sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

A INVASÃO DO IRAQUE... SEGUNDO TONY BLAIR

A longa expectativa do inédito depoimento-maratona de um ex Primeiro-Ministro
britânico, na Sexta-feira 29 de Janeiro, no Inquérito sobre o Iraque, que desde Julho decorre no belo Centro Elizabeth II, nas proximidades do Parlamento, e em frente à Abadia de Westminster, pariu...um nado morto! Quem esperasse algo de novo, possivelmente residente noutro planeta, com uma ou duas excepções que adiante veremos, baseado naquilo que publicamente se sabe, terá ficado profundamente decepcionado(a).
Insistindo, na sua convicção de que, graças a uma intensa preparação da invasão, sem Saddam, o Iraque estava muito melhor, não obstante a lista de mortos e da destruição do país, de que foi lembrado pelo interrogador e brilhante historiador, “Sir” Lawrence Freedman, e que, o único inesperado, pós-invasão, foi a acção tanto do Irão como de al-Qaida, e descontando, continuamente, não ter sido escravo ou, como a imprensa britânica o classificou de “cãozinho na trela”, do Presidente Bush, mas que a ele se aliou desde o ataque terrorista aos Estados Unidos da América, e que também o fez por “recear a reacção pesada dos americanos”!, o convicto antigo estadista insistiu que, segundo ele, remover Saddam fora um acto de imperiosa justiça! Quem não pôde esconder a sua surpresa, foram as dezenas de seleccionados representantes dos 197 soldados britânicos mortos no Iraque, que enchiam as filas de assentos imediatamente atrás de Tony Blair!
Não surpreende que, no decorrer do longo depoimento, sem nunca ter manifestado qualquer sentimento de contricção, ou até a incompreensível ausência de uma simples mênção ou homenagem às tropas britânicas, principalmente aos jovens soldados que deram a vida durante a Ocupação, quando a oportunidade redentora lhe foi dada pelo Presidente do Inquérito, “Sir” John Chilcot, se não lamentava ou estaria arrependido, o interrogado limitou-se a afirmar que embora sentindo grande espírito de responsabilidade “nada lamento por ter removido Saddam Hussein, que era um monstro”. A única excepção, confessou, foi o facto de não ter conseguido convencer a avassaladora maioria do povo britânico que se opôs a tão hodiendo acto! No que foi imediatamente seguido por várias pessoas, com lágrimas nos olhos, a afirmarem “és um mentiroso!” “és um criminoso!”. Como estas intervenções fossem prontamente suprimidas pelo Presidente, não só as mesmas pessoas, como outros familiares, quando Blair se retirava, tiveram a oportunidade de lhe lembrar que “tinha as mãos cheias de sangue”. Entretanto, cá fora, mas a duas dezenas de metros, da entrada do Centro, uma multidão, desde as 0730 da manhã, até ao fim da audiência, às 1710, envergando cartazes dizendo “Bliar” (composição das letras do nome Bl, com liar (mentiroso), gritava, bem alto, epítetos pouco edificantes. Outros, aguardavam a oportunidade de linchar, mas ordenar a prisão civil (um dos privilégios da justiça britânica!) ao ex Primeiro-Ministro, o que, obviamente, não conseguiram devido ao excelente planeamento e protecção da centena de agentes de segurança. O que Blair também não conseguiu foi convencer os milhares de cépticos, em todo o país, que acompanharam a cobertura em directo.
Inicial e invulgarmente nervoso, com voz embargada, o ex Primeiro-Ministro gradualmente ganhou a confiança, na invulgar maratona de seis horas a que foi submetido. Começando por afirmar que a infame e provadamente errónea citação, base do Depoimento dos Serviços Secretos Britânicos, que o regime de Saddam Hussein, além de possuír Armas de Destruição Massiça (ADM), que poderia usar em apenas 45 minutos, este o pretexto engendrado para a invasão em que os Americanos estavam determinados, Tony Blair afirmou, continuamente, a sua convicção na veracidade dos, para ele, considerados factos. Instado, várias vezes, a única cedência por ele admitida foi a de não se ter corrigido ou clarificado tal afirmação. O único momento de claro embaraço, por ele manifestado, quando interrogado, foi a sua afirmação, na entrevista à BBC (veja-se crónica de 14/01/2010), em que “ para destituir uma ameaça como Saddam, servir-me-ia de qualquer meio...pois tratava-se de uma obrigação moral”. Caracteristicamente “a la Blair”, descontou-a, afirmando ter sido lapso seu, “pelo que tenho de ter mais cuidado com os jornalistas”! Que inocente! Outra revelação, talvez a única: o facto de, não obstante as que afirmou 54 vezes em que o Problema do Iraque foi debatido em Conselho de Ministros, a admissão da parte mais crucial da legalidade da invasão, não conseguida pelo Conselho de Segurança – este o ÚNICO MÉRITO da acção de Blair- em relação à posição e insistência dos americanos em invadir, foi o facto do Procurador Geral, Lorde Smith, que, à semelhança da equipa legal do Ministério dos Negócios Estrangeiros, que apenas com base na Resolução 1441, declarou a invasão ilegal sem o apoio das Nações Unidas, a figura legal mais importante em todo o processo, e inicialmente oposta à invasão, nunca ter estado presente em qualquer das reuniões do Gabinete! Um importante apontamento final: as abundantes mênções e críticas feitas ao Irão, por Tony Blair, apontam para a sua inegável intenção em determinar que â semelhança da remoção de Saddam, o regime iraniano dos Mulas, deve ser o próximo objectivo do Ocidente. Entretanto, segundo o matutino The Independent, de 1 deste mês, na divulgação de um documento altamente secreto, o governo britânico, numa prova de clara mentira de Blair, planeava a “mudança de regime” no Iraque, dois anos anos, desde 11 de Junho de 2001!

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