sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Madagáscar, Paraíso em Vias de Extinção

Madagáscar, ou, para Camões (Lusíadas Canto X, 39 e 137), Ilha de São Lourenço, a mais antiga e quarta mais extensa ilha do mundo, com 587,051 km2 de superfície, situada no Estreito de Moçambique, e descoberta em 1500 pelo navegador Português Fernão Soares, como o Poeta cantava “Onde sai do cheiro mais perfeito /A massa , ao mundo oculta e preciosa”. Essa massa por muito tempo oculta e preciosa, é atualmente, um paraíso em vias de extinção devido a vários fatores – pressões populacionais (mais de 20 milhões com o aumento anual de 3%, uma das taxas de natalidade mais elevadas da África), pobreza, na média um euro e meio por dia, e turbulência política – mas sobretudo à pilhagem e rapina humanas. Riquíssima em recursos naturais e animais, uma vez que 90% das espécies de plantas e animais são únicos no mundo inteiro, devido ao isolamento e separação da ilha da África e da Índia, há 165 milhões de anos, criando várias áreas restritas de biodiversidade desprotegida. Se em termos de flora, como é o caso das multiseculares e altíssimas pau-rosa e das famosíssimas “baobabs”, além de preciosas plantas medicinais e odoríficas, como baunilha, fértil em regiões como Antalaha, no litoral nordeste, que foi uma das principais exportações e riqueza da ilha, mas que, devido ao aumento da produção mundial, os preços sossobraram; no domínio da fauna, além de ser local dos famosos lémures (cujo nome significa espírito de Deus), onde existem 20 espécies, nomeadamente a sitaka sedosa, em vias de extinção; em termos de répteis, numa população de 99%, 373 espécies são igualmente endémicas, particularmente a harlequin mantella, restrita aos planaltos centrais e, no domínio das aves, nas suas gradualmente extintas florestas, predominam 108 espécies igualmente endémicas, e únicas da Ilha, como o camaleão e o mais minúsculo dos mamíferos, o rato-lémur. Mas não só! Com uma plataforma marítima supostamente rica em petróleo, solo riquíssimo em minerais, ouro, titânio, niquel e cobalto e pedras preciosas como safira, em que já foi 1/3 exportador mundial, para a sua extração, particularamente clandestina, destroem-se preciosas florestas. Se no abate clandestino, por gangues organizados das árvores pau-rosa, tipo de madeira considerada luxo na China, seu principal mercado, que só em 2009, com a derrocada do governo, importou clandestinamente mais de 300 milhões de euros deste tipo de madeira, nas florestas do nordeste onde foram abatidas diariamente preciosas e antiquíssimas árvores, no valor de 700 mil euros, destruindo uma área de 61,750 hectares, principalmente no Parque Nacional de Masoala, no litoral nordeste da ilha, atividade só largamente possível a uma rede de corruptos guardas florestais. A extração de níquel e cobalto, quando desregrada, e sem possibilidades de vigilância estatal adequada, como acontece em Ambatovy, na zona central oriental, não só prejudica a destruição de preciosa floresta tropical como provoca a perniciosa erosão. E, se tudo isto não bastasse, uma população faminta, que além do abate clandestino das árvores pau-rosa, procura outros meios como a extração clandestina de minerais, especialmente pedras preciosas, tão procuradas por especuladores do mercado asiático, nomeadamente no Sri Lanka e na Tailândia, bem como o abate clandestino dos raros e cada vez mais extintos lémures, iguaria em guisados dos retaurantes tanto da capital, Antananarivo, como da China.

De origens árabes e composta por vários reinados, segundo navegadores portugueses no seu litoral, principalmente na zona norte, proliferavam povoações dominadas por arquitetura semelhante à de Kiwa, atualmente na Tanzania, antigo e importante entreposto comercial. Julga-se que faziam parte de uma rede de comércio árabe. Este, particularmente o caso de Vohemar, centro comercial da ilha, modelo original das tradições artesanais malgachi e afro-árabe. Compreende-se a cobiça dos navegadores portugueses que à costa abordaram e, até navegaram rio acima do Matitana, na costa ocidental do sudoeste, para, naturalmente, pilharem, obviamente contra a oposiçao da população, dentre ela descendentes de mouros de Malinde. (Melinde, onde Vasco da Gama se reabasteceu, e “reformou” a 15 de Abril de 1498 – Lusíadas Canto II, 57-58,70, 73,94 e X-39,96). De colónia francesa, Madagáscar adquiriu a independência em 26 de Junho de 1960 sob a presidência de Tsiranana que governou o país até a 1972. Sujeita a várias crises, com consequentes perdões de dívida e de investimento, procura aproximar-se da África do Sul em termos de desenvolvimento. Devido a dirigentes corruptos, como foi o caso do Presidente Marc Ravalomanana, que ganhando as eleições a pretexto de inúmeras e necessárias reformas, encheu o bolso e, perante uma população faminta e revoltada que assomou aos portões do palácio, em 7 de Fevereiro de 2009, foi recebida a tiro, fazendo 30 vítimas mortais. Este incidente cultminou com a sua demissão pelos militares, refugiando-se na Suazilândia.

4 comentários:

Anónimo disse...

Meu caro Gilbertamigo

A última vez que nos encontrámos foi quando o Sousa Franco deu uma entrevista à BBC e o culpado uma vez mais foste tu.

E, agora, por felicidade, reencontrei-te através do blogue do Francisco Seixas da Costa, grande Amigo meu. Bendita hora e bendito «Duas ou três coisas».

Que queres que - neste momento de reencontro - te diga deste trabalho sobre Madagáscar? Que é excelente? Seria redundante e repetitivo. Já me (nos) habituaste ao que vieste produzindo ao longo dessa trintena de anos. Muito obrigado.

Gostarei de te ver na minha Travessa que, quando lá fores, passará a ser também tua.

See you and a big hug

Anónimo disse...

ADENDA

Faltava: ... e os anos da nossa TSF... Mas, agora, já não falta.

Mais um abç

gherkin disse...

Caríssimo Henrique Antunes Ferreira,
Que surpresa! Que satisfação!. Obrigadíssimo pelas amáveis mensagens. Sem dúvida que “Duas ou Três coisas” tem o valor acrescentado de reunir e reatar longas amizades!.Mais outra virtude do comum amigo Francisco Seixas ds Costa! Claro que tenho lido as suas mensagens no blogue, o que não esperava era este feliz e direto contato. Por isso vamos mantê-lo. O meu e-mail mais corrente, pois tnho outros, é gilfer@talkgalk.net. Cá o espero! O GRANDE ABRAÇO DO,
Gilberto Ferraz

gherkin disse...

Lamento ter de corrigir o mail errado que mandei. O correto é;
gilfer@talktalk.net
O renovado abraço,
Gilberto Ferraz