quinta-feira, 11 de março de 2010

O Verdadeiro VAN GOGH

O artista Vincent Van Gogh é, de novo, notícia: descoberta de nova e rara pintura, há pouco tempo, de sua autoria, num museu do Centro da Holanda em que retrata o moinho Le Blute-Fin, de Paris, como é foco de nova, rara e importante exposição em Londres. Através da sua correspondência, em que se baseia a Mostra, THE REAL VAN GOGH – The artist and His Letters, (O VERDADEIRO VAN GOGH – O artista e a sua correspondência), Na Royal Academy of Arts – Academia Real das Artes (RAA), o amante da Arte tem uma exposição imperdível. Este artista, que extensiva e apaixonadamente escreveu sobre a sua arte e as suas obras, 35 belas e laboriosamente ilustradas cartas, raramente exibidas em público, encontram-se acompanhada por inúmeras e famosos quadros, 65, e 30 desenhos. Cronologicamente expostos, desde os tenros anos da sua sede de artista, na terra natal de Nuenen (sul da Holanda), onde o pai, pastor Protestante, desempenhava as suas funções, e em que o pequeno Vincent “bebia” os versículos da Bíblia, o visitante, através das suas epístolas, ao aperceber-se de que a arte é a sua consumida ambição, DESCOBRE, FINALMENTE, O VERDADEIRO GÉNIO!



Na sua intensa necessidade de comunicar, nas suas missivas, Van Gogh (1853-1890) revelava o seu rico e multifacetado universo: intelectual, artístico, ético, filosófico, vasto conhecimento de arte, literatura, mas sobretudo o seu enorme amor pela natureza. Em suma – o VERDADEIRO VAN GOGH, destituído do falso mito que até aqui o envolvia! Graças ao seu progenitor, o irmão mais novo Theo (1857-1891), importante negociante de arte, que o incentivou, aconselhou e financiou, e a quem a maioria das cartas são dirigidas, bem como à irmã Willemien, e a outros amigos, Vincent encontrou a verdadeira e genial vocação, em 1880, quanto tinha apenas 27 anos de idade.




Apaixonado, fascinado pela natureza, foi ela que o arrebatou e que consagrou o seu génio. Como necessitasse de explanação, a sua carta 252, revela que: “o dever do pintor é estudar, em profundidade, a natureza. Usar a inteligência e, através das suas emoções, impregná-las no seu trabalho, a fim de torná-lo o mais compreensível possível ao apreciador”. Natureza! A ela se renderia, qual escravo voluntário, desde os primórdios da sua intensa actividade artística. Não sem algumas distrações de percurso, como os anos passados na Inglaterra, em representação da firma de obras de arte, Goupil's para onde foi transferido entre 1873-74, e a onde regressou em 1876, em que ao absorver a literatura inglesa, “beber” Shakespeare e Dickens, em Londres, adoptou o ensino em Ramsgate, e até pregou em púlpitos de Isleworth (na agora Grande Londres).

Sem estudos formais de pintura ou experiência profissional ou amadora, compensou-o tanto no aprendizado de línguas, como o Alemão, Francês e Inglês, além, claro, da língua materna, o Flamengo, embrenhando-se na arte japonesa que tanto também o viria a influenciar, bebendo as instruções dos manuais enviados pelo irmão Theo, observava os camponeses na vizinha Etten, cuja actividade e movimentos no campo procurava reproduzir na tela. Inicialmente difícil, pois reconhecia o desafio da arte por ele encetada, na carta 214, de “plena bruxaria ou pura coincidência”. Sem desvanecimentos, persistindo no simples desenho a lápis ou giz, para ele “a raíz de tudo” (carta 349); a partir do Semeador, Camponesa a Semear Batatas, e Camponesa a Semear Beterraba, Salgueiro Pollard ou Casita em Brabant, o seu inegável talento desabrocharia no controverso quadro, também a preto e branco, Comedores de Batata, e embora ainda longe de Paris, seria na capital francesa, influenciado pelos Impressionistas e pela abundante literatura, bem como contactos directos com alguns dos principais romancistas da época, reflectido no seu quadro Romances Parisienses, que encontraria a pujante cor em que se notabilizaria, particularmente nos amarelos e encarnados ou vivos laranja, em Fevereiro de 1886, em que efusiamente se banhou, e que finalmente o consagraria, dois anos depois, em Arles, Provence, no sul do País e de onde sairíam obras notáveis. Em Arles, bem como na vizinha Saint-Remy-de-Provence, porém, depois de uma ansiada mas curta e violenta vivência com o seu admirador-artista, Paul Gauguin (1848-1903), frenético período, por ele classificado do “pouquíssimo do muito que aspirava fazer” (carta 777), onde foram produzidas algumas das suas mais notáveis obras. Seria ali, também, onde teria o seu primeiro ataque de depressão e onde ficaria internado, em Maio de 1889, na clínica Saint-Paul-de-Mausole, e durante um ano, sofreria vários ataques mentais que embora interrompendo a sua ânsia de pintar, conseguiria, contudo, magníficos trabalhos.(*) Desconsolado, depois da alta, em Maio de 1890, decidiu transferir-se para o norte, Auvers-sur-Oise, pequena cidade a 30km nordeste de Paris, onde conhece o médico e artista amador, Dr Paul Gachet, com quem estabelece amizade e que eternizou no seu retrato. Ali, nos últimos 70 dias da sua curta vida, Van Gogh encontrou inspiração no “saudável e reconfortante” cenário local (carta 898), de onde, freneticamente, saíriam mais de 70 notáveis obras traduzidas no branco, azul, violeta e verdes suaves trabalhados em rico e variado pincel. Não obstante a pujante e revigorante nova natureza de Auvers, estes atributos não o impediram de enfrentar a morte, a 29 de Julho de 1899, encurtando tão notável talento que o Mundo Inteiro passaria a admirar, para sempre, em obras como as cadeiras, sua e de Gauguin, estas, talvez, a reflectir o profundo vazio da sua solidão; auto-retrato; retratos da família Roulin, e os admiráveis cenários dos campos e dos girassóis que tanto admirava, mas que não o conseguiram arrebatar da prematura e inesperada morte!

(*) Teria sido nesta fase, que segundo a teoria do especialista de arte e comentador de Van Gogh, Martin Bailey, que o pintor teria cortado a sua orelha. A razão, como afirmou, no número de Janeiro passado, Art Newspaper, Van Gogh ao receber a carta do irmão Theo, em que lhe revelava ir casar-se, pensando que deixaria de contar tanto com o apoio moral, mas especialmente financeiro, preocupado e revoltado cometeu tão tresloucado acto.

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