Aristides Sousa Mendes (ASM), que respeitadas figuras judáicas dizem ser uma figura muito admirada e venerada na sua comunidade, atinge uma nova e justificadíssima dimensão no Reino Unido. Embora desconhecido pelo grande público actual, o generoso e extraordinário cônsul-geral em Bordéus, nos negros anos da década de 1940, vai atingir a merecida plataforma da popularidade com a estreia em Londres da peça de teatro Aristides Sousa Mendes – O Heroi Banido, em exibição até 22 de Fevereiro.
Não se compreende, porém, que um HOMEM, a quem se deve a redenção de mais de 30 mil pessoas (muitas dels judias e não só, incluindo a aristocracia da família Habsburg e individualidades do mundo financeiro como os Rockefeller e figuras académicas como Eduardo Meira Laport), em circunstâncias de extraodinária bravura, elevadíssimos sentimentos humanos aliados às suas convicções religiosas, ao desafiar o governo, mas principalmente Salazar e ignorar a sua detestável Circular 13, que negava os cobiçados vistos para a liberdade da multidão que fugindo à aproximação das hordes nazis assediou as imediações do Consulado em Bordéus nos quentes dias de Maio e Junho de 1940, naquela que foi uma das grandes tragédias do século passado. Arriscando tanto o seu certo e promissor futuro diplomático e arrastando a sua numerosa família para a que se tornou incompreensível miséria e ignominioso abandono, durante três dias e três noites, além de dar guarida e alimentos a muitos na sua residência, como foi o caso do rabi Kruger, movido pelos seus reconhecidos “deveres cristãos” em que “todos somos judeus”, salvo escassas excepções, a este ABNEGADO e INVULGAR HOMEM, o Mundo em geral, não lhe tenha ainda prestado o JUSTO E MERECIDO RECONHECIMENTO. O que é mais lamentável, como ficou bem patente neste magnífico testemunho teatral, foi o facto do descaramento do regime, e do próprio Salazar, roubar o mérito, sacrifício e esforço de ASM, arrogando-se salvador das dezenas de milhar das que poderiam ser inevitáveis vítimas. Que arrojo, que insensatez, que imperdoável INSULTO!
Talvez que esta iniciativa da actriz-realizadora-dramaturga, Alice de Sousa, possa, como se deseja, ser o primeiro e importante passo do desejado e mais amplo reconhecimento. E, como já vem sendo hábito, embora premiada no estrangeiro – e por estrangeiros (pois é detentora de dois cobiçados títulos Great Women of the 21st Century, atribuído em 2004 pelo Instituto Biográfico Americano e - tributo idêntico, no ano sguinte, como Mulher do Ano), continua a ser-lhe negado por quem de direito em Portugal! Até quando? Insistimos. A esta cidadã, que se radicou, em 1986, formou e estoicamente luta pela divulgação da cultura portuguesa nesta terra de acolhimento, a ela, deve-se já um brilhante palmarés na divulgação actual do teatro e literatura portuguesas no Reino Unido, com aclamadas realizações nomeadamente a Morgadinha dos Canaviais, Inês de Castro, O Primo Basílio, Os Maias e, mais recentemente, a peça de Stau Monteiro, Felizmente ao Luar.
Mas nesta sua diferente e nova produção à frente da por ela fundada Companhia Teatro Galeão, em 2004, no conhecido Greenwich Playhouse do famosíssimo bairro de Greenwich, no sul de Londres, recebida com justificadíssima aclamação por um atenta e envolvida audiência, que não podia esconder compreensíveis lágrimas, rasgou novos horizontes. Dentre o numeroso público nesta merecida homenagem ao Banido Heroi, além dos seus netos, Álvaro e António de Sousa Mendes, que propositadamente se deslocaram a Londres para a estreia, viam-se tato o cônsul-geral como o embaixador de Portugal no Reino Unido, Dr. António Santana Carlos, a Conselheira Cultural de Israel em Londres, o presidente da câmara de Greenwich e esposa, bem como vários jornalistas portugueses e britânicos.
O papel de ASM, a cargo do conhecido actor-encenador, Bruce Jamieson, e o do seu zeloso assistente Seabra confiado a Robert Paul, bem como o da mulher, Maria Angelina, interpretado pela artista australiana Sue Broberg, dentre os principais artistas desta excelente companhia, a eles se deve o vívido testemunho, aliás, reconhecido pelos netos do visado que justificadamente atribuíram o devido mérito. Uma das suas funções, nesta breve deslocação à capital britânica, foi igualmente divulgar a Fundação Aristides Sousa Mendes e o futuro museu na terra do autor, em Cabanas de Viriato, Mangualde.
Salientamos os pontos altos deste documento histórico teatral: a dôr dos familiares pela situação alarmante da vasta multidão que recorria ao consulado face à intranzigência do governo português na concessão dos vistos; a súplica do rabi Kruger, primeiro para si, mas especialmente pela multidão; a decisão da concessão de vistos; o freneticismo da emissão dos mesmos e a grande relutância do vice-cônsul Seabra e os rogos do conde Dedenfeld, acompanhado da pasta recheada de passaportes pertencentes à aristocracia Habsburgo.
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