Para o Reino Unido, 2010 foi um ano de mudança e de surpresas! Mudança, na primeira metade do ano, com a realização das eleições gerais, em Maio, e a derrota do partido Labour, no governo, dando lugar à coligação entre os Liberais Democratas de Nick Clegg e os Conservadores chefiados por David Cameron, a primeira do género dos últimos 60 anos. Surpresa, esta na derradeira metade do ano, reflectida nas invulgares manifestações e revolta dos estudantes contra o triplo aumento das propinas universitárias. Esclareça-se, porém, que estudantes revoltados não constitui verdadeira surpresa. A origem da Universidade de Cambridge, segundo uma lenda, assás credível, deve-se à expulsão de alunos desordeiros de Oxford, provocando a misteriosa morte de uma mulher, que devido às boas famílias de que eram oriundos persuadiram os monges a educá-los dando origem a Cambridge. Mais tarde, as lutas e provocações por parte dos estudantes levaram à destruição das escrituras e alvarás universitários, provocando também a morte de vários estudantes. Este negro capítulo, levou o Reitor da Universidade, Lorde Burghley (William Cecil), também ministro das finanças, a decretar, em 1585, normas severas, incluindo o envergar obrigatório de uniforme. Quase dois séculos mais tarde, em 1776, o recruta que viria a ser famoso anti esclavagista, William Wilberforce, notaria, decepcionado, que a devassidão entre os alunos era predominante: "bebem imenso ... pelo que fiquei chocado com a sua conduta". Outro contemporâneo apontava que "era escandalosa a ignorância da ordem e da disciplina na Universidade".
Fora dos campus universitários, este ano, porém, a revolta estudantil, ocorreu em várias manifestações em todo o país (Inglaterra). Umas com a ocupação de vários salões de 25 universidades, e até Galerias de Arte, como a National Gallery e a Tate Britain. Outras, e estas piores, de rua, envolvendo centenas de milhar de estudantes, principalmente em Londres, sendo os mais novos de 12 anos de idade. As piores ocorreram a 10 de Novembro e 10 de Dezembro, este o dia da votação da nova lei na Câmara dos Comuns, em Londres, com a destruição da entrada da enorme torre de Millbank, junto ao Tamisa, e a invasão da sede do Partido Conservador ali instalada, no primeiro caso e, no segundo, a destruição de portas e janelas do Ministério do Tesouro, em Whitehall e o inédito assalto ao carro em que viajava o príncipe Carlos e a mulher, Camilla, quando se dirigiam a uma sessão de gala no Teatro Palladium nas proximidades de Oxford Circus partindo os vidros e atirando montes de tinta no luxuoso veículo! Embora ainda não divulgados, os prejuízos materiais, calcula-se que só na limpeza do grafitti em monumentos atinja a verba de €60 mil. Além disso, estes inéditos ataques estudantis perpetrados por uma minoria, quando, na realidade, a maioria se comportou pacificamente, foram caracterizados por uma impotente e surpreendida polícia, composta por 2,800 oficiais, que ripostou, sem dó nem piedade, ferindo 42 estudantes, alguns deles em estado grave, e, em contrapartida 12 agentes ficaram feridos, seis dos quais recebendo assistência hospitalar e 180 estudantes foram detidos. Esta estranha ocorrência, pelo menos nos tempos modernos, prontifica várias questões, algumas delas provenientes dos próprios meios da comunicação social, como é o caso do semanário The Observer que questionava, na sua edição de 12 de Dezembro passado, qual a razão de tanto ódio e revolta, quando, como apontava, a juventude tem sido caracterizada, ao longo dos últimos anos, como apática? Em termos de agitação social das últimas décadas tanto contra o imposto comunitario (poll tax), de há 20 anos, o que prontificou comentário do antigo primeiro-ministro John Major, na sua autobiografia "...fiquei chocado com o que vi. O povo britânico, normalmente tão tardio em irritar-se, achou por bem vir à rua para protestar contra um imposto e invocar a reforma do imposto autárquico...um acontecimento sem precedentes na Grã-Bretanha do após guerra..." . A esta, seguiu-se, mais recentemente, a enorme manifestação contra a Guerra do Iraque. Porém, manifestações de estudantes, como as que se viram nos últimos meses foram as maiores de todas. E esta revolta compreende-se por várias razões: Primeiro pelo triplo aumento das propinas, que actualmente ronda na casa dos 2,500 euros para 10,800 por ano, significando que ao fim de um curso de três anos terão uma dívida de 36,000 euros! Embora aos estudantes universitários sejam facultados empréstimos, que só começam a pagar assim que tenham emprego garantido e salários acima de 25 mil euros, recusam estar empenhados para toda a vida! Além disso, enquanto na Inglaterra estão sujeitos a tal e elevada sobrecarga, devido ao corte orçamental do ensino superior em 40%, os seus colegas tanto da Escócia como do País de Gales, como administrações autónomas, não estão!
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