Ao passar, várias vezes, principalmente no verão, tanto pelo Rio Dão, bem como visitar o saudoso Dinha da infância, ou atravessar, neste caso de carro, o Mondego, dos quais depende a irrigação e a verdura dos campos que atravessam, qual não é o pesar ao vê-los reduzidos, a pouco mais, na melhor das hipóteses, de um pobre ribeiro. Semelhante sentimento, mas este pior, foi ao visitar a bela Lagoa Azul, na Serra de Sintra, em Janeiro de um já remoto ano, e vê-la completamente seca! Ainda que, com a excepção, desta última, tudo dependa da época do ano, facto é que, devido às mudanças climáticas, a água dos rios ou os recursos aquáticos mundiais estão perigosamente a desaparecer. Quando, segundo o historiador religioso, Mircea Eliade, escrevendo em 1950, afirmava que “as nascentes de água são a origem de toda a nossa existência”, e segundo o artigo 2 da Declaração Universal dos Direitos da Água, “a Seiva do Nosso Planeta”, os Babilónios insistiam que o mundo era formado da mistura de água doce com água salgada; os Índios Pima criam que a Terra-Mãe era emprenhada pela água, e o psicólogo Carl Jung afirmava “que sem água ninguém pode viver”, está-se perante uma invulgar tragédia humana. Se, como vimos, da água depende a nossa existência, a ameaça da sua escassês é um verdadeiro pesadelo! Este, aliás, o louvável tema recente de um seminário, intitulado “Aqua Nostra”, realizado nesta cidade pelo Rotary Club de Tondela. Num Planeta como o nosso, coberto de água, mas que 97% é salínica e cerca de 2% está transformada em gelo, resta apenas menos de 1% para a irrigação da agricultura, o arrefecimento das centrais elétricas, como se tem bem presente a luta titânica na central nuclear de Fukuxima, no norte do Japão, para impedir uma catástrofe nuclear, bem como para o consumo doméstico. Com a população mundial atualmente em 6 biliões, 850 milhões e 500 mil e com o aumento anual de 83 milhões, a crise da escassês mais se agrava, quando já é negríssimo o cenário actual: calcula-se que 1,1 bilião de pessoas vive sem água potável, 2,6 biliões sem condições sanitárias, 1,8 milhões morrem de diarreia e 3,900 crianças perecem diariamente resultante de doenças relacionadas com a água ou falta dela. E, infelizmente os exemplos são inúmeros!
Os gelos do Himalaia, que alimentam quatro dos mais poderosos caudais mundiais – Yangtzé, Amarelo, Mekong e Ganges - nomeadamente as montanhas mais altas de Kawagebo, a 6, 600 metros de altitude, as principais nascentes destes poderosos rios, entre Agosto de 1921 e Outubro de 2008 perderam 10,5 metros verticais de gelo, com o maior índice de agravamento entre os últimos 50 anos em que não se tem verificado a habitual compensação sasonal de gelo. Nesta zona, classificada pelo glaciologista da Universidade do Estado de Ohio, Lonnie Thompson, de “banco da água doce de que depende toda a Ásia”, a situação é crítica. Isto significa que caso esta tendência se mantenha, toda a vastíssima zona do sudeste asiático, que destas águas depende, está em risco de trágica e permanente seca. Outras zonas, como a bacia dos rios Murray-Darling, no sul da Austrália, até agora celeiro do país e de criação de gado, devido à invulgar e longa seca, está a afastar o vasto número de agricultores que dela dependiam. Isto, não obstante as recentes e devastadoras inundações! Outro exemplo semelhante é o Peru e o Equador. No vasto nordeste do Perú e sul do último, numa superfície de 2,250 km2 estende-se o Deserto Piura, centro de vasta espécie de cactos e outra vegetação endémica. Dependendo das vagarias do perigoso El Nino, e de umas escassas gotas de chuva, o normal é a aridês e a contínua seca o que provoca a fuga das desgraçadas populações à procura de escassos pastos para os debelitados rebanhos. Compreende-se porque o Equador foi o primeiro país do mundo a incluír na sua Constituição os direitos da natureza a fim de que os rios e as florestas não exerçam apenas funções de propriedade, mas seja-lhes outorgado o direito de prosperar. Situação idêntica acontece na Etiópia, cuja população, em maioria mulheres, gasta horas e horas, na média seis por dia, para, normalmente, com uma colher de pau, obter um cântaro de água impura para suster a família, já que é inexistente para banhos ou outras carências higiénicas básicas! Na realidade, enquanto 46% da população mundial não dispõe de água canalizada nas suas habitações e os habitantes mais pobres não dispõem de 20 litros de água, a população americana desperdiça, diariamente, 400 litros deste precioso líquido. Efetivamente, enquanto a população da Califórnia conta com a maior rede mundial de canalização de água – 1,660km – dentre os quais o Aqueduto da Califórnia, de 710km de extensão, noutros pontos do Globo, nomeadamente no Próximo Oriente – Israel, Palestina, Jordânia, Iraque e Síria - a escassês deste precioso líquido, e a sua retenção ou desvio, principalmente por parte de Israel, representa uma ameaça constante de Guerra. Em todo este cenário, meditemos nesta curiosidade: Dos 1.260.000.000.000.000.000.000 litros de água que existem no nosso planeta, 290.000.000.000 são diariamente consumidos pela companhia Coca Cola, que vende 1,5 biliões de refrigerantes por dia, em 200 paises (dados de 2006).
Nota: A União Europeia publicou um relatório sobre a escassês da água em 18 e Maio de 2010
Agradecimento, e maioria dos dados, a National Geographic (edição de Abril de 2010 em Inglês).
sexta-feira, 30 de setembro de 2011
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