Como já tenho apontado, (perdôe-me caro(a) leitor(a)!), além das suas notáveis atrações, Londres continua a ser um dos grandes centros mundiais de cultura e arte. Porém, não se limitando ao invulgarmente inúmero e riquíssimo acervo permanente que possui, em que além das obras de arte tanto em galerias como em celebérrimos museus, abundam espetáculos e shows e exposições num só dia. Potente e irresistível magnete de arte, à capital britânica afluem, igualmente, outras e enormes preciosidades como, já citei e de que me ocupei numa das crónicas anteriores, da exótica arte africana, amplamente demonstrada na igualmente rara exposição intitulada Reino de Ife, no Museu Britânico, no início do ano. Uma delas, e a mais recente, é a dos Tesouros de Budapeste! Nesta memorável exposição, façanha, como igualmente já apontámos, tradição da Royal Academy of Arts, em Piccadilly, o apreciador ou apenas curioso, encontrou um invulgar deleite. Não apenas nas obras raras, pouco e, em alguns casos, nunca vistas fora da Hungria, mas na variedade e extensão desta notável coleção que, em termos visuais constituíu uma verdadeira Rapsódia Húngara!
Coleção de 200 preciosos trabalhos, pinturas, gravuras e esculturas desde os primórdios da Renascença, séculos XIV e XV ao século XX, proveniente tanto, mas principalmente, do Museu de Belas Artes como da Galeria Nacional Húngara, muitas das obras exibidas eram oriundas da Coleção Esterházys, poderosa e rica família dos séculos XVII e XVIII, conhecidos patronos das artes e da arquitetura húngara tão aclamada pelo poeta Goethe e compositor Haydn. Foi esta notável coleção que deu lugar ao Museu das Belas Artes, inaugurado em 1906 pelo Imperador Franz Josef, e, por sua vez, berço artístico do Império Austro-Húngaro. Numa forte demonstração das preciosidades, devido à barreira comunista, até aqui limitadas e contidas às paredes dos belos edifícios, separados pelo Danúbio, a Galeria Nacional Húngara, empoleirada numa colina de Buda e o Museu das Belas Artes a dominar a Praça dos Herois, na frontal Peste, na margem sul. De Buda e Peste, abriram-se, com compreensível orgulho, novas e enormes portas por onde passaram multidões, certamente muito mais daquelas que a tinham visto os famosos locais-sede. E, se esta presença em Londres, poderá ter sido uma clara tentativa de chamar ao mundo artístico a atenção para tão importantes e preciosos acervos a visitar em Budapeste, o objetivo foi claramente atingido! Obras raras, a começar por Leonardo da Vinci, como as famosas cabeças dos Soldados da Batalha de Anghiari (1504-1505); de Rafael (Raffaelo Santi), Madona (1507-1508), bela pintura a óleo e têmpera em painel de álamo, com a Virgem e os meninos Jesus e João Baptista; El Greco (Domenikos Theotokopoulos), Maria Madalena (1580), pintura igualmente a óleo a retratar a antiga pecadora, em penitência, numa panorâmia árida junto ao mar, com uma caveira colocada num livro, possivelmente a Bíblia; Goya (Francisco de G. y Lucientes), representado na obra A Aguaceira, desafiadora face juvenil que muitos interpretam como dimensão política, em que a sua heroína expressa desafio à ocupação napoleónica; raro desenho de Albrecht Durer, Lanceiro a Cavalo (1502); escultura de Andrea Riccio, Violação de Europa (1505-1510), só para mencionar algumas dentre muitas outras das escolas italiana e flamenga . Obviamente a arte do norte e centro da Europa é bem focada nesta notável exposição, montada tematicamente a refletir a riqueza de coleções relacionadas a obras religiosas, assuntos mitológicos, retratos, natureza morta e paisagens. Em relação à primeira, predominava, como não podia deixar de ser, a focagem na arte húngara dominada pelo Altar de Santo André, (1512), bela peça gótica de madeira, notável exemplar de escultura em madeira daquele período. Além disso, e em termos de pintura, constavam trabalhos de Miháli Munkaácsy, com o retrato do compositor Franz Liszt (1886) e de József Rippl-Rónai, ambos pouco conhecidos fora da Hungria, este último igualmente representado com um retrato de Elek Petrovics e Simon Meller (1910).
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