terça-feira, 7 de dezembro de 2010

OBAMA EM PERIGO, OU... SIMPLESMENTE UM SUSTO?

Como recentemente assinalava um conceituado comentador americano, na Time, Joe Klein, (Time, 27 de Setembro, pág. 19): “Há uma enormidade de contradições, que me leva a concluír que a noção de que uma América seja conservadora, moderada ou liberal não passa de mera ficção criada por aqueles, como nós, sentados no topo da Montanha da Opinião”. Joe Klein foi ao âmago da questão: o extraordinário poder e influência dos media na população norte-americana! Porém, não se deve descontar o FACTO REAL do CONSERVADORISMO do povo americano e da influência tradicional que nele tem o radicalismo EVANGÉLICO! Outro importante facto é a influência dos media e do financiamento das campanhas eleitorais, em que, quem mais dinheiro tem, maior sucesso pode contar à partida. Se a vitória de Barack Obama, há dois anos, independentemente da excelente preparação, foi invulgarmente bem financiada, particularmente para um candidadato pouco conhecido, em relação e contraste com Hillary Clinton, embora com um eleitorado predisposto à mudança depois da desastrosa governação de George W. Bush, o cenário repetiu-se nas recentes eleições intercalares para o Congresso e Senado americanos, que deram ao Partido Republicano a maior vitória dos últimos 72 anos, e a esmagadora maioria no Congresso, a obtenção de 10 postos de Governadores e a quase conquista do Senado! A ironia está no facto da vitória da Oposição não se ter ficado a dever a melhores propostas políticas, mas ao facto do invulgar apoio dado pelos media, e vastas somas gastas na campanha, garantias do sucesso do Movimento Tea Party (que de partido nada tem, apenas o nome que deriva do histórico acto de rebelião por parte de patriotas americanos contra o domínio colonialista do britânico Jorge III, em que, no porto de Boston, em 16 de Dezembro de 1773, lançaram ao mar 342 caixotes de chá, em protesto pelo aumento dos impostos do chá e do monopólio estrangulador da então colonial Companhia das Índias Ocidentais). A estes factores, acrescente-se um país revoltado pelas maiores contingências económicas dos últimos tempos, nomeadamene o elevado desemprego e a impossibilidade de pagar as hipotecas, bem como a perspectiva do país perder a sua posição de potência mundial!

Portanto, o que significa esta derrota para o Presidente Obama, que apenas há dois anos empolgou o seu país e o mundo inteiro ao ser levado em glória à Casa Branca, o primeiro presidente mestiço da História Americana? Comecemos por esclarecer que é normal o eleitorado americano e não só, votar em eleições intercalares contra administrações no Poder. Obama não está só! Aconteceu tanto ao popular Presidente F.D. Roosevelt em 1938, ao outro popularíssimo Ronald Reagan, em 1984, como ao respeitado Presidente Clinton, em 1994, sendo qualquer dos três reeleitos nas contendas seguintes. Desta vez, porém, não é só Obama que está em jogo! O partido Republicano, tem no seu seio, um novo movimento, radical e ultraconservador, a quem, aliás, deve a sua retumbante vitória – o Tea Party, ambos com objectivos não totalmente concordantes! Se à maioria republicana no congresso, com mais de 60 lugares, procurará impedir a passagem de leis estruturais que Barack Obama pretendia, como a Lei Climática, ou o prometido encerramento da prisão de Guantánamo, que obviamente não há possibilidade de sucesso e, possivelmente até, a não rectificação do Tratado START II, assinado entre Obama e o Presidente Russo, Alexander Medveded, que favorece a redução de ogivas e armas nucleares dos dois países, tudo vai tentar para minar a nova e já passada lei do Serviço Nacional de Saúde, procurando reduzir, o mais possível, os tentáculos do enorme Polvo Governamental, no seu ideário de MENOS GOVERNO; o Tea Party, embora com semelhante objectivo, procura ir mais longe: além da redução dos impostos e a redução de subsídios governamentais a empresas, clama agora pelo termo do banco nacional, Reserva Federal, bem como tentar impedir, o mais possível, quaisquer possibilidades de sucesso que permitam a reeleição de Obama em 2012. E, se por um lado, os Republicanos procurem paralizar, o mais possível, a acção do Governo, o que, aliás, em minoria, fizeram no ano findo, e, mais notavelmente, em 1994, com Newt Gingrich a liderar o Congresso, há que adoptar um estratagema menos visível de forma a evitar a antipatia do eleitorado que lhe pode ser prejudicial nas próximas eleições! Neste contexto, e embora o Presidente venha a optar por uma política de centro, e possivelmente de direita, num eleitorado manifestamente conservador, caso seja bem sucedido na economia, como está determinado, com a nova injecção de fundos no total de 840 biliões de euros, até Junho do ano que vem e, caso venha a gerir a sua governação nos próximos dois anos, com a sabedoria e eficácia que lhe foram conhecidas durante a campanha presidencial, à semelhança de Reagan e Clinton, não deixará de ser reeleito. Outra incógnita, é o ritmo ou sucesso do Tea Party, que poderá, ou não, caír de moda.

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