quinta-feira, 14 de abril de 2011

O DESPERTAR ÀRABE E O PESADELO AMERICANO

O extraordinário fenómeno do levantamento do Mundo Árabe, até aqui subjugado a ditadores, alguns dos quais vencidos, desde a Tunísia, Egito, Líbia, Bahrein, Iémene e Síria, com abalos sísmicos politicos nos países do Magrebe e na Arábia Saudita, não só formulam novo, e em alguns casos, ainda incerto cenário geo-político, como pôem em questão a política de proteção e vivência quase de meio século, dos Estados Unidos da América (EUA) aos regimes destituídos ou ameaçados da vasta região. Segundo o ministro britânico dos negócios estrangeiros, William Hague, o fenómeno do levantamento do Mundo Árabe, é pior que o da Crise Financeira de 2008 e as suas consequências. Sem dúvida um grande pesadelo principalmente para os estrategistas ocidentais, nomeadamente americanos, que se vêm forçados a reformular toda a sua política no mundo islâmico da África e do Próximo Oriente. E,.na pior das hipóteses, ainda, a possível transferência da importante base naval e aérea do Bahrein! O evoluír da situação democrática no Egito, já iniciada com o referendo para a revisão da Constituição, em 19 do mês passado, em que 14 milhões de eleitores aprovaram com o sim, contra quatro milhões não, registou a maior percentagem de votantes no primeiro escrutíneo verdadeiramente livre dos últimos 60 anos, culminando com as prometidas eleições gerais, possivelmente em Junho e presidenciais em Agosto ou Setembro. Como principal e mais representativo país do mundo árabe, pode ser exemplo, é, porém, grande a incógnita em relação à vizinha Tunísia e, muito mais, aos restantes países quando ultrapassados os obstáculos e removidos os seus ditadores. Uma coisa é clara: Os EUA, enquanto, até agora mentores e determinantes, estão conscientes de que o cenário mudou para meros espetadores. Agir, ou demonstrarem que agem, para benefício próprio, é-lhes obviamente contraproducente! E, daí a hesitação em atuar, de inicio, na Líbia! E, isto, principalmente pelo seu histórico apoio aos regimes totalitários depostos. A tónica mais evidente dos manifestantes não foi a oposição e desafio ao Ocidente, mas o louvável e veemente desejo de serem senhores do seu próprio destino. Esta, a aspiração que se deve respeitar e, se solicitado, o Ocidente contribuír naquilo que possa para que os rebentos democráticos resultem em plantas e frondosas árvores da tão desejada democracia destes povos que durante tantas décadas foram subjugados. Posição idêntica acontece com os manifestantes na Síria, em levantamentos sucessivos, iniciados na cidade de Daraa (a 100km sul da capital, Damasco, e perto da fronteira com a Jordânia), originados pela prisão de um grupo de jovens que foram detidos depois da inscrição nas paredes de insultos ao regime seguidas em Sanamein, a apenas 50km de distância desta e, em Latakia, a noroeste. Se na primeira, segundo grupos de direitos humanos, teriam morrido 55 pessoas, na segunda, o registo foi de, pelo menos, 20 e igual número na terceira, em tiroteio das forças de segurança, o que é negado por fontes governamentais. A estas seguiram-se enormes manifestações em Damasco, principalmente no dia 26 do mês passado, em apoio dos concidadãos das duas cidades, facto inédito, em tempos recentes, para este país. Tudo isto, segundo o Presidente Assad, devido a “infiltradores estrangeiros”, que resiste à reforma, o que mais irrita os manifestantes. Recorde-se, porém, o levantamento em Hama, em 1982, rechaçado pelo regime do pai e em que levou à morte pelo menos 20 mil revoltados. Aspirações justas da desejável Democracia, não no modelo clássico e de todos conhecida. Democracia, possivelmente nova e de enquadramento árabe, segundo as suas ambições, necessidades e fronteiras. Islâmica, certamente será, como são os seus povos! Em relação ao Egito, o objectivo é modelar o seu futuro na prática atual de outro país, igualmente muçulmano, a Turquia, mas secular. Se essa pretensão for concretizada, o Ocidente, os EUA, bem como a UE, muito poderão contribuír, não como neocolonialismo, mas financeiramente no que lhes possa ser solicitado principalmente quando a maioria das suas populações são jovens, desempregadas e economicamente subdesenvolvidas. Talvez, o tal Plano Marshall, a partir da construção de novos países, com base em novas estruturas educacionais, económicas e políticas para o livre Mundo Árabe, como a Alta Comissária dos Assuntos Estrangeiros e Defesa da UE, “Lady” Catherine Ashton, advogou num artigo no New York Times de 18 de Março último, seja a solução. Só assim, desejavelmente, teremos um novo e mais dinâmico Mundo Árabe, um Mundo Democrático senhor de si próprio e soberano em relação ao seu verdadeiro destino.

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