quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

GOVERNO BRITÃNICO VERGA-SE, FINALMENTE, À TRAGÉDIA DOS CHAMADOS “BEBÉS DA TALIDOMIDA”

Quase seis décadas volvidas, o governo britânico rendeu-se, finalmente, à fortemente resistida realidade, ao admitir a sua parte de culpabilidade no horrendo caso da Talidomida, também conhecido por “Bebés da Talidomida”. A tão insistida pelas vítimas existentes e suas famílias, e ansiada admissão de culpabilidade, foi, finalmente feita, no dia 14 de Janeiro passado, na Câmara dos Comuns, pelo Secretário de Estado da Saúde, Mike O'Brien, que apresentou a sua “sincera mágoa e profunda simpatia” tanto às vítimas como às suas famílias. Ao mesmo tempo confirmou a compensação de um fundo especial de 30 milhões de euros a atribuír ao Thalidomide Trust.

Recorde-se que o medicamento Talidomida, foi inicialmente lançado na Alemanha, a 1 de Outubro de 1957, pelo laboratório daquele país, Chemie Grunenthal e, vendido, inicialmente, no Reino Unido, a partir de Abril do ano seguinte, como Distaval, e, mais tarde, como Talidomida, pela companhia Distillers Biochemicals, parte da empresa de bebidas Distillers (actualmente Diageo). A mesma droga, tentativamente lançada nos Estados Unidos como Kevadon, não o chegou a ser devido à desconfiança da então Directora, Dr. Frances Kelly, do departamento nacional co-ordenador dos medicamentos, Federal Food and Drug Administration, na documentação sobre as investigações de segurança do produto, poupando, assim, possivelmente, milhares de vítimas naquele país. Considerado como “medicamento milagroso”, por, erroneamentente, estar isento de quaisquer efeitos colaterais, normalmente encontrados noutros barbitúricos, foi inicialmente prescrito, entre 1958 e 1961, como sedativo, pela classe médica, particularmente às mulheres grávidas, para combater o enjôo matinal, ansiedade, insónia, dores de cabeça e ataques de tosse. De milagroso, porém, cedo revelaria efeitos satânicos. A droga, da classe teratogénia, ou seja, produto que, tomado entre a quarta e a décima segunda semanas de gravidês, interfere com o desenvolvimento normal do êmbrio, provocaria a deformação dos bebés, nomeadamente no encurtamento dos braços e/ou das pernas, ou até, na completa ausência de ambos. Outros efeitos ocorreram tanto na provocação da cegueira como da surdês ou afectaram outros órgãos internos, inclusivamente os intestinos e o desenvolvimento das artérias. Só na Grã-Bretanha, mais de duas mil crianças foram afectadas, muitas delas nado-mortas, ou, pouco depois, 466 sobreviventes actuais, e, pelo menos, 10.000 outros casos, no mundo inteiro. Como resultado, a Talidomida foi, finalmente, retirada do mercado em 1961.

Face às deformações e à tragédia das vítimas e das famílias, muitas delas ostracizadas ou pelos ente-queridos mais directos, geralmente pais, que desconhecendo as origens, culpavam as mães, recusando reconhecer os filho(a)s, que classificavam de “monstros”, ou pelos vizinhos. O conceituado semanário britânico, The Sunday Times, então dirigido pelo reputado jornalista, Harold Evans, enfrentou o repto, inicialmente a custo do seu próprio prestígio pessoal. Na sua recente auto-biografia(*), este jornalista, agora galardoado com o título de “Sir”, conta que depois de se ter inicialmente encontrado com duas das deformadas vítimas, profundamente chocado, chamou a si a sua defesa sobre tão grande tragédia, que classificou da “mais emocionalmente e esgotante notícia que me envolveu no Sunday Times...”, montando uma das mais bem sucedidas e notáveis campanhas jornalísticas de todos os tempos, que, na altura, avidamente acompanhei. Notando, em 1967, que independentemete da tragédia humana, nenhuma das vítimas tinha sido recompensada, o que apenas veio a suceder depois da sua intensa campanha, em que sob enormes pressões a Distillers atribuíu 28 milhões de libras (actualmente cerca de 500 milhões de euros), semanal e impiedosamente, até 1969, como o caso justificava, o semanário, apresentando provas laboratoriais independentes, denunciava tanto o governo de então como e, principalmente, a companhia britânica, pela falta de adequados e rigorosos testes laboratoriais, limitando-se a confiar nas erróneos análises efectuadas pela companhia fabricante alemã. Como resultado, incluindo a longa batalha legal travada nos tribunais britânicos, e como consequência, da maior longevidade das vítimas, além da verba acima, sucessivamente actualizada, cada sobrevivente recebe, anualmente, 30.000 euros, independentemente do fundo governamental complementar de 39 milhões de euros agora atribuído pelo governo.

(*) My Paper Chase – True Stories of Vanished Times (A Minha Luta nos Jornais - Histórias Verdadeiras dos Tempos Idos) Edição Little, Brown (2010)

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

A INVASÃO DO IRAQUE... SEGUNDO TONY BLAIR

A longa expectativa do inédito depoimento-maratona de um ex Primeiro-Ministro
britânico, na Sexta-feira 29 de Janeiro, no Inquérito sobre o Iraque, que desde Julho decorre no belo Centro Elizabeth II, nas proximidades do Parlamento, e em frente à Abadia de Westminster, pariu...um nado morto! Quem esperasse algo de novo, possivelmente residente noutro planeta, com uma ou duas excepções que adiante veremos, baseado naquilo que publicamente se sabe, terá ficado profundamente decepcionado(a).
Insistindo, na sua convicção de que, graças a uma intensa preparação da invasão, sem Saddam, o Iraque estava muito melhor, não obstante a lista de mortos e da destruição do país, de que foi lembrado pelo interrogador e brilhante historiador, “Sir” Lawrence Freedman, e que, o único inesperado, pós-invasão, foi a acção tanto do Irão como de al-Qaida, e descontando, continuamente, não ter sido escravo ou, como a imprensa britânica o classificou de “cãozinho na trela”, do Presidente Bush, mas que a ele se aliou desde o ataque terrorista aos Estados Unidos da América, e que também o fez por “recear a reacção pesada dos americanos”!, o convicto antigo estadista insistiu que, segundo ele, remover Saddam fora um acto de imperiosa justiça! Quem não pôde esconder a sua surpresa, foram as dezenas de seleccionados representantes dos 197 soldados britânicos mortos no Iraque, que enchiam as filas de assentos imediatamente atrás de Tony Blair!
Não surpreende que, no decorrer do longo depoimento, sem nunca ter manifestado qualquer sentimento de contricção, ou até a incompreensível ausência de uma simples mênção ou homenagem às tropas britânicas, principalmente aos jovens soldados que deram a vida durante a Ocupação, quando a oportunidade redentora lhe foi dada pelo Presidente do Inquérito, “Sir” John Chilcot, se não lamentava ou estaria arrependido, o interrogado limitou-se a afirmar que embora sentindo grande espírito de responsabilidade “nada lamento por ter removido Saddam Hussein, que era um monstro”. A única excepção, confessou, foi o facto de não ter conseguido convencer a avassaladora maioria do povo britânico que se opôs a tão hodiendo acto! No que foi imediatamente seguido por várias pessoas, com lágrimas nos olhos, a afirmarem “és um mentiroso!” “és um criminoso!”. Como estas intervenções fossem prontamente suprimidas pelo Presidente, não só as mesmas pessoas, como outros familiares, quando Blair se retirava, tiveram a oportunidade de lhe lembrar que “tinha as mãos cheias de sangue”. Entretanto, cá fora, mas a duas dezenas de metros, da entrada do Centro, uma multidão, desde as 0730 da manhã, até ao fim da audiência, às 1710, envergando cartazes dizendo “Bliar” (composição das letras do nome Bl, com liar (mentiroso), gritava, bem alto, epítetos pouco edificantes. Outros, aguardavam a oportunidade de linchar, mas ordenar a prisão civil (um dos privilégios da justiça britânica!) ao ex Primeiro-Ministro, o que, obviamente, não conseguiram devido ao excelente planeamento e protecção da centena de agentes de segurança. O que Blair também não conseguiu foi convencer os milhares de cépticos, em todo o país, que acompanharam a cobertura em directo.
Inicial e invulgarmente nervoso, com voz embargada, o ex Primeiro-Ministro gradualmente ganhou a confiança, na invulgar maratona de seis horas a que foi submetido. Começando por afirmar que a infame e provadamente errónea citação, base do Depoimento dos Serviços Secretos Britânicos, que o regime de Saddam Hussein, além de possuír Armas de Destruição Massiça (ADM), que poderia usar em apenas 45 minutos, este o pretexto engendrado para a invasão em que os Americanos estavam determinados, Tony Blair afirmou, continuamente, a sua convicção na veracidade dos, para ele, considerados factos. Instado, várias vezes, a única cedência por ele admitida foi a de não se ter corrigido ou clarificado tal afirmação. O único momento de claro embaraço, por ele manifestado, quando interrogado, foi a sua afirmação, na entrevista à BBC (veja-se crónica de 14/01/2010), em que “ para destituir uma ameaça como Saddam, servir-me-ia de qualquer meio...pois tratava-se de uma obrigação moral”. Caracteristicamente “a la Blair”, descontou-a, afirmando ter sido lapso seu, “pelo que tenho de ter mais cuidado com os jornalistas”! Que inocente! Outra revelação, talvez a única: o facto de, não obstante as que afirmou 54 vezes em que o Problema do Iraque foi debatido em Conselho de Ministros, a admissão da parte mais crucial da legalidade da invasão, não conseguida pelo Conselho de Segurança – este o ÚNICO MÉRITO da acção de Blair- em relação à posição e insistência dos americanos em invadir, foi o facto do Procurador Geral, Lorde Smith, que, à semelhança da equipa legal do Ministério dos Negócios Estrangeiros, que apenas com base na Resolução 1441, declarou a invasão ilegal sem o apoio das Nações Unidas, a figura legal mais importante em todo o processo, e inicialmente oposta à invasão, nunca ter estado presente em qualquer das reuniões do Gabinete! Um importante apontamento final: as abundantes mênções e críticas feitas ao Irão, por Tony Blair, apontam para a sua inegável intenção em determinar que â semelhança da remoção de Saddam, o regime iraniano dos Mulas, deve ser o próximo objectivo do Ocidente. Entretanto, segundo o matutino The Independent, de 1 deste mês, na divulgação de um documento altamente secreto, o governo britânico, numa prova de clara mentira de Blair, planeava a “mudança de regime” no Iraque, dois anos anos, desde 11 de Junho de 2001!

domingo, 7 de fevereiro de 2010

HAITI – Hispaniola Amaldiçoada?

Uma das últimas e grandes tragédias naturais dos últimos sete anos, tem um novo nome, e uma nova vítima – Haiti! A começar por Bam (Sudeste do Irão), 26 de Dezembro 2003, 41,000 mortos; Banda Aceh (Sumatra, Indonésia), Pukhet (Tailândia), Sri Lanka, 26 de Dezembro de 2004, todas ligadas pelo maior tsuname de que há memória - centenas de milhar de mortos; Muzaffarabad (Norte do Paquistão), 8 de Outubro de 2005, 85,000 mortos; Chengdu (sudoeste de Sichuan. China), 12 de Maio de 2008, 60 mil mortos; L'Aquila (Itália central, proximidades de Abruzzo), 6 de Abril de 2009, pelo menos 294 mortos; Port-au-Prince (Capital d Haiti), às 1653 e 9 segundos, de 12 de Janeiro de 2010, arrasada por potente sismo, da escala 7 de Richter, provocado pelo choque das placas tectónicas, Caraíbas com a vizinha da América do Norte, ao longo da conhecida linha do sistema Enriquillo-Plantain Garden Fault, resultou na que continua a ser estimativa de 200,000 mortos, com 120 mil sepultados em valas comuns- compreendendo, igualmente, a estimativa de 100 mil crianças - e 193 mil feridos, muitos deles em estado grave. Tudo isto, descontando milhão e meio de habitações destruídas, pelo menos idêntico número de desalojados, e mais de um milhão de crianças órfãs, inescapável convite aos sem-escrúpulos do tráfico humano, vastíssima destruição material, incluindo as pobres infra-estruturas, tanto hospitais, palácio presidencial e edifícios ministeriais, bem como os de instituições de assistência, que em relação às Nações Unidas, em cujos escombros pereceram ainda 40 funcionários, acontecimento classificado pelo Secretário-Geral, Ban Ki-moon, como o maior desastre jamais sofrido nos 65 anos de história da Organização. E, se tudo isto não bastasse, novos sismos, o pior na escala de 6.1, se fizeram sentir uma semana depois, apavorando, compreensivelmente, os pobres sobreviventes. Segundo peritos, a reconstrução de Port-au-Prince levará, pelo menos, dez anos. À semelhança de Banda Aceh, Pukhet e Sri Lanka, um novo e extraordinário desafio. Mas, sobretudo, um dos maiores desafios-apelo à solidariedade humana em que a generosidade mundial, fielmente, está a corresponder de uma forma admirável!

Em apenas uma semana, os donativos do mundo inteiro superaram 300 milhões de euros! Só a sempre generosa Grã-Bretanha, nesse curto espaço de tempo, contribuíu com donativos voluntários e não governamentais, de 45 milhões de euros e os Estados Unidos 240 milhões, bem como o nosso país 120 mil euros! A esta última verba, acrescentem-se outras iniciativas notáveis como a realização do jogo de futebol de beneficência, entre o Benfica e Amigos de Zidane/Ronaldo, no Estádio da Luz, a 25 do mês passado, que além da receita de bilheteira - 513 mil euros - há que acrescentar os direitos televisivos e comerciais, que segundo fontes da organização, totalizaram, no conjunto, "alguns milhões de euros". A esta vaga de solidariedade, seguiu-se a generosidade de conhecidos artistas de cinema, como George Clooney, a doar 1,5 milhão de euros, as dádivas milionárias de Gisele Bündchen ou de Leonardo DiCaprio, bem como da cançonetista Celine Dion, 750 mil, além da maratona televisiva mundial, de 22 do mês passado, em que tomaram parte importantes figuras do mundo pop, como Madonna, Shakira e Sting (para mencionar apenas alguns) e artístico, não só cantando, mas atendendo o telefone em conversa com os dadores, como foi o caso principalmente da famosa artista cinematográfica, Julia Roberts, e que já rendeu cerca de 50 milhões de euros, como a gravação de uma canção cujos rendimentos revertem para o Fundo Comum do Desastre. Mas que dizer de Ben uma criança londrina, de apenas cinco anos de idade, que pedalando na sua pequena bicicleta, orgulhosamente envergando a camisola da UNICEF, espera angariar pelo menos 600 euros para o Fundo do Haiti? Neste enorme e generoso pano de fundo, agiganta-se o testemunho e o estoicismo da resistência dos vivos, mas especialmente à valente centena e meia de resgatados vivos dos escombros, adultos, incluindo uma senhora de 84 anos de idade, e, incrivelmente, 15 dias depois, a jovem Darlene Etienne, de 16 anos que sobreviveu ao beber água de uma banheira, bem como várias crianças, verdadeiros herois resistentes, sem descontar, claro, as incessantes equipas de voluntários salvadores, legião de 1739, homens e mulheres, provenientes do mundo inteiro, incluindo Portugal. Tudo isto, a contrastar com o inicialmente confuso e comprovadamente inepto exército de assistência humanitária (??!!), liderado pelos americanos, que com centenas de famintos, apenas a 200 metros da base de abastecimento principal, o Aeroporto, dez dias depois, continuavam, famintos e sedentos, à mercê...do nada! Esta situação mereceu o comentário do Presidente Italiano da Defesa Civil, Guido Bertolaso, o homem responsável pela assistência, depois do terramoto de L'Aquila, de “situação patética pela falta de coordenação” Condenando os americanos, afirmando que “confundiram o estado de emergência com a ocupação do Haiti (…) muitos figurantes para o show da TV”! Na realidade, duas semanas depois, não obstante os milhares de militares americanos e o seu precioso equipamento, bem como abastecimentos, nomeadamente provenientes do navio Carl Vinson, predominava a confusão e pecava a falta da necessária assistência à faminta e sequiosa multidão. Todos estes episódios, individuais, mas em sua maioria colectivos, do desolador cenário destruidor, fica-se a dever às imagens e narrativa dos muitas vezes esquecidos, e até ingloriamente aviltados, fotógrafos, operadores de câmara e centenas de jornalistas que, sem eles, ignorando a sua própria segurança, não se faria a mínima ideia desta primeira enorme tragédia da segunda década do século XXI.

Sismos, embora de pequena dimensão, ocorrem com frequência.em todo o Globo. Outros, gigantescos, como o de Cracatôa, na Indonésica Sumatra, a 27 de Agosto de 1883, pairam na longa história dos desastres naturais. Nenhum porém, teve as dimensões deste mais recente, no Haiti, nem as circunstâncias da reconstrução das zonas destruídas. Não obstante a boa-vontade mundial e os donativos já recebidos, que, obviamente, não são suficientes, nem tão-pouco o optimismo do antigo Presidente Bill Clinton, desde há muito amigo do Haiti, mas agora nomeado Embaixador da ONU para a reconstrução do país, as perspectivas, porém, apresentam-se complicadas. Sem governo, sem infra-estruturas, aliás já inexistentes antes da tragédia, sem lei nem ordem, com as estruturas político-sociais destroçadas, tremendamente pobre, com uma sociedade conhecida pela violência, geralmente desgovernada, agora mais carecida de pessoal médico e de enfermagem, para assistir aos feridos, segundo personalidades responsáveis, a reconstrução física tem de partir do nada, incluindo o tecido social! Oxalá que os sobreviventes haitianos, apoiados pela enorme vaga de solidariedade mundial, chamem a si a honra dos mortos e o estoicismo dos que foram resgatados, 11 dias depois, o dever de, finalmente, construírem o tão almejado futuro! Será que, em toda esta tragédia, São Ireneu teria razão, ao afirmar que “a bondade humana é particularmente palpável no sofrimento do povo”?

Desde a chegada de Cristóvão Colombo, em 1492, em que foi baptizada de Hispaniola, esta parte ocidental da ilha caraibena, foi malfadada pela doença importada pelos visitantes-”descobridores” e, devido às horríveis condições de trabalho, a maioria da população nativa dizimada. Cedida à França em 1697, e rebaptizada de Haiti, com base no nome do lugar nativo, Ayti (País Montanhoso), com a importação massiça de escravos da África Ocidental cujos músculos devastaram as ricas florestas nativas para, em seu lugar, surgir a então lucrativa plantação da cana do acúcar, de cujo labor, suor, fomes e muitas lágrimas, incluindo vidas, viria a ser principal exportadora. Com a revolta iniciada, e liderada, por  François Dominique Toussaint (1743-1803), oriundo de famílias de escravos ricos, iniciou-se a longa fase de turbulência que, ao fim de 13 anos, viria a resultar na Independência, em 1804, dando origem à formação da primeira república negra mundial, com Jean-Jacques Dessaline como seu primeiro Imperador. Morto dois anos depois, reacende-se a desordem, dando lugar à ocupação americana por ordem do Presidente americano Woodrow Wilson, a pretexto da chamada Doutrina Monroe. Com a retirada das forças ocupantes em 1934, o doutor de Vooddo, François Duvalier, assume o Poder em 1957, passando a ser conhecido por “Papa Doc”, devido à sua tão propalada, mas não concretizada promessa, de devolver o Poder às massas. Em seu lugar, transforma o país num Estado-Policial, dando início a longo e negro período de ditadura, desregrada tortura e morte aos adversários, estendendo-o ao filho, em 1971, que se auto-intitulou Presidente Vitalício! Nas primeiras eleições livres, em 1990, porém, o padre Jean-Bertrand Aristide assume o Poder, mas é deposto, menos de oito meses depois, voltando a desordem e a instabilidade a predominar no pobre país provocando grande êxodo de pessoas a afluír à Flórida, arriscando a vida, em pequenas e frágeis embarcações, seguindo-se-lhe uma junta militar. Com a autorização da Junta, porém, o então Presidente Bill Clinton envia 20,000 tropas, em 1994, para estabelecer a ordem. Entretanto surge a cavalgante SIDA que mina o infeliz país, para onde regressa Aristide em 2001, que, no entanto, é forçado a novo exílio, em 2004. A tragédia continua, com desastres naturais causados pelos devastadores furacões de 2005 e 2008. E, quando em 2009, se notavam, finalmente, indícios das tão ansiadas melhorias, no princípio de 2010, surge o vasto terramoto! Agora, com a reconstrução, HISPANIOLA/HAITI, finalmente a oportunidade de deixares de ser escrava?