quarta-feira, 10 de abril de 2013
Margaret Thatcher, a pessoa que entrevistei.
Artigo longo, mas creio valer a pena, parte do meu manuscrito POR TERRAS DE SUA MAJESTADE:
Margaret Thatcher (1927-2013): a redentora?
Retomando o tema da crise de identidade que o país atravessava, principalmente a partir da década de 70, Margaret Thatcher, foi a pessoa mais indicada e que habilmente se aproveitou dessa circunstância. Começando por apelar ao inglesismo dos eleitores, o estilo de liderança da que foi apelidada, no estrangeiro, de "dama de ferro" (*) (*+) mas, para os ingleses, o epíteto menos
dignificante de "filha do merceeiro", devido ao facto do pai ter tido as origens de pequeno comerciante, na localidade de Grantham, no condado de Lincolnshire, no centro-leste da Inglaterra, o seu inegável patriotismo, ou para os seus muitos críticos de "inglesismo" xenófobo, teve grande apelo, ao ponto de ser considerada como a líder com o dom de unir um tão dividido e então desiludido país.
(*) O coronel Russo, Yury Gravilov, que na altura escrevia para o jornal do exército Red Star revelou, pela primeira vez, ao semanário britânico The Mail on Sunday (25 de fevereiro de 2007, pág. 48) que por iniciativa própria apelidou a então estadista britânica, em 24 de janeiro de 1976, com tão famoso epíteto, baseado no dirigente alemão e chanceler "de ferro" Otto von Bismarck.
(*+) Também ”transportada” para o cinema, interpretada pela artista Merryl Streep, que teve estreia mundial, em janeiro de 2012, cuja interpretação lhe valeu um Oscar, em 26/02/12 e uma estatueta BAFTA ,em 12 de fevereiro de 2012, pela Academia Britânica do Cinema e da Televisão, ambos os prémios como “melhor atriz”.
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Mulher dinâmica e autocrática, são inúmeros os ditos que se teciam em relação ao seu mais do que visível estilo dominante, tanto em termos maritais como, e muito particularmente, governamentais. No domínio marital, foi com base nas afirmações dela que os satiristas faziam,
normalmente, chacota. Caso mais típico, foi o programa da televisão, Spitting Image [correspondente e que deu origem à popular Contra-informação da RTP]. Enquanto o marido, Denis Thatcher, falecido em outubro de 2003, pessoa afluente e que fez a fortuna devido ao seu envolvimento com uma companhia americana de petróleo, lavava a louça acompanhado de uma
garrafa de gin, Margaret Thatcher, "comandava" a situação de mala na mão, principalmente nas reuniões de Conselho de Ministros! A confirmar o seu xenofobismo, como teve de recorrer a amas suecas, para cuidar dos filhos gémeos - Mark e Carol - muitas vezes comentava que tinha de ir depressa para casa porque receava que os filhos viessem a aprender inglês com sotaque sueco!
Como a primeira mulher a ocupar o cargo de primeira-ministra britânica, e a primeira governante a manter-se no posto depois de três bem sucedidos embates eleitorais sucessivos, especialmente num partido de grandes tradições aristocráticas e historicamente dominado pelos homens, só uma mulher - a primeira mulher também a ocupar semelhante cargo na Europa. Elevada a baronesa, com o título de "Lady" Thatcher de Kesteven, atingiu o pináculo da política "Tory" [título atribuído aos Conservadores] (*). Pessoa habituada à controvérsia, na vida política, Margaret Thatcher começou a ser notada – e detestada - principalmente pelas mães das crianças, quando, como Ministra da Educação, entre 1970 e 1974, no governo do que viria a ser "Sir" Edward Heath (1916-2004), aboliu o leite gratuito que era distribuído às crianças, nas escolas primárias. Porém, a maior surpresa da sua carreira surgiria quando em 1975, depois da derrota governamental de Heath, desafiou o seu colega na liderança do partido, conquistando o posto, que passou a ocupar a 5 de fevereiro de 1975. Foi a partir desta altura e rodeando-se de grandes pensadores da direita, como o que veio a sucedê-la no posto ministerial que ocupara sob Heath, nomeadamente o falecido "Sir" Keith [Sinjohn] Joseph (1918-1994) e Airey Neave [que foi assassinado em 30 de março de 1979, pelo grupo terrorista norte-irlandês INLA, que colocou uma bomba no automóvel que se encontrava estacionado no parque da Câmara dos Comuns] e, com a assistência do então emergente Instituto Adam Smith, sob a direção do seu fundador, Dr. Marsden Pirie, preparou-se habilmente para o governo, cujo posto de primeiro-ministro ocupou em 1979. Campeã da simplificação e da redução do papel do governo, uma das principais ideologias da extrema direita Conservadora, mas centralista da gema, dedicou-se inteiramente ao monetarismo e à doutrina advogada pelo Professor americano e Prémio Nobel de Economia, Milton Friedman (1912-2006) (+), como espinha dorsal da política económica do seu mandato. A Margaret Thatcher, porém - e justiça lhe seja feita - devem-se, especialmente, três importantes e até então muito necessárias reformas, que nenhum governo trabalhista antes dela conseguiu, embora a custo de elevadas taxas de desemprego: transformação de uma predominante anquilosada e incompetitiva indústria pesada, especialmente no norte da Inglaterra, e na zona de Glásgua, na Escócia, para a indústria eletrónica e ligeira (1), bem como o sector de serviços; cobro ao predomínio e, em alguns casos nepotismo sindical; política de privatizações, em que foi copiada no mundo inteiro, e ao desenvolvimento do mundo bancário e financeiro, geralmente designado na Grã-Bretanha de puramente, "City", em que se seguiu o encorajamento e a promoção da aquisição das ações por parte do público, que enquanto em 1979 existiam apenas 3 milhões de acionistas, em 1987 triplicou para 9 milhões, o que justificou o título de "democracia do capitalismo", em que se notabilizaram tanto a British Telecom (telefones) como
(*) O termo "Tory", embora originalmente com conotações pejorativas, relacionadas com os ladrões de gado irlandeses foi atribuído aos políticos que se começaram a notabilizar no termo do reinado de Carlos II. Porém, a sua origem pode ser traçada, 25 anos antes, aos realistas que se opuseram a Carlos I. O partido, teve origem em 1681, dando lugar, depois da fusão com os "Whiggs" e Unionistas, ao atual Partido Conservador, em 1886. (Vide An Appettite for POWER A History of the Conservative Party Since 1830, págs. 16 e 22) (Edição de HarperCollins)
(+) O ministro das finanças do governo de Bill Clinton e professor de economia da Universidade de Harvard, Lawrence Summers,
afirmou na revista The Time (25 de dezembro 2006-1 de janeiro 2007) que "se Keynes foi o economista mais influente da primeira metade do século XX, Milton Friedman foi o mais notável da segunda".
(1) Em finais de de 2011 a indústria manufaturadora britânica estava reduzida a 2.5 milhões de trabalhadores
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a Companhia do Gás (British Gas), até então confinada a instituições financeiras. Mas a ela também se devem pelo menos dois dos piores males da sociedade britânica: o inaceitável alargamento do fosso entre o rico e o pobre e o até então inédito crescente egoísmo da geração do seu período de governo, incluindo a que lhe foi atribuída falta de respeito pela autoridade por parte da juventude no decurso dos seus 18 anos de mandato (*).
O aumento da pobreza - um dos maiores “legados” de Thatcher
No primeiro caso, como se cita na obra Inequality in the UK, (Oxford University Press, 1997) "...nos anos 60 aos meados de 70, a taxa da pobreza era relativamente estável. Porém, nos finais de 70 e de 80, a situação tornou-se claramente diferente, com a taxa da pobreza (HBAI) a subir vertiginosamente, na fase final do período..." e no estudo "Tackling Poverty and Extending Opportunity" do Ministério Britânico das Finanças (29 de março de 1999), em que se revela que 12 milhões de cidadãos britânicos, então cerca de um quarto da população nacional, vivia em estado de pobreza, apontam-se, igualmente, outros aspetos marcantes.
A divisão entre o rico e o pobre alargou-se "substancialmente" depois de 1977, situando-se numa diferença de 30%. Salienta ainda o estudo, que os autores afirmam ter sido o maior do género, que
as raízes da pobreza não foram súbitas na classe etária adulta, mas que predominavam desde a infância. Outro facto revelador é que, por haver, nessa altura, mais crianças entre famílias pobres, prejudicou tanto a educação como a oportunidade em singrar na vida. Foi esta situação, que levou o governo dito "Novo Labour", de Tony Blair, em setembro de 1999, a lançar um plano para, significativamente, reduzir a taxa de pobreza, pelo menos dentro de cinco anos. Mas no meio deste período e, não obstante o lançamento do salário mínimo de 3 libras e 60p por hora [posterior e regularmente atualizado], segundo a fundação Joseph Rowntree, a quem se deve o estudo Monitoring Poverty and Social Exclusion 1999 (Estudo da Pobreza e da Exclusão Social), dois anos e meio depois de um governo trabalhista, no fim de 1999, 14 milhões de pessoas viviam abaixo das
taxas médias de pobreza oficiais, incluindo 4.4 milhões de crianças. (+) Este facto, mereceu a admissão de Guy Palmer, diretor adjunto do New Policy Institute, entidade de estudos políticos muito perto da esfera do governo de Tony Blair [no Poder até outubro de 2007], citado pelo matutino The Daily Telegraph, de 8 de dezembro de 1999, "embora haja áreas em que se nota melhoria, não existe um padrão genérico. O que é visível, porém, são as desigualdades tanto no domínio da saúde como da educação, que estão a piorar." Segundo a já citada reputada e independente Fundação Joseph Rowntree, no seu estudo, intitulado Poverty and wealth across Britain 1968 to 2005 (Pobreza e Riqueza na Grã-Bretanha 1968 a 2005), publicado em julho de 2007, em resumo, afirma: a) desde 1970, a média por área da pobreza e riqueza na Grã-Bretanha alterou significantemente. Na realidade está-se a regressar aos níveis de desigualdade na riqueza e na pobreza verificados há mais de 40 anos; b) Nos últimos 15 anos aumentou o número de lares pobres, mas verificou-se menor número de muito pobre; c) As áreas ricas tornaram-se desproporcionalmente mais ricas, aumentando a polarização entre o rico e o pobre e em algumas cidades mais de metade dos lares situam-se no limite mínimo da pobreza; d) Enquanto aumentaram os grupos de pobreza urbana os lares mais abastados passaram a concentrar-se nas periferias das cidades, nomeadamente em Londres; e) Os lares ricos e pobres tornaram-se mais geograficamente segregados do resto da sociedade e f) A média dos lares, nem pobres nem ricos, tem diminuído em número e gradualmente desaparecido de Londres e da região sudeste.
(*) Esta acusação foi feita em abril de 2006 por Brian Garvey, presidente de um dos dois maiores sindicatos de professores, NASUWT, ao afirmar "que não preciso de me desculpar ao adicionar o meu nome à longa lista de pessoas que acham que Margaret Thatcher prejudicou mais a sociedade em que vivemos do que qualquer outra pessoa dos últimos tempos...uma vez que ela encorajou e destruiu, mais do que ninguém, as estruturas sociais, contribuindo ainda para a crescente falta de respeito por parte dos alunos nas classes das escolas do país”. (The Independent 13 de abril de 2006)
(+) Segundo o The Institute of Fiscal Studies, a percentagem projetada das crianças a viver em absoluta e relativa pobreza, em 2020-2021, e entre 23 e 24% respetivamente. Portanto muito aquem do objetivo do governo, estabelecido por lei, de 5 e 10% (The Independent , 8 de maio de 2012)
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Foi, igualmente, o xenofobia e anti-europeísmo de Thatcher que contribuiu para a radicalização dos "turcos" conservadores e o agudizar da xenofobia, assim como o degladiar no seio do partido que não só levaram à humilhante deposição da então primeira-ministra, em novembro de 1990, como contribuíram para o vexame eleitoral de 8 de maio de 1997, do seu sucessor, John Major, imposto por Tony Blair, pondo termo a 13 anos de afastamento do poder devido às várias vitórias eleitorais dos Conservadores. Com a vitória de Tony Blair e a emergência do chamado “Novo Labour”, até maio de 2010, com a derrota deste, e já com Gordon Brown como seu sucessor, mas também batido, surgiu, pela segunda vez em setenta anos, a coligação entre Conservadores e Liberais Democratas, liderada pelo Conservador David Cameron com Nick Clegg como seu vice.
quinta-feira, 28 de março de 2013
A MISTERIOSA CAHOKIA
CAHOKIA, cujo significado original é Ganso Bravo, é atualmente um dos maiores centros arqueológicos americanos, e um dos mais antigos centros habitacionais dos primitivos habitantes americanos. Compreensivelmente, a despertar o interesse mundial sobre a sua origem e história, penetremos no seu profundo mistério, à semelhança das Civilizações Inca e Maia, particularmente em relação ao seu desaparecimento. Classificada pela UNESCO de Património Mundial, em 1982, foi ali que o famoso chefe índio, Pontiac, encontrou a morte, a 20 de abril de 1769. Originalmente situada nas margens superiores do Rio Mississípi, frente ao Estado de Missouri (St. Louis) e, mais precisamente no sudoeste do atual Estado de Illinois, do qual a famosa Chicago é hoje símbolo, o acampamento original de Cahokia ocupava a superfície de 13km2. Porém, na mais vasta região do atual Estado de Illinois, predominavam várias tribos, qualquer delas da origem Algonquian. Enquanto a norte dominavam os Kickapoo, Sac, e Fox, na zona do Lago Michigan predominavam os Potawatomi, Ottawa e Ojibwa (Chippewa), os Kkaskaska, Illinois e Peoria habitavam as planícies centrais e, a sul, os Cahokia e Tamaroa. Centro vibrante, muito antes da chegada de Colombo, a sua origem remonta ao ano 8000AC, florescendo até a 1350AD com a população de 20,000 habitantes. Tido como o mais vasto centro pré-histórico da América, a norte do México, foi também considerado como centro da cultura do Médio Mississípi, essa vasta região agrícola, que a beneficiar das águas do extenso e poderoso rio, abrange doze Estados, incluindo, parcialmente, mais três.
Por iniciativa de missionários do Quebeque, o nome de Cahokia, foi, mais tarde, ressuscitado. Situada a norte desta vasta região, no século XVII, assumiu o nome atual, tornando-se, igualmente, no primeiro e influente posto colonial europeu do novo continente, inicialmente habitado por colonos franceses. Capturada por George Rogers Clark para os americanos, em 4 de julho de 1778, dois anos depois deu lugar ao Condado de St. Clair, de que se destaca a construção da Mansão Jarrot, completa em 1810 e reconhecida em 2001 como monumento nacional. A nordeste da cidade, nas proximidades de Collinsville, situa-se a zona em que se encontravam os resquícios da civilização da Cahokia original, por meio de enormes e vastos montículos artificiais, que no período áureo totalizaram 120, o maior dos quais da altura de um prédio de 12 andares, com 660,000m3 de volume de terreno! Gradualmente demolidos, ação correspondente ao sentimento nacional anti índio, e transformados em terrenos agrícolas, atualmente resta apenas um, compreensivelmente atração de cada vez maior número de turistas. Porém, segundo estudos provenientes das escavações em curso, a Cahokia original, foi notável centro comunitário, definida por zonas administrativas e cerimoniais, em que predominavam complexos de elite, bairros residenciais e até periféricos, todos a obedecer a uma orientação cardeal precisa. Dominada por uma enorme praça central, com cerca de 16 hectares, incluindo o montículo na forma de pirâmide, designado Montículo dos Monges, a celebrar os religiosas que habitavam à sua sombra, foi construído entre 900 e 1200. As escavações igualmente revelaram o martírio de seres humanos e que a cidade exercia relações comerciais com povos distantes, nomeadamente do .Golfo do México, a sul e da Cordilheira dos Apalaches, a leste. Civilização avançada como esta desafia a noção dos Europeus. O seu desenvolvimento, obviamente levanta profundas questões, qualquer delas ainda sem resposta. Sem evidência da existência de escrita ou documentos que possam conduzir a uma pista, o mistério adensa-se. Foi Cahokia um Império, como as civilizações da Mesoamérica, a sudeste? Uma pertinente pergunta. Um desafio!
Fontes: Agradecimento a National Geographic (edição em inglês), Janeiro de 2011, pág. 126
sexta-feira, 15 de março de 2013
CRISES
Muito se tem comentado, e continuará a comentar-se sobre CRISE. Esta no singular, particularmente em relação ao nosso país e à Europa. A ela, adiciono uma outra e, neste caso, CRISES, no plural. Refiro-me, em particular à outra crise: a da Igreja Católico-Romana. E aqui não considero apenas a eventual decisão que teria levado à renúncia de Bento XVI, atualmente caso de grande especulação e até revolta, como foi o caso do sacerdote italiano,Andrea Maggi, de Liguria (no litoral noroeste da Itália), que rasgando a foto de Bento XVI o associou ao comandante do naufragado Costa Concordia, em Giglio, levando a Igreja contra as rochas. Mas à que alastra, em relação a uma boa parte do comportamento do clero, particularmente o superior. Por isso, além da crise da Europa, em que a sede da Curia Romana se insere, temos a crise da própria Igreja Católico-Romana, e, portanto, CRISES.
Em relação à última, enquanto a falta de transparência, as acusações de intrigas, lutas de proveito próprio e de senioridade na hierarquia da Curia, assunto que o ex-mordomo de Bento XVI justifica em ter sonegado para revelar e denunciar, assim como alegada a noticiada lavagem de dinheiro pelo banco do Vaticano, isto a nível interno; no exterior, depois do inaceitável escândalo de pedofilia cometido por membros do clero que lavrou desde os Estados Unidos, à Europa (envolvendo vários países), notabilizando-se particularmente na República da Irlanda, rebentou também há poucas semanas na Escócia, que justificadamente levou à demissão do Cardeal Keith O’Brien. Sobre a falta de transparência, particularmente em relação à razão e timing da renúncia de Bento XVI, debruçou-se, recentemente, e muito bem, o conhecido cronista do Diário de Notícias, Ferreira Fernandes (DN 05/03/13, ‘Cum clave’ ‘Ma non troppo’). No seu bem conhecido estilo, este jornalista cita a insistência na procura da verdade por duas destacadas figuras eclesiásticas católico-romanas,, os cardeais D. Geraldo Majella Aguelo, de Salvador da Baía (Brasil) e D. Wilfred Napier de Durban (África do Sul). Segundo Ferreira Fernandes, sustentam ambos que, existindo o tal relatório alegadamente apresentado a Bento XVI e que o teria levado à renúncia, obviamente QUEREM – e DEVEM - SABER O SEU CONTEÚDO. E se estas altas instâncias da hierarquia católica publicamente se pronunciam, o que dirá o bilião ou mais de fiéis em todo o mundo? Aceitar, ou melhor, engolir, o que se lhe dita como credo ou alegada presunção de fé? Além disso, que dizer do escândalo da pedofilia? Certos, igualmente membros da alta hierarquia católica, perante tal crise desculpam-na afirmando ser o clero humano, e consequentemente sujeito a inerentes erros pelo que devem ser desculpados. Perante tal situação a conhecida afirmação “Faz o que digo e não o que faço”, é descaradamente invocada por quem não quer reconhecer nem o voto sacerdotal, mas pior, a CONFIANÇA que neles é depositada pelos fiéis, quando é notória – e
GRAVE – a evidência.
Muitos há, incluindo-me eu próprio, que procurando melhor obedecer e servir Deus, se dececionaram pelos atos daqueles que dizem oficialmente servi-lo. Obviamente não me refiro à maioria, cujo exemplo, por ser notável, aplaudo. Porém, quando o comportamento, altamente condenável, vem do topo, está-se perante uma ENORME CRISE. E, se recorrermos à História, embora haja atos que devem ser interpretados no seu próprio contexto, crises, ou melhor, TRAGÉDIAS de alegada Fé como as Cruzadas e, dentre estas, a que dizimou os Albigenses do sudoeste da França, os exemplos são miríade, a contrastar com a pureza dos Evangelhos, assim como de Cristo. Não sou ateu, mas olhando para o exemplo e prática de certos religiosos, prefiro não ser adepto de nenhuma religião, procurando a máxima que se sempre me orientou na vida – servir a sociedade e o ser humano que responsavelmente se integram na sociedade de que fazemos parte. E, voltando à crise europeia, mas particularmente no contexto da eleição de um novo Papa, quão errados estão aqueles que advogam a continuidade de um Sumo Pontífice europeu, como é o caso de outro conhecido comentador do mesmo matutino, Vasco Graça Moura, na sua crónica de 06/03/13, intitulada ‘A Europa e o Papa’. Com a eleição de um cardeal argentino, o que aconteceu pela primeira vez também proveniente da América Latina, agora Papa Francisco I, pergunto: Com uma Europa e a Igreja Católica em crise, que mal houve eleger-se um Papa com a experiência e visão de qualquer outro continente, capaz, como se deseja, de debelar a Crise? Devido à enorme responsabilidade e à consequente necessidade de reforma, NELE RECAI UMA ENORME RESPONSABILIDADE. PORTANTO, ESTA, A OPORTUNIDADE IDEAL. OXALÁ QUE NÃO SE PERCA!
sexta-feira, 1 de março de 2013
O BENFAZEJO (?) SOL
Diz a Ciência que do Sol depende toda a vida, animal e vegetal. Particularmente para nós, Portugueses, esse tão familiar astro, tão procurado e benfazejo nas praias, mas cada vez mais conscientes dos seus perniciosos efeitos, graças às crescentes descobertas científicas, é mais perigoso do que os nossos antepassados - e muitos de nós - pensavam.
O mistério adensa-se, especialmente quando cientistas como Karel Schrijver, do Laboratório de Astrofísica Solar Lockheed Martin, de Palo Alto, Califórnia, afirma que “não podemos prever o que o sol poderá fazer em mais do que escassos dias”. Compreende-se o seu lamento, o pior que pode haver para um investigador. Na sua tentativa em procurar saber e “compreender em como o tempo espacial se reflete na sociedade, assim como os seus perniciosos efeitos”, os cientistas baseiam-se, apenas naqueles que já são conhecidos e nos que poderiam resultar numa catástrofe de enormes proporções, como a que foi calculada pela Academia Nacional [Americana] de Ciência. em que uma tempestade solar pode gerar consequências vinte vezes mais que o Furacão Katrina, que devastou o litoral sul da América em 2005, e que, em termos económicos, atingiu ou até ultrapassou, 2,5 mil milhões de euros. Daí a corrida científica para melhor se compreender e evitar os espetaculares danos do “vizinho” Sol, mas situado a 149,6 milhões de km de distância!
São vários os efeitos já conhecidos, embora ultramilionesimamente inofensivos. Em 1958, 100 aviões, na rota entre os Estados Unidos da América e a Europa perderam o contacto radiofónico com os postos terrestres; em 1972, um transformador, situado no Estado de British Columbia, no Canadá, explodiu. O pior, aconteceu no estado de Quebeque, no mesmo país, em 13 de março de 1989, em que todo o sistema elétrico foi neutralizado, deixando completamente aquele Estado às escuras, provocando centenas de milhões de euros de prejuízo. Outros, de menor dimensão, afetaram satélites, provocando o seu desvio de rota, e, finalmente queda, o que aconteceu em 2000 e, em 2003, além de outro apagamento do sistema elétrico sueco que afetou, igualmente, a comunicação do tráfego aéreo. Porém, a pior tempestade solar, embora sem consequências de maior no nosso planeta, foi observada pelo jovem britânico, Richard Carrington, em 1 de setembro de 1859. Face a uma tempestade destas dimensões, o grande mistério está no facto de não ter tido consequências que poderiam ser inimagináveis na Terra. Para melhor se compreender a razão destas potentes tempestades há que analisar a matéria solar. O Sol, contrariamente ao que se pode supor não é sólido, nem líquido, e, muito menos, gasoso. É composto por plasma, também chamada de “quarto estado da matéria”, resultante dos átomos, quando reduzidos a simples protons e eletrons. As partículas, semelhantes a medusas luminosas, qual mundo dinâmico maravilhoso, explodem, entrelaçando-se e deslizando, para, misteriosamente, desaparecem horas ou dias depois. Dependendo da intensidade da erupção resulta a dimensão da tempestade solar e, pior, as suas consequências. Além disso, o Sol está repleto de campos magnéticos, em sua maioria localizados no maciço interior do seu círculo, embora algumas cavidades magnéticas, espessas como a largura da Terra, surjam na superfície como manchas solares. A mover toda esta força, encontra-se a intrigante maquinaria de uma estrela excecional. - o núcleo solar. Verdadeira caldeira, a 65 milhões de graus centígrados de plasma esferóide, seis vezes mais densa que o ouro, funde, em cada segundo, 700 milhões de protons em hélio, libertando a energia de dez mil milhões de bombas de hidrogénio em todo o processo. A energia produzida pela fusão do núcleo solar é transportada para a zona de radiação, a matéria é tão pressionada, que leva 100 mil anos aos fotões a emergir na envolvente zona de convecção, ou seja 70% do exterior do centro solar. Cerca de um mês depois os fotões emergem na fotosfera, ou seja, a parte visível do Sol. Dali leva apenas oito minutos a atingir a Terra como luz solar. São deles que nos devemos abrigar o mais possível, especialmente na praia!.(Dados e agradecimento - a National Geographic - edição britânica, junho de 2012)
terça-feira, 26 de fevereiro de 2013
Sexo ilegal arrasta clero e política
Depois, ou a par da crise financeira, com a remoção da Grã-Bretanha do topo da tabela das anotações de crédito, o país é de novo assolado por abusos sexuais alegadamente atribuídos a personalidades nacionais de vulto e alegadamente cometidos há cerca de 30 anos. Se uma delas, o arcebispo católico da Escócia, Keith O’Brien, foi forçado a demitir-se quando se preparava para tomar parte na Conclave para a eleição do novo Pontífice, a outra é o alto dirigente Liberal-Democrata, Lorde Rennard, este acusado de ter abusado sexualmente cinco militantes ou colaboradoras do seu partido. Caso agora nas mãos da polícia.
Este, que é partido da coligação, embora não afete o governo, agrava problemas já conhecidos, estes relacionados com outro ex alto dirigente partidário, e ex- membro do governo, Chris Hue. Esta alta e até há pouco prestigiada figura política viu-se obrigada a demitir-se face à grave acusação da ex- mulher, que, para evitar o escândalo de uma infração de trânsito por ele cometida há cerca de 10 anos, obrigou a então mulher a admitir a pena e, assim, mentir, caso que está em tribunal. Esta, agora divorciada, denunciou-o, provocando enorme escândalo e a inevitável demissão. E, se os liberais-democratas, que nas próximas eleições gerais de 2014 se apresentam ao eleitorado como partido independente, são vítimas de enorme impopularidade, com a realização das eleições parciais, na quinta-feira 28 de fevereiro, resultantes da demissão de Chris Hue, no circulo eleitoral que eficientemente detinha, Eastleigh (nas proximidades Southampton, sul da Inglaterra), o novo escândalo Rennard surge no momento mais crítico. A questão atinge novas e inesperadas proporções quando se põe em causa a liderança do vice-primeiro-ministro, Nick Clegg e se tinha ou não conhecimento do caso Rennard. E se tinha, como pelos menos uma das vítimas alega, qual a razão de nada ter sido feito. Clegg diz estar de consciência tranquila. A sua posição, porém, segundo atentos comentadores, não é tão segura quanto ao que ele afirma. Portanto, se a BBC tem sido alvo do famigerado “Caso Savile”, agora admitido como um dos maiores prevaricadores nacionais sexuais de menores de sempre, estes novos casos, um clérigo e outro político, arrastam um dos, talvez, maiores males da sociedade britânica.
sábado, 23 de fevereiro de 2013
Orgulho ferido
Ainda há quem duvide que embora crítico de si próprio, o povo britânico é orgulhoso. Os resíduos de ter sido um dos maiores impérios do mundo, aliados aos do país fundador da I Revolução Industrial, sacrificados na II Grande Guerra, embora atualmente não tão propalados encontram-se ainda em expressões como “we the British” (nós os britânicos) e, em termos geográficos, “the Europeans”. Esquecem-se, afinal, que ocupando, igualmente, esse espaço geográfico, preferem usá-lo como expressão de desdém e, no passado, de evidente barbarismo. Vem isto a propósito do facto de uma das principais agências de anotação, a Moody’s, ter baixado de AAA, a categoria máxima, para AA1, ou seja um ponto inferior da sempre invejável tabela económico-financeira, o que acontece pela primeira vez depois da década de 1940. A decisão era inevitável quando a economia, negativa em termos de crescimento, o que se arrasta desde a crise bancária de 2008, tem sido agravada com a galopante dívida externa, não obstante os saudáveis indícios de recuperação das taxas de desemprego.
O orgulho britânico, e particularmente de um partido – Conservador – que se orgulhava de ser o campeão na condução da economia, foi profundamente fendido. Além do efeito – e choque -psicológico as consequências são inevitáveis não apenas no agravamento dos juros dos necessários novos empréstimos, como prováveis consequências na posição da libra esterlina. Predomina a dúvida se, mantendo-se as contenções globais atuais, especialmente no espaço europeu e estado unidense, os maiores da atuação económica britânica, os Conservadores ganharão o desejado fôlego para garantirem e desejada vitória nas eleições de 2015 que a todos os títulos querem ganhar sem depender em coligações. Outra incógnita é se os 10 pontos de vantagem que os separam da maior oposição – Labour – irão ser mantidos até lá e se o eleitorado voltar a confiar nos trabalhistas. Afinal, como dizia o ex-presidente americano, Bill Clinton, tudo se resume naquela que ele chamou: “Economia, seu estúpido!”
quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013
ESSE “FIEL AMIGO”, GADUS MORHUA - AMIZADE MÚTUA?
A recente decisão da instituição britânica de conservação piscatória, Marine Conservation Society, da retirada da ementa, ou consumo vigiado, de piscícolas em perigo, como a Sarda (peixe rico em oleaginosas, nomeadamente Omega3) da família Escombrídea, à qual o atum também pertence, devido aos excessos piscatórios, principalmente na Islândia e nas Ilhas Faraó, que colocou aquela bela espécie em perigo, prontificou-me relacioná-lo com o bacalhau, tão considerado por nós Portugueses como “FIEL AMIGO”. Antes, porém, esqueçamo-nos dos tão falados e temidos polifosfatos! Em termos de reciprocidade, seremos amigos dele? Pergunta que faço a todos nós, como questão refletiva. Não o dispensando das nossas mesas, nas mais variadas formas culinárias, em que nós Portugueses, assim como outros povos latinos e descendentes latino-americanos, particularmente nos excedemos, certamente que não o fazemos por mera amizade. Será que jamais pensámos nisso quando o saboreamos? A certa resposta é um rotundo NÃO!
O bacalhau, especialmente o do Atlântico Noroeste (Terra-Nova e Labrador), erroneamente chamado da Noruega, cujo nome se deve à exploração piscatória desse país e, talvez, ao facto de terem sido os vikings os primeiros a explorá-lo, e por nós mais consumido em seco e por tratamento salínico, é cientificamente conhecido por Gadus morhua. Contrariamente ao semelhante prato britânico, mas frito, acompanhado das indispensáveis e igualmente batatas fritas, ali conhecido pelo nome Cod, mas fresco, abunda e é apanhado em menor profundidade nas menos frias águas do Mar do Norte. De salientar que embora nos seja atribuída a pesca do bacalhau no século XV, o nosso conhecimento e consumo deve-se aos nossos amigos ingleses que no-lo introduziram, a troco do vinho do Porto! Como aponta o Capitão Marryat, na obra Peter Simple, "a razão dos Portugueses e os Ingleses serem bons amigos, deve-se ao facto de que nós não conseguimos vinho do Porto em mais lado nenhum", essa amizade, deve-se à iniciativa dos comerciantes que traziam bacalhau da Terra-Nova e que, em troca, recebiam vinho do Porto. Segundo esta versão, a origem do fiel amigo, deve-se não a nós portugueses, mas aos ingleses e, em particular, à firma pioneira, que mais se distinguiu nesse comércio, Hunt, Roope & Company, em 1654 e que, para isso, contava com instalações em Viana do Castelo e em Vila Nova de Gaia.
Deixemos, porém este contexto histórico, para nos concentrarmos no essencial – a NOSSA amizade com tão” FIEL AMIGO”. Ao devorá-lo, fazemo-lo por amizade ou por mero glutonismo, irrespetivamente da sua extinção como espécie? Certamente que nunca pensámos nisso! Daí, este meu alerta da inexistente amizade mútua! Embora, como espécie, segundo a Comissão Canadiana da Vida Animal Selvagem em Perigo (COSEWIC), a tivesse considerado, em 1998, como “vulnerável”, e, mais tarde, atribuída a categoria de “preocupação especial”, a World Wide Fund (WWF) seguiu-se-lhe, em 2000, colocando o bacalhau na lista de espécies em perigo. A Greenpeace Internacional, em 2010, colocou-o, à semelhança agora da sarda, na “lista vermelha” de piscícolas de consumo. Face a estes solenes avisos, não restam duvidas que o nosso “fiel amigo” CORRE SÉRIOS RISCOS de continuar a ser o favorito da nossa culinária! Principalmente devido aos novos e potentes arrastões, que apanhando o bacalhau a águas cada vez mais profundas, especialmente nas zonas de desova, não permite os desejáveis níveis de recuperação e gestão, problema que se agrava desde 2007, quando as quotas do bacalhau das nossas mesas oscilam entre as 23.000 toneladas/ano, ou seja cerca de metade dos stocks disponíveis! Esta situação prontifica-me outro, certamente novo caso de extinção para o/a estimado/a leitor(a), o do chamado Pombo Passageiro. Quando esta mui admirada ave, verdadeiro espetáculo do século XIX, cujas camadas constituíam assunto de admiração, principalmente na zona médio-oriental dos Estados Unidos da América. Dos múltiplos mil milhões destas aves, inicialmente cobiça da Tribo índia Séneca, que das suas caças, de sete em sete anos fazia festivais, com a sua industrialização e comercialização, principalmente graças ao desenvolvimento do transporte ferroviário, entre os estados de Milwaukee/Chicago/Filadélfia ao do rico consumidor novaiorquino cuja afluente população saboreava a carne de tão belas aves. Para corresponder à sua glutonice e em que apenas mil milhões de aves eram mortas num só ano, no Estado de Michigan, facilmente extinta dela só resta a embalsamada Marta, falecida em cativeiro, em 1914, aos 29 anos de idade, no Jardim Zoológico de Cincinatti,. Nas mesmas circunstâncias, qual o lugar de uma possível espécie extinta do nosso “fiel amigo” Gadus morhua? Aquário de Lisboa? É a vez de reciprocarmos a amizade deste nosso “Fiel Amigo”, evitando desregrada e impensavelmente devorá-lo!
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