quinta-feira, 15 de março de 2012

LONDRES, CAPITAL DOS JOGOS OLÍMPICOS de 2012

A partir de 27 de Julho, e durante 60 dias, a capital britânica será centro das atenções desportivas mundiais com a realização dos Jogos Olímpicos e Para-olímpicos, a terceira vez na sua história. Enquanto a primeira, ocorreu em 1908, em substituição de última hora, de Roma, devido à deflagração do vulcão do Monte Vesúvio, a segunda, teve lugar em 1948, após a II Guerra Mundial, cujos restos de tão importante complexo ainda existem nas proximidades do atual estádio de Wembley (noroeste de Londres) transformados em centros comerciais. O atual Parque Olímpico, ainda uma vasta área em construção (2,5km2), quando o visitámos, como convidados, em meados de Novembro passado, situa-se no leste da capital, no baixo Lea Valley (Stratford), e nele trabalhavam 200.000 operários relacionados com 100 mil empreiteiros. A decisão da sua localização teve como objetivo transformar, regenerar e revitalizar uma vasta e antiga zona industrial da capital, particularmente ativa durante os séculos XVII e XVIII, mas há muito abandonada. Devido à contaminação dos terrenos - têxteis e petróleo - a primeira tarefa da Entidade Olímpica foi descontaminá-los e colocar subterraneamente os vários cabos de alta tensão que por ali passavam. Tarefa difícil, seguida da demolição dos inúmeros prédios e restos de linhas férreas abandonadas, esta fase ficou terminada no verão de 2008. Com a realização dos Jogos Olímpicos, o objetivo é fazer desta enorme e agora deslumbrante zona, da qual faz parte um dos maiores centros comerciais da Europa, o Westfield, inaugurado em Setembro passado, numa nova cidade do futuro dotada de magníficos meios desportivos e de conferências. Projeto orçado em 13 biliões e 56 milhões de euros e que nos foi garantido não ser ultrapassado bem como a sua construção em dia, as suas principais atrações, terminadas quando as visitámos – a bela escultura em aço, desenho da famosa artista Anish Kapoor, o magnífico estádio, com a capacidade para 80 mil pessoas, local da abertura e encerramento, bem como das provas de atletismo que se irão repetir no campeonato do mundo da modalidade em 2017; o imponente velódromo com a capacidade para 6000 espetadores, a norte daquele; o vistoso centro aquático, a leste e vizinho do primeiro, bem como da Arena de handebol. Outras enormes atrações, a chamada Aldeia dos Atletas, também concluída, verdadeiro conjunto de vistosos e altaneiros edifícios, que depois dos Jogos passarão a residências, em sua maioria já vendidas e o ainda, na altura, não concluído - vasto Centro de Media. Além disso, do Parque faz parte uma imponente central elétrica, à base de energias renováveis, exclusiva para o fornecimento do Parque Olímpico, passando a central acessória da rede geral depois dos Jogos. A este vasto complexo, cheio de arvoredo – 4000 - especialmente plantado e já também concluído, assomarão 15 mil atletas provenientes de 205 países, sendo projetado mundialmente pelos inúmeros canais de televisão, de que a BBC terá principal ação. E, graças à vasta rede de transportes públicos (comboios da rede nacional e local, metropolitano, servidos pela magnífica e vasta estação de Stratford, assim como autocarros), espera-se a chegada de 800 mil pessoas por dia, assistidas por 70.000 voluntários e 4.500 funcionários. Tudo isto requer fortes medidas de segurança, compostas por 23.500 elementos, incluindo pessoal militar, e cujo orçamento extra é de 325.2 milhões de euros. Precauções essenciais, que estão a ser tomadas pelo governo, incluindo possíveis ataques aéreos, que incluem, caso necessário, o contra-ataque com mísseis anti-aéreos. Entretanto os jogos vão ser antecipados com um grande festival que durará 12 semanas, entre 21 de Junho e 9 de Setembro. Classificado de “espetacular”, conta com artistas de renome mundial quer do cinema, da literatura, música, teatro, moda e dança.

quinta-feira, 1 de março de 2012

O BRASIL REAL Como recentemente assisti a um importante seminário de dois dias, sobre o Brasil, realizado no prestigiado King's College, aqui em Londres, e intitulado A Qualidade da Democracia no Brasil, pelas revelações que trouxe, acho dever partilhar as principais com o/a estimado/a leitor/a. Como sabemos, está a ser reconhecida a potência mundial do Brasil, particularmente integrado no grupo dos países desenvolvidos (ou, como alguns preferem, em vias de avançado desenvolvimento) chamado BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China) e que segundo uma sondagem organizada por aquela vetusta instituição académica, coloca o Brasil como segunda potência mundial a seguir à China, com a Índia na peugada. Até aqui, nada de surpreendente. Porém, e segundo este revelador seminário, em que tomaram parte figuras eminentes tanto da vida académica como de outros setores, organizado pelo Ministério da Justiça brasileiro, a realidade daquele país é outra, e esta não económica. Um país, que como o próprio ministro da justiça, José Eduardo Martins Cardozo apontou, de colónia, cujos colonos atuavam apenas por interesses pessoais, adquiriu a sua independência em 1822, sob um regime monárquico, teceu o seu futuro político até à ditadura de Getúlio Vargas entre 1930 e 1945, que, no entanto, introduziu e preparou importantes reformas constitucionais, sucedendo-lhe outra ditadura, mas esta pior, militar, de 1965 a 1985, assegurava aquele político, “o Brasil é um país cheio de contradições”, mas que procura novo rumo, tentando desfazer-se das anomalias, excessos e abusos de poder, incluindo tortura e desaparecimentos ocorridos durante tão tortuoso percurso, nomeadamente durante a ditadura militar. Além disso, sofre de outros e prementes problemas que particularmente afetam a sua imagem internacional, nomeadamente a corrupção, já que a questão ecológica, com o dizimar do Amazonas, é tema, que embora mais liberto, o país ainda não se conseguiu desenvencilhar. Consciente deles., o chamado “país irmão” procura corrigi-los e libertar-se deles, sem que, contudo, como os seus dirigentes reconhecem, não ser muito fácil. Os inúmeros crimes praticados durante a ditadura militar, torturas e desaparecidos, o governo atual e o anterior de Lula, embora pressionados particularmente pelas famílias afetadas que insistiam – e insistem - na divulgação da documentação secreta particularmente relativa aos desaparecidos e ao local dos restos mortais, está a tentar solucionar o problema particularmente com a criação da Comissão da Verdade. Porém, com as pressões dos militares sobre os políticos, que para não arriscarem a sua carreira, evitam o mais possível tocar no assunto, e embora a escolha dos seus componentes esteja a cargo da Presidente Dilma Roussef, desconhece-se a eficácia de tão nobre iniciativa. Além disso, com a amnistia dos perpetradores, a situação complica-se. Neste contexto, por questões de espaço, excluímos o enorme problema chamado Caso Araguaia, no Estado do Pará, em que um grupo de jovens manifestantes comunistas foi chacinado pelos militares entre Abril de 1972 e Janeiro de 1975. E, por isso mesmo, ocupemo-nos, apenas da corrupção, tema muito levantado pelos principais oradores académicos, nomeadamente o renomado Kenneth Maxwell. Denunciada por estes, a corrupção é particularmente rampante entre a comunidade política, bem patente no facto de que o atual e ainda recente governo de Dilma Roussef é vítima do afastamento de sete ministros, e a possibilidade de oito que dentro de um ano, se viram obrigados a demitir por acusações, embora ainda não provadas, de corrupção. Aliás, este problema foi reconhecido pelos próprios representantes do Ministério da Justiça, presentes no King's, nomeadamente na área do pagamento das campanhas eleitorais, em que, como afirmaram, estão envolvidos, mas ainda não condenados, muitos deputados e alguns senadores. E, neste domínio, o consequente envolvimento e culpabilidade das empresas que para obterem os vultosos contratos se veem obrigadas a pagar “luvas”, quer alegadamente a alguns ministros, quer a governadores ou presidentes dos municípios. Porém, a vastidão do país e os costumes arraigados, prejudicam o eficiente ataque do problema. Talvez, como foi igualmente apontado por uma das palestrantes, resultantes de um estudo por ela efetuado, como o nível de corrupção, praticamente inexistente entre as poucas mulheres deputadas, de que o Brasil é o mais baixo de toda a América Latina, a solução é o aumento e o necessário recrutamento das mulheres nos órgãos governativos, em que, felizmente, Dilma Roussef pode ser exemplo.