A voz de Língua Portuguesa da BBC, iniciada em 1939 e em que Fernando Pessa se tornou notável, vai ser silenciada para sempre no fim do mês. Com a única transmissão em direto para os países africanos de língua Portuguesa, a BBC decidiu calar tão importante e influente voz, alegadamente devido a restrições financeiras. A decisão surge depois do Ministério dos Negócios Estrangeiros determinar pôr fim ao financiamento do Serviço Mundial da BBC, através do seu Grant in Aid, votado e aprovado anualmente pelo Parlamento Britânico e este ano orçado em 285 milhões de euros. A decisão obriga a famosa emissora a incorrer exclusivamente nos custos, pelo que recorre a cortes de serviços de várias línguas, incluindo a Portuguesa para África, procurando recuperar cerca de 60 milhões de euros até 2014, com a redução de 650 postos de trabalho, no total de 2400 pessoas. Compreensivelmente são enormes as consequências para os países dos PALOPS prejudicando uma audiência de 1,5 milhão de ouvintes. Sem os recursos a noticiários intermacionais independentes, o que muito contribuía para a sua formação e desenvolvimento democráticos, agravado pelo elevado grau de iliteracia em que as populações recorriam – e dependiam – da rádio e mormente da BBC, o silenciar de tão importante e amiga voz, também elo de ligação com a Europa e até aqui vista como importante símbolo de amizade britânica. Outro importante papel destas transmissões é o elemento unificador da língua, face aos múltiplos dialetos predominantes em vários países africanos. Para Elias Isaac, Diretor do Instituto Sociedade Aberta deAngola “sem esta informação, a população vai ficar limitada ao que se lhe transmite. O único meio de informação do país, um tipo de informação, embora não controlado pelo estado, é-o pelo partido no poder”.
Mas não é apenas a voz de Fernando Pessa, que a partir de Londres se silencia para sempre. Além de jornalistas, ainda em evidência, como o pivot da RTP, José Rodrigues dos Santos e o colega Manuel Meneses, bem como Fernando de Sousa e Martim Cabral, ambos na SIC, outras figuras de relevo se evidenciaram, como Joaquim Letria, António Cartaxo, Luís Pinto Enes, Margarida Metelo, Ernâni Santos, João Paulo Diniz, Paulo Camacho, Pedro de Oliveira e António Figueiredo (1929-2006), bem como, o último chefe da Secção Portuguesa, Manuel Santana, e, muito antes destes, a Seção foi enriquecida com personalidades de relevo como Luzia Maria Martins, que, de regresso a Portugal tanto se notalilizaria no teatro independente, Francisco Mata, António Pedro e Francisco Casal Monteiro, todos falecidos. O primeiro locutor em língua portuguesa para Portugal foi Joaquim Carvalho, professor do departamento hispano-português no vizinho King's College. O falecido Fernando Pessa, que obscureceu este e outros que se lhe seguiram, juntar-se-lhe-ia. Ingressando, inicialmente, no Serviço Brasileiro como tradutor, a entrada no Serviço Português, onde viria a ser celeberricamente conhecido, ficou a dever-se à doença súbita de Joaquim Carvalho que o substituíu de emergência. E, como se saíu bem da prova, ali faria nome, ao ponto de chegar a ser confundido por um embaixador! Segundo a falecida Margery Withers, em conversa com o autor, que depois de ter sido secretária do último rei de Portugal no exílio, Dom Manuel II, foi funcionária na BBC, ao ser organizada uma festa para comemorar o início do Serviço Latino-Americano, foram convidados todos os embaixadores daquele Continente, a Bush House. O Director-Geral e fundador da BBC, já elevado a Cavaleiro, "Sir" John Reith, que se encontrava à entrada do edifício a receber os ilustres convidados, ao deparar com Fernando Pessa, que nessa altura chegara à entrada, ao notar a sua elegância e porte distintos pensou tratar-se de um dos diplomatas convidados. Depois do clássico aperto de mão, pegou-lhe no braço, e ofereceu-lhe um charuto. Perante tantas e inesperadas obséquias, Fernando Pessa não se desconcertou, mas, como lembrou Margery Withers, ficou intrigado pela forma amável com que o Director-Geral e fundador da BBC tratava o pessoal.
Nota: Este texto foi - e todos seguintes do autor - irão ser redigidos ao abrigo do Novo Acordo Ortográfico
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