfera corrige, com exactidão, as dimensões perdidas da capa, aquando do processo das margens destrutivas. A maior parte deste sistema estende-se no meio do Oceano Atlântico, a partir do meio da Islândia, separando as placas da Eurásia e da África, a leste, bem como as do Norte e da América do Sul, a oeste. Nesta região surgem, igualmente vulcões e terramotos, mas de pequena dimensão. Conduzidas pelas correntes inferiores convectoras da capa, as placas, numa valsa constante, à média do crescimento das nossas unhas, modificam a aparência do planeta, assegurando, que, a seu tempo, e equitativamente, todas as regiões do globo obtenham o seu quinhão de erupções vulcânicas.

(*) O “El Nino” é uma ruptura natural do sistema atmosférico no Pacífico tropical, com consequências importantes para todo o Globo. Embora originalmente assim chamado, refere-se às águas quentes que surgem anualmente, por volta do Natal (daí o nome de Nino, ou Menino Jesus), no litoral do Perú, resultando na abreviação ENSO, usada pelos cientistas de meteorologia, significando, mais apropriadamente, Oscilação Meridional. Este fenómeno, porém, tende a aparecer em períodos de 3 a 7 anos e pode durar meses ou até mais de um ano. As maiores devastações provocadas pelo El Nino ocorreram entre 1997 e 1998 em que provocou secas avassaladoras, desde o sul dos Estados Unidos ,ao leste de África, norte da Índia, nordeste do Brasil e até à Austrália. Na Indonésia os fogos florestais atingiram proporções inéditas e fora de controlo. Entretanto, na Califórnia, partes da América do Sul , Sri Lanka (antiga Ceilão) e no centro-leste africano verificaram-se chuvass torrenciais e e enormes cheias.

FONTES: Agradecimentos a - Professor Bill McGuire, na sua obra Global Catastrophes – A Very Short Introduction (Edição da Oxford University Press – 2002), Aquecimento Global – Introdução Muito Breve, 2ª edição (Edição da Oxford University Press 2009), The Ocean – Our Future (Editora Cambridge University Press – 1998), Comissão presidida pelo Dr. Mário
Soares , National Geographic (Janeiro de 2009) e Diário de Notícias.