quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

A IMPRENSA BRITÂNICA SOB HISTÓRICO MICROSCÓPIO

Volvidos 317 anos e 30 de três revisões de autocontrolo, a imprensa britânica foi foco do maior e mais intenso escrutínio da sua história. Após o escândalo das escutas ilegais, em sua maioria a cargo do mais tarde defunto News of The World a mais de 500 pessoas, incluindo algumas das mais célebres figuras da vida artística, como o ator cinematográfico, Hugh Grant, mas não só, nomeadamente Kate McCann, mãe da pequenita Maddie que desapareceu no Algarve, cujo diário foi publicado sem a sua autorização e acusações de que o casal tinha escondido o corpo da menina desaparecida no congelador ou a indevida acusação do professor Christopher Jefferies da morte de uma mulher em Bristol, a série culminou com a intervenção ilegal no telemóvel da pequena Milly Dowler que tinha desaparecido quando regressava do colégio e cujo corpo foi encontrado morto nas proximidades da sua residência em Walton on Thames (a sul de Londres). Os intrusos conseguiram mandar supostas mensagens aos pais da jovem a fim de lhes dar a impressão que estava viva e assim poderem perpetuar e sensacionalizar a sua indevida reportagem. Este, o caso mais mediático que revoltou todo o país e levou o primeiro-ministro, David Cameron, a decretar a realização de um inquérito judicial a cargo de um decano da mais alta instância, o Juiz Lorde Leveson. Numa verdadeira maratona judicial, que durou 17 meses, em que depuseram mais de 500 testemunhas, incluindo o próprio primeiro-ministro, o seu vice, o líder da principal oposição - Partido Trabalhista - Ed Miliband, ministros, comissários e chefes da polícia, jornalistas e proprietários da imprensa, como o magnate Rupert Murdoch, figuras célebres da vida artística britânica, nomeadamente Hugh Grant e ainda os pais da vítima, Milly Dowler, como o casal McCann e muitas outras individualidades, o relatório final, composto por quatro maciços volumes de quase 2000 páginas, foi divulgado na passada quinta-feira. Se a especulação que antecedeu tão ansiado momento atingiu o auge, colocando o primeiro-ministro em foco quanto à aceitação das conclusões, as revelações mais intensificaram o debate. Em menos de duas horas, perante uma repleta Câmara dos Comuns, David Cameron, que recebera 24 horas antes o tão ansiado relatório, embora felicitando o seu autor e lamentando as vítimas, imediatamente provocou polémica ao confirmar as suspeições de que seria contrário a qualquer lei que condicionasse a liberdade da imprensa, na base de dificuldades legais. A sua posição imediatamente o desligou do seu vice de coligação, Nick Clegg, que embora contemplando algumas dificuldades legais, favorece medidas apoiadas por legislação, provocando uma dissensão cujas consequências serão conhecidas nas próximas semanas. E, como se esperava, com o apoio e o clamor da adoção de medidas imediatas de TODO o Relatório por parte da Ed Miliband, nos dois esteios democráticos, as revoltadas vítimas encontraram o ansiado apoio negado pelo primeiro-ministro. Lorde Leveson que considerou a imprensa como um dos principais pilares da democracia, foi o primeiro também a criticar frontalmente os inaceitáveis abusos dos seus transgressores, assim como o seu chegado relacionamento às mais altas figuras políticas do dia. A sua crítica atingiu também a polícia, na averiguação dos vários casos, embora a isentasse de corrupção. A fim de preservar tão importante suporte e evitar abusos que o danifiquem, propôs alterações como: um novo, mas voluntário Regulador, constituído por novos elementos eleitos por uma entidade independente e chefiado por apenas um Diretor (de um dos principais títulos atuais), mas excluindo qualquer membro do governo; julgar e decidir disputas; elaborar um novo código de conduta para os jornalistas, respeitando o direito da privacidade e maior exatidão; poder de investigar e decidir o tamanho e a colocação do pedido de desculpa; direito na aplicação de coimas com base em 1% do total das receitas do título transgressor, até ao máximo de um milhão de libras (1 milhão e 200 mil euros). Finalmente, o novo Regulador deve ter o apoio da lei que force os incooperantes a participar, e, neste caso, sujeito ao atual regulador da Televisão, OFCOM. Documento inédito e Histórico, segundo o The Guardian “o que ao relatório de Leveson faltou em termos literários e de elegância foi compensado em detalhe e clareza. À partida, deve ser dito que se trata de um imensamente sério, bem argumentado e vasto documento (…) que o primeiro-ministro (,,,) deve estudar cuidadosamente antes de descontar as suas partes mais significativas. E a imprensa tratá-lo com respeito – e não com menos humildade”.

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