quinta-feira, 6 de setembro de 2012
JOHAN ZOFFANY – Pintor e retratista observador da Sociedade
O nome de Johan Zoffany, como pintor, pode, à primeira vista, não despertar grande atenção do/a
leitor/a. Se assim é, não está só! O mesmo aconteceu comigo, pois era-me completamente
desconhecido! Não surpreende, que ao ver a exposição, realizada na reveladora Royal Academy of
Arts, em Piccadilly, em Londres, regressei maravilhado por tão inesperada e educativa experiência.
De origem alemã, natural de Francoforte, em cuja proximidade nasceu, em 1733, e onde, depois de
treino em Roma, na década de 1750, se notabilizou como artista, junto do influente prelado e
patrono, o eleitor, príncipe-arcebispo de Trier (Rineland, junto ao rio Mosele, na Alemanha), ao
mudar-se para Londres, em 1760, foi, porém, na capital britânica em que mais se notabilizaria.
Primeiro junto de altas figuras teatrais da época, como o ator empresário David Garrick (1717-
1779), do qual e de principais colegas seus, igualmente famosos, se notabilizou em inúmeros retratos, refletidos na excelente secção da exposição, “Garrick e o Palco Londrino”, em que revela um brilho invulgar, à altura, ou até ultrapassando muitos mestres-artistas consagrados, principalmente no detalhe e estrutura. A esta fase, seguiu-se outra mais importante, a introdução na
corte de Jorge III, com particular ênfase para a rainha Carlota e, daí a sua amiga, mais tarde admiradora e influente patrona, a Imperadora Maria Teresa da Áustria, de cuja família a ele se devem magníficos retratos. A demonstrá-lo, e em relação à primeira, na exposição destacava-se a
Rainha Carlota e os seus Dois Filhos mais Velhos (parte da Coleção Real britânica), em que Zoffany não só se destaca como invulgar artista, mas, acima de tudo, no novel tratamento da colocação dos intérpretes, numa pose doméstica. É, porém, na secção Royal Academy de que foi membro, em que o artista se revela e excela como pintor, diríamos fotógrafo, na seu extraordinário quadro de grupo de inúmeros membros, envolvidos na observação de um modelo masculino nu. Outro trabalho, subordinado a este tema, é o magnífico contraste, Academia vista à Luz da Lâmpada (1761-62), embora com menos personagens, de novo frente a um modelo masculino nu,
em que se destacam as múltiplas estatuetas na prateleira como pano de fundo. Porém, é na secção Famílias e Amigos em que Zoffany se destaca como retratista ímpar, predominando o contraste entre luz e pano de fundo, excedendo mestres da que tanto se notabilizou nesse domínio, a Escola Flamenga. Outro notável exemplo é o seu trabalho Thomas Rosaman e a sua Família (1781), ou ainda o extraordinário quadro, A Família Sharp (1779-81), em que se salienta, de novo, o contraste e o pormenor particularmente na roupagem, no primeiro, da mulher do homenageado e das filhas,
estas a apontar para o pai e o irmão, que se encontram num pequeno barco a remos com um contrastante e sombrio pano de fundo, e, no último, o pormenor dos vários participantes, incluindo o cão, em primeiro plano. Desta mesma classe, há, igualmente, que incluir o belo quadro Pedintes da Estrada para Stanmore (1769-70), John Caff e o seu Assistente (1772), este a predominar a simplicidade de um artífice e, ainda A Bancada de Fruta Florentina (1777), em que, além do esquisito pormenor dos vários vendedores, predomina, mais uma vez o elaborado contraste
luminoso ao sombrio fundo e das personagens e frutas. Igualmente notáveis, são os elaborados trabalhos de Zoffany, com miríade de personagens, como O Assalto À Adega do Rei, em Paris (1794), que, como resultado, retrata a centena ou mais de assaltantes, ébrios, em posições caricatas. Excelente e inolvidável revelação, de um artista, até aqui possivelmente pouco conhecido do grande público, e ao qual se fez jus, veio a falecer em Londres, em 1810 e cuja sepultura se encontra a par
de outro Mestre da pintura britânica, Thomas Gainsborough (1727-88), em Kew, onde viveu. A complementar a miríade de trabalhos, desta reveladora exposição faziam, igualmente parte, várias pinturas sobre cenários e personagens influentes de países que visitou, como a Índia e a Itália.
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