quarta-feira, 25 de setembro de 2013

A Síria e o tal “Relacionamento especial”

A recente derrota do Primeiro-Ministro britânico, David Cameron, na Câmara dos Comuns, sobre a sua determinação (juntamente à dos EUA) em intervir belicamente na Síria a pretexto do alegado ataque governamental de armas químiicas ao seu próprio povo, prontificou várias questões e deflagrou outras. A nível interno, primeiro, a posição e autoridade do chefe do governo, cuja derrota debilitou ainda mais a sua já questionável autoridade partidária. Segundo, a moral ou justificação da intervenção militar em países soberanos, quando, em semelhantes casos de chacina despótica, como da Somália (2007), Uganda (1984), (particularmente esta de que resultou a morte de milhões de inocentes civis), da atual e semelhante chacina no Congo, da qual ainda se desconhecem números, ou até mesmo, este mais radical, o caso da Coreia do Norte, NADA FOI FEITO! Terceiro, se tal desfecho porá em causa o chamado “Relacionamento Especial”, com os EUA. E, a nível externo, tal como é atribuído a um porta-voz do Presidente Vladimir Putin, da Federação Russa a alegada “pequenez” e “reduziada influência mundial” do Reino Unido. Obviamente, a “aventura” no Iraque, pesou forte na decisão dos deputados, confirmado por uma sondagem posterior, em que 71% dos entrevistados também se opôs a uma participação armada. . Deu, porém, lugar a um precedente: a primeira derrota de um chefe do governo numa das maiores decisões – intervenção militar – num país estrangeiro. Contudo, ao dizer não, abandonando o seu mais direto aliado, os EUA, tratou-se da segunda vez, depois da Guerra do Vietname, em que o então Primeiro-Ministro. Harold Wilson, recusou qualquer envolvimento. Porém, e devido ao reatamento e invulgar estreitamento de relações entre os dois países, particularmente até e depois da discutida intervenção no Iraque, desta vez, levanta-se a questão, particularmente importante para os Conservadores, sobre as consequências que a decisão parlamentar provocaria ao chamado “Relacionamento Especial” entre os dois países, de que tanto, particularmente os britânicos, falam e insistem preservar. Iniciado por Winston Churchill e Theodore Roosevelt, quando o Reino Unido debelitado, estoicamente se debatia, contra as forças Nazis e o povo americano se recusava, oficialmente, a intervir (se bem que, em privado, Roosevelt fornecia navios e material bélico pesado), o seu Presidente, face à situação real e aos insistentes apelos do seu amigo deste lado do Atlântico, torneou a situação envolvendo, DIRETA e EFICAZMENTE o seu Povo, do qual resultou a vitória e o fim de Hitler. Fora, assim, iniciado o “Relacionamento Especial” que teve igualmente como importante arquiteto o influente ministro, Dean Acheson. Para os americanos, porém, embora reconheçam os britânicos aliados mais diretos, como para a maioria dos políticos atuais, de “especial” o relacionamento só existe quando lhes interessa. Afinal, atual e particularmente à crescente influência da China, nomeadamente na esfera asiática, faz concentrar as suas atenções não na velha Europa, mas na distante e mais inquietante região do Sol Nascente. Os britânicos, embora não queiram admitir ser nostálgicos, fortemente cimentados nas tradições, para eles, o “Relacionamento Especial” que em tempos de paz, embora durante a “Guerra Fria”, foi particularmente reforçado por Ronald Reagan e Margaret Thatcher, tem de ser mantido, mesmo que simbolicamente. A lição mais imediata, aprendida do inesperado “não” parlamentar britânico, pelo seu velho aliado foi o reconhecimento da real impotência pessoal dos chefes de governo ou de Estado, passando controversas “batatas quentes” aos seus Parlamentos ou Congressos. Entretanto, surge o cada vez mais arrogante e autocrático Presidente Putin, aliado do regime sírio, a denegrir a influência atual do país que mais ajudou o seu durante a II Guerra Mundial, apelidando-o de “pequeno” e sem “influência mundial”. Ironicamente, com a sua proposta de rendição das armas químicas por parte da Síria, aos cuidados da ONU, talvez a ele se fique a dever uma nova e indesejável intervenção externa no conturbado Oriente Próximo.

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