segunda-feira, 4 de outubro de 2010

A MEMORÁVEL ÉPOCA DOS ANOS 60

Evoco este tema não pelo simples facto da famosa e inebriante Carnaby Street ser alvo, este ano, de justficada efeméride - o seu cinquentenário! Não! Recordo, mui justificadamente, uma época sui generis, que classifico de preciosa dádiva a um sedioso de História e Cultura de que me considero privilegiada testemuha ocular e altamente beneficiada. Não foi, quando apenas cheguei, determinado a beneficiar da experiência e notoriedade da BBC, mas vingar nessa grande Casa-Escola, cheia de homens notáveis pelos seus feitos e actuação durante a II Grande Guerra, mais notáveis ainda pela sua comprovada modéstia, pois deles nunca directamente ouvi o que fizeram, ou a sua indesmentível valentia e arrojo, mais tarde ouvido ou aprendido por outras fontes, mas ainda outras extraordinárias experiências, que indelevelmente me marcariam. Não, não me refiro apenas ao constante som dos sucessos dos Beatles, com o Yellow Submarine, o primeiro dos quais faria o meu baptismo musical de tão falado e admirado conjunto, a ecoar nos meus ouvidos, mas ao todo envolvente freneticismo, particularamente de uma juventude sequiosa e determinada a ensinar aos pobres pais e avós, testemunhas e vítimas, tanto na alma como no sangue, de uma guerra de onde procuraram escapar com vida e que, contrariamente aqueles, agora com empregos e dinheiro era senhora de si própria, essa juventude, reinava, sem barreiras!




O choque, ou melhor, a ansiedade, a sede, de alguém que sempre se deleitou na descoberta instigada por dois notáveis mestres, um, que lançou as sementes na Escola Primária, em Tonda, o inesquecível Prof. Fontes e, outro mais tarde, num colégio lisboeta, Dr. Santos Alves, que mais tarde me enriqueceu como amigo, teria na Grã-Bretanha desses notáveis tempos, novo – e vasto – alfobre de conhecimento e EXPERIÊNCIA! Mais notável ainda, por não me considerar estrangeiro, embora não correspondido pela, por eles esperada, naturalização! Além de ser BENEFICIADO tive, igualmente, a ENORME HONRA de SER e FAZER HISTÓRIA, graças à límgua de que muito me orguilho, em inumeráveis actividades diplomáticas, ao seviço do país de acolhimento! Mas divago, Voltemos à nobre época dos anos 60. Como dizia um dos meus notáveis e brilhantes Mestres, o extraordinário historiador, Professor Dr. Arthur Marwick, na sua inesquecível obra, The Sixties (Os Anos Sessenta), trata-se de um período, que classicamente antecedeu essa década e se prolongou na seguinte, e deve-se a um conjunto de factores que a formaram. Se a proliferação das revistas mais acessíveis, como a explosão de livros baratos, devido à iniciativa, até então inédita, da editora Penguin, tiveram um bom quinhão, peças teatrais como Look Back in Anger (O Tepo e a Ira), também adaptada ao cinema com o título Paixão Proíbida, dirigida pelo cineasta britânico Tony Richardson (1958) de autoria do dramaturgo britânico John Osborne, que justificava e favorecia a rebeldia, filmes como Um Lugar na Alta Roda (Room at The Top) - dirigido pelo também cineasta britânico Jack Clayton – 1959 - e a decisão do tribunal em autorizar a publicação da controversa obra do romancista D.H.Lawrence, O amante de Lady Chatterley, tiveram muito a ver com a revolução cultural que se caracterizou pelos "anos sessenta" e que o então famoso jornalista da BBC, Kenneth Allsop, classificou de "Década dos Furiosos", na sua obra do mesmo nome (The Angry Decade). Uma época particularmente notável para a sociedade britânica em que em 1965 viu a abolição da pena de morte, em 1967 a legalização do aborto, interpretada como a liberalização da mulher, no mesmo ano a homosexualidade foi despenalizada, no ano seguinte disse-se adeus à censura e, em 1969, a alteração da lei facilitou o divórcio. Época da revolucionária e inicialente escandalosa mini-saia, lançada pela ousada e atrevida Mary Quant; período em que a conservadoríssima BBC, ao lançar e corresponder à nascente música pop ousadamente fundou a estação Rádio UM, completamente dedicada à emergente e dominante musica, que o Daily Mail da época se insurgiu e classificou de “éscandalosa música de lata”! Esta, em suma, a época descrita, com admiração e horror, por dois jornalistas europeus diferentes. Para o Le Monde, no artigo Chronique des Annés Soixante, de autoria de Michel Winock "Se a bandeira de um país merece ser desfraldada em representação dos anos 60, esse bastião é o inglês. Essa Inglaterra que os continentais imaginam ser restricta e controlada pelos príncipios victorianos, foi o exemplo à juventude do mundo inteiro"; e para o jornalista italiano de Epoca, num misto de resignação e de admiração expressou-se da seguinte forma: "Cinco milhões de jovens ingleses de idade inferior a 21 anos subverteram todos os costumes e tradições da sociedade Britânica. Destruíram as barreiras da língua e da classe. Vestiram-se, fizeram barulho e rebelaram-se contra os regulamentos que governam a reticência e a modéstia acerca do sexo. O que é que pretendem? Nada, excepto viver desta maneira."

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