Com a reabertura de mais outra Investigação sobre o fatídico Caso Camarate, a IX, na Assembleia da República, recordo o que sobre ela já há muito escrevi e que, dada a sua relevância e atualização, trago hoje à atenção do(a) leitor(a). A morte do dr. Sá Carneiro e da sua comitiva, resultante de acidente, provocou sérias dúvidas ao autor. Neste capítulo, não estava só. A VI e, mais tarde, em 2004, a VIII Comissão de Inquérito que considerou: a) confirmadas as conclusões da VI Comissão Parlamentar de Inquérito; b) "provada a existência de um incêndio a bordo da aeronave antes do despenhamento"; e considera comprovada "a existência de substâncias explosivas...e a deflagração de um engenho explosivo" (*). Já na altura da publicação das conclusões da VI Comissão, surgiu esclarecedor artigo do Expresso (Opinião 03/07/1999), que começava do seguinte modo: “ANO de eleições é ano de Camarate, diz o cinismo político de quem tem visto comissões parlamentares concluírem o contrário do que esta última concluiu. A verdade, porém, é que, à medida que os anos passam e nos distanciamos dos factos - por isso se afigura mais difícil, em teoria, provar uma determinada versão ou a oposta - mais se reforça a ideia de que o avião de Sá Carneiro sofreu um atentado e não caiu por acidente.” A terminar, concluía, “Os deputados não são investigadores, nem se espera deles que façam o que compete a outras entidades. E aqui cabe perguntar: em que andaram os investigadores - polícias e Ministério Público - entretidos nestes 19 anos?Que atenção deram realmente às suspeitas e indícios conhecidos? O que temos no relatório da VI Comissão é mais um libelo contra a Justiça portuguesa e mais uma prova da sua nulidade..." (+)
Sediado em Londres, o autor estaria, profissionalmente, alheio ao caso. A excepção, ficou a dever-se ao então colega do Jornal de Notícias, e distinto jornalista, mais tarde deputado, dr. Costa Carvalho. Quando, em 1995 se encontrava a investigar o assunto, depois da V Investigação Parlamentar, solicitou a colaboração, no importante ângulo britânico, em relação às investigações técnico-patológicas realizadas por organizações e cientistas britânicos. Foi a entrevista com o Prof. Jack Crane para o JN, e a sua convicção de que houvera sabotagem, devido a vestígios de explosivos, que reforçou a suspeita do autor. Não se trata de uma posição sentimental e emocional, pois bem conheci e lidei com o Dr . Sá Carneiro, mas fundamentada no conhecimento e na inigualável experiência de tão ilustre perito nesta matéria, obtida ao longo de 30 anos da violência da Irlanda do Norte. Disse o Prof. Jack Crane na primeira entrevista publicada no JN de 11 de Outubro de 1995 (Nacional, pág. 8), que com base nas radiografias tiradas ao piloto do fatídico avião "a existência de fragmentos metálicos, que, para mim, são consistentes com fragmentos de uma explosão de bomba". Interrogado sobre a aparente discrepância entre as suas conclusões e as da organização britânica, Forensic Explosives Laboratory (FEL), em que, segundo o relatório desta, por as radiografias tanto do piloto como do co-piloto "terem sido tiradas numa só direcção e, portanto, não revelam a profundidade da penetração dos fragmentos presentes (...) não é possível determinar se estes fragmentos foram forçosamente introduzidos nos pés, tanto por meio de forças explosivas, ou simplesmente resultantes de ferimentos superficiais cutâneos provocados pelo impacto da queda ou ainda devido à remoção dos corpos dos destroços", o Prof. Crane esclareceu que, depois do exame nas partes da fuselagem, foram, efetivamente, encontrados resíduos explosivos.
A notícia, acima referida, acrescenta ainda que "face a esta evidência, insiste o prof. Crane, é suficiente para afirmar que "é consistente com a presença de uma bomba". Considerava, no entanto, este perito, que, por isso mesmo, e para ser-se imparcial, seria necessário analisar a possível existência de matéria semelhante noutros corpos. Porém, perante as conclusões da VIII Comissão Parlamentar e a evidência confirmada acima, o caso continua a aguardar a devida apreciação judicial, mesmo depois da admissão de José Esteves, como foi revelado ao jornalista João Vasco de Almeida da revista FOCUS que o entrevistou, à TSF, em 28 de Novembro de 2006. Segundo João Vasco de Almeida, José Esteves disse que fabricara, mas não colocara, o engenho que teria feito explodir o Chesna em que viajava Sá Carneiro e os seus acompanhantes. Esta inesperada admissão prontificou o então líder do PSD, dr. Luís Marques Mendes, bem como um dos seus antecessores, Prof. Marcelo Rebelo de Sousa, a apelar para a realização do tão ansiado julgamento, considerando ser uma "vergonha" para a democracia que o "Caso Camarate" continuasse por resolver. O inquérito, que atualmente decorre, resultou parcialmente do apelo publico do Prof. Freitas do Amaral, que fez no seu livro "Camarate - Um Caso ainda em Aberto". Esta prestigiosa figura pública portuguesa, segundo o Jornal de Notícias de 2 de Março de 2011 (em Nacional) considerou importante que a Comissão dê seguimento a uma das pistas de investigação que deixou na obra: o que sucedeu ao Fundo de Defesa Militar do Ultramar.
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(*) Diário da Assembleia da República II Série -B- Número 10, Terça-Feira, 28 de Dezembro de 2004
(+) Expresso (Opinião)- (03/07/99)
Nota: Como se trata, em sua maioria, de uma transcrição, a ortografia é fiel à original em que foi redigida. O texto em negrito, foi salientado neste artigo.
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