sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

DAVID CAMERON E A EUROPA

A que, para alguns, foi surpresa a atitude de David Cameron, para aqueles que acompanham de perto – e vivem – a vida, idiossincrasias e problemas britânicos, principalmente aqueles que o fazem quase há 50 anos, não o poderá ter sido!

A atitude assumida pelo primeiro-ministro britânico em Bruxelas, na madrugada de 8 passado, resultou do que ocorreu no passado mês de Novembro na Câmara dos Comuns, aquando da votação da moção imposta pelos eurocéticos do Partido Conservador. Embora com a esperada vitória final de 372 votos (111 a favor da moção e 483 contra), a surpresa, porém, foi a revolta final do número de deputados do seu próprio partido, e, portanto, perigoso desafio à liderança de Cameron, em que 81 colegas votaram a favor da moção e contra a disciplina partidária, e outros 15 abstiveram-se. Fica bem patente que enquanto na crítica fase do governo de John Major, no início dos anos noventa, em que o assunto ameaçava o próprio futuro da liderança Conservadora, e em que o número de rebeldes era apenas 41, a UE continua, e pode agravar, o futuro de um partido, ele próprio, sob a tutela de Edward Heath, que conseguiu a desejada adesão em janeiro de 1972. Perante tamanhas pressões e afim de aparentar – ou demonstrar – que algo estava a fazer e aparentar corresponder às pressões da sua franja eurocética, o dirigente Conservador tentava passar “recados” e pressões sobre a necessidade da estabilidade do euro, nomeadamente a Angela Merkel e Nicholas Sarkozy, que segundo ele, embora o seu país dele não faça parte, mas insistia que a economia do Reino Unido seria afetada, recusando também a participar financeiramente nem no proposto Fundo de Estabilidade do Euro, nem através de fundos do FMI, David Cameron cria, assim, desnecessária guerra, principalmente com a Alemanha, cujo ministro das finanças, Wolfgang Schauble, ironicamente responde que o Reino Unido não terá outra solução que, brevemente, aderir ao euro!

Na madrugada de 8 de dezembro, na cimeira de Bruxelas, rebentou a inesperada bomba: o abandono de David Cameron e do seu país das negociações sobre novas medidas de reforço do euro, o que nunca acontecera antes, mesmo durante a renitente Margaret Thatcher. A pretexto de obter isenções na anunciada cláusula de se taxar os bancos, que segundo o primeiro-ministro britânico prejudicaria a “City” de Londres, cujo rendimento no PIB nacional é entre 7,5 e 10%, com consequências de, igualmente, a possível perda de milhão e meio de postos de trabalho, David Cameron, abandonou as negociações, defendendo na Câmara dos Comuns, no seguinte dia 12, que o fez – e voltaria a fazer no futuro – sempre que “os interesses nacionais o exigissem”. Esta inédita atitude, porém, foi fortemente criticada não só pelos principais órgãos britânicos da comunicação social, e nomeadamente o favorável The Economist, com exceção dos habituais xenófobos, nomeadamente o The Sun, The Daily Mail, The Daily Express e o The Daily Telegraph, que aplaudiram o ato do chefe do governo, como, e muito principalmente, pela oposição Labour, que acusaram o primeiro-ministro de, por razões pessoais de liderança, a fim de aplicar os 96 eurofóbicos do seu partido, ter isolado o país e pôr em risco o seu futuro e aspirações político-comerciais. Outra interrogação, e esta igualmente importante, é o futuro da coligação, em que os Liberal-Democratas, favoráveis à União Europeia, principalmente as figuras de charneira, como o seu ex dirigente e atualmente Lorde Paddy Ashdow, começaram a criticar e a separar-se da decisão dos seus parceiros Conservadores. Neste contexto, foi particularmente notada a invulgar ausência no debate dos Comuns, do dia 12, do vice-primeiro-ministro, Nick Clegg que habitualmente se senta ao lado do primeiro-ministro. As perturbações no seio da coligação, em relação à política anti-europeia dos Conservadores, acentuam-se pelo que o vice-primeiro-ministro insiste em tomar as rédeas do que afirma “regresso às negociações” e ao “seio da União Europeia”. A curiosidade é saber se o vai conseguir, quando o seu colega de chefia do governo foi obviamente muito aplaudido principalmente pelos eurocéticos que desafiaram a sua liderança!

Sem comentários: