Praticamente 10 mil anos após a Idade do Gelo, a Terra permanece abafada, tal panela da pressão, a altas temperaturas, em várias partes do Globo. E, se, num ápice, pode explodir, o aumento dramático, nomeadamente a superpopulação e a inusitada e desenfreada exploração do planeta, mais problemas provocam à já cada vez mais evidente vulnerabilidade da sociedade moderna, sujeita a cataclismos naturais, como terramotos, tsunames, cheias e erupções vulcânicas.
1. INTRODUÇÃO
A Terra é o mais dinâmico planeta do sistema solar. Mas a este dinamismo deve-se o nosso campo magnético protector - a atmosfera, os oceanos e, claro, a nossa própria existência. Porém a dádiva destas importantes características geofísicas, constitui, por si própria, um perigo. Vejamos: Os vulcões espectaculares, que na história inicial do nosso Planeta contribuiram para a criação da atmosfera, bem como dos oceanos, a ambos, só nos três últimos séculos, deve-se a morte de um quarto de milhão de pessoas e um-sem-número de outras feridas. O mesmo acontece com as chuvas, que sendo indispensáveis ao abastecimento dos nossos rios, e às quais se deve a água potável, sem a qual não podemos existir, foram, no entanto, causadoras, em época recente, de vasta destruição que atingiu proporções bíblicas em inundações jamais vistas. Como veremos mais tarde nos artigos sobre Clima e Aquecimento Global, desde a Coreia e China, Bangladesh, à Venezuela, Brasil (nos estados de Minas Gerais e de Santa Catarina, em Dezembro de 2008 e Janeiro de 2009, provocando dezenas de milhar de desalojados e 135 mortes), Moçambique até à Europa - Itália, mas principalmente a Inglaterra, onde as profundas alterações da pluviosidade e de tempestades, particularmente em cheias jamais vistas desde o início dos registos do século XVIII, particularmente em Agosto de 2001 e 2008, este último o mais pluvioso de sempre, o fenómeno é cada vez mais avassalador. Em todo o mundo, desde 1990, num só ano, morreram aproximadamente 20.000 pessoas. Na China e no Bangladesh as cheias dos seus rios principais devastaram estes países provocando a miséria a centenas de milhões de habitantes. O mesmo se pode dizer em relação aos nevões e consequentes avalanches. Tudo isto, apenas, para lembrar que embora a natureza seja benfeitora, há que ponderar nas suas frivolidades e brusco temperamento. E que dizer das devastações provocadas tanto pelos furacões, nomeadamente o furacão Katrina, no litoral sul dos EUA, que provocou 1500 mortes, e prejuízos orçados em 150 biliões de dólares, ou o Furacão Mitch, que devastou a América Central provocando a morte de mais de 25000 pessoas, bem como os danos causados pelo “El Nino”, nomeadamente em 1982 e 1983?(*)
Para isso, há que atentar-se e compreender a Terra, especialmente em como foi formada e como funciona. Um planeta com um historial de mais de 4,6 biliões de anos, prenhe em complexidades, não é fácil resumi-lo. Por isso, há que limitar-nos apenas a escassos contornos, particularmente aqueles mais susceptíveis a criar problemas.
2. EVOLUÇÃO
Desde a sua origem, verdadeira roleta, em que de um gigante caldo residual, a girar à volta do Sol primordial, dentre os idênticos triliões, conseguiu vingar e solidificar, como o concretizou, particularmente depois dos inúmeros choques com outros corpos celestiais ou, ainda, contra mais fortes e mais influentes campos de gravidade, adensa-se o mistério! Nessa fase, cientificamente classificada de acréscimo, que envolveu tanto a Terra como outros planetas, que ao colidirem com outros corpos menores absorveram-nos, o processo, que ficou concluído há quatro biliões de anos, conheceu um período de relativa establidade. Isso não significa, porém, que embora colisões com asteroides ou cometas, com consequências catastróficas, não tenham posteriormente ocorrido, persistindo novas ameaças, uma vez que existem 718 probabilidades, nomeadamente o recém descoberto Apep (Destruídor) cuja passagem, nas proximidades da órbitra da Terra, está prevista para 13 de Abril de 2029. Nessa fase, a enorme temperatura provocada pelas colisões, aliada à produzida por altas concentrações de elementos radioactivos no seio da Terra, teria permitido a superfície formada por um agitadíssimo oceano de magma de, possivelmente, 400 km de profundidade. As temperaturas deste período eram comparáveis às estrelas mais resfriadas, aproximando-se dos 5000 graus célsios. Recorde-se que a temperatura do centro solar é de 14 biliões de graus centígrados!
Inevitavelmente sempre que a rocha em fusão deparou com zonas mais frias, a temperatura resfriou rapidamente permitindo a solidificação das zonas superficiais da magma, criando uma crosta menos densa. A acção demolidora das correntes fez com que a crosta da Terra nunca se transformasse em couraça, resultando, antes, em placas rochosas, separadas e movíveis em relação a uma e à outra, no topo de lentas correntes de convecção. Com a formação da crosta, alterações profundas ocorreram no interior da Terra, em que elementos mais pesados, como o ferro e o níquel, provocaram o afundamento lento. Mas devido tanto às elevadíssimas pressões como às condições da temperatura da camada externa, mantiveram-se em fusão. Esta massa líquida, rodando em simpatia com a rotação da Terra, gerou, no processo, um campo magnético responsável pela protecção da superfície ao bloquear a radiação perniciosa do espaço, dando lugar aos meios seguros de navegação sem os quais os nossos pioneiros navegadores estariam impossibilitados de regressar ao ponto de partida.
3. COMPOSIÇÃO
O interior da Terra é composto por uma estrutura tripla: crosta de silicatos de baixa densidade, ou seja minerais incorporados nas rochas (que, segundo o cientista americano, Robert Hagen, existem 4000), resultantes da acção vulcânica, sedimentação e sepultura. Aponte-se ainda que um destes minerais, o zircão, foi objecto de um estudo recente realizado por cientistas das Ciências da Terra da Universidade da Califórnia. De acordo com o artigo publicado na Nature (vide notícia sobre o assunto publicado no Diário de Notícias (Ciência - 28/11/08), os minerais de zircão, com base em amostras deste metal encontrado na Austrália, “consideradas como as mais antigas que se conhecem, ter-se-ão formado há 4 mil milhões de anos e a uma temperatura aproximada dos 700 graus Celsius, um valor incompatível com um mundo a fervilhar de magma e de fogo.” A Capa parcialmente em fusão, é formada por minerais de alta densidade, como silicatos, ferro e níquel portadores de impurezas. Aqui, aponte-se, a razão de muitas catástrofes naturais devem-se principalmente à necessidade do Planeta reduzir o calor intenso do seu interior, resultante da decadência constante dos elementos radioactivos. Tal como aconteceu nos primórdios da Terra, o proceso repete-se até à superfície pelas correntes de convecção no interior da capa. Por sua vez, estas correntes, representam a força motriz que projecta as enormes placas à superfície do Planeta e que sustentam o conceito das Placas Tectónicas usadas pelos geofísicos para exemplificarem o funcionamento da Terra.
4. ORIGEM DOS RISCOS
O movimento relativo das placas, compostas pela crosta e pela parte superior rígida da capa, conhecidas no seu todo por litosfera, estão, por sua vez, directamente relacionados com os principais desastres geológicos – tremores de terra e vulcões – primariamente situados nas margens das placas. Exemplos das principais, aliás notáveis pela tendência de terramotos, são a Falha de Santo André, ou seja a zona que separa o oeste da Califórnia com o resto dos EUA, e a Falha do Norte da Anatólia, na Turquia, cujo movimento mais recente provocou o grande terramoto de 1999. Alternativamente, duas placas podem colidir frontalmente. Caso ambas sustentem continentes na base de granito de baixa intensidade, como é o caso das placas tanto do Oceano Índico como da Eurásia, dão lugar ao aparecimento de altas e longas cordilheiras, resultantes da colisão, como aconteceu com os Himalaias e, simultaneamente, a formação de grandes terramotos como os que fizeram desaparecer a região indiana de Bhuj, em Janeiro de 2001. Porém, caso uma placa oceânica, composta por denso basalto, colida com uma placa continental de baixa densidade, aquela, ao mergulhar sob a outra, contacta com e despoleta de imediato, a manta convectora em fusão. Mal uma placa se enfia por debaixo de outra, processo definido por supressão ou subducção, resulta nos maiores terramotos mundiais jamais observados. Este, o caso dos grandes terramotos do Chile, em 1960, Alasca em 1964 e, mais recentemente, o de Sumatra (Indonésia) em 2004, em que qualquer dos três resultou em poderosos tsunames.
O processo de supressão é particularmente evidente na Orla do Pacífico provocando sismos de grande intensidade no Alasca, Japão, Formosa (Taiwan), Filipinas e no Chile, bem como na região circular do Pacífico. Este tipo de placa marginal de supressão, assim chamada devido ao facto de uma das placas colisoras, ao ser destruída, dá também lugar a um vasto número de vulcões activos ou à abundância de geisers, e vulcões adormecidos, como o cónico e enorme Kronotsky, de 3456 metros de altura, como é o caso da península russa de Kamchatka, região conhecida pelo encontro das placas tectónicas da América do Norte e do Pacífico, em que esta última se submerge com a Ásia, bem como da confluência das valas das ilhas Curilas e das ilhas Aleutinas. As características deste inóspito e invulgar cenário está aberto a reduzido número de cientistas e de escassos turistas que anualmente visitam a região de helicóptero. Embora a formação mecânica da magma, em tais regiões, seja complexa, resulta do processo de supressão e tem muito a ver com a fusão parcial da placa supressora, à medida em que é puxada para os níveis mais quentes da magma. A nova magma resultante desta acção ascende, como resultado da relativa baixa densidade, em relação aos rochedos vizinhos, rajando à superfície e dando lugar a vulcões tipicamente explosivos e, portanto, altamente perigosos. Centenas deste tipo de vulcões, tanto activos como dormentes, abundam na região do Pacífico dando lugar ao lendário Círculo de Fogo, enquanto outros permanecem inertes em cima de zonas de supressão, particularmente na região das Caraíbas e da Indonésia. Não surpreende, portanto, a ocorrência de vulcões nestas regiões como é o caso recente de Pinatubo (Filipinas), em 1991, Rabaul (Papua, Nova Guiné), em 1994, e Montserrat (Caraíbas), a partir de 1995.
5. O OCEANO ATLÂNTICO COMO EXEMPLO
A compensar o consumo do material das placas, novos rochedos são imprescindíveis para o substituír. Este, o chamado processo conhecido por margens de placas construtivas. A subida da nova magma proveniente da manta, ao solidificar, empurra as placas em direcções diferentes. Esta ocorrência surge na superfície inferior dos oceanos, numa cordilheira de 40.000 km de comprimento, de altas elevações topográficas, conhecida por Sistema de Elevações Mid-Oceânicas, em que a recém criada litosfera corrige, com exactidão, as dimensões perdidas da capa, aquando do processo das margens destrutivas. A maior parte deste sistema estende-se no meio do Oceano Atlântico, a partir do meio da Islândia, separando as placas da Eurásia e da África, a leste, bem como as do Norte e da América do Sul, a oeste. Nesta região surgem, igualmente vulcões e terramotos, mas de pequena dimensão. Conduzidas pelas correntes inferiores convectoras da capa, as placas, numa valsa constante, à média do crescimento das nossas unhas, modificam a aparência do planeta, assegurando, que, a seu tempo, e equitativamente, todas as regiões do globo obtenham o seu quinhão de erupções vulcânicas.
(*) O “El Nino” é uma ruptura natural do sistema atmosférico no Pacífico tropical, com consequências importantes para todo o Globo. Embora originalmente assim chamado, refere-se às águas quentes que surgem anualmente, por volta do Natal (daí o nome de Nino, ou Menino Jesus), no litoral do Perú, resultando na abreviação ENSO, usada pelos cientistas de meteorologia, significando, mais apropriadamente, Oscilação Meridional. Este fenómeno, porém, tende a aparecer em períodos de 3 a 7 anos e pode durar meses ou até mais de um ano. As maiores devastações provocadas pelo El Nino ocorreram entre 1997 e 1998 em que provocou secas avassaladoras, desde o sul dos Estados Unidos ,ao leste de África, norte da Índia, nordeste do Brasil e até à Austrália. Na Indonésia os fogos florestais atingiram proporções inéditas e fora de controlo. Entretanto, na Califórnia, partes da América do Sul , Sri Lanka (antiga Ceilão) e no centro-leste africano verificaram-se chuvass torrenciais e e enormes cheias.
FONTES: Agradecimentos a - Professor Bill McGuire, na sua obra Global Catastrophes – A Very Short Introduction (Edição da Oxford University Press – 2002), Aquecimento Global – Introdução Muito Breve, 2ª edição (Edição da Oxford University Press 2009), The Ocean – Our Future (Editora Cambridge University Press – 1998), Comissão presidida pelo Dr. Mário
Soares , National Geographic (Janeiro de 2009) e Diário de Notícias.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário