O Cáucaso, para os Russos, Transcáucasos, (ou melhor, Zakavkaz'ye, ou seja para além das distantes montanhas), que tantos problemas lhes tem criado, especialmente em horríveis atentados à bomba com elevado número de mortos. Região meio Europa meio Ásia, encurralada a sul pelas mais elevadas e escabrosas montanhas do Continente, ladeada a Oeste pelo Mar Negro e, a Leste, pelo Cáspio bem como, a sul, pela Turquia e pelo Irão, é um amálgama de línguas, que mereceu dos árabes o título de djabal al-alsun (montanha de línguas). Este apropriado epíteto justifica a maior densidade de diferentes falas do Globo, bem como etnias, compostas por 15 milhões de pessoas, de 10 nacionalidades diferentes, de que Geórgia é bom exemplo como cadinho de múltiplas regiões, nomeadamente as autónomas de Ossétia do Sul (a norte), Abkhazia e Ajaria (ambas no litoral do Mar Negro, a primeira a norte e a segunda a sul), Kartli (Tiblisi, a sul), Imereti (oeste), Guria e Mingrela (costa do Mar Negro), Meskhia (sul) e Svaneti (norte). O Cáucaso é dominado por apenas três países independentes a partir de 1991, Geórgia, Arménia e Azerbeijão, os dois primeiros cristãos (convertidos em 327 e 301 respetivamente) e o último muçulmano. O problema são as regiões internas a lutarem pela independência. Este, o caso das já referidas Abkhazia e Ossétia-Sul, esta última pretexto para a invasão russa, em Agosto de 2008, e a consequente guerra com a Geórgia; Ajaria a oeste, Nakhichevan a sul e Nagorny-Karabach a sudeste da Arménia, este território disputado pelo Azerbeijão e que provocou uma guerra entre os dois países vizinhos, em 1994, bem como permanente tensão entre os dois países. Região árida e extremamente pobre, que com exceção do Azerbeijão, graças à extração de petróleo e gás a partir de 1871, mas mais intensamente desde o início do século XX, fez deste país do litoral do Mar Cáspio, um dos mais ricos da região e que, com a construção do oleoduto, o segundo mais longo do mundo depois do de Druzhba, na Rússia, projeto de 5,4 biliões de euros, e de 1,768km de extensão, é considerado como “um dos maiores projetos do século XXI” para o transporte de um milhão de barris por dia, particularmente quando não faz parte do poderoso cartel da OPEP. Embora oficialmente inaugurado em Julho de 2006, que partindo da capital, Baku, para Ceyan, Turquia, a ocidente, é o único fora da Rússia, e meio independente do fornecimento de energia para a Europa. Um mês antes, um navio tanque zarpou do porto-terminal carregado com 600 mil barris de petróleo para o mercado europeu. Graças à sua riqueza, proveniente principalmente do petróleo, ao qual tem de incluir-se o gás, com recursos pelo menos até duas décadas, o Azerbeijão é mentor da construção do caminho de ferro, de 800km, entre Baku e Kars, na Turquia, cognominado a Nova Estrada-Ferro de Seda, a contrastar com a clássica e antiga Estrada de Seda, que passava pela região, via que liga o leste com o ocidente, a inaugurar no ano que vem, desbravando, assim locais remotos, nomeadamente da Geórgia, com a qual esperam maior desenvolvimento económico, como é particularmente o caso das cidades de Akhalkalaki e Kartshaki, no sudoeste deste país. De assinalar que devido à inimizade turca com a Arménia e a amizade daquela com o Azerbeijão, a nova via férrea, em vez de atravessar e beneficiar a Arménia, evitou este país, servindo a capital da Geórgia, Tiblisi, as regiões montanhosas e as já mencionadas cidades a sul. Este, o exemplo mais gritante desta litigiosa vasta região cuja causa principal é a insegurança, entre si, das várias etnias. De longo e misterioso passado, verdadeiro e vasto “quintal” do poderoso vizinho do norte – a Rússia - que só os conseguiu anexar em 1850 e 1860, não obstante o predomínio Otomano, mas não sem compreensiveis dificuldades! Durante tanto o regime Bolchevique, como sob a tutela de Estaline, particularmente quando Beria foi responsável pela região, e quando se pretendia fazer da zona, a Flórida Soviética, predominaram as deportações para o Kazaquestã ou Sibéria bem como chacinas e a liquidação das figuras políticas e intelectuais principais. Região considerada primitiva do vinho, em que a Geórgia predomina e onde é conhecido por Dvin (também originário em termos de nome?), são os vizinhos arménios, que se consideram mais europeus, e é o país com maior população da diáspora, nomeadamente nos Estados Unidos e no Líbano e aquele que também mais sofreu durante o domínio otomano, em que milhões de cidadãos, pelo menos milhão e meio da nação arménia, mas ainda inexistente país, integrado nas forças soviéticas, foi vítima de genocídio turco, consequências e diferendo ainda por resolver.
Porém e em termos de marcada identidade dos três países só se começou a verificar durante o período soviético. De salientar três nomes históricos, filhos desta região: Josef Estaline (ou Iosif Jugashvili) e Laurenti Beria (Geórgia-Abkhazia), chefe dos serviços secretos e Eduard Shevardnadze, primeiro-ministro de Mikhail Gorbatchev (Arménia). Um dos mistérios destes dois países vizinhos, embora cristãos, é a rivalidade secular entre ambos, tema constante da literatura do século XIX. Não se sabe bem porquê, mas talvez se deva ao factor de expressão religiosa, ou seja, enquanto a Igreja Ortodoxa Georgina abraçou a velha prática bizantina e se aproximou da Igreja ortodoxa Grega, a Arménia preferiu a separação, valendo-lhe o título de heréticos monofisitas.Isso não evita que as dus nações partilhem de notável colaboração como foi o caso da Arménia servir de zona tampão em protecção da Geórgia, dos seus inimigos do sul – Tuquia e Irão. É, porém, irónico que o actual mussulmano Azerbeijão tivesse sido Cristão, quando os Romanos, que o chamaram Albaneses do Cáucaso (mas que nada tiveram a ver com os actuais albaneses das Balcâs!). Além disso, em 1918, foi o primeiro estado mossulmano de democracia parlamentar e o primeiro pais do mundo a conceder o voto às mulheres! Outro mito, é o facto dos americanos ao chamarem caucásica à raça branca, isso nada tem a ver com os actuais habitantes do Cáucaso.
Nota: Para maiores detalhes, o interessado pode consultar THE CAUCASUS – AN INTRODUCTION, de autoria de Thomas de Waal, edição da Oxford University Press, 2010
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