sábado, 22 de outubro de 2011

A TRAGÉDIA DAS MINAS ANTI-PESSOAIS

Pouco antes da sua morte e quando tentava uma entrevista com a Princesa Diana, acabada de regressar de Angola, na sua campanha contra as minas anti-pessoais, foco de um então excelente documentário da BBC, esse enorme flagelo, que, além das múltiplas mortes, deixa milhares de vítimas sem braços ou principalmente pernas, como é particularmente o caso de Angola, Moçambique e da Bósnia, recebi a seguinte carta em nome da Princesa, datada de 21 de Fevereiro de 1997, e redigida pela sua secretária pessoal. Embora não mencionasse a eventualidade de uma desejada entrevista como solicitara, começou: "A Princesa ficou sensibilizada pelo facto de ter tido o incómodo de escrever sobre o documentário que tinha visto da sua visita a Angola. A Princesa de Gales espera que o mundo tenha agora uma melhor perceção sobre o sofrimento causado pelas minas anti-pessoais pelo que espera ter a oportunidade de visitar alguns dos outros sessenta e cinco países igualmente afetados. A sua carta teve um grande significado para a Princesa pelo que me pediu expressamente para transmitir-lhe o seu profundo apreço...."
Com a sua inesperada morte, a campanha contra as minas anti-pessoais perdeu uma das figuras mais notáveis. Porém, várias entidades, nomeadamente a Cruz Vermelha Britânica e a International Campaign to Ban Landmines (ICBL), com sede em Genebra, que em 2007 foi distinguida com o Prémio Nobel, são as mais notórias. As minas anti-pessoais, objetos de metal ou plástico em sua maioria contendo shrapnel, esse horrível material que tantos destroços provoca nas vítimas, de que as forças do dirigente líbio, Muamar Khadafi são acusadas de terem lançado contra a população de Misurata, inicialmente utilizadas como bombas anti-tanques, e, mais tarde, utilizadas como meio de proteção fronteiriça, em termos bélicos, ou seja, para atingir ou matar soldados, começaram a ser utilizadas na II Guerra Mundial e, desde então, nas guerras do Vietname, Coreia e do Golfo e, mais recentemente, no Afeganistão em que o sargento britânico, Karl Ley bateu o recorde mundial da desativação de 183 bombas terrestres colocadas pelos Talibans nas vias de circulação, recebendo justificado galardão com a Medalha de St. George, uma das mais altas distinções britânicas. Devido ao fator económico e à facilidade de manufaturação, particularmente em armas artesanais, passaram a servir, igual e mais comumente, em guerras civis ou armas de guerrilheiros. Difíceis de detetar, como são colocadas no terreno, e ali permanecendo anos e até décadas, quando pisadas por seres humanos, e, por isso, denominadas de armas de ativação pelas vítimas, imediatamente explodem matando ou até desmembrando as pessoas, muitas delas crianças, que na melhor ds hipóteses podem apenas causar cegueira ou queimaduras. Só em 2008, segundo a ICBL, registaram-se 5,197 vítimas, sendo 1,266 mortais, em 66 países. Com a entrada do Tratado para Banir as Minas, em 1 de Março d 1999, assinado e retificado por 156 países, o problema persiste pelo facto de restarem 39 importantes países, nomeadamente o Egito, Birmânia, China, Índia, Rússia, Paquistão, Afeganistão, Colômbia, Perú, Cuba e Estados Unidos da América, que ainda não o fizeram.
A luta, é a deteção destes aparelhos e a campanha da sua limpeza e destruição, atualmente a cargo de várias associações de caridade, nomeadamente a Mines Awareness Trust (MAT), radicada nas Ilhas do Canal (Guernsey). Trabalho arriscado, como pessoalmente observei na Irlanda do Norte, onde eram utilizados robots detetores e destruidores deste e de outros tipos de dispositivos, é, porém, tanto no Iraque, e mais recentemente no Afeganistão, funções desempenhadas por militares altamente especializados, em que, por isso mesmo, as baixas são maiores. Fora disso e principalmente em locais como Bósnia e Moçambique, a deteção das minas está a ser eficientemente desempenhada ou por ratos ou por cães! Estes animais, graças ao seu elaborado faro, mas especialmente ao seu reduzido peso, detetam as minas sem as despoletarem. No caso dos cães, cujo treino é altamente dispendioso, cerca de 40 mil euros cada, parte importante do treino é o animal não pisar o objeto, mas parar à distância de um metro e, apenas, olhar para o dono! Quanto aos ratos, mais leves, ao passearem no terreno minado o olfato deteta as minas e pára, sinal mais do que clarividente da existência de minas! Só em 2008 a área de 270km2, em vários países, foi inspecionada e limpa. Um vasto programa de limpeza está programado até 2015, referente a 25 países, incluindo Malvinas, Albânia, Guiné-Bissau, Etiópia, Afeganistão, Argélia e Angola.

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